Para dar sequência ao apelo de São João Paulo II na Carta Encíclica “O Evangelho da Vida” (EV), a Conferência Episcopal Portuguesa estabeleceu, há anos, uma “Semana da Vida”, semana essa a coincidir, em cada ano, com o Dia Internacional da Família, 15 de maio. Em fidelidade, pois, a essa determinação, está a decorrer a “Semana da Vida”, com guião preparado pelo Departamento Nacional da Pastoral da Família em comunhão com a respetiva Comissão Episcopal. Os objetivos desta semana são os propostos na referida Carta Encíclica: “suscitar nas consciências, nas famílias, na Igreja e na sociedade, o reconhecimento do sentido e valor da vida humana em todos os seus momentos e condições, concentrando a atenção de modo especial na gravidade do aborto e da eutanásia, sem contudo transcurar os outros momentos e aspetos da vida que merecem ser, de vez em quando, tomados em atenta consideração, conforme a evolução da situação histórica sugerir” (EV85). “Perita em humanidade” (PP13), a Igreja defende que «Nada e ninguém pode autorizar que se dê a morte a um ser humano inocente seja ele feto ou embrião, criança ou adulto, velho, doente incurável ou agonizante. E também a ninguém é permitido requerer este gesto homicida para si ou para outrem confiado à sua responsabilidade, nem sequer consenti-lo explícita ou implicitamente. Não há autoridade alguma que o possa legitimamente impor ou permitir» (EV57). Não matar, nem causar outro dano no corpo ou na alma a si mesmo ou ao próximo, é o que ordena a Lei por excelência.
Referindo-se ao aborto provocado, ao qual o Concílio Vaticano II chama “crime abominável”, São João Paulo II dizia que, hoje, “a perceção da sua gravidade vai-se obscurecendo progressivamente em muitas consciências. A aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei, é sinal eloquente de uma perigosíssima crise do sentido moral que se torna cada vez mais incapaz de distinguir o bem do mal, mesmo quando está em jogo o direito fundamental à vida. Diante de tão grave situação, impõe-se mais que nunca a coragem de olhar frontalmente a verdade e chamar as coisas pelo seu nome, sem ceder a compromissos com o que nos é mais cómodo, nem à tentação de autoengano”. O Papa denuncia aquilo que hoje também acontece em relação à eutanásia e ao suicídio assistido. Para fazer valer a causa, usa-se uma linguagem ambígua, como “direito a morrer”, “direito a morrer com dignidade”, “morte medicamente assistida”, “respeito pela liberdade e autonomia da pessoa” como se todos os direitos fossem disponíveis ou o homicídio deixasse de o ser pelo facto de ser consentido pela vítima. Diz o Papa: “precisamente no caso do aborto, verifica-se a difusão de uma terminologia ambígua, como «interrupção da gravidez», que tende a esconder a verdadeira natureza dele e a atenuar a sua gravidade na opinião pública. Talvez este fenómeno linguístico seja já, em si mesmo, sintoma de um mal-estar das consciências. Mas nenhuma palavra basta para alterar a realidade das coisas: o aborto provocado é a morte deliberada e direta”. É verdade que, “muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um carácter dramático e doloroso”, pois tal decisão não é tomada “por razões puramente egoístas ou de comodidade”. No entanto, quaisquer razões invocadas, “por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente” (EV58).
A decidirem a morte da criança aparecem, com frequência, outras pessoas, como o pai, a família, os amigos. “A mulher, não raro, é sujeita a pressões tão fortes que se sente psicologicamente constrangida a ceder ao aborto”. Neste caso, a responsabilidade moral pesa particularmente sobre aqueles que direta ou indiretamente a forçaram a abortar. Responsáveis são também os profissionais da saúde, sempre que põem ao serviço da morte a competência adquirida para promover a vida; os legisladores que promoveram e aprovaram leis abortistas; os administradores das estruturas clínicas onde se praticam os abortos; todos aqueles que favoreceram a difusão de uma mentalidade de permissivismo sexual e de menosprezo pela maternidade; aqueles que não asseguram válidas políticas familiares e sociais de apoio às famílias; a vasta rede de cumplicidades, incluindo instituições internacionais, fundações e associações, que se batem sistematicamente pela legalização e difusão do aborto no mundo. Tudo isto faz com que o aborto ultrapasse a responsabilidade dos indivíduos e arque uma dimensão fortemente social. É uma ferida gravíssima infligida à sociedade e à sua cultura por aqueles que as deveriam construir e defender (cf. EV59).
O Papa Francisco tem abordado, vezes sem conta, a questão do aborto, inclusive no discurso que fez no Parlamento Europeu. E numa Mensagem para a jornada promovida pela Igreja de Inglaterra e Pais de Gales sobre “cultivar a vida, aceitar a morte”, ele afirmava que quem promove a prática do aborto e da eutanásia tem o comportamento “dos mafiosos: existe um problema, eliminemo-lo”. De facto, ele tem denunciado vigorosamente a falsa compaixão com que se quer fazer valer a promoção da eutanásia e do aborto e de outros atentados à vida. É que não se trata de um problema propriamente religioso, nem filosófico, nem científico, é um problema humano, é matar, é descartar. E na sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, dá conta de que “Muitas vezes, para ridiculizar jocosamente a defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua posição como ideológica, obscurantista e conservadora; e, no entanto, esta defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano. (…) Não se deve esperar que a Igreja altere a sua posição sobre esta questão. A propósito, quero ser completamente honesto. Este não é um assunto sujeito a supostas reformas ou ‘modernizações’. Não é opção progressista pretender resolver os problemas, eliminando uma vida humana” (EG213-214). E na Carta Apostólica “Misericordia et Misera” escreve: “Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai.”
D. Antonino Dias- Bispo de Portalegre Castelo Branco
19-05-2017
Referindo-se ao aborto provocado, ao qual o Concílio Vaticano II chama “crime abominável”, São João Paulo II dizia que, hoje, “a perceção da sua gravidade vai-se obscurecendo progressivamente em muitas consciências. A aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei, é sinal eloquente de uma perigosíssima crise do sentido moral que se torna cada vez mais incapaz de distinguir o bem do mal, mesmo quando está em jogo o direito fundamental à vida. Diante de tão grave situação, impõe-se mais que nunca a coragem de olhar frontalmente a verdade e chamar as coisas pelo seu nome, sem ceder a compromissos com o que nos é mais cómodo, nem à tentação de autoengano”. O Papa denuncia aquilo que hoje também acontece em relação à eutanásia e ao suicídio assistido. Para fazer valer a causa, usa-se uma linguagem ambígua, como “direito a morrer”, “direito a morrer com dignidade”, “morte medicamente assistida”, “respeito pela liberdade e autonomia da pessoa” como se todos os direitos fossem disponíveis ou o homicídio deixasse de o ser pelo facto de ser consentido pela vítima. Diz o Papa: “precisamente no caso do aborto, verifica-se a difusão de uma terminologia ambígua, como «interrupção da gravidez», que tende a esconder a verdadeira natureza dele e a atenuar a sua gravidade na opinião pública. Talvez este fenómeno linguístico seja já, em si mesmo, sintoma de um mal-estar das consciências. Mas nenhuma palavra basta para alterar a realidade das coisas: o aborto provocado é a morte deliberada e direta”. É verdade que, “muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um carácter dramático e doloroso”, pois tal decisão não é tomada “por razões puramente egoístas ou de comodidade”. No entanto, quaisquer razões invocadas, “por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente” (EV58).
A decidirem a morte da criança aparecem, com frequência, outras pessoas, como o pai, a família, os amigos. “A mulher, não raro, é sujeita a pressões tão fortes que se sente psicologicamente constrangida a ceder ao aborto”. Neste caso, a responsabilidade moral pesa particularmente sobre aqueles que direta ou indiretamente a forçaram a abortar. Responsáveis são também os profissionais da saúde, sempre que põem ao serviço da morte a competência adquirida para promover a vida; os legisladores que promoveram e aprovaram leis abortistas; os administradores das estruturas clínicas onde se praticam os abortos; todos aqueles que favoreceram a difusão de uma mentalidade de permissivismo sexual e de menosprezo pela maternidade; aqueles que não asseguram válidas políticas familiares e sociais de apoio às famílias; a vasta rede de cumplicidades, incluindo instituições internacionais, fundações e associações, que se batem sistematicamente pela legalização e difusão do aborto no mundo. Tudo isto faz com que o aborto ultrapasse a responsabilidade dos indivíduos e arque uma dimensão fortemente social. É uma ferida gravíssima infligida à sociedade e à sua cultura por aqueles que as deveriam construir e defender (cf. EV59).
O Papa Francisco tem abordado, vezes sem conta, a questão do aborto, inclusive no discurso que fez no Parlamento Europeu. E numa Mensagem para a jornada promovida pela Igreja de Inglaterra e Pais de Gales sobre “cultivar a vida, aceitar a morte”, ele afirmava que quem promove a prática do aborto e da eutanásia tem o comportamento “dos mafiosos: existe um problema, eliminemo-lo”. De facto, ele tem denunciado vigorosamente a falsa compaixão com que se quer fazer valer a promoção da eutanásia e do aborto e de outros atentados à vida. É que não se trata de um problema propriamente religioso, nem filosófico, nem científico, é um problema humano, é matar, é descartar. E na sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, dá conta de que “Muitas vezes, para ridiculizar jocosamente a defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua posição como ideológica, obscurantista e conservadora; e, no entanto, esta defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano. (…) Não se deve esperar que a Igreja altere a sua posição sobre esta questão. A propósito, quero ser completamente honesto. Este não é um assunto sujeito a supostas reformas ou ‘modernizações’. Não é opção progressista pretender resolver os problemas, eliminando uma vida humana” (EG213-214). E na Carta Apostólica “Misericordia et Misera” escreve: “Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai.”
D. Antonino Dias- Bispo de Portalegre Castelo Branco
19-05-2017
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