Percebemos pouco de como a vida funciona. Às vezes parece-nos que as pessoas boas sofrem mais do que as más. Parece-nos que tudo é arbitrário. Que aquilo que fazemos não tem qualquer efeito neste mundo robotizado, e excessivamente tecnológico, em que vivemos.
Não compreendemos que tipo de pessoas são, afinal, premiadas e vangloriadas num mundo em que todos os valores parecem ter definhado. Quase somos tentados a pensar: de que vale a pena fazer o bem, ser competente, trabalhador e criativo se, na verdade, são os graxistas, incompetentes e arrogantes que são levados em braços? De que nos vale dar a outra face e esfolá-la das feridas alheias se, no fim, nada parece correr-nos bem ou resultar para nós como gostaríamos?
Na verdade, é o nosso raciocínio que não está certo. Não temos de ser premiados por fazer o que está certo. Não temos que ser carregados em ombros alheios por fazer o bem. Não temos o direito de descontar as dificuldades que vamos tendo no muito que julgamos fazer. O nosso motivo para fazer o bem deve ser apenas esse: saber que é isso que constitui o nosso dever. É essa a nossa (verdadeira) vocação.
Fazer o bem não faz barulho. Não provoca sinais luminosos de muitas cores nem origina fogos de artifício de encher olhares e de romper vistas.
Fazer o que está certo deve (e tem de) chegar. É suficiente.
Se assim é, por que razão a vida não nos corre melhor? Não (nos) acontece de formas mais favoráveis e, até, mais justas?
Porque a vida tem o seu curso, como um rio. Ensinar-nos-á o que precisarmos de aprender. Far-nos-á crescer à custa de muita dor e de muito sofrimento. Mostrar-nos-á que os prémios não têm qualquer valor quando a recompensa é maior do que a própria vida, como a conhecemos neste mundo.
Enquanto caminhamos, muitas vezes sem sabermos bem para onde nos dirigimos, espero que nos seja possível lembrar que tudo o que é nosso há de ser nosso quando for o tempo. Tudo o que fizermos, ser-nos-á devolvido em dobro e tudo o que dermos será dado como retorno, quando for o dia.
Como diria alguém que conheço: “tudo está como deve estar”.
E eu acrescento: e ainda bem.
Marta Arrais
Sem comentários:
Enviar um comentário
Este é um espaço moderado, o que poderá atrasar a publicação dos seus comentários. Obrigado