Têm sido dias de grandes contrastes aqueles que tenho vivido. O ser humano, continua a surpreender-me em todos os aspetos. Os negativos não me interessam…
Ao ouvir o Evangelho deste domingo o que mais me marcou foi a pergunta de Jesus a Tiago e João: «Que quereis que vos faça?».
Apesar de haver dúvidas, pensamos que eles queriam a glória deste mundo. É muito provável, que seja uma glória terrena, talvez até política. Portanto, os dois têm sonhos e perspetivas que vão na direção oposta à de Jesus. Mas não são os únicos. Enquanto Tiago e João fazem o seu pedido, os outros dez ficam indignados. A competição perturba o relacionamento entre todos eles.
Mesmo em relação a estes, Jesus reage com um ensinamento extraordinário. Os seus discípulos não devem copiar os modelos usados pelo mundo: prestígio e poder. Devem agir como servos dos outros.
Ou seja, a comunidade cristã deve representar uma alternativa radical aos modelos mundanos. Deve ser fiel a Jesus que, "não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos".
O meu foco na pergunta de Jesus advém do facto de pensar que os dois Apóstolos não a ouviram… Isto é. Quando me confronto com esta pergunta de uma forma honesta, fico sem resposta. Não tenho coragem de responder.
O que espero que Jesus faça por mim? O euromilhões, com a desculpa que o vou repartir por muitos que precisam? Fama, que irei usar para beneficiar os mais esquecidos? E podia continuar por aí fora…
A minha resposta tem que ser totalmente diferente desta lógica mundana…
À pergunta, "O que queres que eu faça por ti?", devo responder como Igreja: ajuda-me a servir e a dar a vida por muitos.
É neste sentido que ainda esta semana fui surpreendido positivamente. Juntamente com mais duas colegas professoras tenho que nomear os alunos para um prémio da escola dedicado à solidariedade. Um prémio que implica um valor monetário que deve ser multiplicado e depois investido no bairro social onde prestamos alguns serviços de voluntariado. Para não sermos parciais pedimos a ajuda às assistentes sociais com quem colaboramos.
E é tão bom. Mesmo muito bom ouvir o que elas dizem dos nossos jovens alunos. Transcrevo as suas palavras porque, na verdade, não tenho melhores…
«Começamos pela nossa doce Inês (…). Sempre disponível para qualquer um dos jovens. Observámos muitas vezes a forma como tratavas os jovens: com carinho, dedicação, tentando não só ensinar os trabalhos de casa e estudar, mas perceber um pouco da pessoa que estava à tua frente e, dentro das suas dificuldades, adaptavas-te e tentavas retirar o melhor dela e do tempo que tinhas disponível. A tua humildade, maneira de estar e de olhar o outro são características que te tornam única e que fazem de ti tão especial.
Querido Ricardo (…), a tua simplicidade e entrega a este projeto tocaram-nos de uma forma especial. Nunca deixaste que o estigma que este bairro tem te impedisse de seguir o teu caminho. Estiveste sempre presente, o primeiro a regressar depois do confinamento e, muitas vezes, o único a aparecer, mas que tentava ajudar todos. O teu carácter e disponibilidade farão de ti uma pessoa que jamais iremos esquecer.
E não poderíamos não falar do nosso Manuel (…), um jovem tão cuidadoso no trato com todos, simples, humilde, que a todos sem exceção tratava com carinho e respeito. Tens em ti o dom da paciência e do respeito ao próximo. Nunca percas estas características que te tornam um ser tão especial.»
Nota: Só de salientar que estes jovens dão apoio escolar no Bairro do Condado, antiga Zona J de Chelas em Lisboa. O ano passado, faziam-no em três dias diferentes.
É isto que Jesus quer que respondamos à sua pergunta! Estamos dispostos a fazê-lo? Estamos preparados para aprender com estes jovens ou queremos um lugar à direita e outro à esquerda?
Boa semana.
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