segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O Olhar que salva ✨


Uma das verdades mais profundas do cristianismo é esta: aquilo que salva é o olhar.
Simone Weil disse-o, e quem já foi verdadeiramente olhado sabe o que isso significa.
A adúltera não foi salva por uma lei, mas por um olhar. Zaqueu não foi transformado por um sermão, mas por aquele olhar que o encontrou na árvore e o fez descer — não da altura, mas do orgulho.
O olhar de Jesus não se resigna ao pouco de bom que há em nós: desenterra o melhor, mesmo quando já só resta pó. É um olhar que não acusa, que não mede, que não exige — apenas vê. E, ao ver, restitui à pessoa o direito de existir.
Olhar é um ato espiritual. É colocar o outro no centro da atenção, é dar-lhe um lugar no mundo. Por isso, é fundamental olhar nos olhos quem está diante de nós — sobretudo quem não gosta de nós, ou quem se perdeu de si mesmo. Porque há olhos que ferem e há olhos que curam.
O olhar precisa de ser purificado:
desarmado da posse,
lavado da agressividade,
curado da indiferença.
Só assim poderá voltar a ver o outro como mistério e espanto, não como ameaça ou utilidade.
Devemos ter cuidado com os olhos, porque o mal começa muitas vezes no modo como olhamos. Quem se deixou enganar pelo mal foi seduzido por uma falsa promessa de felicidade. E o olhar que salva é aquele que desmascara essa mentira, não com condenação, mas com compaixão.
Olhar e desnudar — não para expor, mas para libertar. Olhar e perdoar — para que a pessoa possa voltar a caminhar, ver a própria miséria e ainda assim acreditar que é amada.

Padre João Torres


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