O Natal, este ano, chega-nos um tanto ao quanto esfarrapado. Marcado por feridas de multidões de pessoas. Marcado pela solidão de outras tantas. Assoberbado pelos nossos cansaços, desânimos, medos e suores frios.
O Natal, este ano, regressa como quem não sabe o caminho. Como quem se perdeu algures num trilho com mais obstáculos. Com mais pedras e com mais escolhos. Não traz roupa de festa. Muito menos trajes coloridos ou decorados. O Natal vai-se aproximando do tempo que hoje vivemos. Andrajoso. Sujo. Magoado. Coxo. Com a pele rasgada de acontecimentos.
Quem é que quer um Natal assim? Que parece mais um quadro do Calvário? Que é mais parecido com a madeira da Cruz? Que parece ter cor de sangue em vez de cor de festa?
Quem é que quer um Natal que vem apagado? Que não traz candeia nem presentes que se vejam? Quem é que quer um Natal que vem de mãos a abanar e que no lugar do peito traz uma caixa vazia?
Ninguém. Não estamos prontos para um Natal que não nos traz nada. Que, antes, nos pede tudo. Não estamos preparados para um Natal de sacrifícios, de pratos vazios, de janelas fechadas e de portas trancadas.
Ninguém quereria um Natal assim.
Então, como é que podemos aceitar este Natal cheio de coisas que não queremos? Cheio de desafios? De doença? De hospitais? De testes? De frio?
Só podemos aceitar este Natal tão particular se pensarmos no que este significa realmente. Este é o tempo de compreender, verdadeiramente, que houve um menino que nasceu em circunstâncias semelhantes às que, hoje, experimentamos. Houve um menino que o mundo não quis. Que o mundo ignorou. Que trazia no peito a maior de todas as luzes e que ninguém soube acolher devidamente. Houve um menino que nasceu no meio da maior de todas as pobrezas e numa das noites mais frias.
É esse menino que nos mostra que podemos, também, vencer esta Noite que se abateu sobre as nossas vidas, sobre os nossos hábitos quentinhos, sobre as nossas bonanças.
É esse menino que nos mostra que seremos capazes de viver este Natal, se soubermos fazê-lo na Sua companhia. Se soubermos lembrar, com a ternura de quem nunca há de querer esquecer-se, que a Sua Luz se acendeu para nos guardar, para sempre, de todas as escuridões.
Vais deixar que a Luz continue a partir de ti ou vais continuar a correr atrás do que não interessa até a deixar apagar?
Vê se chegas a tempo do Natal. Ainda não é tarde.
Marta Arrais
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