terça-feira, 2 de junho de 2015

Abraçando o impossível (Cont.)




Deus, Drama e Solução



“Deus, Drama e Solução” é o título do segundo capítulo do livro de Maximiliano Herraiz Garcia “Solo Dios Basta”.

Olhando nossos irmãos que durante toda a história da salvação e da Igreja abraçaram o impossível, reconhecemos a veracidade e adequação desta expressão. Deus foi o seu drama, diríamos, até, seu “problema”, mas foi também , sua única e felicíssima solução!

Abrão, Moisés, José, Samuel, Judite, Rute, Ester, Davi, Elias, Isaias, Oséias, certamente concordaram com esta afirmação. José, João Batista, Maria, Pedro, Felipe, André, Barnabé, João, Saulo, testemunham-na com suas vidas. Os santos a retratam; sua vida é Deus, está inseparável e intrinsecamente ligada à Vida d’Ele e n’Ele. Jeremias, porém, resume-a magistralmente:

“Seduziste-me, Senhor; e eu me deixei seduzir!
Dominaste-me e obtiveste triunfo.” (Jr 20,7)

Incompreendido, caluniado e perseguido por causa de Deus, Jeremias tem n’Ele o seu problema e a sua solução depois, quando a opção por Deus entra pelo caminho da aceitação humilde, do amor desinteressado, do abandono confiante e do despego efetivo, ainda que pobre nos começos, dos amores que haviam resistido ao Amor”.

A Solidão Necessária

Jeremias viu-se só e, na solidão e dor, optou fundamental e definitivamente por Deus. O mesmo fizera Davi no silêncio da caverna onde poderia ter optado por si mesmo e matado Saul. Davi e Jeremias partilham da solidão necessária para o “sim” fundamental e incondicional, crescente e irreversível, responsável e consciente a Deus. O abraço no impossível é, necessariamente, solitário. Seu itinerário é tão exigente e doloroso quanto mais agudas as arestas que o Oleiro precisar moldar.

Daí ser fundamental retirar-se para o “Horeb” e lá, em oração humilde e paciente, “afinar” cada vez mais os ouvidos da alma para poder perceber a vontade de Deus no “murmúrio da brisa ligeira”( I Rs 19) Sem a oração não conhecemos a Deus. Se não O conhecemos, não temos como confiar n’Ele. Moisés precisou ir “para além do deserto” de sua curta visão para encontrar a sarça. Oséias e João Batista foram levados ao deserto. Cada santo, cada um deles, contou com o auxílio da oração e, pela oração conheceu e encontrou a Deus e a Sua vontade. Na oração, encontramos resposta e força para, na solidão do encontro frente a frente com Deus, abraçarem o impossível.

Não há como não evocar aqui José, que encontra, na solidão mais absoluta, a resposta e orientação de Deus:“Filho de Davi, não temas… Maria concebeu do Espírito Santo… é a Virgem de Israel que dará à luz o Messias, filho de Deus”(cf Mt 1,20ss). José, repentinamente arrebatado a um deserto de angústia, dúvida e solidão, encontra a resposta no seu Deus, a quem certamente invocara embora, por sua decisão humana, houvesse resolvido “rejeitar Maria secretamente”. A resposta de Deus àquele homem justo superou em amor sua generosidade lícita de poupar Maria. Deus sempre dá uma resposta mais adequada ao amor àquele que, na solidão, O escuta.

O Abraço no Caminho Mais Excelente

Pelos séculos afora, Deus tem sido o problema e a solução de todo aquele que O ama. A estes homens e mulheres chamados a amá-lo acima de tudo, Deus propõe o abraço do impossível. A eles oferece uma promessa, na qual devem confiar por causa de Quem a faz. Seduzidos pelo Amor, confiam naquele que os ama e obedecemos. Nem têm mais diante de si a promessa, mas somente o desejo de amar mais e melhor.

O Espírito, que sempre realiza o que deseja, leva-os a mar cada vez mais a Deus e ter na vivência deste amor seu principal problema e sua principal solução.

E quem a Deus ama, ensina Jesus, prova este amor pela obediência à Sua vontade (cf Jo 14,21-24). A estes amantes obedientes Deus dá o Espírito Santo porque obedecem (cf. At 5,32). O Espírito, que sempre realiza o que deseja leva-os a amar cada vez mais a Deus e ter na vivência deste amor seu principal problema e sua principal solução. Impulsionados a amar a Deus, íntimos dele na solidão da oração, entendem profundamente o “Amai-vos como eu vos amo”(Jo 15,12). Entendem-no porque o experimentem, sabem como é que Deus ama, conhecem na própria vida a maneira dele amar. Podem, assim, cumprir, nas diversas formas de chamamento, o único carisma comum a todas as vocações e abraçam, impotentes, humildes e generosos, o impossível de amar a Deus e ao homem como são amados pelo fiel Deus dos Impossíveis. Deixam, assim seus passos de luz no caminho que abraçaram, o “mais excelente de todos”.

Possa o Fiel Deus dos impossíveis tomar-nos, como a eles, seduzir-nos, colher nosso “sim”e ser nosso problema – diante do qual nos rendemos – dando tudo – e nossa solução – quando, dependendo inteiramente dele, pedimos tudo.

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