O peso das aparências é assustador. Dizemos que não. Que não pertencemos ao grupo dos que valorizam o exterior. Que não julgamos contornos. Julgamo-nos pessoas de interiores. Queremos acreditar que as luzes que nos iluminam são, sempre, as luzes certas. Infelizmente, nem sempre são.
O peso do que se vê à primeira vista é enorme. Por vezes, somos contaminados sem nos darmos conta. Sem termos consciência disso. De repente, já estamos, também nós, a falar da vida dos outros, da roupa dos outros, dos sapatos dos outros, do cabelo dos outros. E quando mergulhamos nesse exercício (do qual quase ninguém se poderá excluir) estamos a escolher não respeitar, não aceitar, não olhar com olhos de ver. Do lado de lá do que não queremos ver está o que realmente faz daquela pessoa uma pessoa.Quanto mais nos afastarmos desta ideia, mais fácil será olhar para os outros como cenários para julgar. Por outro lado, quanto mais nos aproximarmos de cada pessoa, mais fácil será relativizar a sua paisagem exterior. Claro que não é fácil conhecer cada pessoa que se cruza connosco. Nem será, tão pouco, possível. O que é possível (e que acaba por ser um dever) é olhar para o outro como uma pessoa. Independentemente do conhecimento que dela se tiver ou se quiser ter.
O problema é que o mundo nos oferece cada vez mais brilhos e cada vez menos luz. São valorizados os que sobem a pique, sem qualquer mérito. São idolatrados os que cultivam a perfeição da imagem. São aplaudidos os que escrevem palavras vazias de tudo mas, ainda assim, brilhantes. Acaba por ser difícil procurar o essencial quando nos bombardeiam com o supérfluo a toda a hora e momento. Acaba por ser complicado querer ser diferente. Ou melhor.
Mesmo assim, e apesar de tudo, vale a pena procurar a luz dos que escolhemos conhecer. Vale a pena destapar, também, a nossa para que os outros saibam que somos alcançáveis e que o nosso brilho não se apaga com os sopros do mundo lá fora.
Mesmo assim, e apesar de tudo, vale a pena respeitar a luz dos que escolhemos não conhecer.
Não percas tempo a olhar para os que brilham. Perde tempo a olhar para os que têm luz.
Marta Arrais
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