Na primeira leitura, um “enviado de Deus” anuncia a uma comunidade desanimada que, ao contrário do que dizem alguns céticos, Javé não abandonou o seu Povo nem deixou o mal assumir as rédeas da história dos homens. No tempo oportuno Deus vai atuar, vai limpar o mundo, vai derrotar as forças da opressão e da morte que privam os homens de vida. Das cinzas do mundo velho Deus vai fazer nascer um mundo novo, iluminado pela luz da salvação.O discurso sobre o fim do mundo e as catástrofes que esperam a humanidade pecadora é um discurso que alguns pregadores – muitas vezes da área das seitas, outras vezes de grupos ditos “cristãos”, mas que se movimentam em terrenos e conceções muito próximas das seitas – gostam de usar para incutir medo. Independentemente das boas ou más intenções desses pregadores, o medo não é uma boa base para construirmos a nossa experiência de fé e para nos aproximarmos do Deus que Jesus nos veio revelar. Usar certos textos – como este que a liturgia nos propõe hoje como primeira leitura – para fomentar o medo e para “forçar” à conversão poderá constituir uma grave distorção da Palavra de Deus. Como é que “ouvimos” discursos desse tipo? São discursos que nos impressionam e que condicionam a nossa visão de Deus e do seu projeto?
No Evangelho Jesus conversa com os seus discípulos sobre o sentido da história humana. Garante-lhes que a história dos homens não terminará num fracasso: no final do caminho estará Deus para oferecer aos seus queridos filhos a salvação, a vida definitiva. Essa certeza deve proporcionar-nos a força de que necessitamos para enfrentar as crises, os abalos, as convulsões da história, até mesmo as condenações e perseguições que se apresentarão em cada curva do caminho.O caminho que os homens percorrem pela história será fácil e indolor? É claro que não. Será sempre um caminho marcado pela fragilidade do homem e, portanto, pela presença do mal. Sim, a história dos homens conhecerá a cada passo a violência, a guerra, a injustiça, a mentira, a ambição, a prepotência, as trevas. Mas nessa história também está Deus a apontar aos homens o caminho que leva ao mundo novo. Por isso, a história dos homens também conhecerá a justiça, a bondade, a verdade, o amor, a luz. Jesus lançou à terra a semente do mundo novo, do Reino de Deus; e todos os dias essa semente desenvolve-se e produz frutos abundantes. Esses frutos – os gestos que tantos homens e mulheres fazem, muitas vezes sem “dar nas vistas”, e que tornam o nosso mundo mais justo, mais humano, mais feliz – são os sinais da presença do Reino de Deus na história e na vida dos homens. Aos discípulos de Jesus pede-se que reconheçam os sinais do Reino de Deus, que se alegrem porque o Reino está presente e que se esforcem, todos os dias, por construí-lo. Quais são os sinais de esperança que vemos brilhar no mundo e que nos fazem acreditar na presença do Reino de Deus no meio de nós? O que podemos fazer, no dia a dia, para apressar a chegada do Reino de Deus?
Na segunda leitura o apóstolo Paulo pede aos cristãos de Tessalónica – e aos cristãos de todas as épocas e lugares – que não se instalem na mediocridade, na apatia, na ociosidade, mas sejam protagonistas da história, gente comprometida com a construção do Reino de Deus. Viver de olhos postos em Deus não significa colocar-se à margem da construção do mundo.Nas nossas comunidades cristãs encontramos com frequência pessoas que, independentemente da sua condição, das suas qualificações, das suas qualidades, se limitam a ser “consumidores passivos” da religião: usufruem daquilo que a comunidade constrói, participam de alguns momentos celebrativos que lhes interessam, mas não estão disponíveis para colaborar na comunidade, para ajudar a construir a comunidade, para pôr ao serviço da comunidade os dons que Deus lhes concedeu. Acabam por não estar envolvidos na vida da comunidade e por não fazer uma verdadeira experiência de vivência comunitária da fé. Como é que nos situamos em relação à comunidade cristã? Damos o nosso contributo na construção da comunidade? Pomos a render os nossos dons, colocando-os ao serviço da comunidade?
tps://www.dehonianos.org
Sem comentários:
Enviar um comentário
Este é um espaço moderado, o que poderá atrasar a publicação dos seus comentários. Obrigado