segunda-feira, 31 de maio de 2021

De que diálogo precisamos realmente?




Atravessamos uma verdadeira crise de diálogo. Confundimos falar com dialogar.


Enquanto professor, sinto tantas vezes a fragilidade da comunicação. Por vezes sou eu que me canso de "tanto falar" e de pouco ser ouvido ou compreendido. E agora com a máscara, ainda pior. Procuro abordagens diversificadas aos temas propostos, incidindo em programas ou reportagens mais recentes, ou então, com outras um pouco mais cotas mas que vão diretas ao assunto. Procuro personalidades conhecidas pela geração atual dos meus alunos…

As aulas de EMRC procuram ser um espaço privilegiado para o diálogo. No entanto, deparo-me com uma, cada vez maior, dificuldade de partilha por parte dos adolescentes e dos jovens. O peso da individualidade de cada um deles impede-lhes a comunicação. O medo de errar e o desejo da perfeição, transforma-se tantas vezes numa inércia assustadora.

Uma sociedade como a nossa, cada vez mais utilitarista em que quase tudo se resume à economia e à criação de riqueza, leva-nos a um ideal de individualismo em que cada um tem que se safar. Por isso o medo de partilhar fragilidades com os demais.

Esquecemos que, mesmo em classes diferentes, viajamos todos no mesmo barco; atravessamos o mesmo oceano; percorremos o mesmo caminho; somos todos peregrinos em busca da verdade, à procura da felicidade diária.

Falta-nos a empatia. Esta capacidade de perceber que é no outro que eu me encontro. É com o outro que irei superar a minha pequenez.

Escasseia a humildade de me reconhecer dependente do acolhimento do outro para nele me reencontrar e juntos caminhar para a eternidade.

Precisamos urgentemente deste diálogo.

Rezemos ao Espírito Santo.

«O Espírito Santo, por outro lado, chama-nos à novidade, convida-nos a mudar, estimula-nos a nos recriarmos.
O Espírito Santo, por outro lado, chama-nos a sair do confortável sedentarismo dos nossos estacionamentos, a colocar-nos na estrada e sofrer os seus perigos.» [Dom Tonino Bello]



Paulo J. A. Victória


domingo, 30 de maio de 2021

Solenidade da Santíssima Trindade

 

https://www.youtube.com/watch?v=K1jypvgydFk

A Solenidade que hoje celebramos não é um convite a decifrar o mistério que se esconde por detrás de "um Deus em três pessoas"; mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.
Na primeira leitura, Jahwéh revela-se como o Deus da relação, empenhado em estabelecer comunhão e familiaridade com o seu Povo. É um Deus que vem ao encontro dos homens, que lhes fala, que lhes indica caminhos seguros de liberdade e de vida, que está permanentemente atento aos problemas dos homens, que intervém no mundo para nos libertar de tudo aquilo que nos oprime e para nos oferecer perspectivas de vida plena e verdadeira.
A segunda leitura confirma a mensagem da primeira: o Deus em quem acreditamos não é um Deus distante e inacessível, que se demitiu do seu papel de Criador e que assiste com indiferença e impassibilidade aos dramas dos homens; mas é um Deus que acompanha com paixão a caminhada da humanidade e que não desiste de oferecer aos homens a vida plena e definitiva.
No Evangelho, Jesus dá a entender que ser seu discípulo é aceitar o convite para se vincular com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os discípulos de Jesus recebem a missão de testemunhar a sua proposta de vida no meio do mundo e são enviados a apresentar, a todos os homens e mulheres, sem excepção, o convite de Deus para integrar a comunidade trinitária.

https://www.dehonianos.org

sábado, 29 de maio de 2021

Oração ao Espírito Santo

 



DIA 1 | ORAÇÃO INICIAL

Vem, Espírito Santo, enche os corações dos teus fiéis e acende neles a chama do teu amor. Oh, Deus, que com a luz do Espírito Santo iluminas os corações dos teus fiéis, concedei-nos que, guiados pelo mesmo Espírito, desfrutemos do que é reto e nos gozemos com o seu consolo celestial.

Evangelho do dia: Marcos 11, 27-33 - ′′«Com que autoridade fazes essas coisas?» ". Reflexão pessoal.

Pedido: Neste dia pedimos-te Santo Espírito por aqueles irmãos mais necessitados, os pobres, desvalidos e vulneráveis, os que mais sofrem nestes momentos tão difíceis que nos toca viver, por causa da pandemia e do isolamento.
Venha, Espírito Santo, com seu dom de Entendimento, iluminai nossas mentes em relação aos mistérios da salvação, para que possamos compreendê-los e abraçá-los, sabendo que neste barça estamos todos juntos, e sem eles não chegaremos até você. Torne nosso coração mais solidário, e que aprendamos a te ver neles todos os dias.

Rezamos: Pai Nosso, Avé Maria e Glória.

Oração Final: Vem Espírito Santo, irradia compaixão em cada ser humano, para que a solidariedade seja entre nós uma forma de vida constante e permanente neste tempo. Amém, amém.

DIA 2 | ORAÇÃO INICIAL

Evangelho do dia: Mt 28,16-20-′′«Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» ".
 Reflexão pessoal.

Pedido: Peçamos hoje, pelos adultos mais velhos, pessoas de alto risco, doentes, muito especialmente os atingidos pelo COVID 19 e seus familiares para que diante do medo natural que essa pandemia produz abram seus corações, recebam o impulso e Energia do Santo Espírito de Deus que lhes permita abandonar-se com total confiança à Sua vontade.
Vem espírito santo com o teu dom de fortaleza!, derramando-a em nós e libertando-nos do medo, para descobrir a verdade no amor, que nos incentive a aceitar o projeto que tu tens para com cada um de nós com paciência, sem ansiedades e poder dizer como Pablo ′′ Quando estou mais fraco sou mais forte ′′

Rezamos: Pai Nosso, Avé Maria e Glória.


Oração Final: Vem Espírito Santo, irradia compaixão em cada ser humano, para que a solidariedade seja entre nós uma forma de vida constante e permanente neste tempo


M.C.C. -ENCONTRO "TEMOS MÃE"

logo1

 


M.C.C. - Encontro “TEMOS MÃE”

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30-05-2021 – 17h – via zoom

PROGRAMA

17 h – Acolhimento

17h 15m – Oração: a poesia também se reza e se canta:                      

                                  “NOSSA SENHORA”, poema de José Régio        

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhraUFw1WaAQYGRewZA_1mOnLG6gZQO_hZ4CStOy0bRuY3cfNLiG493TTmP1ObpDs1B42NYoYreqJZXCcL1jtl8tnkaFLkU4abdUtfw_QyE4amiWRVRq0xSzjWpllJAG89WZu0u634DlD5D/s320/Imagem0465.jpg


17h 30m – “Maria na vida de um cursilhista” – testemunho vivencial apresentado pelo 

                     Casal Milú e Orlando Silva, da Arquidiocese de Évora


18h – Ressonâncias (sem paraquedas) 

18h 20m – Consagração a Nossa Senhora

18h 30m – Conclusão do encontro DE COLORES  

   decolores

Amigos cursilhistas:

vimos renovar o nosso convite aos cursilhistas em particular mas também todos os que o desejem, a participar na nossa "peregrinação" até Maria, em oração, colocando o nosso coração junto da Mãe. num momento de oração de carinho, de devoção, de louvor à Mãe que temos e que sempre nos acolhe com AMOR.
Em anexo, segue, de novo, o Convite com o Programa do encontro. Agora já com o link para acesso ao mesmo.
Solicitamos a todos, a promoção e divulgação deste encontro com Maria nas vossas comunidades.
Unidos em Cristo, abraço fraterno em DE COLORES

SEC. Dioc. M.C.C Portalegre- Castelo Branco


Eis o link:
https://us02web.zoom.us/j/89435186467?pwd=OWgzUXhvT0NZR2NqQmEyalI2MVY4dz09

ID 894 3518 6467



Senha: decolores


sexta-feira, 28 de maio de 2021

NÃO ADORES NUNCA NINGUÉM MAIS...



Celebramos “o mistério central da fé e da vida cristã”, o mistério da Santíssima Trindade! Porque é um mistério, por mais que nele penetremos, permanecerá sempre mistério. O mistério, porém, não é uma parede contra a qual esbarremos. É antes, um mar saudável onde mergulhamos, explorando, com serenidade contemplativa, a sua beleza inesgotável, a sua profundidade sem pé. A Trindade experimenta-se, vive-se, reza-se, ama-se.
Com os judeus e os muçulmanos, nós, cristãos, proclamamos que o nosso Deus é o único e verdadeiro Deus, não há outro. Mas este Deus verdadeiro e único, na sua condescendência e pedagogia sem igual, enviou o seu Filho ao mundo, Jesus Cristo, Deus amor total no centro da história. Jesus falou-nos de Deus Pai, origem e causa do amor. Enviou-nos o Espírito Santo, Espírito de vida e comunhão. É, pois, através da vida e dos ensinamentos de Jesus, que nós, cristãos, tivemos conhecimento, tanto quanto nos é possível entender, do mistério da Santíssima Trindade. Basta recordar a Anunciação, o Batismo de Jesus, a Transfiguração e tantas outras palavras, atitudes e promessas de Jesus, bem como o mandato que Ele nos deu de ir por todo o mundo a anunciar e a batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Nós, cristãos, professamos, pois, a nossa fé em Deus Pai, eterno e omnipotente, mas que, com o seu Filho Unigénito e o Espírito Santo, são um só Deus, um só Senhor, não na unidade de uma só pessoa, mas na trindade de uma só natureza. Mesmo que esta afirmação nos faça parar e olhar para trás para reler e tentar saber como isso jogará - um só Deus, um só Senhor, não na unidade de uma só pessoa, mas na trindade de uma só natureza -, mesmo que isso aconteça, é-nos revelado que Deus é relação, é comunidade, é família. Não uma família ou comunidade cujos membros vivam de costas voltadas uns para os outros, isolados, amuados, ciumentos, ingratos, desinteressados, indiferentes, só valentes em gritarias e violência. Mas uma família comunidade de vida e de amor, com tudo o que isso implica de pura relação.
Fomos criados à imagem e semelhança deste Deus que é único e família. Por isso, também cada um de nós é único, todos iguais mas todos diferentes, ninguém pode ser em vez do outro, o outro não pode ser em vez de mim, cada um é cada qual, é ele mesmo, único. Ao mesmo tempo, porém, porque criados à imagem deste Deus único, mas comunidade de pessoas, também somos seres sociais, só nos realizamos em comunidade, em relação com os outros. Mais: mesmo que Deus não tenha definição possível, São João Evangelista indicou-nos uma maneira de penetrarmos no seu mistério, de falar d’Ele e sobre Ele, dizendo-nos que “Deus é amor”. O amor, porém, afirmou Bento XVI, “é sempre um mistério, uma realidade que supera a razão sem a contradizer, antes exalta as suas potencialidades”. Ora, se fomos criados à imagem deste Deus único e social que é Amor, fomos criados por amor e só nos realizaremos amando. São João, ao dizer que Deus é amor, acrescenta uma espécie de recado para nós: “amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus. Quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor” (Jo 4,8). Essa é a novidade cristã: o amor é a experiência original e originante de toda a vida deveras vivida: “quem não ama permanece na morte” (1Jo 3,14).
Na experiência do amor há sempre qualquer coisa de uno e trino. Há sempre qualquer coisa de unidade e de alteridade, tão exigente para a comunidade como para o indivíduo. Há um EU que ama, há um TU que é amado, há o AMOR que une esse eu e esse tu, dando origem ao nós. É assim connosco, em nós e entre nós. Apesar de diferentes, somos com os outros, para os outros e a partir dos outros. Os outros não são o inferno, contrariando Sartre. Não são o inferno para nós e nós não podemos ser o inferno para os outros. Se o amor é verdadeiro, se as pessoas se amam verdadeiramente, cada uma acolhe e reconhece a outra como outra, como dom, não se diluem, não se assimilam, não se invadem, mantêm a sua alteridade pessoal, são um valor em si mesmas, nenhuma pode ser usada ou sacrificada por qualquer interesse seja ele qual for. Há respeito mútuo, corresponsabilidade, participação, diálogo, atenção constante ao bem do outro. Em Deus único, há três pessoas que não se diluem, nem se assimilam, mantêm a sua alteridade e missão distinta, em liberdade comum e criatividade amorosa, num dinamismo constante de mútuo dar-se e receber-se. É na experiência do outro e, sobretudo, na experiência do amor ao outro que está muito daquilo que confessamos em Deus Trindade. Esta analogia trinitária do amor não pretende esgotar nem será, por certo, a única possibilidade da experiência do amor. Ela permanece aberta a que sempre se possa dizer muito mais, mas ajuda-nos a entrar nos dinamismos do amor da Santíssima Trindade. Há o Pai, aquele que ama. Há o Filho, aquele que é amado. Há o Espírito Santo, o amor que tudo unifica, renova e transforma.
Acreditar, celebrar, falar, refletir, rezar e contemplar a Santíssima Trindade deveria levar a pessoa, a Igreja, a família, a sociedade e os diversos setores da atividade humana, não só a pastoral, mas também a economia, a cultura, a vida social, etc., a tirarem conclusões para a sua maneira de ser, estar e agir. Não que a Santíssima Trindade seja uma espécie de guião pastoral, político, económico ou cultural. Não para esperar que ela dite soluções ou dispense alguém do que deve fazer. Mas para que se busque a sua inspiração e a experiência do outro seja, para todos, tudo o que idealmente pode ser, dentro dos dinamismos do amor.
A Igreja tem a sua origem fundamental no mistério da Trindade e existe para a realização do desígnio de Deus na história: o Deus amor que criou o universo e gerou um povo, o Deus que se fez homem, morreu e ressuscitou por todos nós, o Deus que, pelo seu Espírito, tudo transforma e leva à plenitude, o Deus Criador, Salvador e Santificador. Ela nasceu do coração de Deus Pai, foi prefigurada desde toda a eternidade, foi preparada ao longo de todo o Velho Testamento, foi instituída por Cristo, foi manifestada pelo Espírito Santo, há de ser consumada no fim dos tempos, na glória (cf.LG2). Se ela é obra do Pai e do Filho e do Espírito Santo, se a vida que existe em Deus, no seio da Trindade, é o Amor, a Igreja não tem outra missão senão a de reproduzir no mundo a vida que existe no seio da Trindade, Ela é extensão da Trindade no tempo. Por isso, a Igreja será tanto mais fiel a si mesma, quanto mais for, no tempo, agente fomentador do amor, isto é, da proximidade, da cultura do diálogo, da corresponsabilidade, da participação, da delicadeza, do perdão, do compromisso, da justiça, da verdade, da alegria, da paz, do entendimento. Mas esta Igreja não são os outros, melhor, também são os outros, mas esta Igreja é cada um de nós. Por isso, cada um de nós será tanto mais fiel a Deus e à Igreja, quanto mais for, individual e coletivamente, fomentador dessa mesma cultura no mundo em que vive.
De igual modo a família. Também ela é ícone da Trindade, devendo deixar-se inspirar na sua maneira de ser, estar, agir, viver e conviver. E que bom seria se toda a sociedade humana descobrisse que é na Trindade que também se encontra a sua origem e o seu modelo social! Haveria mais amor, amor desinteressado, de uns para com os outros, lutar-se-ia mais abnegadamente pela justiça, inverter-se-iam tantos procedimentos e estruturas em favor dos mais desfavorecidos, fomentar-se-ia a reciprocidade entre todos, sempre em testemunho alegre mesmo que por entre adversidades e perseguições.

D. Antonino Dias  - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 28-05-2021.


Ainda há quem não seja acolhido




Ainda há quem não seja acolhido. E perdoem-me, mas a culpa é minha. É tua. É nossa. Sim, a culpa é nossa porque andamos adormecidos e preocupados sabe-se lá bem com o quê. Sim, a culpa é nossa por não deixarmos que tantos e tantas se salvem nas mais variadas circunstâncias.

Ainda há quem não seja acolhido. E muitas vezes a culpa é nossa. Fica mais fácil fingirmos que não é nada connosco. Torna-se mais cómodo cingirmo-nos a uma mera doutrina que nos faz ignorar todo um contexto. Toda uma história de vida.

Ainda há quem não tenha abrigo. E sim, muitas vezes a culpa é nossa. Gostamos de acreditar que nunca virá a acontecer connosco. Deixamos que a distância retire a possibilidade de nos comovermos com a dor, com o sofrimento do outro. Permitimos que interesses, poderes e questões se tornem mais valiosos do que a vida. Chegamos, inclusive, ao ponto de medir vidas como se não partilhássemos da mesma humanidade. Como se não fôssemos todos merecedores da dignidade que brota de qualquer dom da vida.

Ainda há quem não se salve. E isto vai acontecendo bem perto de nós. No nosso quotidiano. Há quem não se salve quando insistimos em servirmo-nos em vez de servirmos. Há quem não se salve quando a nossa língua se torna verdadeira seta apontada à integridade de alguém. Há quem não se salve quando insistimos em não acolher. Há quem não se salve quando ateimamos em não sermos amor.

E se isto acontece na pequenez do nosso dia-a-dia, como não se pode refletir a nível mundial? Como é que isso não pode ser gerador de incompreensão? De falta de empatia? De falta de compaixão? De falta de verdadeira humanidade?

As imagens que assistimos, infelizmente, esta semana, de guerra e de rejeição de imigrantes, são o reflexo daquilo que temos vindo a construir como humanidade. Se não somos obreiros de paz, de união, de empatia, de compreensão, de aceitação e de amor com os nossos, como poderemos vir a ser com aqueles que nos batem à porta? Como poderemos vir a ser com aqueles que correm até nós?

Não podemos somente comover-nos com as imagens. Não podemos achar que nada pode ser feito ou mudado. Tenhamos a audácia de fazermos a diferença. Aqui e agora. Junto daqueles que se cruzam connosco. Junto daqueles que nos procuram para que unidos possamos ser geradores de verdadeira humanidade.

Hoje, entra no mistério da tua existência e questiona-te serenamente: quantos é que tu salvaste? Quantos é que ganharam vida com a tua vida?




Emanuel António Dias


quinta-feira, 27 de maio de 2021

Os olhos têm aspas



Olho pelo retrovisor e vejo que os meus olhos têm aspas

que se vão acentuando com o tempo.

E lembro que todas as citações de autores deverão estar entre aspas.

Somos - cada uma e cada um - citação de um grande Autor e por isso as nossas aspas que nos lembram a originalidade da Criação!

Talvez a existência terrena careça desta olhar demorado e agradecido para a beleza e unicidade de cada pessoa.

Somos, és, uma obra irrepetível.

O tempo pode ser um aliado que nos ajude a educar o olhar: precisamos de contemplar e saborear a vida. Esta, única, que nos foi entregue prenhe de sonhos.

Quem sabe os caminhos do Criador possam, em algum momento, cruzar com os caminhos dos planos que vamos (re)fazendo para nós.

Precisamos de nos olhar enquanto citação de uma beleza incomensurável.

Essa, será certamente a mesma beleza do sorriso de quem nos sonhou no momento da criação.


Cristina Duarte


quarta-feira, 26 de maio de 2021

O Padre Américo partiu para Deus

 


Com profundo pesar mas com esperança cristã, informamos que acaba de falecer, no Hospital de Portalegre, o nosso Rev.do Senhor Padre Américo Ribeiro Agostinho. Internado há mais de um mês quando acometido de uma vulnerabilidade pancreática inesperada, o seu estado de saúde veio a agravar-se nos últimos dias.
Criados à imagem e semelhança de Deus, é o dom de nós próprios que mais e melhor nos realiza e identifica como filhos amados do Pai e, em Cristo, chamados à vida eterna. Na vida como na morte, o homem não se realiza plenamente senão pelo dom gratuito de si mesmo.
O nosso P. Américo Agostinho nasceu em São Pedro do Esteval no dia 7 de setembro de 1936 e aí foi baptizado na Igreja Matriz a 27 de setembro do mesmo ano. Fez a sua formação nos nossos Seminários e viria a ser ordenado Presbítero para Igreja Diocesana em 9 de Julho de 1961 pelas mãos de Sª Exª Rev.ma o Senhor D. Agostinho Lopes de Moura.
Começo por servir a Igreja diocesana em Portalegre como coadjutor e, logo de seguida em Ponte de Sor. Em 1964 foi nomeado pároco de Alegrete e de Reguengo e, mais tarde, encarregado da Paróquia da Urra. Em 1983 foi nomeado Vigário paroquial das Paróquias da Sé e de S. Lourenço, em Portalegre e em 2000 foi nomeado Capelão do CIP de Portalegre. Em 2002 foi nomeado para Alagoa e Fortios onde permaneceu como Pároco até aos dias de hoje.
Era também o Assistente do Secretariado diocesano da Pastoral Social e Mobilidade humana e do Agrupamento de Escuteiros de Portalegre a quem dedicou quase uma vida inteira.
Juntamente com a paroquialidade foi Professor de Religião e Moral desde 1963, primeiro na Ponte de Sor e, depois, em Portalegre.
As parábolas de Jesus que reflectem a morte ajudam-nos sempre a ultrapassar a própria morte: é o grão de trigo (Jo 12, 24), é o grão de mostarda (Mt 13, 31, é o fermento (Mt 13, 33), é a semente (Mc 4, 26). O que nos espera para além da morte não é um lugar mas uma relação plena de filhos com o Pai de Misericórdia. Por isso morrer é descansar, é confiar em Deus, é estar com o Senhor. O que não se dá, perde-se. Mas, escondido com Cristo em Deus, o homem aprende sempre a dar-se (Col 3,3). É a densidade da vida humana e o horizonte da esperança cristã.
Quem o conheceu ou com ele lidou ficou sempre mais enriquecido pela sua alegria cristã, pela sua presença fraterna e palavra sábia, pela comunhão gerada. Homem de grande amor ao Pai do Céu a Quem tanto anunciou e a Quem tantos apresentou pelo baptismo e vida na Igreja, as suas Comunidades nutriam por ele um profundo carinho, amor e respeito.
Não estando ainda definidas as horas das exéquias, oportunamente serão dadas indicações precisas sobre a sua realização.
Lembremos, ao Senhor da Messe, na oração de súplica e de acção de graças, o nosso Rev.do Padre Américo Agostinho. Ele, que celebrou, com tantos irmãos, a Liturgia da Igreja nesta terra, possa agora, na primeira pessoa, participar na liturgia celeste com o próprio Cristo Ressuscitado.

Nota da Diocese de Portalegre-Castelo Branco

Informações relativas às celebrações exéquias do P. Américo:
Amanhã:
- haverá celebração às 15:00h em S. Lourenço, Portalegre, seguindo depois o corpo para S. Pedro do Esteval, sua terra natal, onde o Senhor Bispo preside à celebração às 18:00m, seguindo depois para o cemitério local.
Relembramos a necessidade de mantermos as normas de segurança no distanciamento. Sendo a Igreja relativamente reduzida, não vai possível albergar toda a gente que gostaria de participar.
No próximo dia 4, sexta-feira:
Na Eucaristia das 18:30, em S. Lourenço, vamos celebrar Missa de 7º dia, com ofício divino e evocação do P. Américo. Talvez alguém possa assim evitar a presença amanhã e aguardar por esse dia.
Roguemos ao Senhor da Messe que torne participante do seu Reino o P. Américo, que nesta vida anunciou com alegria a esperança cristã e a vida eterna.
R.I.P.



PENTECOSTES: «… soprou…»




“O vento empurra-nos para fazermos o bem e afasta-nos de todo o mal!”

É o sopro que nos dá a Vida…
É o fogo intenso que nos aquece o peito…
É a água que nos refresca…
É o óleo santo que nos fortalece…
É a pomba que nos inunda com Esperança…
E tudo nos fala de Ti, Santo Espírito!

Alegra-te que o Deus da Vida e do Amor está em cada um de nós.
Abre o coração de par em par e acolhe-O, verdadeiramente, no teu íntimo.
Não fujas ao legado de seres o humano que carrega Deus.
Não queiras ter só para ti esse amor profundo… partilha-O!

Hoje, é Pentecostes!
O Mestre entra onde tudo está fechado e diz:
«A paz esteja convosco».
Tudo se renova! Tudo muda! Tudo fica mais claro!
Não sentes o coração mais calmo?
O Ungido envia-nos:
«Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós»
É para mim e para ti esta ordem tão amada e tão subtil!
Os teus pés já mexem?
O Perdão é palavra que abre caminhos:
«…àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».

Quem o dá é o Espírito Santo.
Haverá dom maior?

O que te prende a este corpo que é matéria fria?
O Calor que vem do Amor do criador.
Não te deixes descansar neste mundo.
Não passes pela vida como um simples ser humano.
Traz sempre no pensamento que és o transporte mais belo do Santo Espírito do Senhor!

Hoje, mais do que em qualquer outro dia do ano…
Vive e testemunha a Caridade!


Liliana Dinis


terça-feira, 25 de maio de 2021

Papa pede fim de divisões entre «conservadores e progressistas», «direita e esquerda», apelando à unidade na Igreja

Homilia na solenidade de Pentecostes sublinha importância da mensagem cristã para mundo em crise
                                                 
  

Cidade do Vaticano, 23 mai 2020 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje no Vaticano à unidade na Igreja Católica, com críticas a quem promove divisões entre “conservadores e progressistas” ou “direita e esquerda”, falando durante a Missa de Pentecostes, que encerra o tempo pascal no calendário católico.

“Hoje, se dermos ouvidos ao Espírito, deixaremos de nos concentrar em conservadores e progressistas, tradicionalistas e inovadores, direita e esquerda. Não: se fossem estes os critérios, significava que na Igreja se esquecia o Espírito”, disse, na homilia da celebração a que presidiu na Basílica de São Pedro, com a presença de dezenas de fiéis.

A celebração do Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa, evoca a efusão do Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade na doutrina católica.

O Papa deixou vários apelos para o interior da Igreja, pedindo unidade e respeito pela diversidade dos vários carismas.

“Procuremos o conjunto! O inimigo [o demónio] quer que a diversidade se transforme em oposições e, por isso, faz com que se transformem em ideologias”, advertiu.

Francisco questionou também quem procura transformar a Igreja apenas a partir dos seus próprios projetos, sublinhando que esta “é humana mas não é só uma organização humana”.

“A Igreja reforma-se com a unção, a gratuidade da unção da graça, com a força da oração, com a alegria da missão, com a beleza desarmante da pobreza. Coloquemos Deus em primeiro lugar”, sustentou.

A homilia falou do Espírito Santo como “o dom definitivo”, advogado e consolador da humanidade.

“Todos nós, especialmente em momentos difíceis como este que estamos a atravessar, por causa da pandemia, procuramos consolações”, assinalou.


As consolações do mundo são como os anestésicos: oferecem um alívio momentâneo, mas não curam o mal profundo que temos dentro. Dessensibilizam, distraem, mas não curam na raiz. Atuam na superfície, ao nível dos sentidos, e não do coração”.

O Papa referiu-se ao Espírito Santo como a “ternura de Deus em pessoa”, que não deixa ninguém sozinho.

“Irmã, irmão, se sentes o negrume da solidão, se trazes dentro um peso que sufoca a esperança, se tens no coração uma ferida que queima, se não encontras o caminho de saída, abre-te ao Espírito Santo”, apelou.

A intervenção evocou o momento em que os apóstolos, que tinham “renegado Jesus Cristo”, recebem o Espírito no dia de Pentecostes, em que “tudo muda”.

“É o tempo do anúncio feliz do Evangelho, mais do que do combate ao paganismo. É o tempo para levar a alegria do Ressuscitado, não para nos lamentarmos do drama da secularização. É o tempo para derramar amor sobre o mundo, sem abraçar o mundanismo. É o tempo para testemunhar a misericórdia, mais do que para inculcar regras e normas. É o tempo do Paráclito! É o tempo da liberdade do coração, no Paráclito”

Foto: Lusa/EPA

Francisco convidou a “viver no presente”, o “único e irrepetível momento para fazer o bem, fazer da vida um dom”.

“Não fazendo grandes discursos, mas aproximando-nos das pessoas; não com palavras empoladas, mas com a oração da proximidade. A proximidade, a compaixão e a ternura são o estilo de Deus, sempre”, precisou.

Após a Missa, teve lugar a tradicional recitação da oração do ‘Regina Caeli’, com peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

“O Espírito é universal, não nos tira as diferenças culturais, as diferenças de pensamento. Não, é para todos, cada um percebe-o na sua própria cultura, na sua própria língua. O Espírito muda o coração, alarga o olhar dos discípulos. Torna-os capazes de comunicar a todos as grandes obras de Deus, sem limites, ultrapassando os limites culturais e religiosos dentro dos quais estavam habituados a pensar e a viver”, indicou Francisco, desde a janela do apartamento pontifício.

Francisco criticou os “grupinhos” dentro da Igreja que “procuram sempre a divisão”, sublinhando que “a Igreja é para todos”.

“O Espírito de Deus é harmonia, unidade. Une as diferenças”, insistiu.

OC


Espírito Santo, Espírito Paráclito, consolai os nossos corações. Fazei-nos missionários da vossa consolação, paráclitos de misericórdia para o mundo. Advogado nosso, doce conselheiro da alma, tornai-nos testemunhas do hoje de Deus, profetas de unidade para a Igreja e a humanidade, apóstolos apoiados na vossa graça, que tudo cria e tudo renova.


Papa Francisco, solenidade de Pentecostes, 2021


segunda-feira, 24 de maio de 2021

Pentecostes, por Tolentino Mendonça



É duro e belo o que vem descrito pelo Evangelho de João a propósito da cena do Pentecostes. Os apóstolos estão acossados, de portas fechadas, afundados na própria incerteza, por medo do que lhes possa acontecer. E o Ressuscitado aparece, atravessando o medo deles, perfurando esse espesso medo para lhes dizer: “A paz esteja convosco.” Nesse momento, mostra-lhes as feridas provocadas pela cruz e sopra sobre eles. Este sopro deve ser lido como uma citação do momento da criação, quando Deus amassa o homem da fadiga do barro, da fragilidade da terra, e lhe insufla as narinas para que o homem se possa tornar um vivente sobre este mundo, com tudo o que isso significa. Sem cair em dicotomias fáceis, cada um de nós repete essa experiência primordial. Sentimos que há uma materialidade na vida, no corpo que somos, na forma da nossa existência sobre este mundo. Mas, ao mesmo tempo, compreendemos que não somos só isso: somos também um sopro vital, um hálito, um mistério que excede as explicações fornecidas pela pura matéria. Somos também espírito. E é esta associação de planos que faz o milagre espantoso que é a vida. Ora, o sopro vital não é apenas o oxigénio de que precisamos para existir neste instante. O sopro vital é o Espírito Santo.

No relato evangélico, Jesus toma a fadiga da nossa existência, a nossa interminável fragilidade e investe nela um novo motor de sentido: o sopro do Espírito Santo. E isso é duro e belo, dizia. Belo, porque se trata de um verdadeiro renascimento. Duro, por que o Espírito Santo é concedido aos discípulos numa estação particularmente sofrida do seu caminho. É a mulheres e homens feridos por lutos, sofrimentos, insuficiências e dúvidas que a plenitude do Espírito é dada. De facto, Jesus não suspende neles a vulnerabilidade, a precariedade ou o medo. Potencia, sim, uma capacidade de entender e de viver tudo de outra forma. A grande transformação do Pentecostes é, assim, a oferta de um surpreendente horizonte de compreensão, uma abertura do olhar, uma reviravolta, uma nova chave de interpretação de nós mesmos e da história. Sem o Espírito Santo vemo-nos apenas pó, apenas barro, somos apenas o que se vê daqui, o que morre aqui, todos os dias, a todas as horas. É o Espírito que nos torna maiores do que somos.

O Espírito Santo, prometido por Jesus, exprime-se numa linguagem universal, para a qual não há os habituais bloqueios de tradução que tanto nos tolhem

É interessante, por exemplo, que o Livro dos Atos dos Apóstolos relate o Pentecostes como um inédito acontecimento hermenêutico: cada um se expressa na sua própria língua, mas todos se descobrem capazes de se entender na diversidade. O Espírito Santo, prometido por Jesus, exprime-se numa linguagem universal, para a qual não há os habituais bloqueios de tradução que tanto nos tolhem. Faz-nos falar a linguagem do amor e da compaixão; a linguagem da alegria e da fortaleza; a linguagem da visita, do cuidado e da dádiva.

O Espírito é a expressão de Deus, o seu alfabeto. O Espírito Santo é essa divina criatividade em ato que nos estimula a sermos originais. E que, ao mesmo tempo, conspira para, na nossa diferença, na nossa singularidade irredutível consigamos criar laços de fraternidade e de comunhão. Por isso, cada crente é uma consequência do Espírito Santo, um endereço e uma criação sua. Por isso, o dia de Pentecostes não foi apenas aquele dia concreto em que o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos, reunidos no cenáculo. Cada dia da nossa vida é um dia de Pentecostes. Em cada dia, o Espírito Santo vem até nós como defensor e não permite que a sombra, a violência ou o temor se sobreponham à esperança, mesmo quando esta nos parece frágil.


domingo, 23 de maio de 2021

Taizé: Tui amoris ignem /

 

Taizé: Tui amoris ignem / Acende em nos o teu fogo - YouTube

SOLENIDADE DO PENTECOSTES

 

(37) P2108 Pentecostes - YouTube

O tema deste domingo é, evidentemente, o Espírito Santo. Dom de Deus a todos os crentes, o Espírito dá vida, renova, transforma, constrói comunidade e faz nascer o Homem Novo.
O Evangelho apresenta-nos a comunidade cristã, reunida à volta de Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva, recriada, nova, a partir do dom do Espírito. É o Espírito que permite aos crentes superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo desse amor que Jesus viveu até às últimas consequências.
Na primeira leitura, Lucas sugere que o Espírito é a lei nova que orienta a caminhada dos crentes. É Ele que cria a nova comunidade do Povo de Deus, que faz com que os homens sejam capazes de ultrapassar as suas diferenças e comunicar, que une numa mesma comunidade de amor, povos de todas as raças e culturas.
Na segunda leitura, Paulo avisa que o Espírito é a fonte de onde brota a vida da comunidade cristã. É Ele que concede os dons que enriquecem a comunidade e que fomenta a unidade de todos os membros; por isso, esses dons não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos.


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sábado, 22 de maio de 2021

O Papa: rezar para ter um coração luminoso, não cinzento

Segundo Francisco, "o perigo é ter um coração cinzento, quando o estar pra baixo chega ao coração e o adoece. Existem pessoas que vivem com o coração cinzento. Isso é terrível"!


"Distrações, aridez e acídia" foi o tema da catequese do Papa Francisco, sobre o tema da oração, na Audiência Geral, desta quarta-feira (19/05), realizada no Pátio São Dâmaso.



Francisco procurou mostrar algumas dificuldades comuns identificadas e superadas na experiência vivida da oração, ressaltando que "rezar não é fácil" e que "são tantas as dificuldades que surgem na oração".

Oração e concentração

O primeiro problema que se apresenta para aqueles que rezam é a distração.

Você começa a rezar e a mente gira, gira o mundo inteiro. A oração convive frequentemente com a distração. De fato, a mente humana tem dificuldade de se concentrar por muito tempo num único pensamento. Todos nós experimentamos este turbilhão contínuo de imagens e ilusões em movimento perpétuo, que nos acompanha até durante o sono. E todos sabemos que não é bom dar seguimento a esta inclinação fragmentada. A luta para alcançar e manter a concentração não se limita à oração. Se não se atinge um grau de concentração suficiente, não se pode estudar com proveito, nem se pode trabalhar bem.

"As distrações não são culpáveis, mas devem ser combatidas. No patrimônio da nossa fé há uma virtude que é frequentemente esquecida, mas que está muito presente no Evangelho. Chama-se “vigilância”. Jesus chama frequentemente os discípulos ao dever de uma vida sóbria, guiada pelo pensamento de que mais cedo ou mais tarde ele voltará, como um noivo volta das bodas ou um senhor da viagem. A distração é a imaginação que gira, gira, gira. Santa Teresa chama essa imaginação que gira, gira na oração de "a louca da casa". É como uma louca que te faz girar, girar. Temos que pará-la e engaiolá-la com atenção", disse o Papa.

Coração cinzento

O segundo problema é a aridez.

A aridez nos faz pensar na Sexta-feira Santa, na noite e no Sábado Santo. Jesus morreu: estamos sozinhos. Este é um pensamento da aridez. Muitas vezes não sabemos quais são as razões da aridez: pode depender de nós, mas também de Deus, que permite certas situações na vida exterior ou interior. Os mestres espirituais descrevem a experiência da fé como uma alternância contínua de tempos de consolação e tempos de desolação; tempos em que tudo é fácil, enquanto outros são marcados por uma grande dificuldade.

O Papa disse ainda que muitas vezes encontramos um amigo que nos diz: "Estou pra baixo". "Muitas vezes estamos assim, ou seja, não temos sentimentos, não temos consolação. São aqueles dias cinzentos que existem na vida!", disse o Pontífice. Segundo Francisco, "o perigo é ter um coração cinzento, quando o estar pra baixo chega ao coração e o adoece". "Existem pessoas que vivem com o coração cinzento. Isso é terrível! Não se reza mais, não se sente o consolo com o coração cinzento. O coração deve ser aberto e luminoso para que entre a luz do Senhor. E se ela não entrar", disse o Papa, "é preciso aguardá-la com esperança".

Perseverar em tempos difíceis

O terceiro problema que se apresenta para quem reza é a acídia, "uma verdadeira tentação contra a oração e, mais geralmente, contra a vida cristã. A acídia é «uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência do coração». É um dos sete “pecados capitais” pois, alimentado pela presunção, pode levar à morte da alma".

"O que devemos fazer, então, nesta sucessão de entusiasmos e desencorajamentos?", perguntou o Papa. "Devemos aprender a caminhar sempre", respondeu ele.

O verdadeiro progresso na vida espiritual não consiste em multiplicar os êxtases, mas em ser capaz de perseverar em tempos difíceis. Caminhar, caminhar e se você se cansar, pare um pouco, mas volte a caminhar, com perseverança. Todos santos passaram por este “vale escuro”, e não nos escandalizemos se, lendo os seus diários, ouvirmos o relato de noites de oração sem vontade, vivida sem gosto.

Zangar-se com Deus é uma forma de rezar



Segundo o Papa, protestar diante de Deus é uma forma de rezar, "zangar-se com Deus é uma forma de rezar também". Francisco convidou a não "nos esquecer a oração do porque, que é a oração das crianças quando começam a não entender as coisas. A idade dos porquês ". "Mas a criança não escuta a resposta do pai. O pai responde e vem logo outro porque. A criança quer chamar a atenção do pai. Quando nos zangamos com Deus e continuamos a dizer porque, estamos atraindo o coração do nosso Pai para a nossa miséria, para as nossas dificuldades, para a nossa vida. Zangar-se com Deus faz bem, pois faz despertar a relação de filho com o Pai, de filha com o Pai, que nós devemos ter de ter com Deus", concluiu.


Mariangela Jaguraba - Vatican News


sexta-feira, 21 de maio de 2021

UMA PRESENÇA DISCRETA MAS EFICAZ



É elegantemente afável. Tem um agir muito próprio. Não fala de si próprio. Nunca ninguém o ouviu falar. Fala-se muitíssimo dele, é verdade, mas nunca ninguém o viu. Não se evidencia, vive em família, em comunidade, discretamente, como se não existisse. A sua presença, porém, experimenta-se, vive-se, usufrui-se, produz frutos em abundância, provoca alegria e paz. São imensuráveis os efeitos da sua atividade, tanto na vida das pessoas como na história do universo. É muitas vezes designado por vento, fogo, luz, dom, fonte de água viva... Quem o acolhe e escuta com os ouvidos do coração, não baterá com a cabeça na parede. Isso poderá acontecer a quem não lhe presta atenção, mesmo quando esse seu agir se manifesta através dum conselho de alguém. Fazer-lhe ouvidos moucos e agir levianamente, sem avaliar e discernir, é de loucos, pode fazer partir a cabeça e a parede! Bernard Sesboué diz, e explica, que assim como a psicologia das profundidades alerta para a importância do inconsciente na nossa vida, este alguém de quem falamos é, de alguma forma, o nosso “inconsciente divino”, aquele a quem podemos “causar desgosto” em nós mesmos porque estamos marcados com o seu selo (Ef 4, 30). O leitor já descobriu de quem se trata? Pois é, é Ele mesmo!...
Por Ele, Jesus encarnou no seio da Virgem Maria. Em forma de pomba, desceu sobre Jesus no batismo no Jordão. No Cenáculo, veio sobre os Apóstolos sob a forma de línguas de fogo. É-nos apresentado como princípio de atividade, como criador, santificador, consolador, advogado, Espírito da promessa, Espírito de adoção, Espírito de Cristo, Espírito do Senhor, Espírito de Deus, Espírito de Verdade, Espírito de glória, Paráclito... É o poder de Deus que vem, que permanece em Jesus, que distribui os dons de Deus pelas pessoas, como lhe apraz. O Pai e o Filho têm falado aos homens e falam um com o outro. Ele não fala, mas deve-se-lhe a eficácia operativa quer à palavra quer aos sacramentos. O Espírito Santo, Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, guarda silêncio, mas um silêncio ativo e eficaz. Ele inspirou as Escrituras, assiste e dinamiza a Igreja, enriquece-a, santifica-a, edifica-a com dons e carismas numa variedade imensa de vocações, ministérios e serviços, sem que a diversidade destrua a unidade e a comunhão. Atua na liturgia sacramental, intercede por nós na oração, impulsiona a vida apostólica e missionária. É a alma, o protagonista da evangelização, manifesta-se no testemunho dos mártires e santos, ilumina na interpretação da palavra de Deus. Não ensina nada de novo, é verdade, mas recorda e ajuda a aprofundar o ensinamento de Jesus. Guia os discípulos para a verdade total e está connosco para sempre, nesta missão invisível de acompanhar e continuar a missão de Jesus. Mas se não fala, Ele age nas pessoas que falam, fá-las falar com coragem, inspira-as segundo o pensamento do Pai e do Filho. A palavra dos profetas é-lhe atribuída. Os Atos dos Apóstolos referem que “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem”. Segundo São Paulo, ao Espírito Santo se deve a graça de podermos professar a nossa fé, de nos voltarmos para Deus e lhe chamarmos Pai, de confessarmos que “Jesus é Senhor”. Ele habita no coração dos crentes, inspira a sua liberdade, com respeito, sem nunca a violentar, motiva a vontade para falar e agir segundo Deus. Convida à mudança e à conversão, age na intimidade de cada pessoa, leva-a a descobrir e a reconhecer a dignidade da natureza humana, a grandeza da inteligência, o valor da consciência, a excelência da liberdade, individual e alheia. Faz-nos compreender mais profundamente o que significa ser batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, impele-nos ao apostolado, à participação e à corresponsabilidade, sem medos, sem preconceitos nem prudências mal entendidas. É pela sua força que se denuncia com coragem o mal, que angustia e escraviza, e se anuncia a Palavra de Jesus, que liberta e salva.
Como “Espírito que dá vida e renova a face da terra”, não é monopólio da Igreja nem de ninguém. Ele age com soberana e universal liberdade, “entra constantemente na história do mundo através do coração humano; suscita aspirações e realizações que encarnam valores humanos e, por isso, cristãos; valores que se apresentam como “sinais” dos desígnios de Deus e chamam a humanidade a renovar-se em Cristo e a transformar-se em família de Deus (cf. CEP- Carta Pastoral – O Espírito Santo que dá a vida, 1997, 14).
São Cirilo da Alexandria, do século IV, deixou-nos uma interessante catequese sobre o Espirito Santo como fonte de água viva que jorra para a vida eterna. Diz ele: “Novo género de água esta que vive e jorra; mas jorra apenas sobre os que são dignos dela. Mas porque é que o Senhor dá o nome de «água» à graça do Espírito? Certamente porque tudo tem necessidade de água; ela sustenta as ervas e os animais. A água da chuva cai dos céus; e embora caia sempre do mesmo modo e na mesma forma, produz efeitos muito variados. Não é, de facto, o mesmo, o efeito que produz na palmeira e na vide, e assim em todas as coisas, embora a sua natureza seja sempre a mesma e não possa ser diversa de si própria. Na verdade, a chuva não se modifica a si mesma em qualquer das suas manifestações; mas, ao cair sobre a terra, acomoda-se às estruturas dos seres que a recebem, dando a cada um deles o que necessita. De maneira semelhante, o Espírito Santo, sendo único, com uma única maneira de ser e indivisível, distribui por cada um a graça como lhe apraz. E assim como a árvore ressequida, ao receber a água, produz novos rebentos, assim também a alma pecadora, ao receber do Espírito Santo o dom do arrependimento, produz frutos de justiça. O Espírito tem um só e o mesmo modo de ser; mas, por vontade de Deus e pelos méritos de Cristo, produz efeitos diversos. Serve-se da língua de uns para comunicar o dom da sabedoria; ilumina a inteligência de outros com o dom da profecia. A este dá-lhe o poder de expulsar os demónios; àquele concede-lhe o dom de interpretar as divinas Escrituras. A uns fortalece-os na temperança, a outros ensina-lhes a misericórdia; a estes inspira a prática do jejum e os exercícios da vida ascética, àqueles a sabedoria nas coisas temporais; a outros prepara-os para o martírio. Enfim, manifesta-Se de modo diferente em cada um, mas permanece sempre igual a Si mesmo, como está escrito: A cada um é dada a manifestação do Espírito para o bem comum. Branda e suave é a sua aproximação; benigna e agradável é a sua presença; levíssimo é o seu jugo. A sua vinda é precedida pelas irradiações resplandecentes da sua luz e da sua ciência. Ele vem como protetor fraterno: vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar a alma de quem o recebe, e depois, por meio desse, a alma dos outros”.


D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 21-05-2021


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quinta-feira, 20 de maio de 2021

Precisamos tanto de um abraço, não precisamos?




Um abraço bom. Um abraço forte.


Um abraço que nos chama. Que nos espera. Que nos envolve.

Um abraço que nos é casa. Que nos é lugar.

Um abraço que nos demora. Que nos faz (de)morar.

Um abraço que nos segura, por dentro e por fora.

Um abraço que nos guarda e nos abriga do mundo.

Um abraço que nos sossega e nos faz (re)pousar.

Um abraço que nos sente, de olhos fechados.

Um abraço que nos fala, em silêncio.

Um abraço que nos escuta o coração. Que nos compassa o coração com o seu.

Um abraço que nos toca directamente na alma.

Um abraço que nos funde em si. Que nos inunda de si.

Um abraço que nos faz ser abraço.

Um abraço que nos cura tudo.

Um abraço que nos salva de tudo.

Um abraço que nos muda o dia. Que nos muda a vida.

Um abraço que nos abraça para sempre e, para sempre, nos abraça tanto.

Um abraço que nos é amor. Que nos faz ser amor.


Precisamos tanto de um abraço, não precisamos?



Daniela Barreira

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Levados ao ambão




Vi-os a serem levados ao ambão. Os seus caminhares pela fé permitiram que fossem entrando na Igreja e através de um arriscar constante acabaram ali. Pertíssimos do altar. Onde tantas vezes se acharem indignos de lá chegar. Dando testemunho com todas as suas histórias de que não há pergunta ou dúvida que não possa ser rezada.

Vi-os a serem levados ao ambão. Foram até lá com toda a liberdade. Mostrando, num simples gesto, um ato de fé. No meio de tanta humanidade todos aqueles momentos, diante do ambão, se tornaram beleza e oração. Subiram ao ambão com o propósito de que todas as palavras pronunciadas fossem em si vida rezada. E levaram isso à séria. Cada palavra não se deixou perder pelo mero exercício de vocalização. Quiseram que cada palavra ficasse inscrita nas suas vidas. Quiseram mostrar, a todos os que lhes escutavam, que é possível deixar-se ser riscado pelas linhas do Evangelho.

Vi-os a serem levados ao ambão. As suas leituras carregadas de nervosismo davam a conhecer a importância daquele momento. Os seus tremores, as suas hesitações, os seus silêncios e as suas lágrimas rezavam tudo o que eram. Sem farsas. Sem se deixarem recalcar por meros rituais automatizados. Colocaram nas leituras as suas vidas e conseguiram, deste jeito, mostrar que a fé, repleta de dúvidas e inquietações, ganha nova vida quando se compromete a um abandono sincero.

Vi-os a serem levados ao ambão como crianças que se deixam confiar nos braços de um Pai. Vi-os a rezar de corpo e alma.

Vi-os a serem levados ao ambão. E foram levados ao colo por Aquele a quem as suas vozes, de forma plena e autêntica, demonstravam tão grande amor e sede!



Emanuel António Dias


terça-feira, 18 de maio de 2021

Faz mal não estar bem?



Vivemos reféns da ideia de uma felicidade eterna, permanente e imutável. Acreditamos que é preferível escolher estar sempre bem, mesmo quando não estivermos. Fizeram-nos crer que devemos lutar por um bem-estar transformador que nunca nos abandona, nem mesmo na maior das aflições.

Contaram-nos que estávamos cá para ser felizes, para tentar realizar todos os nossos sonhos, para conseguir estar sempre à tona de água. Disseram-nos que devíamos procurar o lugar que nos fizesse sentir casa, coração e alma, tudo ao mesmo tempo.

Mentiram-nos. Explicaram-nos tudo ao contrário. Não nos avisaram que haveria dias em que não estaríamos bem e que isso não tinha que ser, necessariamente, um problema. Não nos disseram que a felicidade é efémera e que, como tudo, acaba por passar, por se transformar, por se enraizar em nós como um fóssil que é só um vislumbre de vida. Não nos deixaram chorar o que precisávamos, gritar o que queríamos.

É como se estar bem fosse o único modo possível. Estar mal é que não. Que ilusão é esta que o mundo nos legou? Que nos força a estar bem, quando estamos mal? Que nos força a mascarar um sorriso ou uma gargalhada quando só nos apetece dar três murros na mesa?

Ninguém nos diz que não faz mal não estar bem. O que faz mal é viver à sombra de um estado de alma idílico que só existe nos filmes. Hoje estamos bem, amanhã logo se vê. Hoje pode ser um dia em que somos nuvem, mas amanhã podemos estar sol. E luz.

O que não podemos é continuar a acreditar na continuidade de um estado bom que nem sempre rima com a vida.

O que não podemos é obrigar-nos a estar de boa cara, se não estivermos.

O que faz mal é não estar.

Agora estar bem ou estar mal? É aceitar o que for. Quando for.


Marta Arrais


segunda-feira, 17 de maio de 2021

Papa alerta para riscos de manipulação de informação nas plataformas digitais

Mensagem para o 55.º Dia Mundial das Comunicações Sociais destaca importância do encontro pessoal

essoal


Cidade do Vaticano, 16 mai 2021 (Ecclesia) – O Papa alerta sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se celebra hoje, para os perigos de uma manipulação de informação nas plataformas digitais.

“Tornaram-se evidentes, para todos, os riscos duma comunicação social não verificável. Há tempo que nos demos conta de como as notícias e até as imagens são facilmente manipuláveis, por infinitos motivos, às vezes por um banal narcisismo”, indica.

A mensagem para o 55.º Dia Mundial das Comunicações Sociais tem como tema ‘«Vem e verás» (Jo 1, 46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são’.

Francisco defende uma comunicação “transparente e honesta”, “tanto na redação dum jornal como no mundo da web, tanto na pregação comum da Igreja como na comunicação política ou social”.

O texto destaca a importância de “maior capacidade de discernimento e a um sentido de responsabilidade mais maduro”, na difusão e receção de conteúdos.

“Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as”, precisa.

O Papa admite que a tecnologia digital permite uma informação “em primeira mão e rápida”, oferecendo mesmo a possibilidade de acompanhar acontecimentos que “seriam negligenciados pelos meios de comunicação tradicionais”.

A mensagem alerta, no entanto, que “na comunicação, nada pode jamais substituir, de todo, o ver pessoalmente”.

“O intenso fascínio de Jesus sobre quem se encontrava com Ele dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios”, recorda.

O Papa questiona o que chama de “eloquência vazia” nas várias esferas da vida pública, destacando que, mais do que os recursos técnicos usados na comunicação, é a experiência humana que faz a diferença.

“Há mais de dois mil anos que uma corrente de encontros comunica o fascínio da aventura cristã. Por isso, o desafio que nos espera é o de comunicar, encontrando as pessoas onde estão e como são”, aponta.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais foi a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se, em cada ano, no domingo antes do Pentecostes.

OC


domingo, 16 de maio de 2021

Solenidade da Ascensão

 


A Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje celebramos sugere que, no final do caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, a comunhão com Deus. Sugere também que Jesus nos deixou o testemunho e que somos nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projecto libertador de Deus para os homens e para o mundo.
No Evangelho, Jesus ressuscitado aparece aos discípulos, ajuda-os a vencer a desilusão e o comodismo e envia-os em missão, como testemunhas do projecto de salvação de Deus. De junto do Pai, Jesus continuará a acompanhar os discípulos e, através deles, a oferecer aos homens a vida nova e definitiva.
Na primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projecto do Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus - a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo "caminho" que Jesus percorreu. Quanto aos discípulos: eles não podem ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante; mas têm de ir para o meio dos homens continuar o projecto de Jesus.
A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que foram chamados (a vida plena de comunhão com Deus). Devem caminhar ao encontro dessa "esperança" de mãos dadas com os irmãos - membros do mesmo "corpo" - e em comunhão com Cristo, a "cabeça" desse "corpo". Cristo reside no seu "corpo" que é a Igreja; e é nela que se torna hoje presente no meio dos homens.


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sábado, 15 de maio de 2021

MINISTÉRIO DE CATEQUISTA

 





              CARTA APOSTÓLICA


SOB FORMA DE «MOTU PROPRIO»

DO SUMO PONTÍFICE
FRANCISCO

ANTIQUUM MINISTERIUM

PELA QUAL SE INSTITUI O
MINISTÉRIO DE CATEQUISTA



1. MINISTÉRIO ANTIGO é o de Catequista na Igreja. Os teólogos pensam, comumente, que se encontram os primeiros exemplos já nos escritos do Novo Testamento. A primeira forma, germinal, deste serviço do ensinamento achar-se-ia nos «mestres» mencionados pelo apóstolo Paulo ao escrever à comunidade de Corinto: «E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo, profetas; em terceiro, mestres; em seguida, há o dom dos milagres, depois o das curas, o das obras de assistência, o de governo e o das diversas línguas. Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres? Fazem todos milagres? Possuem todos o dom das curas? Todos falam línguas? Todos as interpretam? Aspirai, porém, aos melhores dons. Aliás vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros» (1 Cor 12, 28-31).

O próprio Lucas afirma, na abertura do seu Evangelho: «Resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los [os factos que entre nós se consumaram] a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído» (Lc 1, 3-4). O evangelista parece bem ciente de estar a fornecer, com os seus escritos, uma forma específica de ensinamento que permite dar solidez e vigor a quantos já receberam o Batismo. E voltando ao mesmo tema, o apóstolo Paulo recomenda aos Gálatas: «Mas quem está a ser instruído na Palavra esteja em comunhão com aquele que o instrui, em todos os bens» (Gal 6, 6). Como se vê, o texto acrescenta uma peculiaridade fundamental: a comunhão de vida como caraterística da fecundidade da verdadeira catequese recebida.

2. Desde os seus primórdios, a comunidade cristã conheceu uma forma difusa de ministerialidade, concretizada no serviço de homens e mulheres que, obedientes à ação do Espírito Santo, dedicaram a sua vida à edificação da Igreja. Os carismas, que o Espírito nunca deixou de infundir nos batizados, tomaram em certos momentos uma forma visível e palpável de serviço à comunidade cristã nas suas múltiplas expressões, chegando ao ponto de ser reconhecido como uma diaconia indispensável para a comunidade. E assim o interpreta o apóstolo Paulo, com a sua autoridade, quando afirma: «Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, para proveito comum. A um é dada, pela ação do Espírito, uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, a fé, no mesmo Espírito; a outro, o dom das curas, no único Espírito; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas. Tudo isto, porém, o realiza o único e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um, conforme lhe apraz» (1 Cor 12, 4-11).

Por conseguinte é possível reconhecer, dentro da grande tradição carismática do Novo Testamento, a presença concreta de batizados que exerceram o ministério de transmitir, de forma mais orgânica, permanente e associada com as várias circunstâncias da vida, o ensinamento dos apóstolos e dos evangelistas (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum, 8). A Igreja quis reconhecer este serviço como expressão concreta do carisma pessoal, que tanto favoreceu o exercício da sua missão evangelizadora. Olhar para a vida das primeiras comunidades cristãs, que se empenharam na difusão e progresso do Evangelho, estimula também hoje a Igreja a perceber quais possam ser as novas expressões para continuarmos a permanecer fiéis à Palavra do Senhor, a fim de fazer chegar o seu Evangelho a toda a criatura.

3. Toda a história da evangelização destes dois milénios manifesta, com grande evidência, como foi eficaz a missão dos catequistas. Bispos, sacerdotes e diáconos, juntamente com muitos homens e mulheres de vida consagrada, dedicaram a sua vida à instrução catequética, para que a fé fosse um válido sustentáculo para a existência pessoal de cada ser humano. Além disso, alguns reuniram à sua volta outros irmãos e irmãs, que, partilhando o mesmo carisma, constituíram Ordens religiosas totalmente dedicadas ao serviço da catequese.

Não se pode esquecer a multidão incontável de leigos e leigas que tomaram parte, diretamente, na difusão do Evangelho através do ensino catequístico. Homens e mulheres, animados por uma grande fé e verdadeiras testemunhas de santidade, que, em alguns casos, foram mesmo fundadores de Igrejas, chegando até a dar a sua vida. Também nos nossos dias, há muitos catequistas competentes e perseverantes que estão à frente de comunidades em diferentes regiões, realizando uma missão insubstituível na transmissão e aprofundamento da fé. A longa série de Beatos, Santos e Mártires catequistas que marcou a missão da Igreja, merece ser conhecida, pois constitui uma fonte fecunda não só para a catequese, mas também para toda a história da espiritualidade cristã.

4. A partir do Concílio Ecuménico Vaticano II, a Igreja apercebeu-se, com renovada consciência, da importância do compromisso do laicado na obra de evangelização. Os Padres conciliares reafirmaram várias vezes a grande necessidade que há, tanto para a implantação da Igreja como para o crescimento da comunidade cristã, do envolvimento direto dos fiéis leigos nas várias formas em que se pode exprimir o seu carisma. «É digno de elogio aquele exército com tantos méritos na obra das missões entre pagãos, o exército dos catequistas, homens e mulheres, que, cheios do espírito apostólico, prestam com grandes trabalhos uma ajuda singular e absolutamente necessária à expansão da fé e da Igreja. Hoje em dia, em razão da escassez de clero para evangelizar tão grandes multidões e exercer o ministério pastoral, o ofício dos catequistas tem muitíssima importância» (Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Ad gentes, 17).

A par do rico ensinamento conciliar, é preciso referir o interesse constante dos Sumos Pontífices, do Sínodo dos Bispos, das Conferências Episcopais e dos vários Pastores, que, no decorrer destas décadas, imprimiram uma notável renovação à catequese. O Catecismo da Igreja Católica, a Exortação apostólica Catechesi tradendae, o Diretório Catequístico Geral, o Diretório Geral da Catequese, o recente Diretório da Catequese, juntamente com inúmeros Catecismos nacionais, regionais e diocesanos são expressão do valor central da obra catequística, que coloca em primeiro plano a instrução e a formação permanente dos crentes.

5. Sem diminuir em nada a missão própria do Bispo – de ser o primeiro Catequista na sua diocese, juntamente com o presbitério que partilha com ele a mesma solicitude pastoral – nem a responsabilidade peculiar dos pais relativamente à formação cristã dos seus filhos (cf. CIC cân. 774 §2; CCEO cân. 618), é necessário reconhecer a presença de leigos e leigas que, em virtude do seu Batismo, se sentem chamados a colaborar no serviço da catequese (cf. CIC cân. 225; CCEO câns. 401 e 406). Esta presença torna-se ainda mais urgente nos nossos dias, devido à renovada consciência da evangelização no mundo contemporâneo (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 163-168) e à imposição duma cultura globalizada (cf. Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 100.138), que requer um encontro autêntico com as jovens gerações, sem esquecer a exigência de metodologias e instrumentos criativos que tornem o anúncio do Evangelho coerente com a transformação missionária que a Igreja abraçou. Fidelidade ao passado e responsabilidade pelo presente são as condições indispensáveis para que a Igreja possa desempenhar a sua missão no mundo.

Despertar o entusiasmo pessoal de cada batizado e reavivar a consciência de ser chamado a desempenhar a sua missão na comunidade requer a escuta da voz do Espírito que nunca deixa faltar a sua presença fecunda (cf. CIC cân. 774 §1; CCEO cân. 617). O Espírito chama, também hoje, homens e mulheres para irem ao encontro de tantas pessoas que esperam conhecer a beleza, a bondade e a verdade da fé cristã. É tarefa dos Pastores sustentar este percurso e enriquecer a vida da comunidade cristã com o reconhecimento de ministérios laicais capazes de contribuir para a transformação da sociedade através da «penetração dos valores cristãos no mundo social, político e económico» (Evangelii gaudium, 102).

6. O apostolado laical possui, indiscutivelmente, uma valência secular. Esta exige «procurar o Reino de Deus, tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 31). A sua vida diária é tecida de encontros e relações familiares e sociais, o que permite verificar como «são especialmente chamados a tornarem a Igreja presente e ativa naqueles locais e circunstâncias em que, só por meio deles, ela pode ser o sal da terra» (Lumen gentium, 33). Entretanto é bom recordar que, além deste apostolado, «os leigos podem ainda ser chamados, por diversos modos, a uma colaboração mais imediata no apostolado da Hierarquia, à semelhança daqueles homens e mulheres que ajudavam o apóstolo Paulo no Evangelho, trabalhando muito no Senhor» (Lumen gentium, 33).

No entanto, a função peculiar desempenhada pelo Catequista especifica-se dentro doutros serviços presentes na comunidade cristã. Com efeito, o Catequista é chamado, antes de mais nada, a exprimir a sua competência no serviço pastoral da transmissão da fé que se desenvolve nas suas diferentes etapas: desde o primeiro anúncio que introduz no querigma, passando pela instrução que torna conscientes da vida nova em Cristo e prepara de modo particular para os sacramentos da iniciação cristã, até à formação permanente que consente que cada batizado esteja sempre pronto «a dar a razão da sua esperança a todo aquele que lha peça» (cf. 1 Ped 3, 15). O Catequista é simultaneamente testemunha da fé, mestre e mistagogo, acompanhante e pedagogo que instrui em nome da Igreja. Uma identidade que só mediante a oração, o estudo e a participação direta na vida da comunidade é que se pode desenvolver com coerência e responsabilidade (cf. Cons. Pont. para a Promoção da Nova Evangelização, Diretório da Catequese, 113).

7. Com grande clarividência, São Paulo VI emanou a Carta apostólica Ministeria quaedam tendo em vista não só adaptar ao novo momento histórico os ministérios de Leitor e Acólito (cf. Carta ap. Spiritus Domini), mas também pedir às Conferências Episcopais para promoverem outros ministérios, entre os quais o de Catequista: «Além destes ministérios comuns a toda a Igreja Latina, nada impede que as Conferências Episcopais peçam outros à Sé Apostólica, se, por motivos particulares, julgarem a sua instituição necessária ou muito útil na sua região. Tais são, por exemplo, as funções de Ostiário, de Exorcista e de Catequista». O mesmo instante convite voltava na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi, quando, ao pedir para saber ler as exigências atuais da comunidade cristã numa continuidade fiel com as origens, exortava a encontrar novas formas ministeriais para uma pastoral renovada: «Tais ministérios, novos na aparência mas muito ligados a experiências vividas pela Igreja ao longo da sua existência – por exemplo, o de Catequista (…) – , são preciosos para a implantação, a vida e o crescimento da Igreja e para a sua capacidade de irradiar a própria mensagem à sua volta e para aqueles que estão distantes» (São Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 73).

Com efeito, não se pode negar que «cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja. Embora não suficiente, pode-se contar com um numeroso laicado, dotado de um arreigado sentido de comunidade e uma grande fidelidade ao compromisso da caridade, da catequese, da celebração da fé» (Evangelii gaudium, 102). Por conseguinte, receber um ministério laical como o de Catequista imprime uma acentuação maior ao empenho missionário típico de cada um dos batizados que, no entanto, deve ser desempenhado de forma plenamente secular, sem cair em qualquer tentativa de clericalização.

8. Este ministério possui uma forte valência vocacional, que requer o devido discernimento por parte do Bispo e se evidencia com o Rito de instituição. De facto, é um serviço estável prestado à Igreja local de acordo com as exigências pastorais identificadas pelo Ordinário do lugar, mas desempenhado de maneira laical como exige a própria natureza do ministério. Convém que, ao ministério instituído de Catequista, sejam chamados homens e mulheres de fé profunda e maturidade humana, que tenham uma participação ativa na vida da comunidade cristã, sejam capazes de acolhimento, generosidade e vida de comunhão fraterna, recebam a devida formação bíblica, teológica, pastoral e pedagógica, para ser solícitos comunicadores da verdade da fé, e tenham já maturado uma prévia experiência de catequese (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Christus Dominus, 14; CIC cân. 231 §1; CCEO cân. 409 §1). Requer-se que sejam colaboradores fiéis dos presbíteros e diáconos, disponíveis para exercer o ministério onde for necessário e animados por verdadeiro entusiasmo apostólico.

Assim, depois de ter ponderado todos os aspetos, em virtude da autoridade apostólica,

instituo

o ministério laical de Catequista.

A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos providenciará, dentro em breve, a publicação do Rito de Instituição do ministério laical de Catequista.

9. Convido, pois, as Conferências Episcopais a tornarem realidade o ministério de Catequista, estabelecendo o iter formativo necessário e os critérios normativos para o acesso ao mesmo, encontrando as formas mais coerentes para o serviço que estas pessoas serão chamadas a desempenhar em conformidade com tudo o que foi expresso por esta Carta Apostólica.

10. Os Sínodos das Igrejas Orientais ou as Assembleias dos Hierarcas poderão receber quanto aqui estabelecido para as respetivas Igrejas sui iuris, com base no próprio direito particular.

11. Os Pastores não cessem de abraçar esta exortação que lhes recordavam os Padres conciliares: «Sabem que não foram instituídos por Cristo para se encarregarem por si sós de toda a missão salvadora da Igreja para com o mundo, mas que o seu cargo sublime consiste em pastorear de tal modo os fiéis e de tal modo reconhecer os seus serviços e carismas, que todos, cada um segundo o seu modo próprio, cooperem na obra comum» (Lumen gentium, 30). O discernimento dos dons que o Espírito Santo nunca deixa faltar à sua Igreja seja para eles o apoio necessário para tornar concreto o ministério de Catequista para o crescimento da própria comunidade.

Quanto estabelecido por esta Carta Apostólica em forma de “Motu proprio”, ordeno que tenha vigor firme e estável, não obstante qualquer coisa em contrário ainda que digna de menção particular, e que seja promulgado mediante publicação no jornal L’Osservatore Romano, entrando em vigor no mesmo dia, e publicado depois no órgão oficial Acta Apostolicae Sedis.

Dado em Roma, junto de São João de Latrão, na Memória litúrgica de São João de Ávila, Presbítero e Doutor da Igreja, dia 10 de maio do ano de 2021, nono do meu pontificado.

Francisco



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