segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O JOVEM EUTICO ADORMECEU, CAIU E MORREU – 03-01-2016

Uma tragédia muito trágica! O rapaz que estava sentado na janela do terceiro andar, adormeceu, caiu e morreu. O alvoroço foi grande e a gritaria não se fez esperar. Só faltou que algum/a jornalista, daquela raça que todos nós conhecemos, interpelasse a mãe ou o pai do garoto para lhe perguntar o que é que sentiu depois de ver o filho estatelado e morto no chão. Se o rapaz não teria andado na ramboiada. Se não estaria ali contrafeito, embriagado, ou cansado. Se não teria sido encandeado pelas lâmpadas que iluminavam a sala. Se, na véspera, o rapaz não teria ido esperar os dragões para os xingar pela aziaga peleja com os lagartos. E mais picaria os miolos do pai ou da mãe sobre o que é que, realmente, o levaria a cair da janela à rua. Se ele era um rapaz feliz ou se não teria sido ele que se quis matar. Ou se a culpa não teria sido daquele Paulo, pois o endiabrado do homem estava animado, parecia um papagaio fora de si. Nunca mais se calava e falou, falou, falou até de madrugada. Irra, que dose!...
Enfim..., sossegue, porém, o caro leitor porque o jovem Eutico foi a pé para sua casa e todos se sentiram muito confortados!... Ora leia, por favor, como tudo aconteceu: “No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para a fração do pão. Paulo, que devia partir no dia seguinte, dirigia a palavra aos fiéis e prolongou o discurso até à meia-noite. Havia muitas lâmpadas na sala superior, onde estávamos reunidos. Um jovem, chamado Eutico, que estava sentado sobre a janela, adormeceu durante o prolongado discurso de Paulo; vencido pelo sono, caiu do terceiro andar. Quando o levantaram estava morto. Então Paulo desceu, inclinou-se sobre o jovem e, abraçando-o, disse: “Não vos preocupeis, porque ele está vivo”. Depois subiu novamente, partiu o pão e comeu. Ficou conversando com eles até de madrugada, e depois partiu. Quanto ao jovem, levaram-no vivo, e sentiram-se muito confortados.” (At 20, 7-12).
Chamei à liça esta história para dizer a todos que também nós ficamos muito confortados com os jovens que não se instalam a olhar, de forma indiferente, pela janela da sonolência e da apatia. Eu sei que às vezes é difícil aturar os adultos, mas, os jovens, de facto, se não se cuidam, podem “morrer” cedo, e é uma pena. Nunca ouviram dizer que há gente que “morre” aos dezoito ou dezanove anos, por aí, mas só é enterrado aos oitenta, oitenta e muitos? É verdade, sim, pararam na vida e são indiferentes a tudo, menos ao seu pequeno mundo, espécie casulo bicho-da-seda, onde a lagarta morre por desidratação. A sociedade precisa dos jovens bem vivinhos, alegres e felizes, ativos e comprometidos, na política, na associação, no movimento, no desporto, na cultura, na Igreja, em tudo quanto é expressão de vida, para conforto e bem de todos. Dizia, já não sei quem, que, se não fosse a juventude, o mundo morreria de frio. É verdade! O Papa Francisco, há semanas, em Florença, afirmava: “Lanço um apelo sobretudo «a vós, jovens, porque sois fortes» (cf. 1 Jo 1, 14)”. Jovens, superai a apatia. Que ninguém despreze a vossa juventude, mas aprendei a ser modelos no falar e no agir (cf. 1 Tm 4, 12)”. E pedindo-lhes que fossem verdadeiramente empenhados na construção de algo de novo, implorou-lhes: “Por favor, não olheis da varanda da vida, mas comprometei-vos, imergi-vos no amplo diálogo social e político. As mãos da vossa fé se ergam ao céu, mas façam-no enquanto edificam uma cidade construída sobre relações nas quais o amor de Deus é o fundamento. E assim sereis livres para aceitar os desafios de hoje, para viver as mudanças e as transformações. Pode-se dizer que hoje não vivemos uma época de mudança mas uma mudança de época. Portanto, as situações que vivemos hoje apresentam desafios novos que para nós às vezes são até difíceis de compreender. Este nosso tempo exige que vivamos os problemas como desafios e não como obstáculos: o Senhor é ativo e age no mundo. Por conseguinte, saí pelas ruas e ide às encruzilhadas: todos os que encontrardes, chamai-os, sem excluir ninguém (cf. Mt 22, 9). Sobretudo, acompanhai quem ficou à beira da estrada, «coxos, aleijados, cegos, surdos» (Mt 15, 30). Onde quer que estiverdes, nunca construais muros nem fronteiras, mas praças e hospitais de campo.”
Para todos os jovens, e de uma forma muito especial para os jovens desta Diocese, um ano muito feliz e que não caminhem pelas autoestradas que levam a lado nenhum. Um abraço.


D.Antonino Dias,  Bispo de Portalegre Castelo Branco

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