sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A CONSCIÊNCIA DA MORTE APAIXONA A VIDA

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Mês de novembro, mês em que fazemos memória e rezamos pelos que nos precederam na fé e já morreram. A consciência da morte carateriza-nos como pessoas, distingue-nos dos outros seres vivos, está na origem da cultura e do progresso civilizacional. Desde os primórdios da humanidade que a morte sempre interpelou o homem e o fez pensar e agir. Na verdade, é “diante da morte que o enigma da condição humana mais se adensa” (GS18). Mas se isso é verdade, também Santo Agostinho afirmava que “não há ponto em que a fé cristã encontre mais contradição do que o da ressurreição da carne”. Nós, os cristãos, professamos a fé na ressurreição da carne. “Carne” designa aqui o homem na sua condição de fraqueza, de mortalidade. No entanto, por mais prodigiosa que seja a nossa imaginação, ficamos sempre muito aquém daquilo que gostaríamos de saber sobre tal assunto. O homem de Neandertal já sepultava os seus mortos com ritos fúnebres que os estudiosos interpretam como sendo ritos de passagem, ritos de entrada num mundo diferente do dos vivos. Ao longo dos tempos, foi-se elaborando um conjunto de crenças que apontam para um mundo para lá deste mundo seja lá como quer que tenha sido ou seja o seu entendimento. Apoiados em Cristo, o Filho de Deus, nós, os cristãos, quando falamos de ressurreição da carne, queremos dizer que, depois da morte, não haverá apenas a vida da alma imortal, mas também os nossos corpos mortais retomarão a vida. Tal como Cristo ressuscitou, também nós haveremos de ressuscitar, por Ele, pelo Seu Espírito que habita em nós. Este mistério é um elemento essencial da fé dos cristãos, é a sua fé. Como ensina São Paulo “se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé” (1Cor 15, 13-14). A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus e impõe-se como consequência intrínseca da fé num Deus criador do homem todo, alma e corpo, num Deus que se mantém fiel à Sua aliança com Abraão e sua descendência. Ele «não é um Deus de mortos, mas de vivos» (Mc 12, 27). Já os mártires Macabeus viviam na esperança de que haveriam de ser ressuscitados por Ele (cf. 2 Mac 7, 14). Aos saduceus que não acreditavam na ressurreição, Jesus responde-lhes: «Não andareis vós enganados, ignorando as Escrituras e o poder de Deus?» (Mc 12, 24). E ligou a fé na ressurreição à Sua própria pessoa: «Eu sou a Ressurreição e a Vida» (Jo 11, 25). “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue terá a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia” (Jo 6, 54). Como sinal e garantia disto mesmo, Ele restituiu, na altura, a vida a alguns mortos, preanunciando assim a Sua própria ressurreição, embora de ordem diferente.

Ser testemunha de Cristo é ser «testemunha da sua ressurreição» (At 1, 22) (571), é «ter comido e bebido com Ele depois da sua ressurreição dos mortos» (At 10, 41). “Deus ressuscitou este Jesus. E nós todos somos testemunhas disso” (At 2, 32). Jesus morreu, “foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia … apareceu a Cefas e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez … Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim “ (1Cor 15, 1…). E a Tomé que não queria acreditar no testemunho dos outros discípulos, Jesus, aparecendo-lhes de novo, chamou-o e disse-lhe: “Acreditaste porque viste. Felizes os que acreditam sem terem visto” (Jo 20,29). Ora, “o que nós vimos e ouvimos, isso agora vos anunciamos para que estejais em comunhão connosco” (1Jo 1, 3).

O Catecismo da Igreja Católica que, aliás, tenho vindo a seguir (cf. nºs 988-1004), ensina-nos que, embora com a morte o corpo do homem se corrompa e destrua, Deus, na sua omnipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, unindo-os às nossas almas pela virtude da ressurreição de Jesus. E todos haveremos de ressuscitar, todos: «Os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação» (Jo 5, 29). Ora, Cristo ressuscitou com o seu próprio corpo: «Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo» (Lc 24, 39). Mas ressuscitou para uma vida diferente, tanto assim que Maria Madalena e os discípulos de Emaús, na manhã da ressurreição, não O reconheceram, e, outros, precisaram de provas que, aliás, Cristo Glorioso não lhes regateou. Como Jesus, e n’Ele, «todos ressuscitarão com o seu próprio corpo, com o corpo que agora têm», mas esse corpo será «transformado em corpo glorioso», em «corpo espiritual» (1 Cor 15, 44) a gozar de impassibilidade, claridade, agilidade e subtilidade. Assim como a simples semente lançada à terra só volta à vida depois de morrer, assim os mortos cujos corpos se corrompem, hão de ressuscitar incorruptíveis (cf. 1 Cor 15, 35…). E tudo acontecerá, definitivamente, no último dia» (Jo 6, 39-40…), «no fim do mundo», «ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, o próprio Senhor descerá do céu e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro» (1 Ts 4, 16). É «digna de fé esta palavra: se tivermos morrido com Cristo, também com Ele viveremos» (2 Tm 2, 11). Para os que creem em Cristo “a vida não acaba, apenas se transforma».


Antonino Dias

10-11-2017

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