VATICANO
Francisco chegou na sexta-feira ao Santuário de Fátima e a primeira coisa que fez foi rezar na Capelinha das Aparições, de costas para a multidão. Em silêncio. Não se ouve barulho durante todo o tempo em que está em recolhimento. Os jornalistas estrangeiros ficaram impressionados, tal como se surpreenderam com o dispositivo de segurança, por ser discreto.
"O que mais me chama a atenção em Fátima é a forma como sabem rezar, com uma grande devoção e entrega. Impressiona o silêncio em determinados momentos." É a diferença que Valentina Alazraki, jornalista mexicana da Televisa, encontra em Portugal em relação a tantos outros sítios do mundo onde acompanhou os papas. Viu a mesma devoção pela Nossa Senhora da Guadalupe, padroeira do seu país, mas não tanto silêncio. É a vaticanistas com mais viagens papais: 142.
O segundo voto positivo vai para a segurança. "Esperava mais nervosismo por parte das autoridades policiais, mais medidas de segurança. Tive a sensação de que tudo correu com grande tranquilidade. Aliás, comentámos isso entre os jornalistas, que a segurança foi muito discreta, não foi ostensiva nem para os peregrinos nem para nós. Atuou sem se dar por ela."
Também destaca o comportamento dos peregrinos a jornalista da Rádio Renascença, Aura Miguel, que completou 92 viagens, a terceira vaticanistas com mais participações. Realça o sacrifício que fizeram para ali chegar, não são "cristãos de sofá" de quem o Papa não gosta, diz. E, sobretudo, o respeito demonstrado durante toda a visita.
"Senti uma união muito grande com o Papa, respeitando o silêncio quando era preciso, respondendo ao pedido do Papa para o acompanharem. Quem ali estava, estava com ele e isso refletiu-se durante as cerimónias, o que impressiona. Nos outros sítios onde já estive, não se vê este silêncio respeitador como em Fátima, com qualquer papa. Quando estava na Capelinha das Aparições, de costas voltadas para as pessoas e de frente para Nossa Senhora, parecia que estava sozinho, ouvia-se os passarinhos."
Outros sítios onde esteve, nomeadamente em redor da Basílica de São Pedro, em Roma, verificou o DN, nunca há silêncio. Muitas vezes, parece mais um ponto turístico do que um local de culto. E, na missa de domingo, Francisco sublinhou o silêncio dos peregrinos no momento do seu recolhimento.
Quantos milhares estavam em Fátima falta contar com rigor. Os responsáveis da GNR remetem a resposta para a reitoria do Santuário de Fátima, que diz não dar números. E o porta-voz do Vaticano indicou 500 mil pessoas, citando as autoridades portuguesas.
Peregrino entre peregrinos, em oração pela "esperança e pela paz" e perante a Virgem Maria, cujo exemplo de vida várias vezes mencionou, foi como o Sumo Pontífice se assumiu em Fátima. Na lista das 19 viagens do Papa Francisco indicada pela Santa Sé, apenas a realizada à Terra Santa - entre 24 e 26 de maio de 2014 -, é também registada como peregrinação. Aura Miguel explica que esta foi a primeira vez que se deslocou apenas ao Santuário, embora se tenha reunido com o Presidente da República e o primeiro--ministro, mas fê-lo a título pessoal.
"É a primeira vez que sai exclusivamente como peregrino e vai só ao Santuário. Tem ido a outros santuários marianos mas em visitas de Estado. É a primeira que vai e vem para a peregrinação e que os discursos só têm que ver com isso. Não admira porque o Papa é muito mariano, tem grande ligação à Nossa Senhora."
Valentina Alazraki destaca também a ausência de um cariz de chefe de Estado, o representante máximo do Vaticano. "Vem pela sua devoção mariana, que é muito forte, e também pelo Centenário das Aparições."
A jornalista esteve no Santuário com João Paulo II, em maio de 1982, um ano depois do papa ser vítima de um atentado, do qual se salvou, e que considerou ser milagre de Fátima. Também em 2000, quando foi revelado o terceiro segredo, há sete anos, nos dez anos da beatificação de Jacinta e Francisco e, agora, na sua canonização. Momentos que considera marcantes, sem revelar preferências com qualquer um dos três papas que acompanhou.
Valentina acabava de fazer 24 anos quando fez a primeira viagem, numa visita de João Paulo II que incluía o seu país. Nas 104 saídas ao estrangeiro deste papa, a jornalista mexicana só falhou quatro. Faltou a uma das 24 de Ratzinger, e participou nas 19 de Francisco. Tem 62 anos.
Aura Miguel realizou 92 viagens papais, mais de metade com João Paulo II, quando ainda não seguia no avião, ia ter aos sítios, tinha 30 anos na primeira vez. Fez as 24 de Bento XVI e falhou duas de Francisco. Tem 67 anos.
[©DN]
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