quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Feliz Ano Novo

 



Caros Amigos:

A todos, em especial aos mais doentes e idosos,
 desejo um melhor ano de 2021.
Porque, nestes últimos meses,
 o medo prendeu os nossos passos e a nossa Fé, 
arrefeceu o nosso entusiasmo.
 Um ano que passou mas para não o esquecer. 
Mas ter aprendido a viver de outro modo, 
mais simples e mais solidário.
2021: que seja a Esperança a nossa virtude e
 S.José nosso companheiro.


Feliz Ano Novo!

Padre Fernando

O que levamos para o ano novo?

 



Suspiramos, agora, de alívio ao compreender que o ano velho está quase atrás de nós. Parece que nos sai um peso de cima dos ombros, dos dias, do coração, da vida como a entendemos e entendíamos.

Finalmente, ousamos fazer as malas para a viagem da novidade que o novo ano trará. Enquanto colocamos dentro destas tudo o que nos aconteceu, acabamos por nos deter neste ou naquele momento. Nesta ou naquela dificuldade. Nesta ou naquela pessoa. Dobramos tudo com o cuidado de quem sabe que abrirá, em breve, a mochila.

Neste processo de arrumação e de balanço, talvez haja algumas coisas que não valerá a pena dobrar e guardar. Quais? Para cada um de nós serão “peças” diferentes. Nem todos encontramos sentido nas mesmas coisas. Nem todos estamos preparados para varrer o lixo e para deitar fora as roupas que já não nos servem e que já não vestimos há um par de eternidades.

No entanto, julgo que podemos refletir em conjunto sobre aquilo que vale a pena deixar para trás.

Talvez valha a pena ter a coragem de deixar em 2020 o que nos tornou pessoas menos tolerantes, mais azedas, menos simpáticas.

Talvez seja importante colocar um ponto final nas histórias que já não fazem sentido. Que não nos acrescentaram vida nem nada de bom.

Nesta fase tão difícil em que nos encontramos todos (por tantas e tão diferentes razões) quem queremos que continue connosco? Ao nosso lado? A dar-nos a mão ou a ralhar-nos quando precisarmos disso?

Quem queremos deixar ir por não ter sabido estar à altura da nossa amizade e da nossa confiança?

Que força queremos levar para o novo ano? A força de uma tempestade que leva tudo à frente ou a de uma árvore que tem a humildade de saber estar, sem perder o norte às suas raízes?

Que projetos precisamos de levar a cabo? De erguer para nós, para os outros, para a nossa comunidade, para a nossa família, para a nossa cidade, para o nosso país?

Para cada uma destas questões (se nos atrevermos a fazê-las) encontraremos respostas diferentes. Mais ou menos cobardes. Mais ou menos precisas. Mais ou menos misteriosas.

Ainda assim, e sabendo que todos somos um projeto em permanente construção, que respostas nos queremos dar?

2021 está já ali.

Vamos juntos?


Marta Arrais


quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A pedra e a estrela, por Tolentino Mendonça




Rezo, meu Deus, esta vida, que tantas vezes experimentamos como um caos para o qual não existem nomes possíveis.

Sinto-me como uma criança quando, na escuridão da noite, só o grito lhe permanece. Mas o grito é a forma frágil e intensa com que a nossa vida sai em busca de socorro.

Como uma criança, Senhor, sinto-me exposto a coisas maiores que eu, à mercê de surpresas que não controlo. Então, grito-te.

Ensina-me, Senhor, que nascemos também neste grito, que o teu amor sabe recolher transformando-o em chamamento, em desejo de presença, em ocasião para o abandono confiante à tua vontade.

Ajuda-me a descobrir aquilo que ainda não vejo.

Aproxima, em mim, a lama à estrela, o coração sem norte à sua órbita viva, a alegria introvertida à alegria dirigida para o exterior, o meu pão ao pão de todos.

Explica-me que uma existência respira porque é iluminada por aquilo que não espera.

Na verdade, abrimos os olhos todos os dias, mas não quanto seria suficiente. Vemos, descontentes, a imperfeição e a pedra. Olhamos com desgosto – em nós e nos outros – o avesso e a costura. E não nos damos conta de que poder observar o avesso com amor torna-se uma preciosa aprendizagem do caminho (e de um caminho que conduz ao presépio).

Porque aquilo, exatamente aquilo que hoje nós percebemos como pedra, Deus vem ensinar-nos a transformá-lo em estrela.





terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A tua Estrela brilhará sobre nós, por Tolentino Mendonça






A tua Estrela finalmente brilhará sobre os nossos dias insolúveis, entre penúria e sede.

Brilhará sobre o nosso coração blindado, sobre os invisíveis muros do egoísmo que nos isola, sobre os ávidos motivos que nos prendem ao seu comércio repetido e sonâmbulo.

Brilhará sobre as múltiplas formas de cegueira que defendemos acriticamente; sobre o peso insustentável das nossas omissões, sobre a paz e a justiça que permanecem para nós uma missão sempre adiada.

Brilhará sobre as inúteis razões que acumulamos para mascarar o medo, que nos torna sempre mais indisponíveis à viagem que Tu nos sugeres.

A tua Estrela brilhará sobre a austeridade que impomos à circulação dos afetos; sobre a dança interrompida e as mãos silenciadas, sobre o silêncio mastigado em solidão apesar do previsível incremento de presentes e de desculpas; sobre a incapacidade de transformar os nossos passos erráticos e afadigados numa confiante marcha de peregrinos.

A tua Estrela brilhará sobre os caminhos que tantas vezes percorremos sem conduzir a lado nenhum; sobre esta aliança hesitante, ainda que assídua; sobre a imperfeição das promessas que acendemos; sobre o nosso olhar demasiadas vezes se rompe do lado de cá; sobre a incompletude da oração e sobre a fragilidade do dom.

A tua Estrela brilhará sobre nós.




segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

A caminho de quê?!



Num ano de tremendos desafios, é-nos dada, agora, a oportunidade de esperar a Paz. Ainda que não estejamos para muitos festejos, é tempo de forrar o coração da palha que o Menino-Deus precisa para se deitar. É tempo de varrer o que não é essencial e de deixar que a Estrela de Belém nasça no nosso olhar e que cubra todas as coisas vazias, feridas ou pouco importantes.

Num ano em que nos vimos obrigados a questionar tudo, é-nos dada, agora, a oportunidade de ser Paz na primeira pessoa. De trazer para dentro das nossas casas o verdadeiro presépio da alegria e da ternura.

Mas se nos sentimos tão parados, tão suspenso no meio da loucura destes novos dias, como é que fazemos caminho? Vamos a caminho de quê?

Vamos a caminho de fazer melhor.

A caminho de nos lembrarmos dos que não podem passar o dia de Natal com os seus amores.

A caminho de nos lembrarmos dos que sairão do seu conforto para aliviar o nosso desassossego.

A caminho de nos lembrarmos que as datas são, apenas, dias. E que podemos fazer acontecer este Natal noutro dia qualquer, se a vida não nos deixar celebrar esta Festa agora.

Vamos a caminho de nos encontrarmos novamente. Mais adiante. Ali, na curva que separa os dias da pandemia dos dias sem ela. E já não falta muito para chegarem.

Vamos a caminho uns dos outros.

Ainda te lembras como é que se dá um abraço?

Vamos a caminho.

Que o Natal te abrace com toda a Luz que nasceu, também, para ti.


Marta Arrais



domingo, 27 de dezembro de 2020

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ

 

https://www.youtube.com/watch?v=FtNusl7beGg

A liturgia deste domingo propõe-nos a família de Jesus como exemplo e modelo das nossas comunidades familiares... Como a família de Jesus - diz-nos a liturgia deste dia - as nossas famílias devem viver numa atenção constante aos desafios de Deus e às necessidades dos irmãos.
O Evangelho põe-nos diante da Sagrada Família de Nazaré apresentando Jesus no Templo de Jerusalém. A cena mostra uma família que escuta a Palavra de Deus, que procura concretizá-la na vida e que consagra a Deus a vida dos seus membros. Nas figuras de Ana e Simeão, Lucas propõe-nos também o exemplo de dois anciãos de olhos postos no futuro, capazes de perceber os sinais de Deus e de testemunhar a presença libertadora de Deus no meio dos homens.
A segunda leitura sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos dos que vivem "em Cristo" e aceitaram ser "Homem Novo". Esse amor deve atingir, de forma muito especial, todos os que connosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
A primeira leitura apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais... É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.


https://www.dehonianos.org/

sábado, 26 de dezembro de 2020

Quem pensa que só nascemos uma vez, engana-se, por Tolentino Mendonça



Erra quem pensa que nascemos uma só vez. Para quem quer viver,
 a vida está repleta de nascimentos.

Nascemos muitas vezes durante a infância, 
quando os olhos se abrem em alegria e maravilha.

Nascemos nas viagens sem mapa nos quais
 a juventude se arrisca.

Nascemos na sementeira da vida adulta, amadurecendo, 
entre invernos e primaveras, a misteriosa transformação
 que coloca no caule a flor, e dentro da flor o perfume do fruto.

Nascemos muitas vezes naquela idade avançada
 em que as atividades não cessam, mas reconciliam-se
 com os vínculos interiores e 
os caminhos que tinham sido adiados.

Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar.

Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de certas lágrimas.

Nascemos na oração e no dom.

Nascemos no perdão e no conflito.

Nascemos no silêncio ou iluminados por uma palavra.

Nascemos no levar ao termo um compromisso, e na partilha.

Nascemos nos gestos ou para além dos gestos.

Nascemos dentro de nós e no coração de Deus.

Por isso, peço-te, Jesus, que me ensines a nascer:

quando as esperanças se rompem como coisas gastas;

quando me faltam as forças para o degrau seguinte, e hesito;

quando da semente parece que só recolho o vazio;

quando a insatisfação corrói também o espaço da alegria;

quando as mãos desaprenderam a transparente dança do dom.

Quando não sei abandonar-me em ti.




sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Gregorian Christmas Chants - Live in Berlin

 

https://www.youtube.com/watch?v=RE6WWH-HaZA

É NATAL: «Adorem-n'O todos os Anjos de Deus».

 

https://www.youtube.com/watch?v=zhQouIyUTx8


A liturgia deste dia convida-nos a contemplar o amor de Deus, manifestado na incarnação de Jesus... Ele é a "Palavra" que se fez pessoa e veio habitar no meio de nós, a fim de nos oferecer a vida em plenitude e nos elevar à dignidade de "filhos de Deus".
A primeira leitura anuncia a chegada do Deus libertador. Ele é o rei que traz a paz e a salvação, proporcionando ao seu Povo uma era de felicidade sem fim. O profeta convida, pois, a substituir a tristeza pela alegria, o desalento pela esperança.
A segunda leitura apresenta, em traços largos, o plano salvador de Deus. Insiste, sobretudo, que esse projecto alcança o seu ponto mais alto com o envio de Jesus, a "Palavra" de Deus que os homens devem escutar e acolher.
Jesus Cristo é a Palavra viva e definitiva de Deus, que revela aos homens o verdadeiro caminho para chegar à salvação. Celebrar o seu nascimento é acolher essa Palavra viva de Deus... "Escutar" essa Palavra é acolher o projecto que Jesus veio apresentar e fazer dele a nossa referência, o critério fundamental que orienta as nossas atitudes e as nossas opções. A Palavra viva de Deus (Jesus) é, de facto, a nossa referência? O que Ele diz orienta e condiciona as minhas atitudes, os meus valores, as minhas tomadas de posição? Os valores do Evangelho são os meus valores? Vejo no Evangelho de Jesus a Palavra viva de Deus, a Palavra plena e definitiva através da qual Deus me diz como chegar à salvação, à vida definitiva?
O Evangelho desenvolve o tema esboçado na segunda leitura e apresenta a "Palavra" viva de Deus, tornada pessoa em Jesus. Sugere que a missão do Filho/"Palavra" é completar a criação primeira, eliminando tudo aquilo que se opõe à vida e criando condições para que nasça o Homem Novo, o homem da vida em plenitude, o homem que vive uma relação filial com Deus.
Jesus (esse menino do presépio) é para nós a "Palavra" suprema que dá sentido à nossa vida, ou deixamos que outras "palavras" nos condicionem e nos induzam a procurar a felicidade em caminhos de egoísmo, de alienação, de comodismo, de pecado? Quais são essas "palavras" que às vezes nos seduzem e nos afastam da "Palavra" eterna de Deus que ecoa no Evangelho que Jesus veio propor?


PALAVRA DE VIDA.
É na noite que é belo acreditar na luz... Era a noite para este casal em viagem e, para mais, no momento em que a mulher devia dar à luz. Nunca há lugar para aqueles que incomodam. É então, na obscuridade de um estábulo, que a luz aparece para iluminar não somente este lugar bem sombrio, mas o mundo inteiro tantas vezes tão mergulhado na noite da dúvida e da violência. Era a noite para estes pastores em cuja palavra havia tanta dificuldade em acreditar, por estar muitas vezes longe da verdade. Ora, é a eles que a boa nova é anunciada para que ela não cesse de seguida de se transmitir de geração em geração. Uma luz rasga então a noite da Judeia, é a luz da glória do Senhor e o anúncio da paz sobre a terra aos homens que Deus ama. Não espanta que esta criança acabada de nascer proclame mais tarde: «Eu sou a luz do mundo». Esperar é levantar os olhos quando ainda é noite, para descobrir a luz mais forte que a noite.

https://www.dehonianos.org/

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Sarah Brightman - When a child is born ( Merry Christmas )

 

https://www.youtube.com/watch?v=T8R5oTDCewA&feature=share&fbclid=IwAR0mAFg8WJmq2gTDEQIdoWZMTFBZX5oWmFWMkMyAuGbuYp-JJqDpMF60ftE

EIS A FELIZ CAUSA DE TANTA AGITAÇÃO SOCIAL




O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José da casa de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo; bendita és tu entre as mulheres». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que espécie de saudação seria esta. Disse-lhe o Anjo: «Não tenhas medo, Maria, pois encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo e o Senhor Deus Lhe dará o trono de David, seu pai; reinará para sempre sobre a casa de Jacob e o seu reino não terá fim». Maria, porém, disse ao Anjo: «Como será isso, uma vez que não conheço homem?» Respondendo, a anjo disse-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E eis que Isabel, tua parente, também ela concebeu um filho na sua velhice e este é o sexto mês para ela, a quem chamavam estéril, porque nenhuma palavra que vem de Deus é impossível». Maria disse então: «Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra». E o anjo partiu de junto dela (...).
Ora, aconteceu que, naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto para ser recenseado todo o mundo habitado. Este primeiro recenseamento realizou-se quando Quirino era governador da Síria. E todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. Também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, para a Judeia, para a cidade de David, que se chamava Belém, por ele ser da casa e da linhagem de David, a fim de se recear com Maria, sua esposa, que estava grávida. Mas aconteceu que, enquanto ali estavam, cumpriram-se os dias de ela dar à luz. E deu à luz o seu Filho primogénito, envolveu-o em panos e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Estavam na mesma região uns pastores que pernoitavam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. Apresentou-se-lhes, então, um anjo do Senhor, e a glória do Senhor envolveu-os de luz, e tiveram um grande medo. Disse-lhes o anjo: “Não tenhais medo! Eis que vos anuncio uma boa nova, que será uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um salvador que é Cristo Senhor. E isto será para vós o sinal: encontrareis uma criança envolta em panos e deitada numa manjedoura”. E de imediato juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste que louvava a Deus, dizendo: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens de boa vontade”. E aconteceu que, quando os anjos se afastaram deles para o céu, os pastores diziam uns aos outros: “Vamos a Belém, vejamos o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer”. Foram, então, com pressa, e encontraram Maria, José e a criança deitada na manjedoura. Ao vê-los, deram a conhecer o que lhes tinha sido dito acerca daquele menino. E todos os que os ouviam se admiravam com o que lhes era dito pelos pastores. Maria, porém, conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração. E os pastores regressaram, glorificando e louvando Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, tal como lhes fora dito (Lc 1, 26-38; 2, 1-20).
“Alguns magos do Oriente, chegaram a Jerusalém e perguntaram: “onde está o Rei dos Judeus recém-nascido? Nós vimos a Sua estrela no Oriente e viemos para prestar-lhe homenagem”. Ao saber disso, o rei Herodes ficou alarmado, assim como toda a cidade de Jerusalém. Herodes reuniu todos os sumos sacerdotes e os doutores da Lei e perguntou-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, porque assim está escrito por meio do profeta: “E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá o Chefe, que vai apascentar Israel, meu povo”. Então Herodes chamou secretamente os magos, e investigou junto deles sobre o tempo exato em que a estrela havia aparecido. Depois, mandou-os a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o Menino. E avisai-me quando o encontrardes, para que também eu vá prestar-lhe homenagem”. Depois de terem ouvido o rei, partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao verem de novo a estrela, os magos ficaram radiantes de alegria. Quando entraram na casa, viram o Menino com Maria, Sua Mãe. Ajoelharam-se diante d’Ele e prestaram-Lhe homenagem. Depois, abriram os seus cofres e ofereceram presentes ao Menino: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, regressaram à sua terra, seguindo por outro caminho (Mt 2, 1-12).
Quando se cumpriram os oito dias para o circuncidar, foi chamado com o nome Jesus, o que fora dado pelo anjo antes de ter sido concebido no ventre materno. Quando se cumpriram os dias da purificação deles, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: Todo o primogénito macho será consagrado ao Senhor, e para oferecer um sacrifício segundo o que está dito na Lei do Senhor: um par de rolas ou duas pequenas pombas. Ora, eis que havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão, um homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel, e o espírito Santo estava sobre ele. Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte antes de ver o Cristo do Senhor. E veio ao templo movido pelo Espírito. Quando os pais trouxeram o menino Jesus, para com Ele procederem segundo o costume da Lei, Simeão acolheu-o nos seus braços, bendisse a Deus e disse: “Agora, Senhor, podes deixar partir em paz o teu servo segundo a tua palavra, porque os meus olhos viram a tua salvação que preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos pagãos e glória do teu povo, Israel”.
O seu pai e a mãe estavam admirados com o que estava a ser dito sobre Ele. Então Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Eis que Ele está aqui para a queda e o ressurgir de muitos em Israel e para ser um sinal de contradição – e uma espada trespassará a tua própria alma – a fim de se revelarem os pensamentos de muitos corações”. Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Asser. Era de idade muito avançada, tinha vivido com o marido sete anos, desde a sua virgindade, e viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, prestando culto noite e dia com jejuns e orações. Tendo chegado naquela hora, agradecia a Deus e falava acerca dele a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. Quando cumpriram tudo segundo a Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré (Lc 2, 21-39).
Depois, “o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para O matar.» José levantou-se de noite, tomou o Menino e sua mãe e partiu para o Egipto, permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: “Do Egipto chamei o meu filho”. Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo, conforme o tempo que, diligentemente, tinha inquirido dos magos. Cumpriu-se, então, o que o profeta Jeremias dissera: “Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e um grande pranto: é Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem”. Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egipto, e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e vai para a terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino». Levantando-se, ele tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel. Porém, tendo ouvido dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de Herodes, seu pai, teve medo de ir para lá. Advertido em sonhos, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré; assim se cumpriu o que foi anunciado pelos profetas: Ele será chamado Nazareno” (Mt 2, 13-23).
Os seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa e, quando fez doze anos, eles subiram até lá segundo o costume da festa. E, completados os dias, quando regressavam a casa, o menino Jesus ficou em Jerusalém sem que os seus pais soubessem. Pensando que Ele estava na caravana, percorreram um dia de caminho e procuravam-no entre os parentes e os conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram para Jerusalém à sua procura. E aconteceu que, três dias depois, o encontraram no templo, sentado no meio dos mestres, a ouvi-los e a interrogá-los. Todos os que o ouviam estavam espantados com a sua inteligência e as suas respostas. Ao vê-lo, ficaram perplexos e sua mãe disse-lhe: “Filho, porque nos fizeste isto? Eis que teu pai e eu estávamos aflitos à tua procura”. Ele disse-lhes, então: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que é necessário que eu esteja na casa de Meu Pai?” Mas eles não entenderam o que lhes disse.
Desceu, então, com eles, foi para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe conservava todas estas palavras no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça, junto de Deus e dos homens. (Lc 2, 41-52).
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D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 24-12-2020.


Chegamos a tempo do Natal?




O Natal, este ano, chega-nos um tanto ao quanto esfarrapado. Marcado por feridas de multidões de pessoas. Marcado pela solidão de outras tantas. Assoberbado pelos nossos cansaços, desânimos, medos e suores frios.

O Natal, este ano, regressa como quem não sabe o caminho. Como quem se perdeu algures num trilho com mais obstáculos. Com mais pedras e com mais escolhos. Não traz roupa de festa. Muito menos trajes coloridos ou decorados. O Natal vai-se aproximando do tempo que hoje vivemos. Andrajoso. Sujo. Magoado. Coxo. Com a pele rasgada de acontecimentos.

Quem é que quer um Natal assim? Que parece mais um quadro do Calvário? Que é mais parecido com a madeira da Cruz? Que parece ter cor de sangue em vez de cor de festa?

Quem é que quer um Natal que vem apagado? Que não traz candeia nem presentes que se vejam? Quem é que quer um Natal que vem de mãos a abanar e que no lugar do peito traz uma caixa vazia?

Ninguém. Não estamos prontos para um Natal que não nos traz nada. Que, antes, nos pede tudo. Não estamos preparados para um Natal de sacrifícios, de pratos vazios, de janelas fechadas e de portas trancadas.

Ninguém quereria um Natal assim.

Então, como é que podemos aceitar este Natal cheio de coisas que não queremos? Cheio de desafios? De doença? De hospitais? De testes? De frio?

Só podemos aceitar este Natal tão particular se pensarmos no que este significa realmente. Este é o tempo de compreender, verdadeiramente, que houve um menino que nasceu em circunstâncias semelhantes às que, hoje, experimentamos. Houve um menino que o mundo não quis. Que o mundo ignorou. Que trazia no peito a maior de todas as luzes e que ninguém soube acolher devidamente. Houve um menino que nasceu no meio da maior de todas as pobrezas e numa das noites mais frias.

É esse menino que nos mostra que podemos, também, vencer esta Noite que se abateu sobre as nossas vidas, sobre os nossos hábitos quentinhos, sobre as nossas bonanças.

É esse menino que nos mostra que seremos capazes de viver este Natal, se soubermos fazê-lo na Sua companhia. Se soubermos lembrar, com a ternura de quem nunca há de querer esquecer-se, que a Sua Luz se acendeu para nos guardar, para sempre, de todas as escuridões.

Vais deixar que a Luz continue a partir de ti ou vais continuar a correr atrás do que não interessa até a deixar apagar?

Vê se chegas a tempo do Natal. Ainda não é tarde.




Marta Arrais


quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

INFORMAÇÃO PAROQUIAL

 

No âmbito da pandemia  que vivemos, este ano, como todos sabemos, esta época será celebrada de modo diferente.

A Eucaristia da NOITE DE NATAL terá lugar pelas 17h 30m de dia 24 e a Missa de Natal do dia 25, ocorrerá pelas 12h.




Desejo- vos um Natal repleto de paz, tranquilidade e sentimentos bons. Que o maior presente seja a presença viva de Jesus em cada lar, fazendo morada e a maior festa dentro dos corações de quem clama a Ele. Que seja restituída toda tristeza, o perdão e as dificuldades do dia-a-dia. Sejam abençoados com o amor infinito e misericordioso de Jesus Cristo!

                         FELIZ NATAL



Há quem nos visite!




Há quem nos visite. Despido e despojado. Há quem nasça para se tornar numa eterna visita capaz de chegar a todos. Existe quem se dirija a nós de mãos a abanar e que mesmo assim nos oferece tudo. São visitas que nos dão o céu. É gente que não descansa enquanto a sua vida não for escrita por todas as histórias de vida.

Há quem nos visite. Há quem venha do alto para se tornar pequenino. Existe quem não se deixe guiar pela grandeza do mundo, mas pela pequenez do amor. Do amor que anda de esperanças. Do amor que nos ensina a andar lado a lado e frente a frente. Ainda há por aí quem se deixe guiar por uma palavra que se faz verbo, onde tudo se cria e recria.

Há quem nos visite. Com um coração que escuta. Com olhos que leem as entrelinhas dos nossos silêncios. Há quem nos bata à porta disposto a caminhar. Há quem se comprometa em não nos deixar do outro lado. Do lado onde a dignidade nos parece ser inalcançável. Existe quem não desista de contar com quem não conta.

Há quem nos visite. Trazendo consigo um propósito de vida. Não se dedica ao fabrico das certezas, nem de curas. Não promete milagres, nem a aceitação de todos os nossos pedidos. Há quem traga a certeza de um caminho que não se faz a sós. Existe quem nos dê a conhecer a beleza de uma vida que não se finaliza, mas que ganha sentido numa finalidade.

Há quem nos visite. Bem de mansinho. Dando-se a conhecer longe daqueles que pensam saber tudo. Longe daqueles que se dedicam à aparência de rituais. Há quem nos visite nos que se dizem perdidos da vida. Há quem nos visite naqueles a quem não somos capazes de dirigir o nosso olhar. Há quem nos visite naqueles que têm vidas que não achamos nada bem. Há quem nos visite na fragilidade de um menino!

Há quem nos visite no inesperado!



Emanuel António Dias

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Onde está a minha alma?



Até pode estar apenas no fundo de mim, mas nem sempre isso me parece tão claro assim. Há momentos em que a sinto envolver-me, partindo de dentro para fora, para me guardar e proteger.

Nenhum cirurgião conseguirá alguma vez tocar na minha alma com a ponta do seu bisturi, mas será que isso significa que não tenho alma? Não. Eu sou muito mais do que um corpo. Muito mais. Também sou sonhos, dores antigas, medos, dons, forças e fé. Talvez a alma seja a morada de tudo isto…

Tenho ideia de que é possível ver a alma de alguém quando olho para essa pessoa. Uma espécie de exalação contínua de algo tão leve quanto concreto.

A minha alma talvez se deixe ver quando sou autêntico e se esconda quando escolho o engano em vez da verdade.

Mas e se a minha alma for como um fogo puro e livre, que no fundo do meu ser dá sentido e impulso ao que sou e ao que escolho ser?

Será que os meus gestos são animados por essa centelha, esse instante de mim que é também pedaço de eternidade, essa fração ínfima que faz de mim alguém grande e completo?

A minha alma é um sopro, um vento e uma tempestade. Porque me acalenta e me dá paz, me impulsiona, me direciona, e me torna capaz de enfrentar e derrotar o que parece invencível.

Quando amo alguém, entrego-lhe um pedaço da minha alma, que ficará junto à sua. Passo então a amá-la também a partir do seu interior, ao mesmo tempo que, se sou amado a minha alma fica na companhia de um fragmento da alma de quem assim se entregou a mim.

Não sei se estes pedaços alguma vez voltam…

A verdade é que a minha alma se multiplica e engrandece de cada vez que amo e, assim, me ofereço.

Quanto mais me dou, mais sou.



José Luís Nunes Martins





segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

FELIZ NATAL PARA TODOS, PAZ E BEM



O Natal de Jesus é sempre um motivo de alegria e de esperança fundadas na presença de Deus que se fez homem e habitou entre nós.
É o Deus connosco, o Deus próximo!...
O Natal é uma ocasião de reencontro de muitos e de maior convívio familiar para matar saudades e partilhar os valores da solidariedade, da amizade e da fraternidade a que Cristo nos veio desafiar.
Estes valores, porém, em tantas partes do mundo, ainda não existem nem existe a devida compaixão de quem os rejeita e provoca o sofrimento de tantos, com a conivência de quem o não quer ver, travar ou ajudar a resolver. Cristo que veio para o que era seu, muitos dos seus, infelizmente, ainda o não conheceram, e, muitos dos que o conheceram, ignoram-no, ou adaptam-no à sua medida, dizendo-se cristãos!
Só o verdadeiro encontro com Jesus Cristo e o seu seguimento como Caminho, Verdade e Vida, fará converter o coração humano à amizade social e à fraternidade universal.
A mensagem de Jesus continua a ser verdadeiramente revolucionária quando se escuta com os ouvidos do coração, se interioriza e assume como instrumento de transformação pessoal e de toda a comunidade humana, dando a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
O Cristianismo não é uma ideologia ou coisa sem importância. É uma Pessoa, é Jesus Cristo, o Salvador, o Filho de Deus com a sua mensagem de amor, de verdade, de justiça e de paz, para, sem uniformizar o pensamento ou a ação das pessoas e no respeito pela sua dignidade e missão, as desafiar a serem responsáveis pela instauração de um mundo melhor, apoiado na verdade, no amor, na justiça e na paz.
A todos os diocesanos e leitores, desejo um Santo Natal e um Feliz Ano 2021 com muita alegria e paz, em Cristo Jesus, o Menino do Presépio, aquele que dá sentido à vida e às coisas da vida!
Que cada pessoa, todas as Famílias e todas as instâncias de serviço à sociedade na diversidade dos seus setores, sejam capazes de criar um espaço de beleza interior para acolher o Menino Deus que a todos segreda com amizade e esperança: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração”.

Feliz Natal para todos, paz e bem!


D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, Natal 2020.

NATAL ÉS TU!

 













 

Natal és tu,
quando decides nascer novamente todos os dias e deixar entrar Deus na tua alma.
A árvore de Natal és tu
quando resistes fortemente aos ventos e às dificuldades da vida.
As decorações de Natal és tu
quando as tuas virtudes são as cores que adornam a tua vida.
O sino de Natal és tu
quando chamas, reúnes e tentas unir.
És também a luz de Natal
quando iluminas com a tua vida o caminho dos outros
com a bondade, a paciência, a alegria e a generosidade.
Os anjos de Natal és tu
quando cantas para o mundo uma mensagem de paz, de justiça e de amor.
A estrela de Natal és tu
quando levas alguém ao encontro com o Senhor.
És também os reis magos
quando dás o melhor que tens sem te importares a quem o dás.
A música de Natal és tu
quando conquistas a harmonia dentro de ti.
O presente de Natal és tu
quando és um verdadeiro amigo e irmão de todos os seres humanos.
As felicitações de Natal és tu
quando perdoas e restabeleces a paz mesmo quando sofres.
A ceia de Natal és tu
quando sacias com pão e com esperança o pobre que está a teu lado.
Tu és a noite de Natal
Quando humilde e consciente recebes no silêncio da noite o Salvador do Mundo sem barulho nem grandes celebrações;
tu és o sorriso da confiança e ternura na paz interior de um Natal perene que estabelece o reino dentro de ti.


Papa Francisco

domingo, 20 de dezembro de 2020

O SIM DE MARIA

 

https://www.youtube.com/watch?v=0G99lHYrULk

A liturgia deste último Domingo do Advento refere-se repetidamente ao projecto de vida plena e de salvação definitiva que Deus tem para oferecer aos homens. Esse projecto, anunciado já no Antigo Testamento, torna-se uma realidade concreta, tangível e plena com a Incarnação de Jesus.
A primeira leitura apresenta a "promessa" de Deus a David. Deus anuncia, pela boca do profeta Natã, que nunca abandonará o seu Povo nem desistirá de o conduzir ao encontro da felicidade e da realização plenas. A "promessa" de Deus irá concretizar-se num "filho" de David, através do qual Deus oferecerá ao seu Povo a estabilidade, a segurança, a paz, a abundância, a fecundidade, a felicidade sem fim.
É preciso, nestes dias que antecedem o Natal, ter consciência de que a promessa de Deus a David se concretiza em Jesus... Ele é esse "rei" da descendência de David que Deus enviou ao nosso encontro para nos apontar o caminho para o reino da justiça, da paz, do amor e da felicidade sem fim. Que acolhimento é que esse "rei" encontra no nosso coração e na nossa vida?

A segunda leitura chama a esse projecto de salvação, preparado por Deus desde sempre, o "mistério"; e, sobretudo, garante que esse projecto se manifestou, em Jesus, a todos os povos, a fim de que a humanidade inteira integre a família de Deus.
A leitura deixa ainda claro que esse projecto de salvação foi totalmente revelado em Jesus Cristo - no seu amor até ao extremo, nos seus gestos de bondade e de misericórdia, na sua atitude de doação e de serviço, no seu anúncio do Reino de Deus. Prepararmo-nos para o Natal significa preparar o nosso coração para acolher Jesus, para aceitar os seus valores, para compreender o seu jeito de viver, para aderir ao projecto de salvação que, através d'Ele, Deus Pai nos propõe.

O Evangelho refere-se ao momento em que Jesus encarna na história dos homens, a fim de lhes trazer a salvação e a vida definitivas. Mostra como a concretização do projecto de Deus só é possível quando os homens e as mulheres que Ele chama aceitam dizer "sim" ao projecto de Deus, acolher Jesus e apresentá-l'O ao mundo.
Diante dos apelos de Deus ao compromisso, qual deve ser a resposta do homem? É aí que somos colocados diante do exemplo de Maria... Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um "sim" total e incondicional. Naturalmente, ela tinha o seu programa de vida e os seus projectos pessoais; mas, diante do apelo de Deus, esses projectos pessoais passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário. Na atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho, mas há uma entrega total nas mãos de Deus e um acolhimento radical dos caminhos de Deus. O testemunho de Maria é um testemunho questionante, que nos interpela fortemente... Que atitude assumimos diante dos projectos de Deus: acolhemo-los sem reservas, com amor e disponibilidade, numa atitude de entrega total a Deus, ou assumimos uma atitude egoísta de defesa intransigente dos nossos projectos pessoais e dos nossos interesses egoístas?

https://www.dehonianos.org/

sábado, 19 de dezembro de 2020

Advento, por Tolentino Mendonça



Não, o confinamento não é apenas uma invenção desta estação atribulada, e nem sempre é um limite que nos chega imposto de fora. Se pensarmos mais a fundo na experiência humana que realizamos, não é difícil nos reconhecermos confinados há muito tempo, blindados por decisão própria, como se a forma final da nossa existência coincidisse na perfeição com o exíguo território daquilo que dominamos. E, porém, se alguma coisa nos distingue no universo é precisamente a impossibilidade de coincidirmos connosco próprios e de sermos nós a resposta para a interrogação que trazemos. Na verdade, é sempre na luz da candeia avizinhada por um outro, e pelos outros, que acedemos à visão do que somos, pois o nosso olhar e as nossas possibilidades, por si só, são inconclusivos. Mas custa-nos reconhecer isso. Vida fora, tornamo-nos hábeis em substituir as portas por muros e a preferir as estalagens ao aberto dos caminhos. Vida fora, conformamo-nos, sabe-se lá porquê, à ideia de que só podemos contar connosco mesmos, revendo em baixa as nossas expectativas e removendo da nossa alma a espera. E, contudo, bem mais do que possamos imaginar, debaixo de todos os artifícios e camuflagens, nós permanecemos os esperantes. Dependemos do ad-vento, do que está para chegar.



Uma das reflexões contemporâneas mais incisivas sobre a espera é aquela proposta por Martin Heidegger através da distinção entre “esperar” e “estar/ser em espera”. O esperar pontual liga-se habitualmente a um objeto, enquanto que a espera autêntica não é espera disto ou daquilo, mas sim abandono e entrega ao aberto. Só quem tem a faculdade de se abandonar ao aberto experimenta o que seja a espera. De pequenas esperas os nossos dias transbordam e, não raro, parece que aí tudo se esgota. Há aquela parábola terrível que nos é oferecida por Kierkegaard: no presente, a condução do barco passou para as mãos do cozinheiro e o que vem transmitido ao megafone do comando já não é a rota, mas o que comeremos amanhã. Da espera de longa duração, daquela que nos confronta não apenas com as interrogações penúltimas, mas arrisca tocar as últimas, dessa que se prende com o sentido da vida e com aquilo que nos salva, aprendemos a proteger-nos. E esse é também o nosso drama.




É sempre na luz da candeia avizinhada por um outro, e pelos outros, que acedemos à visão do que somos, pois o nosso olhar e as nossas possibilidades, por si só, são inconclusivos



A liturgia cristã é uma escola e um teatro da espera. E, em particular, neste tempo até ao Natal — tempo que, não por acaso, recebe o nome de Advento — aquilo que se treina é precisamente a grande espera. Há dois elementos chamados a entrar em jogo: a pobreza de coração e a compreensão de que o dom antecede a procura. Em campo está a pobreza, porque a verdadeira espera é uma arte da despossessão. Em vez de nos apoderarmos do tempo, como se fossemos os seus senhores, colocamo-nos à escuta, trabalhando o esvaziamento, tanto externo como interior. E em campo está uma nova compreensão do modo como nos articulamos com o dom. Normalmente, colocamos primeiro a procura e depois o dom, como se fosse um fruto daquela. Ora, o tempo do Advento opera uma viragem: referindo-se ao dom que o mistério da incarnação de Jesus representa, mostra como é ele a anteceder e a resgatar toda a procura. Naquela frase enigmática do profeta Isaías: “Fui buscado por aqueles que não perguntavam por mim, revelei-me àqueles que não me procuravam” (Is 65,1), percebemos que, de facto, a prioridade pertence ao dom, e que este é o motor de tudo o resto. Por isso, como escreve o teólogo Ermes Ronchi, o Advento constitui “uma porta que se abre, um horizonte que se alarga, uma brecha na muralha que nos cerca, um buraco na rede, uma fissura no teto, um punhado de luz que a liturgia nos atira à cara. Não para ofuscar, mas para nos acordar”.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

VERDADES DO SENHOR DE LA PALICE


A minha musa, coitada, deve estar confinada, com covid ou sarampelo. Sarampelo dizia-se, por lá, quando eu era pequeno. Mas isto de escrever, hoje, nem a ferros quer sair. Não há inspiração para fazer rir, cantar e fugir ao matraquilhar sisudo de conselhos sanitários e à feliz ameaça da chegada de uma vacina, mesmo que muito friorenta. O povo bem diz que não se fazem omeletes sem ovos. É uma verdade do senhor de La Palice, um senhor muito importante, uma verdade muito badalada!...
Vou recordar: Jacques de Chabannes, Senhor de La Palice, foi guerreiro francês de fibra e prestígio, dizem as boas e as más línguas. Mas bateu a caçoleta perto de Pavia, em peleja de se lhe tirar o chapéu, diz quem sabe. Foi bem feito!... terão dito os seus amigos da onça.
Os soldados que ele comandava, porém, rendidos ao seu engenho e destemor bélico, quiseram render-lhe uma homenagem de se ver e sentir. No entanto, nesse entusiasmo e fervor festivo, somos levados a crer que o autor duma canção do programa, deveria precisar, por certo, de alguns exames clínicos. Se pensou muito a medir a métrica, deveria ter muito colesterol ou grandes varizes na veia poética. Poetou assim: “O Senhor de La Palice / Morreu em frente a Pavia / Momentos antes da sua morte / Podem crer, inda vivia”. É essa a verdade do senhor de La Palice sem ele nada ter a ver com isso, o poeta é que sim!...
Dou outro exemplo para aqueles que, com dúvidas, ficaram a olhar para trás e a reler a verdade do senhor de La Palice: se antes do 25 de abril se vivia antes de morrer, depois do 25 de abril, para morrer basta estar vivo! Verdades de La Palice! Mas também é uma lapalissada afirmar que não se fazem omeletes sem partir os ovos. Mas pode haver quem queira ter as omeletes no prato e os ovos na despensa. E aqui é que está o busílis. Como calceteiros marítimos à sombra da bananeira, aguarda-se o sol na eira e a chuva no nabal, preferindo não fazer nada e, depois, descansar, à espera que tudo aconteça como exigimos!
Como o leitor acaba de ver, e também diz o povo, do comer e falar tudo vai do começar! Então, esticando eu todo este palanfrório para o campo sobre o qual costumo escrever, também na vivência da fé muitas vezes se quer o sol na eira e a chuva no nabal. Têm-se os ovos, mas prevalece a preguiça de os partir. Deseja-se o bom e o bem, mas dispensa-se qualquer esforço e trabalho. Acredita-se em milagres, e bem, de quando em vez eles acontecem. Espera-se que eles se realizem em nós, e mal. Deus, creio eu, não vem fazer o que, por preguiça ou desleixo, alguém não quer ou deixa de fazer. E para ficar bem perante si próprio, habilidosamente se floreia esse modo de ser e estar com muitos penachos e muitas razões pessoais, razões sem qualquer razão e penachos a esvoaçar ao vento. Neste crer, viver e esperar, podem-se alimentar ilusões, reivindicar exceções, puxar por peneiras e importâncias, comparar-se, julgar-se superior... Ora, estas manivelas a fazer girar a maquineta do egoísmo, não alindam ninguém, desfeiam a todos, sacodem os nervos de muitos...
O milagre por excelência foi o da salvação universal realizado por Cristo, gratuitamente, por amor, cujo nascimento vamos celebrar com muita alegria e cuidados: é Natal! Toda a humanidade usufrui desse gesto do amor de Deus para connosco, e de tal forma que “debaixo do céu não existe outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos” (At 4, 12). Esperneemos ou não, quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor, embora Ele respeite as nossas opções e liberdade!...
Dentro dos seus planos, Deus, rico em misericórdia, fez a sua parte, espera agora que façamos a nossa. E ao indicar o caminho a seguir, lembrou-nos que a porta de entrada é estreita: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo: muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13, 24). Os curiosos lá do sítio, já de bloco e lápis na mão e com a fita de alfaiate ao ombro para se medirem em função da estreiteza da porte e da dieta a fazer, perguntaram a Jesus se, na verdade, eram poucos aqueles que entravam por essa porta adentro. Mas..., oh que chatice!... Jesus foi mesmo um desmancha prazeres, não lhes satisfez a curiosidade, e o enigma permanece!... Sempre foi e será coisa que não vai de palpites, não é passível de sondagens, não se esclarece com estatísticas, gráficos e variadas comparações, muito menos em gritarias como as do futebol e as da política em certos debates nas pantalhas televisivas. Jesus não lhes revela o resultado. Apresenta-lhes, isso sim, as regras do jogo num relvado onde as caneladas, as e-toupeiras, os apitos dourados e outros truques e habilidades danosas devem estar ausentes. Só o fair play tem lugar. Jesus dá-lhes a entender que aquilo que lhes deve interessar não é o de saber quantos se salvam. O que os deve preocupar é saber quais são as exigências do Reino para se puderem salvar, pois a porta, embora aberta a todos, é estreita, mesmo para os magricelas ou trinca-espinhas. Trata-se de escolher o verdadeiro caminho da vida, aquele que faz escrever uma nova e verdadeira história de vida. Portanto, não é uma questão de curiosidade, é de compromisso. Se assim não for, o dono pode fechar a porta e deixar-nos fora, a gemer.
“Esse é o problema – diz o Papa Francisco - Jesus não nos quer iludir, dizendo: “Sim, fiquem tranquilos, é fácil, existe uma bonita estrada e, lá no final, um grande portão…”. Não fala isso: fala-nos da porta estreita. Diz-nos as coisas como são: a passagem é estreita. Em que sentido? No sentido de que, para se salvar, é preciso amar a Deus e ao próximo, e isso não é confortável! É uma “porta estreita” porque é exigente, o amor é exigente, sempre, requer empenho, ou melhor, “esforço”, isto é, uma vontade decidida e perseverante de viver segundo o Evangelho. São Paulo chama isso de “o bom combate da fé” (1Tm 6,12). É preciso o esforço de todos os dias, de cada dia para amar Deus e o próximo.” Há um dono da casa que representa o Senhor. “A sua casa simboliza a vida eterna, ou seja, a salvação. E aqui volta a imagem da porta. Jesus diz: «Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, ficareis fora e batereis, dizendo: “Abre-nos, Senhor!”. Mas ele responder-vos-á: “Não sei de onde sois!”». (v. 25). Então, estas pessoas procurarão ser reconhecidas, lembrando ao dono da casa: «Comemos e bebemos contigo... Ouvimos os teus conselhos, os teus ensinamentos públicos...» (cf. v. 26); «Estivemos presentes, quando tu deste aquela conferência...». Mas o Senhor repetirá que não os conhece, chamando-lhes «praticantes de injustiça». Eis o problema! O Senhor não nos reconhecerá pelos nossos títulos — «Mas olha, Senhor, que eu pertencia àquela associação, eu era amigo daquele monsenhor, daquele cardeal, daquele sacerdote...». Não, os títulos não contam, não contam! O Senhor só nos reconhecerá por uma vida humilde, por uma vida boa, por uma vida de fé, que se traduz em obras”.
As importâncias inúteis, as sabenças empoleiradas, as façanhas trauliteiras e outras forças descarriladas em nada contribuem para se ouvir o: “faz favor de entrar” -, por aquela dita porta, estreita. Nestas questões da salvação, do amar a Deus e ao próximo como Cristo nos amou, ninguém substitui ninguém, ninguém vale porque descende, convive ou ouve gente de bem e importante. Cada um é cada qual, vale e responde por si. Se queremos omeletes, não basta que tenhamos os ovos, é preciso parti-los e cozinhá-los: verdade do senhor de La Palice.

D. Antonino Dias . Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 18-12-2020.



quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Muitos começam, poucos acabam




Temos muitos projetos, mas poucos sucessos, até porque a maior parte dos nossos sonhos nunca chegam a sair do reino da imaginação. Ficam na nossa almofada como se fossem impossíveis.

O que faz diferença na vida não é sermos teimosos e incapazes de perceber o que se passa à nossa volta, como se fossemos um animal cego. O que importa é definir com ponderação um caminho, garantindo que temos reservas de convicção suficientes para superar as mais do que certas faltas de vontade que vamos ter de enfrentar.

A vida é a subir. Se nos distraímos, desequilibramo-nos, andamos para trás e… caimos.

Só se vencem as grandes batalhas quando se é capaz de lidar com as pequenas. Os fracassos são parte do caminho. Todos caem, mas só alguns são capazes de descobrir o sentido e o valor de cada obstáculo, seja ele uma pedra no exterior ou uma angústia no íntimo.

A felicidade que busco depende muito da minha vontade. Da minha capacidade de não perder o entusiasmo, mesmo quando andei muito tempo na direção errada e tenho de voltar tudo para trás.

Só amamos alguém quando aceitamos tudo quanto esse amor traz consigo.

Podemos revoltar-nos por estar a chover, ou podemos, no nosso íntimo, aceitar a chuva e… deixar que chova.

A felicidade é possível e, diria, obrigatória!

Não adies, não julgues que há outras coisas mais importantes, ou que se podem também ir fazendo ao mesmo tempo, não desistas à primeira ferida, por mais funda que seja, não te desculpes nem justifiques, termina cada etapa… mais vale feito do que perfeito.

Todos temos as nossas misérias, não te fixes nas tuas nem ignores a existências das dos outros. Segue adiante, pelo caminho que é só teu, que és tu.

Desperdiçar dons, tempo e oportunidades todos sabem. Ser feliz é uma obra de mestres.

Não, não julgues que não está ao teu alcance, isso é apenas o medo a murmurar-te ao ouvido! Mais, a única forma de saber se isso é verdade ou mentira é lutar para sermos melhores e, depois, ver até onde é que isso nos levou!

Se não souberes por onde começar: Afasta-te do mal! É um bom começo, mas não chega!

Não te percas em palavras. As obras é que são amor.

Começa e acaba!



José Luís Nunes Martins




quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Dilema




«Nada é impossível a Deus» (Lc 1, 37). Mas não será impossível a Deus não amar? Não será impossível a Deus não ser misericordioso? Quer isso dizer que há impossíveis para Deus quando nos referimos a coisas que vão contra a Sua natureza? Talvez não porque os dilemas são mais humanos do que divinos. O que compreendemos daquilo que Deus nos revela, é que Ele conhece-nos profundamente. Para mim, isso significa sermos chamados à profundidade para poder resolver os nossos dilemas. Com Maria, a quem o anjo dirige estas palavras, podemos aprender a lidar com os dilemas em profundidade. Como? Questionando.

Um dilema é um argumento entre duas proposições que se contradizem. É diferente de um paradoxo onde existe apenas uma proposição que se auto-contradiz. Um dilema existe quando chego a uma bifurcação num túnel no interior de uma montanha, e não faço a mínima ideia de qual o caminho a seguir. Esta cena acontece no filme do Senhor dos Anéis. Porém, será o ar fresco num dos túneis que ajuda Gandalf a escolher o caminho. Por isso, o modo que temos de resolver os nossos dilemas é com mais informação. E isso faz-se, como Maria em relação ao anjo, questionando.

Existem muitos modos de questionar. Penso nos momentos em que questionamos por desconfiança. Mas no caso de Maria, aquando da Anunciação, não é a desconfiança, mas o dilema que a leva a questionar. Depois da saudação do anjo, «inquiria de si própria o que significava tal saudação» (Lc 1, 29), talvez por se considerar uma pessoa simples e ver o “Avé” mais próprio de pessoas como César, imperadores, do que simples raparigas. Mas, também questiona, «como será isso, se eu não conheço homem?» (Lc1, 34), talvez por ser uma pessoa concreta e saber bem como nascem os bebés. E depois de um “nada é impossível a Deus”, Maria escolhe confiar na Sua Vontade. Seria Maria livre nesta escolha se não sentisse o dilema?

De facto, para todo o cristão faz alguma impressão ver toda a nossa vida espiritual assente numa escolha humana. Teria Deus arriscado demais? Ou, pelo contrário, conhecendo Maria melhor do que ela se conhecia a si própria, Deus confiou na capacidade humana de lidar com os dilemas e tomar decisões. A maior parte das decisões na nossa vida espiritual não têm anjos que nos batem à porta e nos oferecem propostas de Deus. Aliás, se isso acontecesse, hoje, maior seria a desconfiança que o dilema, e pensaríamos que o dito “anjo” seria um maluco a chatear-nos, e para o qual um hospital dedicado a doentes mentais seria uma boa solução. Como o mundo mudou. Poderia Jesus ter nascido hoje? Talvez fosse um dilema interessante para Deus.

Hoje, ensinamos aos adolescentes para não falar com estranhos. Por isso, dificilmente um anjo bateria à porta, e seria atendido por uma adolescente; ou enviaria uma mensagem pelas redes sociais, sem criar uma reação de desconfiança e início de um processo de bloqueio desse perfil. Fora dos ambientes de grupos de jovens, comunidades de oração ou movimentos, dificilmente um anjo poderia interpelar uma jovem, a não ser que fosse, ele mesmo, um jovem. Pensando bem, talvez o anjo que bateu à porta de Maria fosse um jovem, e não um homem como habitualmente somos levados a imaginar. Mas não viveria, também, este anjo um dilema? E se Maria tivesse dito que não e fechado a porta?

Seguramente que o modo como o anjo anunciou esta ideia de Deus a Maria, goza, como todas as criaturas de Deus, de liberdade de expressão. As suas palavras pretendiam abrir uma porta muito especial: a porta do coração. Daí que lendo e relendo as palavras do anjo sinto que exprimem, essencialmente, confiança. E ao pensar nisso, percebo como em muitos dilemas da nossa vida, essa é a única coisa que Deus nos pede: confiar n’Ele.

O problema de episódios na narrativa humana, como este, é o facto de serem únicos, pelo que muitas pessoas, à distância (temporal), são, legitimamente, levadas a duvidar da sua veracidade. Nesse caso, remetem todo e qualquer ensinamento destes momentos de Deus para o imaginário daqueles que decidem ser cristãos. Sinceramente, também não tenho forma de verificar se Sócrates disse o que Platão afirma nos seus escritos (e atribui a Sócrates) porque o primeiro nunca escreveu e até via na escrita (segundo Platão) um ataque feroz à nossa memória. Mas não experimentamos, hoje, a mesma veracidade dos ensinamentos do passado quando procuramos fazer a mesma experiência? Aquilo a que chamamos de anamnése, ou actualizar da memória?

De Maria aprendo que a atitude de questionar diante dos dilemas da fé não significa pôr a Vontade de Deus em causa, mas encetar no caminho da sabedoria de quem põe toda a sua confiança em Deus. E, por vezes, que a melhor resposta aos grandes dilemas da vida será uma simples e sincera pergunta.


Miguel Oliveira Panão




terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Levar o Natal à seria!




Estás preparado para que Ele nasça? Não é um nascimento qualquer. É o nascimento. Aquele que marca todo o ano. Aquele que te deve marcar de cima a baixo deixando bem tecida a Sua vinda. É a chegada daquele que não sendo prepotente pede-Te que sejas mais inteiro e verdadeiro.

Estás preparado para que Ele nasça? É muito mais do que uma recordação. É muito mais do que um simbolismo. É um convite que te leva a uma desconstrução de tudo aquilo que és e fazes. Pode inclusive desafiar-te a também tu nasceres de novo, se permitires que Ele realmente nasça e cresça no que de mais profundo há em ti.

Levar o Natal à séria é deixares que Ele te reinvente e te coloque do avesso. É dares o "sim" a uma lógica contrária num mundo que ateima em não contemplar e encontrar beleza na simplicidade. Levar o Natal à séria é veres o mundo e os que te rodeiam com outros olhos. Com olhos que veem. Com olhos que abraçam. Com olhos que escutam. Com olhos que procuram os que ninguém vê e os que ninguém quer saber.

Levar o Natal à séria é coisa para te deixar desconfortável, porque Ele vem-te pedir tudo de ti. Não vem apenas buscar o que de melhor tens. Não vem chamar-te apenas nas horas vagas. Vem buscar-te com tudo de bom e de mau. Vem para te relembrar que em todo o momento és convidado a dar seguimento ao Seu desafio de amar mais. De amar melhor. De amar tudo e todos.

Levar o Natal à séria é descobrir um Deus que se faz próximo. Que se faz grande na Sua pequenez. Que se torna divino com a Sua humanidade. E que nos entrega tudo isto pedindo que façamos o mesmo.

Levar o Natal à séria é reconhecer tudo isto como mágico, mas saber que ele não acontece por magia!


Emanuel António Dias


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A oração a São José que o Papa Francisco reza todos os dias há 40 anos


"Com coração de pai."

Carta Apostólica 'Patris corde'", do Papa Francisco. «Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo. (…) Ao completarem-se 150 anos da sua declaração como Padroeiro da Igreja Católica, feita pelo Beato Pio IX, em 8 de dezembro de 1870, gostaria de deixar "a boca – como diz Jesus – falar da abundância do coração" (Mt 12,34), para partilhar convosco algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós», escreve o Papa Francisco.




O Santo Padre revelou que pede a intercessão do pai adotivo de Jesus todas as manhãs; a oração foi retirada de um livro do século 19

O Papa Francisco abriu, no dia 8 de dezembro de 2020, o Ano de São José, que vai até 8 de dezembro de 2021.

O ano especial foi anunciado juntamente com a publicação da carta apostólica Patris corde (“Com coração de pai”) e marca também os 150 anos da declaração de São José como Pai da Igreja.

De fato, a Patris corde destaca o exemplo de São José como pai, trabalhador, homem amoroso e dono de uma “a coragem criativa”, que soube “transformar um problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência”. Como protetor de Jesus e de Maria, José “não pode deixar de ser o Guardião da Igreja”, afirma o Santo Padre.

O ano terá eventos e orações especiais, além de concessão de indulgências.

Papa Francisco e São José

O próprio Papa diz que a carta apostólica visa “aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”.


E Francisco dá o exemplo! Ele afirma que que todos os dias, há mais de 40 anos, faz uma oração especial a São José. Ele explica que a prece foi tirada de um livro de orações francês do século 19.

Abaixo está a íntegra da oração à qual o Papa se refere na carta. Então, aproveite e reze também:









domingo, 13 de dezembro de 2020

DOMINGO DA ALEGRIA

 

https://www.youtube.com/watch?v=_tlfJs7kZbk


As leituras do 3º Domingo do Advento garantem-nos que Deus tem um projecto de salvação e de vida plena para propor aos homens e para os fazer passar das "trevas" à "luz".
Na primeira leitura, um profeta pós-exílico apresenta-se aos habitantes de Jerusalém com uma "boa nova" de Deus. A missão deste "profeta", ungido pelo Espírito, é anunciar um tempo novo, de vida plena e de felicidade sem fim, um tempo de salvação que Deus vai oferecer aos "pobres".
O Evangelho apresenta-nos João Baptista, a "voz" que prepara os homens para acolher Jesus, a "luz" do mundo. O objectivo de João não é centrar sobre si próprio o foco da atenção pública; ele está apenas interessado em levar os seus interlocutores a acolher e a "conhecer" Jesus, "aquele" que o Pai enviou com uma proposta de vida definitiva e de liberdade plena para os homens.
Na segunda leitura Paulo explica aos cristãos da comunidade de Tessalónica a atitude que é preciso assumir enquanto se espera o Senhor que vem... Paulo pede-lhes que sejam uma comunidade "santa" e irrepreensível, isto é, que vivam alegres, em atitude de louvor e de adoração, abertos aos dons do Espírito e aos desafios de Deus.

https://www.dehonianos.org/


sábado, 12 de dezembro de 2020

MCC Reflexão de Advento



Caríssimos cursilhistas, saudação fraterna em Cristo.
Este ano, com tanta coisa diferente, a nossa reflexão de Advento, que todos os anos decorria presencialmente, irá decorrer no dia 13 de dezembro, às 16h30, Via Zoom.
Participem, e façamos "deste momento um tempo de encontro, convívio, oração e louvor".
DE COLORES             

                                  

















                         



Estamos em pleno Advento. Será que já nos apercebemos disso? 

Este ano, tanta coisa parece diferente, que parece que nem nos apercebemos que estamos no Advento e que é uma enorme riqueza poder aproveitar este tempo com profundidade, com a profundidade que este tempo tem e merece. Para que o Natal, o verdadeiro Natal, não fique por viver.

 Há mais de dois mil anos atrás, Deus fez-Se Homem e isso mudou tudo... E continua, hoje, a mudar tudo... Se quisermos, se O deixarmos... Aquele que nos veio salvar e encher de Esperança continua hoje, em Dezembro de 2020, no meio de uma pandemia que nos deixou nas trevas (da solidão, do desemprego, da doença, da morte, da insegurança, do medo, da crise...) a vir, para encher de Luz o nosso caminho e recordar-nos que está connosco, que somos "cheios de graça" e que o Seu Amor terá sempre a última palavra. 


Por isso, porque queremos aproveitar o Advento e vivê-lo em plenitude, se calhar seria bom pararmos um pouco para pensar: Como quero viver este Advento? Que atitudes preciso para viver este tempo na espera d´Aquele que me salva? Como preciso de preparar o meu "terreno" para que Jesus nasça em mim? 

E o convite é o de começar a rezar. Para isso e por isso, nós, cursilhistas da diocese de Portalegre- Castelo Branco, vamos juntar-nos em tempo de oração. Será no próximo dia 13, a partir das 16h 30m, via zoom. Aqui fica o convite: unamo-nos e peçamos ao senhor que nos indique o caminho, que nos ajude a chegar a Belém... 

Entrar na reunião Zoom: 


ID da reunião: 789 5390 0047

 Senha de acesso: 6hzp3r 

Este tempo de oração terá o seguinte itinerário: 

16h30m - Início, acolhimento e oração inicial

 - "Reflexão de Advento" - P. João Maria Lourenço 

- Ressonâncias 

- Algumas informações

 18h00m - Oração final e conclusão

 Esperamos por todos os cursilhistas para que possamos fazer deste momento um tempo de encontro, convívio, oração e louvor 

Pelo Sec Diocesano:
 P. Adelino Cardoso e Lucília Miguéns     


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

DO MENOS AO MAIS DO MAIS AO IDEAL



Quando alguém reage picado pelos nervos à flor da pele, regra geral perde as estribeiras, sai asneira. O bom senso foge, e ele escorrega para o chão, para a vingança, o rancor, o ódio e quejandos. Tudo isso, porém, é péssima companhia, é morrinha a esconjurar. Alguém aconselha a que, antes de se reagir, pelo menos se conte até dez... serenamente... com muita calma. Eu acho que melhor será contar até cem, ou mais, ou meter a viola ao saco e não reagir... Antigamente, poucos sabiam ler, e a sabedoria do contar não sei até onde chegaria. O que sei é que essas poses, nada fotogénicas, existem desde as origens. Logo no princípio, Caim matou Abel, por ciúmes, invejas ou lá o que fosse. E um descendente de Caim, Lamec, não era mesmo bico que se assoasse. Dizia ele: “Por uma ferida, eu matarei um homem, por uma cicatriz eu matarei uma criança. Caim é vingado sete vezes, mas Lamec, setenta e sete” (Gn 4, 23-24). A tantos milénios de distância, estes estados de alma ainda nos apavoram. No entanto, hoje, ainda há quem faça pior ou igual, por muito menos, por nada, apenas porque o outro é diferente. Mas, então, que bichinho morderá a essa gente?
Os povos sempre vão evoluindo e as barbáries vão ficando para trás. Só se reiteram por ausência ou rudeza de formação, por cabeça dura e coração de pedra, ou porque se esquece ou nada se aprende com as lições da história. Essa rudeza, esse endurecimento do coração e essa ignorância da história continuam a ser a causa de muitas tragédias de hoje, pequenas ou grandes.
No livro do Êxodo, porém, aparece-nos um salto verdadeiramente revolucionário nessa matéria. De quando em vez, esse princípio é hoje citado de forma depreciativa, precisamente porque se admite progresso na educação e se pensa que isso já foi ultrapassado. Essa norma foi, nessa altura, de um alcance extraordinário, foi mesmo inovadora. Ordenava que quem agisse mal fosse julgado e castigado segundo a justiça. Era a lei de talião: “Se houver dano grave, então pagará vida por vida, olho por olho, dente por dente, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (Ex 21,24). Isto é, procurava-se um justo equilíbrio entre os danos causados e a pena a aplicar. Foi, de facto, um salto civilizacional, um conceito jurídico de justiça retributiva, buscando proporcionalidade. O Código babilónico de Hamurabi e vários sistemas jurídicos ao longo dos tempos foram-se inspirando nessa lei de talião. Ainda há sistemas jurídicos que hoje têm por base o direito da retaliação.
Dando mais um passo nesta saga da evolução dos povos, no Livro do Levítico aparece-nos um dado novo. Aí se lê que nada de vingança, e, se nada para além da justiça, que haja também misericórdia, condição indispensável para também se obter a misericórdia de Deus: “Não sejas vingativo, nem guardes rancor contra os teus concidadãos. Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Lev 19,18). Mesmo que este perdoar e amar fosse mais para consumo interno, dos concidadãos, o livro dos Provérbios acentua que: “se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer, se tem sede, dá-lhe de beber .... e Deus te compensará” (cf. Prov 25, 21-22).
Jesus, porém, coloca no mesmo plano o amor a Deus e o amor ao próximo: “Quem não ama o seu irmão a quem vê, como pode amar a Deus a quem não vê?” (1Jo 4, 20). E insiste na necessidade de rasgar horizontes, de destruir barreiras históricas e culturais, pois o próximo são todas as pessoas, os inimigos também (cf. Mt 5,43-48).
Entre o povo judeu, no tempo de Jesus, haveria 613 mandamentos. Destes, 365 eram proibições. Os restantes, 248, eram ações a praticar. Esta quantidade de normas com certeza que poria a cabeça de muitos em parafuso, sobretudo os mais escrupulosos. Era muita areia para quem os tinha de aprender, praticar e ensinar. Por isso, mesmo que em jeito de cilada, surge a pergunta do fariseu a Jesus: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” Jesus cita dois: “Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os profetas dependem destes dois mandamentos” (Mt 22,36-40). E para que não houvesse dúvidas, Jesus esclarece o doutor da Lei sobre quem é o próximo. Conta-lhe a parábola do bom samaritano, um estrangeiro, um gentio, que, ao contrário das “pessoas de bem” que, ao passarem, fizeram vista grossa, ele usou de misericórdia para com um homem mal tratado, caído e abandonado na margem do caminho. O doutor da Lei logo conclui que, de facto, esse samaritano, é que tinha agido bem em relação àquela pessoa que precisava de cuidados. Jesus, então, reafirmou-lhe: vai, e faz o mesmo (cf. Lc 10, 25-37). O próximo são, pois, os outros, sobretudo os que precisam de ajuda, sejam eles quem forem, amigos ou inimigos, ao perto ou ao longe, crentes ou não crentes. É o sentido social da existência de que fala o Papa Francisco na Encíclica Fratelli tutti. Aí, ele denuncia “aqueles que parecem sentir-se encorajados, ou pelo menos autorizados pela sua fé, a defender várias formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos àqueles que são diferentes” (Ft 86).
Mas esta coisa de perdoar sempre criou mossa a muita gente. São Pedro também precisou de um esticãozinho de orelhas sobre tal matéria. Jesus falava das exigências da vida em comunidade. Esta deve basear-se na fraternidade e no amor, onde o maior deve ser o mais pequeno e todos se devem sentir responsáveis por todos, indo à procura do afastado como o pastor vai à procura da ovelha perdida. São Pedro, porém, parece que estava a achar aquilo um pouco exagerado e a precisar de alguns retoques, pois a vida em comunidade nem sempre é fácil, há sempre quem julgue ter o direito de ultrapassar os limites e há quem se julgue controlador dos mesmos. Por isso, Pedro pergunta a Jesus: «Senhor, se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?» Com certeza que Pedro até pensaria que já estava a ser demasiadamente generoso, perdoar até sete vezes já seria um exagero segundo os critérios em voga, já exigiria uma dose de paciência muito maior que a de Job. Mas Jesus logo lhe responde: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” Como quem diz, o cristão está chamado a assumir uma mentalidade completamente nova, deve perdoar sempre. E conta-lhe a parábola dos dois devedores em que um recebe o perdão duma dívida incalculável, mas não é capaz de perdoar, a outro, uma ninharia que esse outro lhe devia (Mt 18, 21-35). Nessa parábola, exalta-se a infinita misericórdia de Deus para connosco, e a nossa incapacidade de perdoar o quer que seja aos outros. O que deve modelar o nosso agir em relação aos outros é aquela misericórdia que Deus tem para connosco. E a norma permanece: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.
Mas dando mais um passo em frente, se devemos amar o próximo como a nós mesmos, o próximo, penso eu, nem sempre ficará bem servido. Muitas vezes, nós não nos amamos a nós mesmos. Será que se ama a si próprio aquele que despreza a sua saúde, que se afoga em vícios, que usa de violência, que entra pela maledicência e gera intrigas, que não cumpre o seu dever, que vive em pecado e na infidelidade a Deus? Como poderemos amar os outros como nos amamos a nós próprios se nós não nos amamos nem nos respeitamos?
Pois, pois, mas Cristo deu-nos um Mandamento Novo: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei (cf. Jo 15,12). Como quem diz: será melhor amar os outros não tanto como vos amais a vós mesmos, mas como Eu vos amei. E é diferente. Ele amou-nos gratuitamente, até ao fim, perdoando aos próprios inimigos, dando a vida sem apresentar fatura, por amor e misericórdia.

D. Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 11-12-2020.