Às vezes não é para chegar, mas para se ir chegando. Não temos de percorrer sempre com a finalidade de se ir alcançando algo ou alguém. É bom que caminhemos apenas para que deixemos que o caminho aconteça em nós. É necessário consentirmos que os outros e os lugares cheguem até nós e, em jeito de agradecimento, permitirmos que se demorem em nós.
Às vezes não é para se fazer tudo, é para se ir fazendo. É para se ir fazendo, mas não num gesto preguiçoso e sem vontade, mas numa aceitação de que a vida tem mais sabor quando nos deixamos levar pela beleza da descoberta. Sentir que somos descobertos e que nos deixamos à descoberta, é ter consciência de que estamos a sair de nós mesmos para que nos alonguemos numa verdadeira comunhão. Ir-se fazendo é uma outra forma de nos moldarmos. Construirmo-nos em silêncio e com o silêncio para que nada mais fale de nós a não ser a humildade de nos aceitarmos que sejamos efetivamente.
Às vezes não é para se colher, mas para se ir plantando. Querermos sempre ter, sem nunca semearmos, levar-nos-á a uma colheita vazia e sem sentido. É urgente plantar. Com cuidado. Com estima. E com amor. Ir-se plantando para que, talvez um dia, sejamos merecedores dessa colheita, mas acima de tudo, irmos plantando com a certeza de que deixaremos a prova, mais do que provada, de que a vida se faz de plantações cheias de esperança. Só se ganha vida, quando doamos em vida. Só se ganha vida, quando colocamos a vida numa oferenda permanente.
Às vezes não é para se fazer tudo de uma só vez, mas para se ir vivendo. Sim, às vezes só nos é pedido efetivamente isso: viver cada momento, cada respirar, cada acontecimento e deixar que a vida esteja em nós.
Às vezes é preciso dizer ao mundo que nem tudo se faz e acontece no mesmo tempo!
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