Infelizmente, a resposta (ainda) é não. Não tratamos as pessoas como iguais. Tratamos as pessoas à luz dos nossos preconceitos, das nossas ideias atabalhoadas e cheias de lixo. Tratamos as pessoas com base no género, nas opções de vida, na maneira de vestir, na capacidade para comprar ou não comprar, na maneira de falar, na aparência, no estilo, na profissão, na quantidade de bens que poderão adquirir ou não.
Lamento que ainda não tenhamos percorrido caminho suficiente para aceitar os outros como estes quiserem ser. Lamento que ainda nem sequer nos tenhamos dado ao trabalho de tentar compreender que impacto pode ter, nos outros, o nosso juízo, as nossas opiniões sobre uma existência que não vivemos (e que nos é totalmente alheia).
Para a viagem de não olhar de lado para o outro, ainda não fizemos (sequer) as malas. Para a peregrinação de não julgar, ainda não atámos (sequer) os sapatos.
Somos uns falsos justos. Uns falsos compreensivos. Uns falsos genuínos. Uns falsos empáticos.
Quando chega a hora de nos colocarmos à prova, de mostrarmos que somos razoáveis, de mostrarmos que temos bom senso e de provarmos que podemos ter a coragem de olhar para o outro com amor… o que fazemos? Nada. Olhamos para o lado. Baixamos a cabeça e fingimos que não é nada connosco. No fundo do nosso coração, sabemos que agimos mal. Que não somos verdadeiros e coerentes. Mas fazer o que todos os outros fazem dará sempre muito menos trabalho.
Ainda assim, e ainda que nos possamos encontrar sozinhos connosco mesmos, na vontade de compreender o outro, de o aceitar e, por último, de o amar… talvez valha a pena percorrer esse caminho. Atar os sapatos e colocar o coração na estrada. Fazer as malas e apanhar o voo para onde fizer sentido.
Já chega de haver tanta gente a sentir-se sozinha quando podias ser tu a fazeres-lhes companhia, não te parece?
Marta Arrais
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