Tornou-se ainda mais difícil vermo-nos. Passamos menos tempo fora das nossas casas. Temos mais de metade da cara escondida por causa do vírus e do frio que chega até nós. E quando andamos pelas ruas fugimos com medo de tudo e de todos.
E a realidade é que hoje, mais do que nunca, há quem não seja visto. Há quem efetivamente fique ainda mais para trás nesta correria da vida. Não têm quem lhes olhe. Quem lhes abrace. Quem lhes escute. Há quem não seja visto.
Há quem não passe pelo nosso horizonte. São apagados pela nossa indiferença. São eliminados pelo nosso egoísmo. São colocados à parte pelo medo de virmos a ser tocados. Pelo seu toque e pela história das suas vidas. Por isso, permanecemos numa bolha. De isolamento. Gélida e difícil de chegar aos nossos olhos. Difícil de penetrar o nosso coração.
Ficam longe. Achamos nós. Mas na verdade estão ao nosso lado a gritar-nos com os seus silêncios. Com as suas solidões. Com os seus olhares que reclamam por um pequeno gesto de amor e de reconhecimento da humanidade que se faz presente nas suas existências. Há quem não seja visto mesmo quando nos aparecem à frente, porque pedem-nos que lhes olhemos com o coração. Porque nos convidam a "darmos duas de letra". Porque nos inquietam com a sua simplicidade e humildade. Porque nos abanam com a sabedoria de se saberem necessitados do outro.
Neste tempo de espera que vamos iniciar, que tenhamos a sensibilidade de sabermos esperar uns pelos outros. Que tenhamos a amabilidade de estar com o outro. Que este Advento seja, efetivamente, um tempo de espera por Ele e com Ele, olhando verdadeiramente para aqueles que não são vistos.
Olhemos uns pelos outros. Olhemo-nos uns aos outros.
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