sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

QUARESMA UMA PEREGRINAÇÃO INTERIOR NA ALEGRIA DO ENCONTRO



O caminho e a peregrinação são uma realidade muito humana, um símbolo da vida, um símbolo bíblico muito forte. A nossa vida é um caminhar como peregrinos, juntos, em jeito sinodal, “lado a lado, sem pisar ou subjugar o outro, sem alimentar invejas ou hipocrisias, sem deixar que ninguém fique para trás ou se sinta excluído”, como afirma o Santo Padre na sua Mensagem para esta Quaresma. O povo de Deus sempre foi e é um povo peregrino. Caminhou pelo deserto durante quarenta anos para alcançar a Terra Prometida. Moisés, para se encontrar com Deus, teve de subir ao monte Sinai, onde permaneceu quarenta dias. Elias teve o seu encontro com Deus no monte Horeb, ao qual chegou depois de quarenta dias de peregrinação, despojado de tudo e perseguido. O próprio Jesus também se revelou como Caminho e os seus discípulos, o povo cristão, especialmente nos quarenta dias da Quaresma, também peregrina, recorda de forma mais forte que é verdadeiramente um povo a caminho, não de uma meta geográfica ou do alto de uma montanha qualquer, mas de Cristo, a verdadeira e nova terra prometida, o monte iluminado, a verdade e a vida que nos conduz em direção à liberdade. Caminhar para Jesus e com Jesus significa sintonizar, comungar e viver com Ele e como Ele. Significa ligar o GPS do coração, não tanto para alcançar Cristo, mas sim para nos deixarmos alcançar por Ele. Diz-nos São Paulo: “uma coisa eu faço: esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em direção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em Cristo Jesus” (Fl 3,13-14). Deixarmo-nos alcançar por Cristo é abrirmo-nos a Ele, escutar a sua Palavra, permitir que Ele nos vá modelando à sua maneira, até que, caminhando cada dia com Ele, sintamos que Ele é o Senhor. A caminhada, a corrida, a pedalada é interior. É na intimidade de cada um de nós que se há de realizar a meta do encontro, da transformação, da plena liberdade, pois a esperança não engana e é fonte de renovação.

ALGUMAS PISTAS PARA O CAMINHO

A Quaresma é o tempo privilegiado para esta peregrinação interior em direção a Jesus, fonte da Esperança e da Misericórdia. É um caminhar tanto mais necessário quanto mais se vive à flor da pele e voltados para fora. Quem suporta hoje um silêncio prolongado, um dia sem televisão, sem telemóvel, sem redes sociais, sem internet? Atraídos por tantas solicitações e provocações, esquece-se o essencial e, não raro, têm-se como únicos centros de peregrinação as superfícies comerciais e afins, tantas vezes em busca do inútil ou supérfluo. As cinzas que nos são impostas sobre a cabeça, evocam que somos pó, pobres e frágeis, são um sinal da condição débil do homem, mas são também o sinal exterior de quem se arrepende dos seus pecados e decide fazer um caminho em direção ao Senhor. A Quaresma é o tempo oportuno para fazer este caminho, um tempo prático. Nesse sentido, aponto algumas pistas para que todos, de todas as idades e condições, possamos fazer uma verdadeira peregrinação quaresmal: entra em ti, cala-te, escuta, reza, crê, ama, adora e partilha.

ENTRA EM TI. Puxa tu mesmo a aldraba da tua porta, entra e chama, chama outra vez, mais outra, pois quem procuras está lá bem dentro de ti, interioriza o trajeto para dentro e não para fora de ti.

CALA. Manda calar os ventos, as tempestades, os sentidos, as loucas imaginações, as vãs curiosidades, as fortes emoções, as insatisfações ... O silêncio, dentro e fora de ti, é importante para esse encontro.

ESCUTA. Escutar não é fácil. Por isso falamos, falamos e até falamos o que não devíamos. Abre os ouvidos do coração. A verdadeira riqueza é a palavra, a de Deus e a dos irmãos. Guarda-a dentro de ti. Procura compor com ela a melodia harmónica do perdão, da reconciliação e da paz.

REZA. Com palavras e com silêncio, com gritos e com sussurros, com lágrimas e com danças, pede e agradece, levanta para Deus as tuas mãos e o teu coração. Mantém as lâmpadas da tua fé acesas, sempre.

CRÊ. Com uma fé mais confiante e mais alegre. Deus é alegria. Alegra-te com Ele. Ri com Ele. Deus é sorriso verdadeiro. Põe a tua vida nas suas mãos. Nessas mãos em que está tatuado o teu nome (cf. Is 49,16). Uma fé mais coerente e contagiosa. Deixa-te amar.

AMA. O amor é vida, mas tens de morrer primeiro ao conformismo, ao “sempre foi assim”, à intolerância, à indiferença… Pede a Jesus que te ajude a morrer, que te ajude a amar, que te ame para que tu possas amar com o seu Amor.

ADORA. A adoração é um hino de amor e de louvor. Na adoração deixamos de viver “só” para nós próprios e abrimo-nos ao Espírito que inspira e encoraja a nossa adoração: “A adoração é um contacto boca a boca, um beijo, um abraço, um resumo de amor” (Papa Bento XVI). O próprio Cristo sabe a direção do Espírito, faz-se em nós cântico de louvor e adoração. Cristo é Ressurreição.

PARTILHA. A esperança ajuda-nos a ler os acontecimentos da história e a comprometermo-nos com a justiça e a fraternidade. A escuta da Palavra, a oração, a vigilância e o jejum motivam à partilha. Partilhar é muito mais do que dar uma esmola, é opor-se ao egoísmo, é esvaziar o eu, é pensar nos outros. Juntamente com a oração e a conversão, a partilha é um dos pilares da Quaresma. Etchegaray escreveu um dia: “Partilhar é o gesto sem calculismo de duas mãos abertas que não sabem se dão ou se recebem” e “Não há verdadeira partilha senão na pobreza, como não há verdadeira riqueza senão na partilha”. A nossa partilha, ou renúncia quaresmal, em partes iguais, destinar-se-á à requalificação da igreja de Santo Inácio na paróquia de Samayanallur, da Diocese de Madurai, do Estado de Tâmil Nadu, na Índia, cujos jovens, com cinco sacerdotes, vieram à JMJLisboa 2023 e fizeram os dias de preparação entre nós. Entretanto, essa comunidade já foi visitada por um sacerdote da nossa Diocese a convite da Comissão Episcopal para a Juventude de Tâmil, na Índia. O Fundo Diocesano de Emergência Social, gerido pela Cáritas Diocesana, será o outro destinatário dessa partilha das nossas comunidades cristãs.

SAIR A SEMEAR AS FLORES DA ESPERANÇA
Cristo não disse “Eu sou o costume, mas sim, Eu sou a verdade” (Tertuliano). Cristo diz eu sou novidade. Eu sou a esperança que dirige o futuro. Cristo ressuscitado ilumina e tudo recria, sobretudo quantos se aproximam d’Ele e se deixam amar, se abrem ao seu dom que é a graça e o amor de Deus Pai. Em Cristo ressuscitado, a pessoa renova-se, o mundo recria-se. O cristão sonha, trabalha e semeia flores de esperança para que o mundo floresça e se pareça com o Reino de Deus. A Igreja da Páscoa em peregrinação jubilar tem de ser dinamizadora e transcendente, encarnando e atualizando a presença permanente de Cristo Ressuscitado que atua com a força do Espírito. Quando damos razões da nossa esperança e estimulamos um novo compromisso, Cristo continua a ressuscitar. Quando unimos as nossas mãos para prestar serviços de libertação, estamos a cantar a ressurreição, pois ela não é um acontecimento do passado. É uma promessa cumprida para nós, mas não cumprida plenamente em nós. Ela “contém uma força de vida que penetrou o mundo (...) uma força sem igual. (…)
 Cada dia, no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada através dos dramas da história. (…) Esta é a força da ressurreição” (EG 276) que trespassa a nossa vida e a nossa história. “Não fiquemos à margem deste caminho da esperança viva” (EG 278).

D. Antonino Dias . Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 28-02-2025.

Só sofre quem ama



As dificuldades fazem parte do caminho. Os obstáculos não impedem o caminho, são o próprio caminho. Talvez haja quem seja capaz de imaginar um percurso de vida sem impedimentos, mas isso jamais passará de um mero delírio poético.

A vida é dura e buscar a paz e a felicidade, que são a base do sentido que cada um de nós encontra na sua existência, implica inúmeras perdas, frustrações, medos, angústias, decepções, dores, solidão, culpas, arrependimentos, conflitos, adversidades, desilusões, ansiedades, desesperos, abandonos, cansaços, desânimos… não há vidas sem tudo isso.

Os sofrimentos têm sempre o sentido que lhes damos. Podem impor-se contra a nossa vontade, mas cabe-nos, ainda assim, decidir o que são e significam para nós.

O sentido que damos às curvas, descidas e subidas da nossa vida é da nossa inteira responsabilidade, só nossa. E é daí que nascerá o ânimo ou o desânimo.

Importa confiar, reconhecer a nossa finitude e aceitar que não conseguimos compreender plenamente nem o significado mais profundo do que nos sucede, nem as consequências da forma como respondemos a cada coisa que nos acontece…

Esta nossa vida só faz algum sentido verdadeiro se formos capazes de amar. Isso implica que aceitemos sofrer em várias dimensões, física, emocional, psicológica, sentimental. Mas fica a nossa alma, que é muitíssimo mais valiosa do que tudo o resto.

Aos que sofrem – que somos todos – é importante saber que a vida e o amor são imortais. Terminará este tempo, esta existência, mas isso não será o fim – o nosso fim.


José Luís Nunes Martins

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Quem és tu para julgar?



Todos temos as nossas opiniões. As nossas crenças. As nossas verdades e as nossas formas de ver e observar o mundo. Às vezes, vivemos vários anos reféns daquilo em que acreditamos para, depois, por crescermos ou por aprendermos uma outra forma de encarar a vida e todas as coisas, percebemos que estávamos enganados.

Todos podemos enganar-nos. Todos podemos mudar de ideias, querer hoje uma coisa e amanhã querer outra. É também por isso que vivemos num país livre e que a nossa alma pode escolher o que quiser, quando quiser. Obviamente, e por vivermos em sociedade e em comunidade, haverá princípios, leis e regras que nos impedem e restringem. Muitas vezes, ainda bem que assim é.

Contudo, nos dias que correm, fomos criando juízes de bolso por aí. Atrás dos ecrãs conseguem incendiar-se discussões, rastilham-se ofensas e comentários mal-educados que raramente combinam com a imagem que temos das pessoas que os fazem (se as conhecêssemos num outro contexto, claro está).

Surpreende-me (e choca-me) a rapidez com que se idolatra e endeusa alguém para pouco tempo depois, se arrastar o nome da pessoa para a lama, para a denegrir e para a enxovalhar com base em informação que ninguém verifica e que, muitas vezes, é apenas uma das faces da tão “expressada” verdade.

As redes sociais são os tribunais mais parciais e menos sérios que existem e agarra-se em tudo e mais alguma coisa para se conseguir mais poder, mais dinheiro, mais seguidores e mais influência.

Ainda assim, somos igualmente testemunhas dos verdadeiros milagres e acertos de contas com base na justiça que aqui também se fazem.

Mas, pergunto-me? É este o lugar para julgar? Para aferir verdades e mentiras como se fossemos todos donos do mundo? É assim, atrás do ecrã de um telefone e de um computador que se destrói a vida de uma pessoa sem direito ao contraditório?

Justiça sim, mas não a todo o custo.

Verdade sim, mas aquela que é transparente e límpida como um rio e não a que se envolve em sombras e sujidade.

Parece-me que somos todos capazes de fazer um bocadinho melhor, não é?



Marta Arrais

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

A vida não é sobre forçar coisas, é sobre confiar...




A vida não é sobre forçar coisas, é sobre confiar...

A vida não é sobre forçar "coisas" mas sobretudo, confiar na viagem.

Um destes dias, num momento de reflexão, falava sobre a importância da viagem, que é a vida, e sobre o que é realmente valioso para cada um ao longo do tempo.

Talvez as perspetivas se alterem e, ao invés de desvalorizarmos aquilo que não apreciamos, passamos a ver com outro olhar todas as dimensão da nossa existência.

Despimos as camadas que nos afastam de quem somos, para nos entregarmos ao encontro da verdade em cada um e da realidade que nos liga uns aos outros, como um só.

Não há melhor viagem do que aquela que é feita de dentro para fora. Onde o conhecimento e a sabedoria das experiências nos permitem ir mais fundo e nos transformam no íntimo de nós mesmos.

Há viagens que são feitas sem sairmos do mesmo lugar. A vida não é sobre forçar coisas, é sobre confiar. Escutar, respeitar cada coração que fala, que expressa a sua história, a sua vida cheia, o seu tempo... a sua viagem.

Boa semana!


Carla Correia

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Um pedacinho de amor




Às vezes, tantas vezes, são as coisas simples.

Um pequeno gesto que, à primeira vista, possa parecer-nos nada, pode ser tudo para alguém.

Um abraço apertado, uma mão dada, um olhar nos olhos, um sorriso do coração, uma palavra de ternura, um silêncio de compreensão, uma companhia a amparar, um gesto de amor.

Um pequeno gesto de amor pode ser sol nos dias cinzentos, luz na escuridão, paz na tempestade.

Um pedacinho de amor, mesmo o mais pequenino, pode não mudar o mundo inteiro, mas pode mesmo, mesmo, mudar o mundo de alguém.

Esse sopro de amor pode ser o abraço que alguém precisa, o colo que lhe falta, o refúgio onde se pode curar.

O mais pequenino sinal de amor pode ser a chama da esperança a reacender-se no coração de alguém.

Gesto a gesto e pedacinho a pedacinho, às vezes, tantas vezes, mesmo sem se saber, pode-se salvar o dia de alguém, tocar a vida de alguém, fazer sorrir o coração de alguém.

E talvez isso, fazer corações sorrir, seja o sentido de tudo. E o nosso sentido também.


Daniela Barreira



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

«Uma Boa Medida»



O Ser humano tem medida para tudo.
Quem faz a medida estar certa ou errada?
Quem dá valor à unidade de medida?

E o Amor? A Alegria? A Vida? Têm medida?

Entre todos os ensinamentos que Cristo oferece no Evangelho…
Eis o mais árduo:

«Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,
abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam.
A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra;
e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. (…)»

Mas quem pode escutar estas palavras?
É uma questão de justiça… É loucura!
Quem tem o inimigo na mão e o deixa fugir?
Quem anseia que a carne, a parte humana, seja maior que o Espírito, maior que a Alma?

No silêncio…
Na angústia de admirar Adão e deixar o apelo dO Cristo com medida reduzida…
Peço Perdão pelas vezes em que recuo na missão de Ser Peregrino de Esperança.

Hoje, Pai Misericordioso, do Amor infinito
quero usar só a Tua medida.

Jesus, Filho Misericordioso, da infinita Alegria
ensina-me a entender a Tua medida.

Espírito Santo, Misericórdia profunda que dá a Vida Eterna,
ilumina o meu caminho para que eu Leve Jesus a Todos e Todos a Jesus
sem medida…


Liliana Dinis


domingo, 23 de fevereiro de 2025

O DEUS DA MISERICÓRDIA…

 



A liturgia deste domingo desafia-nos a pôr de lado a nossa velha lógica retributiva do “olho por olho, dente por dente”, as nossas contas de mais e de menos para classificarmos os nossos irmãos e as suas ações, e a substituir tudo isso pela lógica do amor. Só assim seremos verdadeiramente filhos do nosso Pai que está no céu.

A primeira leitura apresenta-nos David, o homem de coração magnânimo. Tendo a possibilidade de eliminar Saul, o inimigo que o perseguia para o matar, David decidiu não erguer a mão contra o “ungido do Senhor”. David acreditava que a vida pertence a Deus; e só Deus tem o direito de tirar a vida a alguém.A história dos homens está profundamente marcada pela violência. Pensa-se muitas vezes que a violência é a forma mais eficaz para resolver as diferenças e os conflitos; considera-se, por outro lado, que só recorrendo à violência é possível travar o aventureirismo dos agressores de serviço, empenhados em reescrever em seu favor a história do mundo. Para onde nos tem levado esta lógica? A história recente conheceu duas guerras mundiais que se saldaram em muitos milhões de mortos e numa destruição que deixou marcas por toda a terra… Mas, apesar das lições da história, não mudamos muito a nossa lógica. Em pleno séc. XXI continuamos a alimentar conflitos e guerras desumanas, numa espiral de violência e ódio que passa de geração em geração e parece não ter fim. Por cima de tudo isto, paira o espectro de um holocausto nuclear que pode acabar com a civilização e a vida na terra. Mergulhados neste cenário, continuamos a acreditar que a violência é o caminho para fazer nascer um mundo mais livre, mais justo e mais humano? Não será a hora de escolhermos outros caminhos para resolver as diferenças e os conflitos de interesses que separam os povos?

No Evangelho Jesus define os traços fundamentais da identidade do verdadeiro discípulo. De acordo com Jesus, o “amor” – o amor gratuito, incondicional, ilimitado, sem fronteiras – está no centro dessa identidade. A grande razão pela qual Jesus convida os discípulos a perdoar, a amar os inimigos, a rezar pelos violentos e os maus, é o facto de serem filhos de um Deus que é amor. Os filhos de Deus são chamados a mostrar ao mundo, com a sua forma de viver e de amar, a bondade, a ternura e a misericórdia de Deus.O que é que significa amar os nossos inimigos? Somos obrigados a ser amigos de quem nos faz mal? Jesus exigirá que nos demos bem com os violentos, os injustos, os que nos agridem sem motivo? Amor e simpatia são coisas diferentes. A afinidade, o afeto, a empatia, a inclinação, a atração, não são fruto de uma decisão consciente, mas são algo que surge espontaneamente entre duas pessoas que se querem bem. Quando Jesus nos convida a amar os inimigos, está a pedir outra coisa: está a pedir que não nos deixemos vencer pelo ódio e pelo desejo de vingança, que não cortemos as pontes do diálogo e do entendimento, que não nos recusemos definitivamente a acolher a pessoa que nos magoou, que não evitemos dar o primeiro passo para ir ao encontro de quem errou, que não neguemos à outra pessoa a possibilidade de sair da sua triste situação e de começar uma vida nova… Seremos capazes de tratar o nosso irmão que errou com humanidade, sem o condenar definitivamente?

Na segunda leitura Paulo de Tarso convida-nos a encararmos a morte física como a passagem para uma nova vida, ao lado de Deus, onde continuaremos a ser nós próprios, mas sem os limites que a materialidade do nosso corpo nos impõe. Estamos destinados à comunhão com Deus, a sentarmo-nos todos à mesa do Pai. Se esse é o nosso destino final, fará sentido odiarmos os nossos irmãos enquanto andamos na terra, a caminho da casa do Pai?Encarar a morte física como o momento do encontro com a vida plena, permite-nos ver cada passo que damos na terra a uma nova luz. Ajuda-nos a ver as realidades deste mundo como não definitivas; faz-nos apreciar as coisas bonitas que encontramos na terra sem as absolutizarmos; liberta-nos do medo que paralisa, que nos impede de agir e de nos comprometermos; dá-nos coragem para enfrentar as forças de morte que oprimem os homens e escurecem o mundo; ilumina cada passo do nosso caminho com as cores da alegria, da harmonia, da serenidade e da paz… A certeza da ressurreição é para nós fonte de esperança?


www.dehonianos.org

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Oração pela saúde e cura do Papa Francisco




 

Sabedoria Popular: «Diz-se que o amor...»



Cada qual terá a sua própria experiência, mas já diz o povo que não há luar como o de janeiro nem amor como o primeiro, o amor da praia fica enterrado na areia e amor forasteiro amor passageiro. Também se diz por aí que o amor não envelhece pois morre criança, o amor nasce de quase nada e morre de quase tudo e o amor novo vai e vem mas o velho se mantém.

O que sei é que, como diz a sabedoria popular, o amor nasce da vista e vai ao coração, o amor é cego e a amizade fecha os olhos, o amor olha de tal maneira que o cobre lhe parece ouro, a afeição cega a razão, quem ama o feio bonito lhe parece, o amor e a afeição cegam os olhos do entendimento, por mais que o amor se encubra mal se dissimula, em amor mais difícil é ocultar o que se sente do que o que se sabe e o amor é um frenesim que todos veem menos quem dele está possuído.

Também não ignoro que o amor dá muito trabalho e até consumições, grande amor grande labor, quem tem amores tem dores, a dificuldade é o aguilhão do amor, quem mais ama mais madruga, o amor a muito obriga, grande amor grande perdão, a chaga do amor quem a faz a sara, o amor é cego mas vê muito ao longe e o amor não tem lei e é sempre imprudente.

A verdade é que amor que pica sempre fica, pancadinhas de amor não doem, amores amuados amores dobrados, mãos frias coração quente amor para sempre, mãos quentes amores ausentes e o amor e a fé nas obras se vê.

Ainda dizem as pessoas que o amor dá coragem e dá fraqueza, o amor é um passarinho que não aceita gaiola, o amor morre mais de indigestão do que de fome, quem tem sorte ao jogo não tem sorte aos amores, ninguém se faz amar pela força ou pela violência e no amor quem foge é que é o vencedor.

Valha-nos a convicção de que o amor é como a lua, quando não cresce míngua, o amor é forte como a morte, o amor tudo vence, amor com amor se apaga, onde manda o amor não há outro senhor e amar e reinar nunca dois a par.

Resta-me um pedido: procura "amar-me quando menos mereço, pois é quando mais preciso".


Paulo Costa

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

DAS CADEIRAS DE SÃO BENTO À CÁTEDRA DE PEDRO



Por vezes, quando o cansaço é muito e a meta se apresenta a anos-luz de distância, quer seja uma caminhada mal calculada para as próprias forças, quer seja um trabalho penoso a ter de levar a cabo, logo surgem, na esquina do tempo, as saudades duma cadeira ou sofá para descansar um pouco, talvez a escrever, brincando. Conseguindo isso, é com estridente aplauso que nos apetece atribuir o prémio nobel a quem inventou tais geringonças. E há muitas, de muitos gostos, estilos e feitios: cadeiras cadeirões cátedras poltronas bancos bancadas... E não servem apenas para descansar, não estão todas ao serviço de todos, nem todos se sentam nestas ou naquelas, quer pela sua função, quer pela sua qualidade e preço, quer pelo perfil dos seus utentes. Conforme o seu adn, o nome que lhes dão, o local onde se colocam e a ciência ergonómica que comportam, depressa manifestam o seu propósito, logo fazendo subir ao toutiço o perfil de quem as irá usar. Tanto podem insinuar poder e responsabilidade, como lembrar tiranias, despotismo, corrupção, velhice, doença, dependência, brinquedo, jardim, morte...
E toda esta minha verborreia para desviar o leitor da gana de zurzir em quem, por estes dias, incendiou de vergonha as briosas e nacionais cadeiras de São Bento. As vozes, os ditos, as provas e o fastio acumulam-se a denunciar aqueles quiproquós de lesa parlamento e democracia. Não se pode tirar o chapéu a ninguém por zelo tão zeloso em ‘palavradas de tarimba’, a menos que - se isso bastar! -, a menos que enfie o barrete e peça desculpa, dizem os craques na matéria. Sentindo-se a necessidade, não se sabe bem que espécie de maquineta poderá extinguir a dureza cardíaca de tais modos de manifestar o amor pátrio e o desamor humano, desconfiando-se que nem o pirelióforo do cientista de Arcos de Valdevez, com as suas elevadas temperaturas, seria capaz de o conseguir. Sabemos, isso sim, é que há mosquitos por cordas e a procissão, se ainda vai no adro, em honra de São Bento é que ela não é. Se o fosse, daquele local de nacional representação e visibilidade, ninguém faria discurso rasca e acima dos decibéis razoáveis, evitar-se-ia que as carótidas se amontanhassem e fossem enxergadas de longe sem necessidade de binóculos. Convém dizer-se, no entanto, que, por vezes, a carga elétrica do entusiasmo de uns, por causa do altíssimo progresso que defendem, é de tal ordem excessiva que os fusíveis de outros vão aos ares e aos arames, mas isso, se as regras são respeitadas, faz parte do jogo. Em democracia sem sinodalidade e com alguma gincana, há que vender o produto sem admitir que a galinha do vizinho é melhor que a minha, embora possa ser e disso haja plena consciência. Dando atenção aos mui sábios da Grécia, muito se lucraria se se limitasse a chavasquice às áreas dos passos perdidos onde se convive, conversa, mexerica, coscuvilha, enfeita, espera e desespera. Quando isso entra mesmo na sala das reuniões plenárias, não só prova quão perdidos foram os passos de quem votou nos talentos em causa, como também azeda quem, digna e responsavelmente, aceita a missão e a arte nobre da política para servir o povo. Porque, de facto, nem tudo é farinha do mesmo saco, viremos o bico ao prego e falemos daquela outra cadeira que, por estes dias, até é digna de uma comemoração festiva em todo o mundo! Sim, em todo o mundo!
Começou por ser atribuída a um pobre pescador, sem formação académica, sem pretensões de tribuno, sem nunca se ter apresentado em público, mas líder incontornável e responsável-mor duma instituição cuja tarefa, apesar de já orçar mais de dois mil anos de existência, ainda está no seu princípio, como fermento no meio da massa. E recomenda-se! Tal Cadeira representa princípios e valores, tem significado espiritual, é sinal de unidade na diversidade, recorda a dignidade da pessoa que, em nome de Jesus, dela abençoa e ensina urbi et orbi, faz memória da sua autoridade, do seu magistério, do seu carisma, da sua missão, não cabendo simplesmente aos homens decidir quem é que a vai ocupar. Jesus, o Verbo de Deus encarnado, fundamento e fundador da Igreja, foi quem escolheu Pedro para ser o primeiro a usuar essa Cátedra, capacitou-o com o Espírito da Verdade e permanece unido à sua função e à função dos seus Sucessores, que são eleitos como “princípio e fundamento perpétuo e visível de unidade” (LG23).
O Bispo da Diocese de Roma, que é o Papa, tem como sua catedral a Basílica de São João de Latrão, a qual, por isso mesmo, é a catedral de todas as catedrais do mundo. O nome de catedral vem-lhe de cátedra e cátedra é a sede fixa do Bispo, na igreja mãe de uma Diocese. É o símbolo da autoridade e doutrina, que o Bispo, como sucessor dos Apóstolos, é chamado a preservar e transmitir à comunidade cristã. No entanto, a Cátedra por excelência, com toda a sua riqueza e simbolismo, encontra-se na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Do tempo do Papa Dâmaso I, nascido no século IV, possivelmente em Idanha-a-Velha, hoje território desta nossa Diocese de Portalegre-Castelo Branco, é uma inscrição com data do ano 370, a qual se refere a uma cadeira ou trono, considerada como a Cadeira do Apóstolo Pedro. Dessa cadeira restam algumas partes de madeira, conservadas e honradas, no Altar da Cátedra, num lugar projetado por Bernini, com a forma de uma cadeira de espaldar alto, num trono de bronze decorado com as três passagens do Evangelho que ilustram a missão de Pedro, do Papa: aquela passagem em que Jesus confia a Pedro a missão de apascentar as suas ovelhas (Jo 21, 17), a do lava-pés (Jo 13, 14) e a entrega das chaves do Reino dos Céus (Mt 16, 19). Pedro é o fundamento, a rocha sobre a qual se apoia o edifício da Igreja, tem as chaves do reino dos céus para abrir ou fechar, pode ligar ou desligar, estabelecer ou proibir o que considerar necessário para a vida da Igreja. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus” (Mt 16,13-19). Qualquer sociedade ou grupo precisa de ter uma Cabeça visível para se orientar. Como Jesus, a Igreja é humana e divina. Tem em Cristo a sua Cabeça divina, invisível. Tem no Papa a sua Cabeça humana, o chefe visível, a pedra sobre a qual Jesus quis edificar a Sua Igreja: “a Minha Igreja”, a Igreja de Jesus, não existe outra.
Nesta hora de fragilidade do sucessor de Pedro, rezemos pelo Papa Francisco, ‘para que o mistério da cruz o fortaleça, o alivie, o reanime e lhe dê esperança’. Associemos também à oração os profissionais de saúde e quantos lhe dá apoio neste momento.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 21-02-2025.

Onde se devem preparar os caminhos?


A vida é um caminho feito de muitos etapas. Todos os dias são diferentes e únicos e nunca ninguém pode parar nem sequer por um instante, muito menos voltar atrás e refazer o que fez.

É bom parar e dirigirmos o nosso olhar para o que temos feito, preparando os passos que havemos de dar. Mas onde podemos preparar assim os nossos dias que hão de vir? Talvez fora do caminho, num qualquer deserto onde o vento nos inspire a admirar o sopro que nos anima. Um deserto onde estejamos sós, por alguns momentos ou horas, apenas nós connosco mesmos, onde possamos avaliar em conjunto com as nossas razões e emoções, os rumos que temos seguido, os porquês e as formas como temos andando…

Há quem julgue que a nossa história já está escrita e que a nossa liberdade é uma espécie de ilusão. A verdade é que não decidimos nem onde começamos, nem aquilo que temos na mochila, nem, tão-pouco, o que nos vai acontecendo. Mas somos livres e isso é de tal forma profunda que chega a causar vertigens do futuro. Uma angústia por darmos conta de que afinal estamos nas nossas mãos.

É bom parar. Silenciarmo-nos e aquietarmo-nos. E nesse jejum de palavras, possamos dar a nós mesmos a esmola de um tempo de paz. Descansar a fim de chegar a compreender o passado antes de nos lançarmos para diante rumo ao céu dos nossos dias.

Que haja sempre desertos nos nossos caminhos.


José Luís Nunes Martins

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Sobre Amor



Ouvi há dias, pelo professor de teologia, Alexandre Duarte, que o amor não é um sentimento e sim uma ação! Ora eu nunca tinha parado para pensar nisso?!

Pois que adianta dizer que se ama se não se materializar esse amor em algo concreto e que faça o outro sentir- se realmente amado?

Disse também que amar "de verdade" também pressupõe sempre amar alguém, porque amar- me não chega!

Ora o Amor, esse nobre, que move montanhas, que arranca sorrisos, que arrebata corações, que segura bem alto a bandeira da paz, que respeita, que agrega, que faz feliz, não pode ser nunca preterido em função, do que tantas vezes importa tão pouco, mas se sobrepõe!

Conclusão: Amor precisa-se!


Lucília Miranda,

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Estou abraçado à minha zona de conforto?



Os abraços preenchem-nos. Dão “enchimento” emocional aos nossos contornos humanos e dão-nos sempre uma certa faísca de esperança, mesmo quando tudo parece ser caótico.

Parece-me, no entanto, que temos tido pouco tempo para abraçar e ser abraçados das maneiras certas. Abraçamos o tempo como se fosse nosso; abraçamos o dinheiro; abraçamos os lugares onde vamos; as fotografias que tiramos “para partilhar”; abraçamos o trabalho muito demoradamente e, no final do dia, já nos sobra pouca energia para abraçar as pessoas que fazem parte deste Rio Maior onde todos desaguamos diariamente.

Refletindo, ainda, sobre esta nossa capacidade de inverter o que abraçamos, seguimos pela vida como quem anda à boleia; não sabemos muito bem quem somos nem do que gostamos, mas se nos dizem para ir por aqui; ou por ali… vamos. E ousamos ir abraçando o que não é nosso, mas dos outros. O que não são as nossas verdades, mas as dos outros.

Há, ainda, uma incrível habilidade que conseguimos repetir e aprofundar (às vezes durante meses ou anos): abraçar a nossa zona de conforto. Apertamos os braços da vida à volta de uma rotina mais ou menos tranquila, mas previsível. Sabemos, exatamente, o que não é bom para nós, mas repetimos. Ignoramos. Aguentamos mais um bocadinho.

Sabemos que mais à frente pode haver uma página em branco, por estrear, com coisas novas e diferentes, mas olhamos para o mais-do-mesmo com uma certa nostalgia porque, pelo menos, aquilo já conhecíamos. Era mau, mas conhecido. Não nos fazia bem, mas também não nos deixava feridos de morte.

Quando foi que nos ensinaram a acreditar que merecemos assim tão pouco?

Quando foi que nos disseram que a zona de conforto tem de ser para sempre sob pena de se perder tudo, ou de nos perdermos?

Quando foi que nos fizeram crer que não há nada a fazer e que mais vale deixar passar o Carnaval em que o mundo desfila, enquanto abanamos a cabeça (ou a cauda?) e seguimos de cabeça baixa?

Presta atenção. Quem quer que tenha sido, enganou-te. E enganou-nos. Não é só isto, a vida. Não é só isso, a vida. Tu és muito mais e a vida também pode ser.


Marta Arrais

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

O novo nome da pobreza



As circunstâncias da vida, por vezes, colocam-nos em situações que levam a escolhas e comportamentos que nunca imaginávamos que teríamos de fazer.

A atual circunstância, de guerras e pobreza, desafia-nos e pode ser fonte de reflexão e de mudança a diferentes níveis. Estamos habituados a um estilo de vida consumista no que diz respeito a bens, coisas e até mesmo a relações de trabalho, amizade e amor.

Para onde nos está a levar este caminho? Vivemos com mais paz? Mais esperança? Mais felicidade? A vida pede-nos uma mudança, uma nova abordagem à história humana, sobre o que é essencial e o que é supérfluo.

Precisamos de ir contra a corrente! Precisamos de resgatar o valor da sobriedade que já esquecemos e que é tipicamente evangélico. Somos chamados a afastar-nos da lógica, mais ou menos reconhecida, de que uma pessoa tem valor pelo que possui e não pelo que é, para fazer a difícil transição da exterioridade para a interioridade.

Isto tem muitas repercussões na nossa maneira de pensar, de ver e julgar os outros, de educar os filhos, de escolher o que comprar, de viver a nossa relação com os bens, e até com as redes sociais. É-nos pedido um maior discernimento e sobretudo um regresso aos valores essenciais que dão profundidade à vida e são fundamentais para o crescimento humano.

A precariedade em que vivemos pode abrir-nos à partilha, que é o novo nome da pobreza evangélica. Partilhar é um apelo a sair de nós mesmos para perceber o outro, para poder ver, para nos fazer próximos, como na parábola do Bom Samaritano. É fazer de nós próprios coração e mãos para quem nos é próximo: talvez um parente, um vizinho ou alguém distante. Partilhar é entrar no dinamismo divino do excesso, do exagero por amor, não da poupança.

Com o pouco ou muito que somos ou temos, todos nós podemos crescer neste estilo de vida. Como crentes, devemos abrir novos horizontes de humanidade e solidariedade a partir das nossas famílias e comunidades, vivendo concretamente esta fraternidade evangélica de partilha para o bem de todos.

Precisamos de vencer a desconfiança, o medo. É necessário abrirmo-nos à confiança que constrói uma rede de solidariedade e proximidade. Deixar de ouvir aqueles profetas da desgraça que veem apenas inimigos e não irmãos, exigem a conversão dos outros e não a sua própria. Matam a esperança num futuro melhor.

Este é o desafio do Evangelho, para o homem de ontem e de hoje. Este é o caminho para reconstruir a Humanidade.

Partilhemos, pois.


: Paulo Victória,


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

«Bendito quem confia no Senhor»



O tempo passa e a tristeza angustia o meu coração.

Sou como pobre que tudo possuiu e nada tem.

Sinto uma fome insaciável.

Baixo a cabeça e choro…


Quando foi que perdi a Fé na Tua Ressurreição, Senhor Jesus?

Não sei…

Entre os desejos de ser maior que os outros…

A vontade de falar tudo o que acho que é a verdade…

As caminhadas sem sentido que me afastam do Pão da Eucaristia…

E a indiferença perante a guerra que o mundo edifica…


Bom Pai,

sou um cardo que se esquece de como é bom abandonar-se aos Teus desígnios.

Vivo no deserto ao aceitar a vida que o mundo me apresenta.

Mas Tu… Tu não Te afastas de mim.

Queres o meu coração aberto e capaz de levar Jesus a Todos e Todos a Jesus.


No alimento que partilho com o sem-abrigo que me fita com o olhar…

Nesta hora em que o grito do vizinho que chora é mais forte que a dor que sinto…

No abraço que construo com todos os que se sentem marginalizados e incompreendidos…

Sou árvore plantada à beira do rio! Sou Bem-Aventurada! Sou peregrina da Esperança…


E sem mais “Ais” na minha vida, a felicidade plena invade a minha Alma.

Estou pronta para anunciar que o Nosso Jesus desceu do monte…

Colocou-se no mesmo plano que cada um de nós…

e ao erguer o Seu olhar salvou a Humanidade inteira… salvou a minha e a tua Vida.



Liliana Dinis

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.

 



A Palavra de Deus que nos é proposta neste sexto domingo comum fala-nos de opções, de escolhas acertadas para construir uma vida com sentido. De um lado está o caminho que Deus propõe; do outro está o caminho que nos é apontado pela lógica dos homens. O caminho que Deus aponta parece um caminho “improvável” e obriga-nos frequentemente a navegar contra a corrente; mas é, garantidamente, o caminho que nos leva à vida verdadeira.

Na primeira leitura o profeta Jeremias garante que, se apostarmos tudo em realidades humanas e efémeras estaremos a desperdiçar a nossa existência; mas se colocarmos a nossa esperança em Deus e aceitarmos viver de acordo com as indicações de Deus, encontraremos vida em abundância e felicidade sem fim.Só vivemos uma vez. Não podemos arriscar-nos a falhar a nossa existência. A nossa vida é um capital demasiado importante para ser esbanjado. Por isso, temos de escolher bem as nossas apostas, os valores em que investimos, as escolhas que fazemos. No entanto, as coisas nem sempre são claras e definidas. Há muita confusão no nosso mundo e muitos interesses cruzados: há coisas que nos são oferecidas como oiro, mas que não passam de um qualquer metal sem valor; há caminhos que nos dizem levar à felicidade e à plena realização, mas que acabam por não nos conduzir a lado nenhum; há investimentos que nos são apresentados como “garantidos”, mas que acabam por nunca nos trazer qualquer retorno. Sobre que bases devemos assentar a nossa vida para que ela valha a pena? O que significa construir a nossa existência sobre rocha firme? Quais os valores a que não podemos renunciar para que a nossa vida não seja um fracasso?

No Evangelho Jesus mostra aos discípulos e à multidão como chegar à felicidade verdadeira. O caminho que Ele aponta – o das “bem-aventuranças” – contradiz absolutamente a lógica humana e inverte completamente a nossa escala de valores; mas apresenta-se com o selo de garantia do próprio Deus. De acordo com Jesus, é o caminho para um mundo mais humano, mais fraterno e mais feliz.Dois mil anos depois de Jesus ter feito o “sermão da planície”, as “bem-aventuranças” continuam a soar aos nossos ouvidos de uma forma estranha e paradoxal. Deixam-nos perplexos e algo desconcertados, pois apontam num sentido que parece ir contra o senso comum. Parecem subverter todas as nossas lógicas e contradizer tudo aquilo que sabemos sobre êxito e fracasso. São um desafio que ameaça todas as nossas certezas e seguranças, a nossa sabedoria convencional e a nossa organização social. Poderão realmente ser um caminho para a felicidade e para a plena realização do ser humano? Jesus tem razão quando garante que a verdadeira felicidade se alcança por caminhos completamente diferentes dos que a sociedade atual propõe? As “bem-aventuranças” serão uma desculpa de fracassados, conversa de gente que não tem coragem para competir, para se impor, para triunfar, ou serão uma forma de construir um mundo diferente, mais justo, mais humano e mais fraterno? O nosso mundo ganharia alguma coisa se abandonássemos a competitividade e a luta feroz pelo êxito humano e optássemos por viver na lógica das “bem-aventuranças”? Seríamos mais livres e mais felizes se renunciássemos a certos valores que a sociedade impõe e passássemos a viver de acordo com os valores propostos por Jesus?
As “bem-aventuranças” dão-nos um retrato bem bonito do coração paternal e maternal de Deus. Garantem-nos que Deus é sensível ao sofrimento dos seus filhos e que sente um carinho especial pelos que sofrem mais. Ele está sempre disponível para confortar os que estão feridos e magoados e para os ajudar a sair da sua triste situação. Como é que vemos e sentimos esta “sensibilidade” de Deus pelos mais frágeis e pequenos? Agrada-nos? É para nós fonte de esperança? O carinho de Deus pelos que precisam mais de amor inspira-nos e leva-nos a cuidar especialmente dos nossos irmãos que a vida maltrata? Somos testemunhas e profetas do amor de Deus no mundo?

Na segunda leitura Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Corinto – e aos crentes de todos os lugares e tempos – convida-os a acreditar na ressurreição e a viver de olhos postos no mundo que há de vir. Se esse for o nosso horizonte, saberemos que as coisas deste mundo são passageiras e não devem ser a prioridade da nossa vida.Há questões que, mais tarde ou mais cedo, não podemos deixar de equacionar… Qual o sentido último da nossa vida? Para onde caminhamos? Que nos espera no final do caminho (sempre tão breve!) que percorremos aqui na terra? Estamos condenados ao nada, ao absoluto desaparecimento, ou há uma existência nova, totalmente outra, à nossa espera? Paulo, depois de conhecer a ressurreição de Cristo, a sua vitória sobre a morte, acredita firmemente que estamos destinados à ressurreição, a uma vida nova e definitiva, imersos no amor de Deus. Cristo abriu-nos as portas dessa vida nova que nos espera, ao encontro definitivo com o amor de Deus. Se essa vida futura não existisse, seríamos “os mais miseráveis de todos os homens” e a nossa fé não faria qualquer sentido – diz Paulo. Como vivemos e sentimos tudo isto? No horizonte da nossa existência está a certeza do encontro com o Amor, com a vida nova que Deus oferece aos seus filhos queridos?

À ESCUTA DA PALAVRA.

Há diferenças entre as bem-aventuranças na versão de Mateus e na de Lucas. Indiciam duas tradições. Mateus apresenta nove bem-aventuranças, Lucas somente quatro. Mateus diz que Jesus subiu a montanha… Lucas diz que Ele desceu da montanha… Uma contradição apenas aparente. Dois relatos complementares. Para escutar as bem-aventuranças em Mateus, é preciso subir à montanha, elevar-se, subir para Deus. Isso sugere que, para viver segundo o espírito do Evangelho, não nos podemos fechar nos estreitos limites da terra. É preciso subir, respirar um ar mais puro, mais transparente. Isso exige, certamente, um esforço, pois trata-se de deixar o Espírito soprar em nós o ar de Deus. É preciso esforço, como para subir uma montanha, é preciso treino, paciência e também silêncio, atenção interior. Mas isso não significa que devemos desinteressar-nos desta vida muito concreta, da vida ordinária de todos os dias. O Evangelho não é uma droga que nos faria ver um mundo desencarnado. Jesus quer encontrar-nos na planície das nossas vidas muito reais, como está expresso nas situações das bem-aventuranças. Por seu lado, os ricos são infelizes porque, no fundo, se esquecem de sair de si mesmos, de subir à montanha para respirar o ar de Deus.

www.dehonianos.org

sábado, 15 de fevereiro de 2025

O lugar de chegada, és tu...



O lugar de chegada, és tu...
Os nossos maiores sentimentos nem sempre são os mais verdadeiros, pois muitas vezes apenas queremos permanecer no que já conhecemos.

Esperamos por "melhores tempos", quando na verdade se olharmos novamente para dentro, compreendemos que somos nós que os podemos criar.

A forma como acordamos em cada dia, como vemos a vida, como nos relacionamos connosco e com os outros, faz toda a diferença, para fazermos dela, (vida) melhor.

Inevitalmente, vamos passar por momentos e experiências difíceis. E, certamente, só a força revestida de um amor que vem de dentro, nos ajudará a reconstruir o caminho de uma nova estrada.

Ao revisitarmos as narrativas da nossa existência, podemos dar-lhes novos significados. Nós somos o nosso lugar de chegada. Somos a força divina, o amor, a paz, a esperança e a fé que tem morada em cada um dos nossos corações.

Que em silêncio, eu posso escutar a voz do meu...

Boa semana!


Carla Correia

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

DE VALENÇA A COIMBRA E VISEU A CAMINHO DO ALÉM...



Embora a vida dê muitas voltas, o primeiro santo português não é um sobrevivente do fatídico IP3 que liga Coimbra a Viseu. Não anda a encomendar as almas dos que dali emigram para perpétuos domicílios. Não corre de Anás para Caifás a pedir um novo piso, menos curvas, mais faixas, vias sem portagem. Não litiga para assegurar corredores ecológicos e passagens de animais para defesa dos ecossistemas locais. No seu tempo, nem os crentes esperavam tais milagres, tudo era chão que dava uvas e ninguém chamava mau àquilo que todos tinham como muito bom! Mas, resiliente e sem adiar, o nosso santo não deixou de rasgar o seu caminho, com brio e dignidade, sem se resignar a um rame-rame sem gosto nem sentido. Marcou a diferença por onde foi passando a fazer o bem e a bem fazer. Os santos são assim, uns tratados com alguns volumes de introdução! Abraçam com perseverança a prova que lhes é proposta e rejeitam ser olhados como pessoas fora do comum. Atestam que a prova que lhes foi proposta é proposta a todos e todos a podem alcançar mesmo com algumas lesões e entorses. De facto, todos somos chamados à santidade, todos temos a possibilidade de lá chegar por entre os desafios e as oportunidades com que o trajeto da vida nos honra. E se Deus, como primeiro aliado, nos oferece todas as condições e apoios para lá chegar, os santos também nos dão uma mãozinha, atados que estamos por laços de amor e comunhão.
Teotónio, um ‘santo súbito’, nasceu no Alto Minho, no lugar de Tardinhade, freguesia de Ganfei, concelho de Valença, pelo ano 1082. Uma capelinha de 1618, em alvenaria, e uma estátua da autoria do escultor José Rodrigues, no exterior, assinalam que foi ali - ou por ali -, que o pimpolho espionou a vida, bebeu das águas da fonte de Torninho e lhes deu a fama de águas milagreiras com muitas e santas lendas à mistura. Do nicho da frontaria da capela, o São Teotónio de pedra se pisgou com más companhias e sem avisar, acho eu. Lá é que ele não está, desde há muito que sumiu. Da referida estátua, um mui nobre cortejo valenciano foi ao Vaticano oferecer uma réplica ao Papa Francisco, em 2018. Foi bonito! Outra estátua existe na cidade de Valença, dentro das muralhas, outras haverá por aí. Batizado na igreja do mosteiro beneditino local, supostamente do século VII, onde receberia também a formação básica, Teotónio, sobrinho de D. Crescónio, Bispo de Coimbra, estudou filosofia e teologia em Coimbra e Viseu. Ordenado sacerdote, serviu como Prior a Sé de Viseu. Na sua primeira viagem a Jerusalém, sem ser um presente envenenado mas olhando à pessoa que era, ofereceram-lhe o cargo de Prior dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e a Custódia do Santo Sepulcro. Declinou tal convite como viria a declinar o bispado da Sé de Viseu, assim correu pelas redes sociais da época. Aliado de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, foi-o estimulando e aconselhando a ter juizinho na peleja pelo território, rabujando por ele ter escravizado os moçárabes da região de Lisboa. Humilde e austero, atento aos desamparados e doentes, grande devoto de Nossa Senhora, profundamente integrado no espírito da reforma gregoriana, foi uma pessoa notável, de ideias arejadas, reconhecido por todo o Ocidente e admirado por São Bernardo de Claraval o qual até lhe terá oferecido um báculo.
De novo à Terra Santa, aí planeava permanecer, mas, em seu tempo, acaba por regressar a Portugal. Com mais 11 irmãos e sob a proteção do Papa Inocêncio II, funda a Ordem dos Cónegos Regrantes da Santa Cruz, construindo o seu Mosteiro, em Coimbra, do qual se tornou o seu primeiro Prior. Com 70 anos de idade, renuncia ao cargo de Prior. Entregando-se à oração e à contemplação, desviveu 10 anos depois, como diria o Meritíssimo do programa televisivo. Desviveu a 18 de fevereiro de 1862, em Coimbra. Jaz no Mosteiro de Santa Cruz ao lado do primeiro rei de Portugal, continuando muito amigos. No entanto, e tanto quanto nos é lícito presumir pelos dados em mão, Teotónio, sem ser uma espécie de chico-esperto a querer passar a perna ao rei, conseguiu ultrapassá-lo, se não nas armas, noutras áreas mais pacíficas. Um ano depois da sua morte, foi canonizado pelo Papa Alexandre III. É o primeiro santo português elevado aos altares. O seu culto divulgou-se um pouco por todo o mundo. É padroeiro de várias terras, cidades e dioceses, dá o nome a instituições várias e a várias iniciativas culturais.
Henry Bergson, filósofo francês do século XX, observou que "as maiores personagens da história não são os conquistadores, mas os santos". A Igreja sabe e diz que os santos são o seu fruto mais amadurecido e eloquente, o farol, o verdadeiro património da humanidade a honrar o homem e a dar glória a Deus. São a verdadeira e determinante maioria a indicar caminhos seguros de orientação. Traduzem o divino no humano, o eterno no tempo, a grandeza na humildade. Interessantes e credíveis, sempre ajudaram a promover novos modelos culturais, novas respostas aos problemas e aos desafios sociais, novos desenvolvimentos de humanidade no caminho da história. Por isso, hoje, dificilmente se elabora um estudo académico de valor histórico, cultural, social, político, religioso, pedagógico... prescindindo destas pessoas historicamente significativas no contexto da sociedade em que viveram. Os santos e santas oferecem material abundante e historicamente fiável, independentemente da abordagem e do estudo com que alguém se aproxime deles.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 14-02-2025.


O abraço de um amigo



Um abraço sincero vale mais do que mil beijos de cortesia ou um milhão de palavras de apoio, e é a prova de um amor profundo, sendo a forma mais simples de dois corações baterem um junto do outro.

Na alegria, com um abraço, procuramos dar o que transborda em nós. Na tristeza, com um abraço, procuramos o que nos falta.

Só sabemos se um amigo é bom nos maus momentos; alguns precisam de muito pouco para saber que precisamos deles e vêm tão rápido quanto possível até nós.

Face à fraqueza ou exaustão das nossas forças, colocam os seus braços à nossa volta, ao nosso serviço, e amam-nos ao tentarem ficar com as nossas dores, carregando a nossa cruz… Mas há uma estranha sensação quando, com a nossa ajuda, o nosso amigo toma sobre si a sua dor e a consegue levar sozinho e, por vezes, até com um sorriso de coragem.

Se queres saber quem é alguém, repara em quem são os seus amigos e por que razão o são. O amor não é uma troca nem um seguro de assistência; é um compromisso de dar, de se dar, e, se tiver de se sofrer pelo outro, sofre-se, porque se sabe, com certeza, que só amando se pode chegar a ser feliz.

Feliz de quem tem com quem ser metade de um abraço! É só nos braços de alguém a quem também quero envolver nos meus braços que me sinto a caminho do céu.

Tens um bom amigo?

E tu, és um bom amigo?

Se o fores, então também os terás.

Neste instante, quem são aqueles que o teu coração tem vontade de abraçar?

Sabes mesmo quem são aqueles cujo coração, neste instante, tem vontade de te abraçar?


José Luís Nunes Martins


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Magoar uma mulher é insultar Deus



Primeira notícia ouvida ontem de manhã: “Só no primeiro mês deste ano, temos um quinto do total das mortes ocorridas em todo o ano de 2024”.

Pelo menos cinco mulheres morreram só em janeiro. São dados da UMAR, a União de Mulheres Alternativa e Resposta. Não são dados oficiais. Foram obtidos através de notícias publicadas na imprensa. Portanto, poderá haver mais. Hediondo!

A violência contra as mulheres é um fenómeno comum a todos os estratos sociais e a todas as idades. As vítimas nunca devem acreditar que o mereceram. Devem aprender a reconhecê-lo, a perceber a gravidade das agressões, não só físicas, mas também psicológicas. Infelizmente, é preciso convencer muitas mulheres a exigir relações baseadas no respeito mútuo. Suportar silenciosamente a desigualdade e os maus-tratos – subestimar a violência ou, pior, tolerá-la – é extremamente perigoso. A escalada do comportamento agressivo é imprevisível e custa vidas.

O problema é antes de mais cultural: se as mulheres são consideradas seres inferiores, uma espécie de objeto do qual se pode dispor à vontade, é evidente que é fácil, para certos homens, acabarem por destruí-las. Torna-se fácil, a um homem proprietário, sentir-se no direito de castigar a mulher, até mesmo com a morte, quando acredita que as suas próprias regras de honra, fidelidade e obediência incondicional foram violadas.

A incapacidade dos homens em tolerar a liberdade das mulheres, creio, está ligada à maior autonomia que as mulheres têm hoje em dia, em comparação com há alguns anos. Os homens têm dificuldade em lidar com estas mudanças. E podemos vê-lo nas culturas nórdicas, onde há mais igualdade de género.

Não é suficiente aumentar as penas deste crime. Não basta alterar o direito penal, porque diz respeito a quando é tarde demais, quando os crimes já foram cometidos.

Além de uma mudança cultural de toda a sociedade, é preciso mudar a sensibilização dos autores ou potenciais autores da violência doméstica a procurarem ajuda e serem apoiados num processo de alteração dos seus comportamentos.

Constatar que há violência doméstica, não basta. É preciso agir à priori. É preciso que não haja e/ou não se repita. É preciso criar espaços, caminhos de reflexão para que, quem cometeu crimes violentos ou mesmo quem corre o risco de os cometer, tome consciência de não desvalorizar os atos cometidos ou aqueles que poderão resultar num feminicídio. Muitos homens não têm consciência da sua própria responsabilidade e transferem-na para a vítima ou mesmo para as leis, para a educação ou para os costumes...

A família e a escola desempenham um papel fundamental no combate à violência de género. Podem e devem, intervir ao nível da prevenção. E educar sobre a igualdade e o respeito, criando a renovação cultural que é fundamental para conter o fenómeno. O conceito de mulher como ser inferior deve ser derrubado logo nas primeiras fases da educação do rapaz e da rapariga. É na família e na escola que os princípios de igualdade de tratamento entre os sexos devem ser ensinados e praticados.

No diálogo com os jovens vejo que dão importância ao crescer numa família onde os pais ensinam aos filhos o respeito pela mulher. Muitos estão sensíveis e interessados em participar em projetos de prevenção e em participar em iniciativas onde se ensina o respeito mútuo.

É fundamental, oferecer modelos concretos de relações equilibradas e equitativas às novas gerações. Se a família é frágil, a escola ou outras instituições como a paróquia ou associações desportivas podem e devem intervir como lugares formativos válidos.

«Magoar uma mulher é insultar Deus que a partir de uma mulher assumiu a nossa humanidade», disse o Papa Francisco na homilia da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, 1 de janeiro de 2022.


Paulo Victória


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Eis-me aqui!




É uma afirmação que exige compromisso mas que exige, acima de tudo, coragem.

Coragem para olhar, olhos nos olhos, e reconhecer que o melhor que temos a dar é Estar aqui.

Coragem para assumir que “haja o que houver”: Estarei aqui.


Mas este ato de Estar implica atitudes dignas de um compromisso que vai mais além da palavra. Quando assumes que estás, assumes que darás de ti, nada menos que o melhor de ti, seja isso o que for- assumes que estás tal como és!


Essa coragem está cheia de desafios e para isso socorro-me da Bíblia para me inspirar. Ora vejamos, os escolhidos por Deus para grandes causas revelaram muita humildade pois reconheciam que, ou eram muito novos, ou não sabiam falar e outras vezes até medo de enfrentar os poderosos da época - como os compreendo! A todos eles Deus prometeu algo, mas mais do que isso “não os escolheu porque eram capazes, mas capacitou-os para a missão”.


Com certeza já recebeste uma missão, uma proposta ou um desafio para o qual não te achaste capaz e tiveste dúvida da tua capacidade para o levar a bom porto. Eu sei bem o que isso é! Por isso acredito que a chave é mesmo a humildade para ter a coragem de assumir as dúvidas e as limitações que temos. É assumir que independentemente das nossas fragilidades e limitações estamos dispostos a estar presentes e dar o melhor para cumprir a missão confiada.


Não, não estou a pensar em grandes feitos como os dos profetas, mas as coisas triviais do dia a dia que exigem o nosso total compromisso.


Eis-me aqui no trabalho a dar a cara pelo sucesso e fracasso;

Eis-me aqui em casa a fazer o possível para que seja um lar harmonioso;

Eis-me aqui na escola a tentar aprender a saber-saber, saber-fazer e saber-ser;

Eis-me aqui, na comunidade a dar de graça o que de graça me foi dado.

Eis-me aqui…


Tudo isto dá muito trabalho e nem sempre corre como gostaríamos mas significa que confiamos em nós e naquilo que a nossa presença pode fazer nos outros. O resto… a Deus pertence.

E tua amiga, quantas vezes tens a coragem de dizer: Eis-me aqui?


 Raquel Rodrigues


terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

11 de fevereiro - Dia Mundial do Doente




11 de fevereiro - Dia Mundial do Doente

Este 11 de fevereiro, a Igreja Católica celebra no o 33º Dia Mundial do Doente. A data foi instituída pelo Papa São João Paulo II a 11 de fevereiro de 1992, na memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, que também hoje se assinala.
O tema do DMD deste ano é: “«A esperança não engana» (Rm 5, 5) e fortalece-nos nas tribulações”, inspirado numa passagem da carta de São Paulo aos Romanos.
Na mensagem para este dia, o Papa Francisco elogia os “anjos de esperança” que acompanham quem sofre, apontando a importância de gestos de amor e proximidade.
“Todos juntos somos ‘anjos’ de esperança, mensageiros de Deus, uns para os outros: doentes, médicos, enfermeiros, familiares, amigos, sacerdotes, religiosos e religiosas. E isto, onde quer que estejamos: nas famílias, nos ambulatórios, nas unidades de cuidados, nos hospitais e nas clínicas”, escreveu Francisco.
Reze connosco a Oração do Doente

ORAÇÃO DO DOENTE

Deus,
Pai da vida
ensina-nos como o sofrimento
se pode tornar
um lugar de aprendizagem
da esperança.
Senhor Jesus
escolheste partilhar
o sofrimento do homem.
Renova o nosso amor
e fazei surgir
a estrela da esperança.
Espírito consolador
fortalece a esperança,
sustenta o sofrimento na solidão,
ensina-nos a sofrer
com os outros,
pelos outros.
Santíssima Trindade
ensina-nos a crer,
a esperar e a amar
como Maria, nossa Mãe.
Amém.

«Quem enviarei?»




Quem enviarei?”

Envia-me a mim, Bom Pai do Céu.
Sinto no profundo da minha Alma que habitas em mim,
porque os meus lábios impuros
foram tocados pelo carvão ardente da Tua Misericórdia.
Dá-me coragem para que a minha vida transmita o Evangelho.
Para que muitos olhem para mim, e acreditem na Ressurreição…
Acreditem na plenitude da Vida,
que só é vivida ao levar Jesus a Todos e Todos a Jesus,
como Peregrinos da Esperança.

“Vinde comigo…”

Vou conTigo, Senhor Jesus
A minha Vida é a Tua rede…
Não hesito nem mais um minuto.
Faço-me ao largo e confio!
És Tu quem me desafias a viver como Pescador de Homens…
A ser imagem de Perdão e Coragem!
Sim! Vou conTigo, Jesus, Bom Mestre!

Vou conTigo!
Serei Paz onde reina a desordem da ambição de ser superior ao outro.

Vou conTigo!
Serei Fé quando as trevas da morte e do desânimo caírem sobre a terra.

Vou conTigo!
Serei Alegria na partilha do sorriso que restitui a Caridade.

Vou conTigo!
Porque acredito que és Tu Quem conduzes os meus passos…
És Quem desata os meus lábios…
És Quem afina os meus Silêncios…
És Quem desafia os meus maiores abraços!

Vou conTigo…



Liliana Dinis,


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Procura dentro de ti...



Procura dentro de ti...


Procura dentro de ti... pois mesmo um mar revolto traz à superfície a beleza do fundo do oceano. Muitas vezes o que se passa no exterior pouco importa. A verdadeira sabedoria está na travessia das águas agitadas, da fé que nos leva a caminhar e a despertar para a vida.

Não precisamos compreender tudo, precisamos confiar. O entendimento surge, naturalmente, pela paz.
A paz que habita dentro de cada um.

E por muito que o mar esteja revolto, procura dentro de ti. Escuta. Confia.
Há muito a fazer. É importante não desperdiçar energia no surpeficial.
Não te agarres a uma realidade que te magoa. Avança, o comboio passa e não fica muito tempo na mesma estação.

Temos todos um pequeno universo no interior de nós mesmos. Somos únicos. Perfeitos. Quando compreendermos isso, encontraremos uma força inquebrável.

É a nossa capacidade de transformar que nos guia pela vida. O respeito e o amor próprio, o respeito e o amor ao outro.


Carla Correia


domingo, 9 de fevereiro de 2025

Eis-me aqui: podeis enviar-me

 



A liturgia deste domingo fala-nos de “vocação”. Lembra-nos que Deus conta connosco para concretizar o seu projeto de salvação para o mundo e para os homens. Desafia-nos a responder com generosidade ao chamamento de Deus.

A primeira leitura traz-nos a descrição plástica do chamamento de um profeta – Isaías. Enquanto dialoga com Deus, Isaías apercebe-se de que Deus tem planos para ele. Apesar de se sentir frágil e indigno, Isaías abraça o convite de Deus e responde, com toda a convicção: “eis-me aqui: podeis enviar-me”. A resposta de Isaías poderia muito bem ser o modelo da nossa resposta ao Deus que chama.Deus, para concretizar o seu plano de salvação, conta com todos os seus filhos e filhas. Cada um de nós tem o seu lugar e o seu papel no projeto que Ele tem para o mundo e para os homens. É Deus que, de acordo com critérios que só Ele conhece e define, escolhe quem quer, chama quem quer e envia quem quer. A nossa “história de vocação” é a história de como Deus vem ao nosso encontro, entra na nossa vida, desafia-nos para a missão, pede uma resposta à proposta que nos faz. Temos consciência de que Deus nos chama, às vezes de formas bem banais, para o seu serviço? Estamos atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e através dos quais nos diz, a cada momento, o que quer de nós? Estamos disponíveis para responder com generosidade aos desafios que Deus nos lança, mesmo quando eles vão contra os nossos projetos pessoais ou contra os nossos interesses particulares?

No Evangelho, Lucas oferece-nos uma imagem do “barco de Simão Pedro”, metáfora da comunidade cristã. Jesus está lá, sentado a ensinar todos aqueles que se dispõem a escutá-l’O. Os que viajam nesse barco devem orientar-se pela Palavra e pelas indicações de Jesus. O Mestre quer entregar-lhes uma missão: serem “pescadores de homens”. Eles são chamados a trabalhar com Jesus na libertação de todos os homens e mulheres afogados no sofrimento sem sentido.O “barco de Simão Pedro”, de onde Jesus proclama a Boa Notícia do Reino de Deus, é uma bela e sugestiva imagem da comunidade cristã. Muitos homens e mulheres que estão “na margem” da vida e da história, olham para o “barco de Simão Pedro” e aguardam ansiosamente as palavras de Jesus. Não veem outra saída, não vislumbram outra esperança. A comunidade cristã é, neste agitado séc. XXI, o espaço privilegiado onde a voz de Jesus ecoa no mundo para consolar, para animar, para curar, para apontar caminhos, para dar vida? No meio do rugido das tempestades que o mundo enfrenta, fazemos tudo o que podemos para tornar percetível, para os nossos irmãos e irmãs que esperam “nas margens”, a voz de Jesus? As palavras que dizemos aos homens e mulheres que anseiam por uma vida mais humana, são as palavras de Jesus? O “barco de Simão Pedro” em que viajamos com Jesus está pintado com as cores da misericórdia, da solicitude, da compreensão, do acolhimento, do perdão, da bondade, da ternura de Deus? O “barco de Simão Pedro” cumpre o seu papel de levar a todos os homens e mulheres o testemunho de Jesus?

Na segunda leitura, São Paulo fala-nos da ressurreição de Cristo, uma realidade que nos abre perspetivas novas e que nos permite encarar a vida com esperança. Recorda-nos que somos chamados – como o próprio Paulo foi – a acreditarmos e a sermos testemunhas da vida nova que brota de Jesus e da sua proposta.Para nós, cristãos, a ressurreição de Jesus não é apenas uma verdade que professamos quando dizemos o credo, mas é uma certeza que ilumina a nossa vida e imprime um sentido novo à história dos nossos dias. Nós, discípulos de Jesus, não vivemos da memória de um “morto” que a história conheceu, digeriu e arrumou na galeria das figuras notáveis cobertas pelo pó dos tempos, mas caminhamos atrás de alguém que está vivo, que continua a encontrar-se connosco, a caminhar ao nosso lado, a alimentar-nos com a sua Palavra e com o seu Pão, a apontar-nos o caminho que conduz à vida. Como é que sentimos a ressurreição de Jesus? Experimentamos a presença de Jesus, sentimos que o seu Espírito nos anima e conduz enquanto viajamos pela vida? O facto de Jesus ter vencido a morte muda a nossa perspetiva da vida?
A vitória de Jesus sobre a morte, a injustiça, a mentira, a maldade, traz à nossa vida um suplemento de coragem e de esperança. Garante-nos que não há morte para quem aceita fazer da sua vida uma luta pela justiça, pela verdade, pelo projeto de Deus. Fornece-nos as armas de que precisamos para vencer o medo e fortalece-nos na decisão de lutar pela instauração do Reino de Deus. Foi isso que os apóstolos perceberam quando se encontraram com Jesus ressuscitado. A certeza da ressurreição encoraja-nos a lutar, sem a paralisia que vem do medo, por um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano?


PALAVRA PARA O CAMINHO…

As últimas palavras do sacerdote na missa são palavras de paz: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!” Eis-nos enviados entre os homens, nossos irmãos, como Isaías, como Simão, como Paulo… E, como eles, não nos sentimos dignos de cumprir a missão que Deus nos confia em cada Eucaristia. Mas, como a Isaías, a Simão, a Paulo, uma palavra forte é dita a cada um de nós: “Não tenhas medo…” Partamos, como Paulo… com a certeza de que não sou eu que trabalho sozinho, “é a graça de Deus, que está comigo!”

 

www.dehonianos.org

sábado, 8 de fevereiro de 2025

O primeiro dia do resto das nossas vidas.



E é uma música sim senhora, e uma música que me martela a cabeça muitas vezes.

Sinto que a vida é feita de recomeços de “primeiros dias” e de oportunidades para fazer algo diferente mesmo que nos estejamos constantemente a queixar das rotinas. Mas quando a tua rotina é alterada por algo súbito que te perturba? Quando te vez obrigada a repensar todas as tuas horas, ocupações e canseiras?

Imagino o que seja estar à espera de um resultado de um exame de saúde que pode mudar tudo. Imagino o que, nesse instante, te passa pela cabeça, a ansiedade e as dúvidas. E quando chega o resultado e “está tudo bem” suponho que se respire fundo e diga ”é o primeiro dia do resto da minha vida”.

Imagino quando esperas o resultado de algo que pode mudar a tua vida: a entrada na universidade, o resultado de um teste de gravidez, um problema que se resolva, ou algo até mais trivial, imaginas? Pois é! Uns resultados podem mudar muita coisa, para melhor ou pior, outros nem tanto, mas todos nos colocam em cima de um muro a ver para que lado caímos e para que lado seguimos.

Já te sentiste no primeiro dia do resto da tua vida? Em que momento? Como reagiste?

Quem é mãe como eu, sabe bem que o nascimento de um filho é o primeiro dia do resto de uma vida totalmente diferente. Mas acredito que quem sobrevive a uma doença, também deve sentir uma enorme gratidão.

Mas sabes, sendo o primeiro dia do resto das nossas vidas, então que nunca te faltem “amigos que ofereçam leito” e que lutes sempre pelo que” levas a peito” para que valha sempre a pena viver esse dia como sendo o primeiro ou mesmo o último.

Venham muitos primeiros dias!

E tu amiga, quando foi a última vez que sentiste que era o primeiro dia do resto da tua vida?


Raquel Rodrigues




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

DIA MUNDIAL DO MATRIMÓNIO



Segundo Domingo de fevereiro! Dia Mundial do Matrimónio! Um momento de graça para que marido e esposa possam agradecer a graça do matrimónio e renovar o entusiasmo da primeira hora, cuidando-se mutuamente, tendo presente que o matrimónio é uma tarefa diária, “um trabalho artesanal, uma obra de ourivesaria”, assumida e realizada por ambos, com alegria, crescendo juntos, caminhando juntos, rezando juntos, educando juntos. Entre tanta variedade de estilos familiares - alguns tão provisórios e assentes sobre areia que só arrastam sofrimento e desconsolo -, convido os leitores, com alguns documentos debaixo do braço, a fazerem um agradável passeio pelos passadiços que Jesus oferece, para que as famílias cristãs gozem das belas paisagens da vida e sejam capazes de permanecer fortes e firmes na alegria do amor, gerando empatia e atraindo outras famílias a viver a vida que liberta e salva. Os filhos agradecem! Os familiares também! O Dia dos Namorados será menos comercial e mais verdadeiro!
Trepar pelos passadiços fora, abaixo e acima, tem as suas dificuldades, é verdade. Pode causar vertigens, gerar algum cansaço, fazer bolhas nos pés. Sentar um pouco, porém, respirar o ar fresco e olhar a paisagem com olhos de ver, faz renovar o entusiasmo e usufruir ainda mais e melhor a riqueza envolvente, dá força para levantar e seguir em frente, com alegria e esperança. Jesus nunca disse que os passadiços da vida seriam planos e fáceis de percorrer. Mas prometeu que, quem fosse perseverante até ao fim, receberia a coroa da vitória.
Deus é amor, é comunhão de pessoas, revela-se em traços familiares. Fomos criados à sua imagem e semelhança. O amor mútuo entre homem e mulher, a constituição dessa íntima comunidade de vida e de amor conjugal está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, desde o princípio, é inata. Deus criou o homem, declarou que não era bom que estivesse só, colocou a seu lado a mulher, sua imagem, sua igual, sua companheira. E logo o homem exclama: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! (...) Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e unir-se-á à sua mulher, e eles serão uma só carne (...) Deus abençoou-os e disse-lhes: “sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e cuidai-a”. A Sagrada Escritura fala do casamento como símbolo da Aliança de Deus com o seu povo, fala “do seu ‘mistério’, da sua instituição e do sentido que Deus lhe deu, da sua origem e da sua finalidade, das suas diversas realizações ao longo da história da salvação, das suas dificuldades nascidas do pecado e da sua renovação no Senhor, na Nova Aliança de Cristo e da Igreja”. Apesar de muitas variações culturais, sociais, políticas, ideológicas e espirituais terem tentado escavacar os alicerces da família, nunca ela perdeu aqueles traços comuns e permanentes que lhe conferem uma grandeza ímpar e necessária para o bem da pessoa e de toda a comunidade humana.
Os efeitos do mal são experimentados por todos e, não raro, sentem-se dentro do matrimónio, sobretudo quando se descuida o respeito mútuo, a delicadeza, a humildade, o diálogo, a verdade, a misericórdia, a oração individual e familiar. O pecado das origens, a rutura com Deus, teve como primeira consequência a rutura da comunhão original do homem e da mulher, dando logo origem a desculpas e acusações mútuas, fazendo com que a atração recíproca se convertesse em relação de domínio à mistura com discórdias e infidelidades, ciúmes e conflitos, ódios e ruturas. No entanto, apesar de ferida, a ordem da criação subsiste. Ao reconciliar tudo em si, Jesus redimiu o homem do pecado, reconduziu a família à sua forma original, elevou a união natural entre homem e mulher, união já de si exclusiva e irrevogável, à dignidade de sacramento.
Aos fariseus, inquisidores, Jesus afirmou que se algum desvio houve dos princípios fundacionais dessa união, foi devido à dureza do coração humano, e reafirmou-lhes: “não separe o homem o que Deus uniu” (cf. CIgC1602-1063). As propriedades naturais e fins do casamento (unidade, indissolubilidade, amor e auxílio mútuo e abertura ao dom dos filhos) não decorrem da sua elevação à ordem sacramental, como se quer fazer passar. São anteriores e universais, aplicáveis, em princípio, a todos os seres humanos, quaisquer que sejam as suas convicções religiosas, políticas, sociais e ideológicas. Com o Papa Francisco, também convém dizer que o sacramento do matrimónio não é uma mera “convenção social, um rito vazio ou o mero sinal externo dum compromisso. É um dom para a santificação e a salvação dos esposos, porque a sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja. Os esposos são, portanto, para a Igreja a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz; são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, da qual o sacramento os faz participar. O sacramento também não é uma ‘coisa’ nem uma ‘força’. É o próprio Cristo que vem ao encontro dos esposos cristãos no sacramento do matrimónio. Fica com eles, dá-lhes a coragem de o seguirem, tomando sobre si a sua cruz, de se levantarem depois das quedas, de se perdoarem mutuamente, de levarem o fardo um do outro. O matrimónio cristão é um sinal, indica quanto Cristo amou a sua Igreja na Aliança selada na Cruz e torna presente esse amor na comunhão dos esposos. (cf. AL71-73).

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 07-02-2025.


Viagem ao fundo de nós



Talvez dediquemos pouco tempo a aprofundar o conhecimento que temos de nós mesmos. Poucos são os que se dispõem à aventura de ir em busca daquilo que existe no mais profundo do nosso ser.

É preciso passar todas as superficialidades, não só pela quantidade, mas também pela enorme resistência que têm. Essas barreiras foram alimentadas por nós como forma de protegermos o nosso íntimo das possíveis agressões do mundo. Outras vezes, elas surgem para evitar que revelemos algo que poderia parecer chocante aos outros. Uma barreira resistente evita essas possibilidades com desfechos mais duvidosos e, por isso, mais indesejáveis.

Passada essa barreira mergulhamos num mar denso onde se sente muito mais do que se vê ou escuta. As emoções tocam-nos e parecem querer envolver-nos, alternam-se entre as boas e as más, os desejos mais puros em relação aos amanhãs com as feridas abertas por duros golpes de ontens mais ou menos distantes…

O tempo abranda o passo, como se tivesse resolvido parar para descansar um pouco. Tudo parece ficar em suspenso e pouco se percebe, mas há algo que nos sossega, uma raiz firme que podemos admirar e que, por nos ligar a algo ainda mais firme, nos dá a certeza de que não somos sem sentido.

Nenhum de nós é estranho a si mesmo, por mais que evite visitar-se. Tal como um amigo de longa data que, mesmo após décadas, nos olha e reconhece de uma forma tão penetrante, simples e desconcertante que chega a parecer um mistério sem explicação!

Entrar e conhecer a casa de alguém ajuda muito a conhecê-lo. Rumar à fonte de vida que há no nosso coração é uma das mais belas peregrinações a que somos convidados.

O fundo de mim não é muito diferente do fundo de ti. Conhecendo-me, conheço-te, da mesma forma que descubro muito de mim quando consigo ver o fogo que há por trás do teu olhar e lhe dá brilho ou te faz chorar.


José Luís Nunes Martins



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Eu fico feliz por ti e tu ficas feliz por mim?

 


Gostava que fossemos sinceros ao responder a esta pergunta! Mesmo de verdade.

É que há para aí tanta "inveja" mascarada de bem querer e tanta falta de empatia por quem somos e pela nossa história (e cada um tem a sua, e nela reside a resposta para muita coisa).

Que bonito e inspirador é saber que o outro conseguiu, foi mais além, foi reconhecido, teve mérito, está feliz. Certamente travou batalhas invisíveis aos olhos dos de fora, abdicou de comodismos, acreditou.

Precisamos de olhar para fora com mais coração e menos mente, traiçoeira tantas vezes, carregada de julgamentos e porquês?!

Vamos lá?

Lucília Miranda


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O que nos ensinam as partidas inesperadas?



As partidas repentinas e inesperadas ensinam-nos muito. É dura a lição que nos trazem, mas é muito importante.

Quando alguém nosso termina a sua passagem terrena sentimo-nos varridos. Absorvidos. Presos dentro de um corredor que nos esmaga e nos atira para um sentimento de incompreensão profunda. Colocamos tudo em causa. Repensamos a vida em dois minutos e prometemos que nunca mais fazemos isto ou aquilo. Nunca mais discutimos com ninguém. Nunca mais falamos antes de pensar muito bem o que vamos dizer.

A morte ensina-nos a vida. Revela-nos a essência de tudo. E a vontade de abraçar todos os que ainda estão vivos e que, às vezes, nem sabemos tratar bem.

Somos pequenas gotas de água num oceano de imprevisibilidade. Estamos a ser guiados e protegidos e “todos os cabelos da nossa cabeça estão contados”. Não invalida, porém, que nos seja difícil compreender a dimensão do mistério de muitos dos eventos que nos acontecem.

Mas conforta-nos compreender que há um Deus que nos abraça na maior das tristezas. Que temos uma Mãe que usa o próprio rosário para descer uma escada até ao nosso coração e até à raiz de tudo o que somos.

Se também Eles venceram a Morte, quem somos nós para duvidar da Vida com tudo aquilo que tem dentro?

Se somos confrontados com a brevidade de tudo, como não aproveitar cada instante como se fosse o último?

Se compreendemos que nunca sabemos quando será o nosso último dia, como não viver em Amor e entregar a nossa melhor versão em cada dia?

Se sabemos que estamos juntos neste caminho entre a Vida e a Morte, como não fazer um esforço para nos aproximarmos, mesmo quando nos irritamos, zangamos ou perdemos o Norte e a paciência?

Se vivemos debaixo deste mesmo Céu, como não acreditar que somos, também, a luz de cada uma das estrelas?


Marta Arrais

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

FEVEREIRO, 2025 - PELAS VOCAÇÕES À VIDA SACERDOTAL E RELIGIOSA | O Vídeo do Papa

 


No Vídeo, o Papa Francisco fala sobre sua história pessoal: "Quando eu tinha 17 anos, era estudante e trabalhava, tinha meus projetos. Nunca pensei em ser sacerdote. Mas um dia entrei na paróquia… e lá estava Deus, esperando-me!" “Deus continua chamando aos jovens também hoje, em ocasiões e modos que não imaginamos”, nos diz o Papa em seu vídeo para fevereiro, produzido por sua Rede Mundial de Oração com a colaboração de Vatican Media e da Arquidiocese de Los Ángeles. O Papa Francisco nos convida a confiar nos jovens e no Espírito Santo que age em suas vidas. Nos exorta a criar espaços em nossas comunidades para apoiar seus sonhos, dúvidas e processos de discernimento.


Quando eu tinha 17 anos, era estudante e trabalhava, tinha meus projetos. Nunca pensei em ser sacerdote. Mas um dia entrei na paróquia… e lá estava Deus, esperando-me! Deus continua chamando aos jovens também hoje, em ocasiões e modos que não imaginamos. Às vezes não o escutamos porque estamos muito ocupados com nossas coisas, com nossos projetos, inclusive com nossas coisas da Igreja. Porém o Espírito Santo nos fala também através dos sonhos e nos fala através das inquietudes que os jovens sentem em seu coração. Se acompanhamos seu caminho, veremos como Deus faz coisas novas com eles. E poderemos acolher seu chamado nas respostas que sirvam melhor à Igreja e ao mundo de hoje. Confiemos nos jovens! E, sobretudo, confiemos em Deus: porque Ele chama a cada um! Rezemos para que a comunidade eclesial acolha os desejos e as dúvidas dos jovens que sentem o chamado para servir à missão de Cristo na vida: seja a vida sacerdotal, seja a vida religiosa.