domingo, 30 de novembro de 2025

Advento: acolher Cristo que vem


O Advento começou a ser celebrado em Espanha, no século IV. Principiava a 17 de dezembro e, provavelmente, era um tempo de preparação para o batismo de catecúmenos a 6 de janeiro, festa da Epifania do Senhor. Durante este tempo, os cristãos eram convidados a evitar penitências extraordinárias.


Em Ravena, na Itália, no século V, era um tempo dedicado à contemplação dos mistérios e, não tanto, à ascese. Os sermões de S. Pedro Crisólogo e as orações do Rótulo de Ravena orientam para a contemplação do Verbo Encarnado, da colaboração de Maria no Mistério e da espera de Zacarias e de Isabel.

Em Roma, já no século VI encontramos um tempo de preparação para o Natal, aí celebrado a 25 de dezembro. Era o tempo chamado “adventus“, palavra até então aplicada à vinda do imperador ou de outra personalidade. A Liturgia assumiu o termo, dando-lhe o significado de espera da vinda gloriosa e solene de Cristo, quando da sua aparição definitiva, no fim dos tempos. De qualquer modo, o paralelismo entre as duas vindas de Cristo, tão forte na atual Liturgia do Advento, é antiga.

Na Idade Média, foram introduzidos nas celebrações elementos tipicamente ligados ao mistério do Natal, tais como o cântico “Rorate coeli desuper” e as antífonas “O“, sínteses de alguns títulos cristológicos e da oração dos justos do Antigo Testamento. O Calendário Romano, renovado depois do Vaticano II, diz que “o Advento tem uma dupla característica: é tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se recorda a primeira vinda do Filho de Deus ao meio dos homens e, contemporaneamente, é o tempo em que, pela memória, o nosso espírito é orientado para a espera da segunda vinda de Cristo”. É, pois, um tempo de alegre espera, e não de penitência. A Liturgia atual guia-nos para a vinda do Senhor na carne, com a celebração da sua espera messiânica, sobretudo a partir de 17 de dezembro, tempo mariano litúrgico por excelência, imediata preparação para a festa do Natal do Senhor.

O Advento há de ser vivido com fervor de vida e de iniciativas, até pelo encanto popular que o Natal ainda suscita, apesar do perigo do consumismo. A comunidade cristã há de vivê-lo com atividades como: uma celebração penitencial adaptada ao tema da espera, como propõe o Ritual da Penitência; tempos de lectio divina dos textos bíblicos da Liturgia; tempos de oração a partir desses mesmos textos, para aprofundar o significado do Advento para os homens de hoje e para as nossas comunidades cristãs, dando amplo espaço aos jovens e às crianças. A presença e o exemplo de Maria no Advento podem também inspirar momentos de oração, usando, por exemplo, o hino Akathistos ou o “Angelus”. Pode incorporar-se nas celebrações a Coroa de Advento com as quatro velas e pode celebrar-se a novena do Natal, usufruindo dos ricos textos dos últimos dias feriais do Advento, e até integrando elementos da religiosidade popular.

O Advento não é um tempo fictício. É um tempo real. Com toda a verdade, podemos rezar as orações dos justos do Antigo Testamento, e esperar a realização das profecias, porque elas ainda não estão completamente realizadas em nós nem no mundo. Hão de sê-lo quando Cristo voltar em glória. No Advento, celebrando a Cristo que veio, na esperança de Cristo que virá, é decisivo acolhermos a Cristo que vem, agora, sobretudo na Palavra, nos Sacramentos e na Comunidade reunida em seu nome.

A espiritualidade do Advento é, pois, empenhativa: estimula-nos a receber a Cristo na fé, pois “a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (cf. Jo 1, 12). O Advento também nos ajuda a recuperar a consciência de sermos Igreja para o mundo, reserva de esperança e de alegria para a Humanidade. Simultaneamente favorece a experiência de sermos Igreja para Cristo, Esposa que espera vigilante na oração e exultante no louvor do Senhor.

O Padre Dehon recomendou: “No tempo do advento… devemos entregar-nos à oração, ao recolhimento, ao silêncio, à meditação, para nos prepararmos para as grandes graças do Natal.” (ASC, p. 504).

Fernando Fonseca, SCJ

Sem comentários:

Enviar um comentário

Este é um espaço moderado, o que poderá atrasar a publicação dos seus comentários. Obrigado