Nos últimos dias, semanas e meses poderíamos contar pelos dedos de uma mão as vezes que fomos bafejados com notícias boas por parte das televisões, revistas, jornais e, até, das redes sociais. Não acredito que as boas notícias estejam em vias de extinção. Mas acredito que se tem preferido tudo aquilo que rima com tragédia, dor e morte. Estas últimas três palavras até podem fazer parte de uma fatia grande do Mundo…Ainda assim, será uma fatia grande a ponto de tornar submersas todas as outras?
De cada vez que as palavras “última hora!” me (e nos) aparecem vista adentro (normalmente rodeadas de um vermelho aflitivo) temo o pior. Tememos o pior. Que parte da Humanidade terá agora sido amputada? Que parte do Planeta estará em risco? Que ser humano terá deixado de o ser? Que parte do Mundo terá, hoje, acabado?
Parece-me demasiado. Parecem-me demasiadas perguntas tristes e, pior que tudo, sem qualquer resposta. Instala-se, em cada um de nós, uma espécie de silêncio que adormece o coração. Se o coração estivesse acordado talvez não aguentasse a quantidade de tragédias massificadas, mediatizadas e mastigadas para, no dia seguinte, serem servidas OUTRA VEZ num outro prato. Não nos é possível digerir a refeição triste que nos servem todos os dias. Repetidamente. Uma. Outra. Mais uma vez.
ÚLTIMA HORA! E a nossa paciência torna-se magra e faz desaparecer a boa vontade. A esperança. A fé no futuro e nas pessoas.
ÚLTIMA HORA! E o que terá sido desta vez?
Lamento se me atrevo a colocar o dedo numa ferida que nos diz respeito a todos. Não me parece aceitável que se banalize o sofrimento. Que a morte se torne “normal”, sem rosto, sem pele e sem nome. Resta-nos, talvez, não querer compactuar com o desfile de horrores a que temos estado sujeitos. De cabeça baixa. De coração a mendigar por bondades e coisas bonitas.
Não acredito que o bem tenha deixado de ter voz. Não acredito nas mordaças e nas correntes que querem colocar, à força, nas nossas esperanças, sonhos e risos. Não acredito nas últimas horas. Acredito na hora que tudo muda. Na primeira hora do dia que nos deixa escrever uma página nova. Ainda que as nossas páginas não venham nas notícias e não agucem curiosidades mórbidas é, com essas, que podemos escrever uma história melhor. Diferente. Inspiradora.
ÚLTIMA HORA! Hoje tens uma página só para ti. É essa que pode mudar tudo. O que vais fazer com ela?!
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