Preocupa-me a forma como nos comportamos em sociedade. A forma como gritamos impropérios, no trânsito, a alguém que nos ultrapassou, não fez pisca, passou por onde não devia, não nos cedeu a passagem. Preocupam-me as demasiadas vezes em que fui insultada com nomes e palavreado que faria corar os mais malandros. Preocupam-me, também, as vezes em que também gritei coisas menos bonitas ou simpáticas, ainda que inofensivas. Que raiva é esta que trazemos dentro que nos faz ser malcriados, rudes, grosseiros e, até, profundamente estúpidos e irracionais? Que coisas são estas que temos por digerir que nos fazem disparar estupidezes ou ofensas para rostos que não conhecemos de parte alguma?
A verdade é que parece muito mais legítimo ofender alguém “desconhecido” e com quem nunca mais nos cruzaremos na vida. Mas, se pensarmos bem… isso vale-nos de quê? Somos assim tão mal resolvidos e mal-amados que precisamos de espancar verbalmente os que fazem asneiras na estrada?
Parece que somos mesmo. Parece-me que gostamos de ter sacos de pancada para descarregar as nossas frustrações, dificuldades, zangas interiores. Não podemos aceitar que, tal como nós, também os outros podem fazer coisas que não devem? E mais… não podemos dirigir a nossa raiva para outro lugar?
Podíamos fazer uma lista dos nomes, das atrocidades que se ouvem, veem e sentem enquanto conduzimos, passeamos, andamos na rua.
Duas ou três notinhas breves:
Não temos o direito de fazer o que nos apetece. De gritar o que nos apetece. Seja a pessoa a quem nos dirigimos um desconhecido ou um conhecido. Não temos o direito de, gratuitamente, fazer o outro sentir-se mal só porque estamos infelizes com as nossas vidas.
Estás infeliz com a tua vida? Muda o que tiveres que mudar ou contenta-te com a falta de coragem para o fazer e vive de acordo com isso. Agora não venhas lançar chamas para cima de quem não tem culpa.
Falta tudo. Não estamos pessoas melhores e precisamos de percorrer um longo caminho até chegarmos onde devíamos.
A ti que lês este texto: vê se fazes melhor amanhã.
Marta Arrais
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