sábado, 13 de dezembro de 2025

“Fala para seres feliz… não fales para impressionar os outros".





“Fala para seres feliz… não fales para impressionar os outros".


Esta frase saiu-me num jogo de palavras; cada vez compreendo melhor a importância daquilo que dizemos, a intenção com que dizemos e a presença que oferecemos quando falamos.

Nem sempre a palavra que sai de cada um é impecável. Mas, ainda assim, a palavra guarda o poder de aproximar, de acolher e de preparar caminho.

Talvez seja por isso, que neste tempo de Advento, a consciência da palavra se torne ainda mais profunda.

O advento é um tempo de espera, mas não uma espera vazia. É um tempo que nos convida a refletir sobre o que trazemos dentro. Sobre os nossos pensamentos, as nossas emoções e... as nossas palavras.

A palavra pode ser semente.

Uma palavra que vem do coração abre espaço para chegar ao outro.
Abre espaço para a reconciliação.
Abre espaço para a paz e para a esperança...

Nesta época somos chamados a falar menos para impressionar e mais para sermos felizes. Quando a expressão vem de um lugar de amor, só pode iluminar.

Que neste advento, eu possa compreender que a palavra constrói e que o silêncio também tem espaço, para revelar internamente, o que verdadeiramente deve ser dito.

Que a palavra nos faça sorrir.

Boa semana!


Carla Correia


sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Espelho meu!





Sabes, realmente, quem és ou demoraste tanto tempo a construir a tua máscara que já não te é possível reconhecer o que, antes, habitava em ti?

Consegues encontrar-te quando te vês ao espelho ou, por vezes, é como se aquele rosto nem sequer te pertencesse?

As pessoas conhecem-te ou conhecem, apenas, a parte de ti que permites que esteja a descoberto?

Quantas camadas colocaste por cima da tua raiz, da tua essência, do teu corpo físico ou emocional?

Será que a pessoa genuína que eras pode ter dado lugar a uma versão mais facilmente aceitável por todos?

Fica difícil responder, com verdade, a estas perguntas. Julgo que talvez sejamos uma mistura da nossa versão original, e em bruto, e uma junção forçada da nossa versão social. Da versão que espera ser aceite pelos outros. Pela família. Pelos amigos. Ou por um estatuto que nem se sabe quem definiu.

No entanto, a versão nossa que interessa a Jesus é a mais tosca. A mais imperfeita. Aquela que não tem base nem batom. Aquela que não coloca um sorriso amarelo mesmo quando nos apetece nem olhar para ninguém. A nossa versão que rima com o presépio que nasceu com o Menino-Deus é aquela que não queremos mostrar a ninguém. Aquela que até preferíamos que nem existisse. Habituámo-nos a dar-nos pouco. Para sofrermos menos. E acabamos por nos esquecer, sem querer, de quem somos quando todas as luzes se acendem à volta de uma época que rima pouco com a verdade de quem nasceu para ser amado a partir da sua maior imperfeição. Da sua maior ferida. Da sua maior dor.

É quando tiramos todas as máscaras que podemos encontrar O verdadeiro amor. A verdadeira presença. E o silêncio de Quem nos salva, mais uma vez, a partir da estrela que guiou aqueles três reis.


Marta Arrais



quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Abrir a janela da vida



Como seria maravilhoso, neste Natal,
eu abrir a janela da vida que mantenho fechada há tanto tempo.
Há janelas que não se fecham por causa do vento ou da chuva.
Fecham-se por medo.
Por cansaço.
E, muitas vezes, por orgulho, esse velho guardião que se instala no peito e não deixa que a vida circule. Esse orgulho que diz “não foste tu que erraste”, “não és tu que tens de dar o primeiro passo”, e que nos convence, dia após dia, a manter a janela trancada por dentro.
E eu sei bem quais são as minhas janelas fechadas. Aquela que se fechou quando deixei de falar com um irmão. A outra que se fechou, devagarinho, ao pensar no cunhado, no filho, no vizinho, no antigo colega de trabalho que me feriu em lugares que ainda doem.
A mágoa ainda lá está, não se apaga, não se dissolve, não evapora.
Há memórias que não se esquecem, e talvez nem precisem de ser esquecidas. Mas carregá-las como pedras não tem de ser o destino.
O ódio mantém-nos divididos, cansados, encolhidos no canto escuro de nós próprios. E, no entanto, continuamos a segurá-lo, como se fosse um direito que não queremos largar.
O amor, por outro lado, é a força desarmada que cura, a coragem silenciosa que restaura, a compaixão que se atreve a olhar o outro — e a si próprio — com misericórdia. O amor é claridade a entrar onde já só havia pó.
Entre estas duas escolhas eu fico:
preso ao ressentimento ou livre para compreender. Preso ao orgulho ou livre para recomeçar. Acorrentado pelo ódio ou livre para acolher.
Custa reconhecer que também eu falhei, que também eu feri, que talvez tenha esperado demasiado que o outro viesse ao meu encontro. Custa baixar a guarda, reencontrar a humildade, permitir que o coração se abra antes da razão.
Mas… e se neste Natal eu tivesse essa coragem?
Se escolhesse a paz possível, não a perfeita, não a ideal, apenas a possível,
seria como vestir a alma para a festa.
Seria abrir a janela da vida e deixar entrar o ar fresco que há anos não respiro.
Seria sentir a brisa fria no rosto,
o cheiro da terra molhada a subir do chão,
a transformar o pó do ressentimento em adubo, para que outra vida possa nascer dentro da minha.
Imagino, então, como seria o Natal nas nossas famílias
se o programa fosse simples e profundo:
abrir a janela da salvação
onde hoje há bloqueios, divisões,
querelas antigas, orgulho endurecido,
e ressentimentos entranhados que pareciam impossíveis de derrubar.
Mas talvez — só talvez —
a primeira janela a abrir não seja a do outro.
Seja a minha.
E permitir, finalmente, que a luz volte a entrar.


Padre João Torres

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Nada nos pertence. Tudo nos é emprestado.



Nenhum de nós tem nada.
Por mais que apertemos as mãos, nada nos pertence de verdade. A vida empresta-nos tudo — a casa, o tempo, as pessoas, o corpo e, no dia em que partirmos, tudo ficará exatamente onde sempre esteve.Alugado. Provisório. Transitório. Mas é tão fácil esquecermos isso.
Convencemo-nos depressa de que somos donos: donos das coisas, donos dos lugares, donos até das pessoas. Corremos como se o mundo nos tivesse sido entregue em propriedade absoluta, e zangamo-nos por migalhas, por ninharias, por poeira que o vento leva antes mesmo de entendermos o que estávamos a segurar.
Disputamos o carro, defendemos a casa, vangloriamo-nos das férias, como se qualquer uma dessas coisas pudesse acompanhar-nos na última hora da nossa despedida.
Quanto mais vivo, mais percebo: não são as coisas que fazem a vida, é a atitude com que a atravessamos. A atitude pesa mais do que os factos. É maior que a educação que recebemos, o dinheiro que juntamos,
as circunstâncias que nos moldaram, os fracassos que tememos, os sucessos que exibimos.
É maior que tudo o que os outros pensem, digam ou façam. Maior que a aparência. Maior que o talento. Maior que a habilidade.
A atitude ergue ou derruba uma empresa…
uma comunidade…
uma igreja…
uma casa.
E o extraordinário, o verdadeiramente extraordinário, é que todos os dias nos é dada a possibilidade de escolher. Não podemos alterar o passado, nem controlar o modo como os outros agem, nem travar o inevitável. Mas podemos transformar que nos foi confiado: a forma como respondemos, o espírito com que levantamos os olhos, o tom com que seguimos em frente.
Estou convencido:
a vida é 10% o que me acontece
e 90% a forma como eu reajo.
Assim é comigo.
Assim é contigo.
Não somos donos de nada,
mas somos inteiramente responsáveis
pela atitude com que vivemos aquilo que nos é temporariamente emprestado.
E, no fim, talvez seja isso
o único verdadeiro património que deixamos no mundo.

Padre João Torres

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

E o Compromisso?



Mas afinal o que implica assumir um compromisso? Cada um de nós já teve de assumir vários e também cumprir as obrigações dos compromissos assumidos por outros mas, parece que a palavra perdeu eficácia, se calhar, tanta como tantas outras.

O compromisso assumido com alguém, com uma causa, ou até contigo mesmo implica responsabilidade e ação o que nem sempre se parece ajustar ao nosso modo de vida. Ora elenca lá, a quantidade de compromissos que tens hoje? Demasiados? Creio que ninguém gosta de estar preso a compromissos que nos fazem sair da nossa zona de conforto. De compromissos que nos fazem perder tempo, que nos irritam, que nos cansam e nos entopem a agenda. Se calhar assumimos demasiados compromissos, ou então, não assumimos nenhum porque não confiamos que o vamos cumprir.

Somos talentosos a arranjar desculpas para falhar a certos compromissos: ora o cansaço, as tarefas…e vamo-nos desculpando sem pensar bem nas consequências da nossa ausência. Normalizamos as nossas falhas e justificamos demasiadas vezes as nossas ausências sem uma pena de remorsos e tudo “fica a para a próxima”. Noutras nem justificamos, limitam-nos a falhar sem pinga de remorsos. Outras vezes somos meros corpos presentes que não emprestamos o nosso talento e capacidade ao outro, ou à causa porque: ”dá trabalho”.

Vemos cada vez mais pessoas com medo de assumir um compromisso, seja uma relação, uma reunião, uma proposta de atividade e opta por ficar no seu casulo alegando que assim está bem. E acredito mesmo que esteja! Mas será que não poderemos estar e fazer melhor? Imaginas como o teu mundo seria mais rico se te comprometesses também com causas ou movimentos?

Não tenhas medo do compromisso mas, ao assumir compreende entre outras coisas que:Se fazes parte de um grupo, responde a mensagens.
Se tens uma reunião, aparece.
Se te pedem uma tarefa, executa com brio.

Mesmo que às vezes não te apeteça, e até aches que és sempre a mesma a incentivar e a fazer, não falhes ao compromisso com leviandade. Se tiveres de faltar, faz com elegância e propões-te a fazer melhor. Caso contrario talvez o melhor seja não assumir o compromisso, no entanto, não desvalorizes a força da tua presença e da tua ação no mundo. Procura compromissos, não por serem fáceis, mas por serem valiosos para o bem comum e como tal para ti também. Não desperdices o dom que tens em ti.

E tu, amiga, quais os compromissos que tens?


Raquel Rodrigues

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Solenidade da Imaculada Conceição

 

https://www.dehonianos.org/portal/liturgia/?mc_id=1029


Na Solenidade da Imaculada Conceição somos convidados a equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo.
A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher, um projeto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
De acordo com o texto, Deus "elegeu-nos... para sermos santos e irrepreensíveis". Já vimos que "ser santo" significa ser consagrado para o serviço de Deus. O que é que isto implica em termos concretos? Entre outras coisas, implica tentar descobrir o plano de Deus, o projeto que Ele tem para cada um de nós e concretizá-lo dia a dia com verdade, fidelidade e radicalidade. No meio das solicitações do mundo e das exigências da nossa vida profissional, social e familiar, temos tempo para Deus, para dialogar com Ele e para tentar perceber os seus projetos e propostas? E temos disponibilidade e vontade de concretizar as suas propostas, mesmo quando elas não são conciliáveis com os nossos interesses pessoais?
A primeira leitura mostra, recorrendo à história mítica de Adão e Eva, o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência... Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte.
O texto ensina, ainda, que prescindir de Deus e dos seus caminhos significa construir uma história de inimizade com o resto da criação. A natureza deixa de ser, então, a casa comum que Deus ofereceu a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar algo que eu uso e exploro em meu proveito próprio, sem considerar a sua dignidade, beleza e grandeza. O que é que a criação de Deus significa para mim: algo que eu posso explorar de forma egoísta, ou algo que Deus ofereceu a todos os homens e mulheres e que eu devo respeitar e guardar com amor?
O Evangelho apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu "sim" total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo.
Diante dos apelos de Deus ao compromisso, qual deve ser a resposta do homem? É aí que somos colocados diante do exemplo de Maria... Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um "sim" total e incondicional. Naturalmente, ela tinha o seu programa de vida e os seus projetos pessoais; mas, diante do apelo de Deus, esses projetos pessoais passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário. Na atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho, mas há uma entrega total nas mãos de Deus e um acolhimento radical dos caminhos de Deus. O testemunho de Maria é um testemunho questionante, que nos interpela fortemente... Que atitude assumimos diante dos projetos de Deus: acolhemo-los sem reservas, com amor e disponibilidade, numa atitude de entrega total a Deus, ou assumimos uma atitude egoísta de defesa intransigente dos nossos projetos pessoais e dos nossos interesses egoístas?


https://www.dehonianos.org/

domingo, 7 de dezembro de 2025

Preparar o caminho

 

https://www.youtube.com/watch?v=LVQF6Fe9_iU


Preparamo-nos para celebrar o nascimento de Jesus. Na segunda etapa do “caminho do advento”, a liturgia refere-se à razão da vinda de Jesus ao encontro dos homens: Ele vem concretizar as promessas de Deus e inaugurar um mundo novo, radicalmente diferente desse mundo velho que conhecemos, cheio de ódios, de conflitos, de mentiras, de violências, de guerras. A Palavra de Deus que escutamos neste domingo pede-nos que acolhamos esse Menino de braços abertos e que aceitemos o desafio que Ele nos faz para integrar a comunidade do Reino de Deus.

Na primeira leitura, o profeta Isaías propõe, com a linguagem de um poeta e a convicção de um profeta, o projeto que Deus se propõe realizar em favor do Seu povo: no tempo oportuno irá chegar um “ungido” de Javé, nascido da família do rei David, que inaugurará um reino de justiça e de paz sem fim. Nesse mundo belo e harmonioso que então nascerá, “o lobo viverá com o cordeiro e a pantera dormirá com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos e um menino os poderá conduzir. A vitela e a ursa pastarão juntamente; e o leão comerá feno como o boi. A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra e o menino meterá a mão na toca da víbora”. Esta janela de sonho permite-nos entrever, ao longe, o Menino de Belém. Neste tempo de advento – o tempo em que nos preparamos para celebrar a vinda de Jesus à história dos homens – faz sentido questionarmo-nos sobre aquilo que ainda nos impede de acolher Jesus e a proposta que Ele, por mandato de Deus, nos veio trazer. O que é que temos de mudar na nossa mentalidade, na nossa forma de ver o mundo e os outros, na nossa forma de atuar, nos valores sobre os quais vamos edificando a nossa existência, para que se torne realidade o mundo sonhado por Deus? Há alguma coisa na nossa vida que esteja a ser obstáculo para que Jesus chegue até nós e para que possamos acolher a Sua proposta?

No Evangelho, João Baptista deixa um aviso a todos aqueles que vão procurá-lo no vale do rio Jordão: a concretização do Reino de justiça e de paz, outrora anunciado por Deus, está próxima. Para acolher o enviado de Deus, é necessário primeiro “converter-se”. Converter-se é abandonar os caminhos sem saída em que se anda e “voltar para trás”, ao encontro de Deus. Os que aceitarem fazer esse “caminho de conversão”, estarão preparados para acolher o Reino de Deus e para fazer parte da comunidade do Messias.João anuncia a chegada próxima de Alguém mais forte do que ele, que vem batizar “no Espírito Santo e no fogo”. A catequese cristã sempre entendeu que esse “Alguém” é Jesus. Ser batizado em Cristo é aceitar o convite para integrar a família de Deus, revestir-se de Cristo e identificar-se com Ele, receber o Espírito e deixar-se conduzir por Ele, passar a integrar a comunidade da salvação e comprometer-se a dar testemunho da vida de Deus. Nós, os que fomos batizados em Cristo, levamos isto a sério? Vivemos de forma coerente com a nossa condição de batizados? Sentimo-nos família de Deus? Identificamo-nos com Jesus e seguimo-l’O no caminho que Ele nos aponta? Vivemos atentos às indicações do Espírito? Somos membros de uma Igreja viva e colocamos ao serviço da comunidade os dons que recebemos? Damos testemunho da vida de Deus no meio dos outros homens e mulheres com os quais nos cruzamos todos os dias?

Na segunda leitura o apóstolo Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Roma, lembra-lhes algumas das exigências que resultam do compromisso que assumiram com Cristo. Sendo, junto dos seus concidadãos, o rosto visível de Cristo, eles devem dar testemunho de união, de harmonia, de fraternidade, acolhendo e ajudando os irmãos mais débeis e sendo sinais desse mundo novo que Cristo veio inaugurar.Neste tempo de advento – o tempo em que nos preparamos para celebrar a vinda de Jesus à história dos homens – faz sentido questionarmo-nos sobre aquilo que ainda nos impede de acolher Jesus e a proposta que Ele, por mandato de Deus, nos veio trazer. O que é que temos de mudar na nossa mentalidade, na nossa forma de ver o mundo e os outros, na nossa forma de atuar, nos valores sobre os quais vamos edificando a nossa existência, para que se torne realidade o mundo sonhado por Deus? Há alguma coisa na nossa vida que esteja a ser obstáculo para que Jesus chegue até nós e para que possamos acolher a Sua proposta?

https://www.dehonianos.org/

sábado, 6 de dezembro de 2025

ELES E ELAS SÃO A FINA FLOR DA HUMANIDADE

Na história da humanidade constam figuras proeminentes: líderes, políticos, cientistas, pensadores, artistas, atletas, ativistas e muitos outros que tiveram impacto significativo no mundo e na história dos povos. Uns fazem-no, com humildade, persistência e eficácia, pondo a render todos os seus talentos ao serviço de toda a comunidade humana, com sentido de responsabilidade e de missão no desenvolvimento da sociedade, do seu bem-estar, do bem comum. Outros ficam na história pela negativa, por se julgarem donos e senhores do mundo e agirem como tal, com prepotência inimaginável e ambição destruidora, sem valores nem respeito por ninguém, como verdadeiros predadores do próprio homem, esquecendo que estão a destruir-se a si próprios. Sim, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vem a perder a sua vida? (cf. Mc 8,36). Que adianta dar aso às ambições terrenas, sempre ilusórias e transitórias, desviando-se do que é, de facto, fundamental e eterno?
Entre as pessoas ilustres da humanidade estão os santos e as santas. Foram pessoas influentes ou menos influentes nos destinos da história na diversidade dos seus setores ou pessoas simples ‘de ao pé da porta’. Eles e elas são a ‘fina flor da humanidade’. Souberam ter prioridades na vida, investiram nela como um dom, entenderam que tudo quanto é dom de Deus implica tarefa humana, sem fugirem do mundo, sem cruzarem os braços, mas amando e servindo, com alegria e total dedicação, influenciando muitos e fazendo passar a mensagem de Jesus, seu Mestre, que passou pelo mundo a fazer o bem. Por isso, como lemos na Sagrada Escritura, “Muitos louvarão a sua inteligência, que jamais será esquecida. Não desaparecerá a sua memória e o seu nome viverá de geração em geração. As nações proclamarão a sua sabedoria e a assembleia celebrará os seus louvores” (cf. BSir 39, 8-14). Entre esses estão três grandes Arcebispos de Braga: São Martinho, São Frutuoso e São Geraldo que, em liturgia, celebramos conjuntamente. São Martinho, ‘oriundo da Panónia, na atual Hungria, nasceu no princípio do século VI. Era um homem de grande erudição e veio para a Galécia, por volta do ano 550. Converteu os suevos do arianismo à fé católica e fixou-se em Dume. Aí fundou um mosteiro, de que foi eleito bispo. Em 569 ficou a ser também bispo metropolita de Braga. Morreu no dia 20 de março, por volta do ano 579. Frutuoso nasceu no princípio do século VII, de nobre família visigótica. Fundou numerosos mosteiros, que muito contribuíram para a educação da juventude, como centros de vida religiosa e cultural. Finalmente, nomeado bispo metropolita de Braga, a fama da sua santidade e sabedoria estendeu-se a toda a Península Hispânica. Morreu no dia 16 de abril, por volta do ano 665. Geraldo nasceu na Gália, de nobre família. Professou no mosteiro de Moissac, de onde passou para Toledo. Eleito bispo de Braga, exerceu grande atividade na reorganização da diocese, na promoção da vida monástica, na reforma litúrgica e pastoral, bem como na aplicação da disciplina eclesiástica. Morreu na localidade de Bornes, no dia a 5 de dezembro de 1108, quando fazia as visitas pastorais nessa distante região’ (SNL).
Volto a transcrever, o que São Martinho escreveu no seu Opúsculo “Fórmula de vida honesta”, no século VI, e que sempre recordamos na Liturgia das Horas do dia 5 de dezembro. Diz-nos ele:
“Não procures granjear a amizade de alguém por meio da adulação, nem permitas que outros por meio dela granjeiem a tua. Não sejas ousado nem arrogante; submete-te e não te imponhas; conserva a serenidade e aceita de boa mente as advertências e com paciência as repreensões. Se alguém te repreender com razão, reconhece que é para teu bem; se o faz sem motivo, admite que é com boa intenção. Não temas as palavras ásperas, mas sim as brandas. Emenda-te dos teus defeitos e não sejas curioso indagador ou severo censor dos alheios; corrige os outros sem incriminação, prepara a advertência com mostras de sincera simpatia, e ao erro dá facilmente desculpa. Não exaltes nem humilhes pessoa alguma. Sê discreto a respeito do que ouves dizer e acolhedor benévolo dos que te querem ouvir. Responde prontamente a quem te pergunta e cede facilmente a quem porfia, para que não venhas a cair em contendas e imprecações. Se és moderado e senhor de ti mesmo, vigia sobre as moções do teu ânimo e os impulsos do teu corpo, evitando todas as inconveniências; não os ignores pelo facto de serem ocultos; pois não importa que ninguém os veja, se tu de facto os vês. Sê flexível, mas não leviano; constante, mas não teimoso. A tua ciência não seja ignorada nem molesta. Considera a todos iguais a ti; não desprezes os inferiores com altivez, e não temas os superiores, se vives rectamente. Em matéria de obséquios e saudações não te dispenses nem os exijas. Para todos deves ser afável; para ninguém, adulador; com poucos, familiar; para todos, justo. Sê mais severo no discernimento do que nas palavras e mais nobre na vida do que na aparência. Afeiçoa-te à clemência e detesta a crueldade. Quanto à boa fama, não apregoes a tua nem invejes a alheia. Sobre rumores, crimes e suspeitas não sejas crédulo nem inclinado a pensar mal, mas opõe-te decididamente àqueles que com aparente simplicidade maquinam a difamação alheia. Sê tardo para a ira e fácil para a misericórdia; firme nas adversidades, prudente e moderado nas prosperidades; ocultador das próprias virtudes, como outros o são dos vícios. Evita a vanglória e não busques o reconhecimento das tuas qualidades. A ninguém desprezes por ignorante. Fala pouco, mas tolera pacientemente os faladores. Sê sério mas não desumano, e não menosprezes as pessoas alegres. Sê desejoso da sabedoria e dócil. Sem presunção, ensina o que sabes a quem to pedir; e sem disfarçar a ignorância, pede que te ensinem o que não sabes.”


D. Antonino Dias
05/12/2025


sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Pelos cristãos em contextos de guerras e conflitos - O Vídeo do Papa - Dezembro 2025

 


https://www.youtube.com/watch?v=W2S9AgoaS8g&list=PLbrmDDANazj1Zcr8Eh7qKB-Rh2aAS0Q_r&index=1

Na última intenção de oração do ano de 2025, o Papa nos pede que rezemos "para que os cristãos que vivem em contextos de guerra ou de conflito, especialmente no Oriente Médio, possam ser sementes de paz, reconciliação e esperança”. Às vésperas de sua primeira viagem apostólica, à Turquia e ao Líbano, o Santo Padre nos convida a não “cair na indiferença” e a ser “construtores de unidade”, rezando com ele ao “Deus da paz” por estas comunidades para que não se sintam abandonadas. As imagens deste vídeo, realizado pela Rede Mundial de Oração do Papa, nos mostram exemplos de uma fé inquebrantável, inclusive em meio dos escombros. Vemos as celebrações em povoados iraquianos que voltaram à vida, a força da comunidade paroquial de Gaza e o trabalho indispensável de Cáritas no Líbano entre os pobres e refugiados. 

---- Rezemos para que os cristãos que vivem em contextos de guerra ou de conflito, especialmente no Oriente Médio, possam ser sementes de paz, reconciliação e esperança.

 Deus da paz,
que, pelo sangue do Teu Filho, 
reconciliaste o mundo contigo,
 hoje rezamos pelos cristãos 
que vivem em meio a guerras e violências.

 Mesmo cercados pela dor,
 que nunca deixem de sentir
 a gentil bondade da Tua presença 
e as orações de seus irmãos e irmãs na fé. 

Pois somente por Ti,
 e fortalecidos pelos laços fraternos,
 podem tornar-se sementes de reconciliação,
 construtores de esperança em pequenos e grandes gestos, 
capazes de perdoar e seguir adiante,
 de superar divisões
 e de buscar a justiça com misericórdia.

 Senhor Jesus, que chamaste bem-aventurados
 os que promovem a paz, 
fazei de nós instrumentos da Tua paz, 
mesmo onde a harmonia parece impossível. 

Espírito Santo,
 fonte de esperança nas horas mais sombrias,
 sustentai a fé dos que sofrem 
e fortalecei a sua esperança. 
Não permitas que caiamos na indiferença,
 e fazei de nós construtores da unidade, como Jesus.

Rede Mundial de Oração do Papa

E tu, já pediste desculpa hoje?






Hoje talvez não, mas tenho, certamente, algumas a pedir!

Também tenho, certamente, algumas a haver! Não teremos?

Na azáfama dos dias (azáfama essa que parecemos gostar de criar e manter com afinco), passa-nos tantas vezes ao lado essa palavrinha milagrosa: desculpa.

Desculpa por tudo e às vezes por nada, mas que demonstra empatia, compaixão, respeito pelos outros.

É outra das minhas palavras favoritas, e é por isso que abomino a célebre frase: "as desculpas não se pedem evitam-se" porque para mim é exatamente o contrário: AS DESCULPAS NÃO SE EVITAM, PEDEM-SE.


Lucília Miranda


quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Nunca partimos de onde queremos



De que serve um mapa para um tesouro, se não soubermos onde estamos? Ninguém escolhe o seu ponto de partida. Importa saber e assumir o ponto exato em que nos encontramos na vida.

Qualquer peregrinação começa do ponto exato em que estamos quando tomamos a decisão de partir. O primeiro passo, que é o mais difícil, é passar da decisão à ação.

Mas ninguém pode ir de onde não está. Há quem não aceite as suas próprias circunstâncias e tente esconder a verdade ao mesmo tempo que apresenta uma mentira qualquer, mais ou menos elaborada.

Quase nunca estamos onde gostávamos de estar. Há quem se entristeça quando, depois de tanto sonhar, abre os olhos e percebe que neste mundo há pouco daquilo que desejava, mas também há quem viva de olhos abertos e descubra belezas até nos cenários mais pobres e sombrios.

Os males atingem-nos a todos. Alguns veem para lá do momento e acreditam no bem que existe antes e depois de todos os males.

Nós somos tanto de onde estamos como de onde viemos. Mas, mais do que de qualquer um desses dois, somos de onde havemos de chegar. Porque a vida é um caminho, uma aventura — para alguns, uma tragédia até — mas o final… bem, o final será o que cada um de nós decidir lutar para alcançar.

O céu é o fim que não tem fim, a vida da qual esta vida faz parte, e que muitos escolhem como sua meta.

Esta nossa vida é apenas a parte do caminho em que, livres, nos é dado decidir o destino que ambicionamos e o rumo que escolhemos para lá chegar.

Quantas vezes estamos longe e perdidos? Que bom seria que, mesmo aí, soubéssemos e nos sentíssemos a caminho. A caminho no nosso caminho. A caminho do nosso destino.



José Luís Nunes Martins

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Diz a quem te ama que sentes o seu amor!



É essencial expressarmos o nosso amor a alguém através de palavras claras. Mas há algo que quase nunca fazemos: reconhecer o amor que sentimos que alguém nos dá.

O orgulho faz-nos cometer muitos erros. Julgamo-nos muitas vezes superiores aos outros e chegamos a pensar que eles têm o dever de nos estimar e admirar. Vivemos como se o mundo girasse à volta do trono em que nos colocamos. Com muito egoísmo, apenas contabilizamos o bem que fazemos, mas nunca o que nos fazem a nós.

Na verdade, é mesmo muito difícil que alguém reconheça que recebeu o que não merece. Como seria bom se eu fosse capaz de agir de forma diferente e tivesse, com autenticidade, coragem para dizer a alguém: “Sinto que me amas”.

Agradecer é sempre justo. Sempre. Reconhecer o amor que percebemos que alguém nos dá é ainda mais do que um simples Obrigado. “Tu amas-me” é uma afirmação humilde que engrandece quem dela for capaz. Quem a escuta poderá ficar mais seguro de que o amor que nos dá chega ao destino e é sentido.

Além disso, há ainda quem nos ame sem se fazer notar e que nós não conseguimos distinguir na confusão dos dias, por estarmos longe de pensar na verdade e na origem do que nos chega. Uma das maiores virtudes de uma graça é a discrição.

O amor, quando é verdadeiro, não supõe reciprocidade. É generosidade pura. Dar e dar-se sem esperar, e muitas vezes nem querer, retribuição alguma. Amar com verdade, e por mais sofrimento que implique, é já, em si mesmo, a sua própria recompensa.


José Luís Nunes Martins

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Estar presente ou ser presente?



Começámos cedo demais a ser reféns da época natalícia. Ainda nem tinham sido assadas as primeiras castanhas e já estávamos a ser bombardeados com acessórios de toda a espécie e feitio. Quase como se houvesse uma intrusão e um desnorte que nos provoca desorientação e incompreensão.

Que tempos são estes em que vivemos presos a um futuro que nem sabemos se chega? Que forma de estar é esta que nos obriga a viver dois passos à frente e a condenar sistematicamente o momento presente?

Queixamo-nos depois de que as crianças estão ansiosas. Preocupadas. Que dormem mal e que não conseguem descansar. Não há grandes hipóteses de que aconteça o contrário quando nós, os ditos adultos orientadores deste “carrossel”, embarcamos nestas antecipações com tão pouco sentido.

Vivemos para o futuro. E isso não tem de ser necessariamente mau, obviamente. É necessário, e prudente, pensar no que pode vir. No que nos pode bater à porta ou nos imprevistos que podem vir alojar-se nos nossos dias. Mas viver de futuro, somente, não traz paz a ninguém. Traz destabilização. Incoerência. Pressa pouco legitimada.

Para quê querer viver o que ainda não chegou?

Para quê antecipar o Natal e vesti-lo de um consumismo que nada rima com as origens da dita época?

Que sentido estamos a dar ao nosso dia-a-dia se não estamos mergulhados nele?

Estamos a viver, de facto? Ou a voar sobre os dias como quem não quer saber ou descobrir o que anda cá a fazer?

Uma coisa de cada vez e tudo a seu tempo.

O tempo de cada coisa não se ultrapassa por querermos vivê-la antes de tempo.

O Natal só o é quando chegar.

Viver tudo antes do tempo é, quase sempre, tempo profundamente perdido.

Já dizia Chiara Petrillo “apenas vivendo o hoje é possível enfrentar a vida”.


Marta Arrais

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

É nas pequenas coisas...



É nas pequenas coisas...

...que o mundo nos mostra o que tem de mais verdadeiro.


É nas pequenas coisas,
que encontramos a grandeza da simplicidade.


É nas pequenas coisas,
que a vida se revela inteira, mesmo quando parece fragmentada.


É nas pequenas coisas,
que reconhecemos o cuidado escondido nos detalhes.


É nas pequenas coisas,
que o silêncio nos abraça e o instante permanece.

É nas pequenas coisas,
que o propósito se semeia,
Pois é, nas pequenas coisas, que o extraordinário floresce!


Boa semana!


Carla Correia