quinta-feira, 13 de maio de 2021

Ainda não aprendeste a parar?



A resposta será, quase sempre, não.

Ou então: “eu bem tento, mas…”

Todas as respostas que projetamos na cabeça são variantes do não.

Não só ainda não aprendemos a parar como não temos intenção de dedicar tempo a tentar perceber como o podemos, realmente, fazer.

Vamos equilibrando em cima do corpo, da alma e do coração um conjunto de camadas inesgotáveis de tarefas, atividades, projetos, trabalhos, prazos inadiáveis ou urgências que nem sempre o são. Estamos reféns do carrossel imparável em que quisemos mergulhar as nossas vidas, as nossas rotinas, os nossos dias que se colam sempre com as noites e que nem sempre conseguimos distinguir.

Neste carrossel há pouco tempo para pensar e isso parece tentador. É preferível não pensar, não ver, não parar para analisar o resultado daquilo em que nos tornámos (ou tornamos). Enquanto o carrossel voa, voamos também. Enquanto o carrossel anda, andamos também. Enquanto o carrossel não abranda, não abrandamos também.

Que tipo de vida estaremos a criar? Em que tipo de pessoas estaremos a transformar-nos?

As respostas são muito simples, mas podem não ser agradáveis aos olhos. Ao pensamento. À consciência.

Estamos a criar uma vida que rima com o automático e com a preferência pelo não sentir nada. Se não sentirmos nada, não sofremos. Se não pensarmos em nada, não corremos risco de perceber os erros que continuamos e somos. Se não olharmos para o caminho (não) construído, não temos a “chatice” de perceber que somos capazes de ter mesmo de voltar para trás.

Estamos a transformar-nos em pessoas sempre em modo piloto-automático:

Querem que eu vá por aí? É para já.

Querem que eu minta, acreditando que digo a verdade? Contem comigo!

Querem que eu atravesse o maior pântano de lodo, acreditando que o barco que eu sou navega em águas limpas? Vamos a isso.

Não me parece uma vida de sonho, esta nossa. Não parecemos pessoas que alguém desejaria conhecer: reféns do que nos pedem, das nossas tarefas, dos nossos empregos, das nossas existências sem sobressaltos.

Quase tenho vontade de dizer: tragam-me o sofrimento desde que eu possa viver de verdade. Tragam-se a mágoa desde que eu possa viver a sério!




Marta Arrais



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