Pensei durante alguns minutos sobre qual seria a frase que mais teimamos em repetir nos dias que correm e (nos) fazem correr. E essa é precisamente a que se faz título nesta crónica. Parece uma afirmação inofensiva. Leve. De inegável tranquilidade. Parece, até, deixar ficar um rasto de promessa e de plano por cumprir. Por amanhecer. Hoje não posso. Se optarmos por ler uma segunda vez vai saber-nos menos a esperança. Hoje não posso. À terceira vez que se repete já se sente um sopro mais gelado que se rasga em forma de tristeza.
Hoje não posso. Vivemos reféns de uma frase que rapidamente se transformou num modo de estar e de agir. Mas, afinal, o que nos faz nunca poder?
Hoje não podemos porque nos é mais fácil ficar dentro do conforto que criámos à volta dos nossos dias.
Hoje não podemos porque nos é demasiado penoso correr riscos. Antes riscar as possibilidades. Antes riscar o futuro do que arriscar.
Hoje não podemos porque precisamos do pouco tempo que nos sobra para acumular tarefas que nos privem de pensar no que está mal. No que nos prejudica. No que é preciso mudar (ainda que doa).
Hoje não podemos porque estamos comprometidos com uma existência cheia de caminhos que vão dar ao mesmo sítio. O bom caminho é sempre aquele que já se conhece (ainda que não leve a lugar algum).
Hoje não posso. Desculpa. Falta-me o tempo para querer estar contigo. Falta-me o tempo para querer ajudar-te. Falta-me o tempo para querer ouvir-te. Falta-me o tempo para querer prometer-te que é para sempre. Falta-me o tempo para querer abreviar o morno dos dias. Falta-me querer. Faltas-me. Faltam-me. Falto-me.
Hoje não posso. O que me falta não é o tempo. É a vontade. É colocar alma nas coisas.
Hoje não posso. Talvez outro dia. Talvez numa outra hora. Talvez a vida espere por ti. Por nós. Ou talvez não.
Marta Arrais- 11 de Outubro em iMissio
Sem comentários:
Enviar um comentário
Este é um espaço moderado, o que poderá atrasar a publicação dos seus comentários. Obrigado