Vivemos reféns da ideia de uma felicidade eterna, permanente e imutável. Acreditamos que é preferível escolher estar sempre bem, mesmo quando não estivermos. Fizeram-nos crer que devemos lutar por um bem-estar transformador que nunca nos abandona, nem mesmo na maior das aflições.
Contaram-nos que estávamos cá para ser felizes, para tentar realizar todos os nossos sonhos, para conseguir estar sempre à tona de água. Disseram-nos que devíamos procurar o lugar que nos fizesse sentir casa, coração e alma, tudo ao mesmo tempo.
Mentiram-nos. Explicaram-nos tudo ao contrário. Não nos avisaram que haveria dias em que não estaríamos bem e que isso não tinha que ser, necessariamente, um problema. Não nos disseram que a felicidade é efémera e que, como tudo, acaba por passar, por se transformar, por se enraizar em nós como um fóssil que é só um vislumbre de vida. Não nos deixaram chorar o que precisávamos, gritar o que queríamos.
É como se estar bem fosse o único modo possível. Estar mal é que não. Que ilusão é esta que o mundo nos legou? Que nos força a estar bem, quando estamos mal? Que nos força a mascarar um sorriso ou uma gargalhada quando só nos apetece dar três murros na mesa?
Ninguém nos diz que não faz mal não estar bem. O que faz mal é viver à sombra de um estado de alma idílico que só existe nos filmes. Hoje estamos bem, amanhã logo se vê. Hoje pode ser um dia em que somos nuvem, mas amanhã podemos estar sol. E luz.
O que não podemos é continuar a acreditar na continuidade de um estado bom que nem sempre rima com a vida.
O que não podemos é obrigar-nos a estar de boa cara, se não estivermos.
O que faz mal é não estar.
Agora estar bem ou estar mal? É aceitar o que for. Quando for.
Marta Arrais
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