Nem sempre conseguimos ter consciência da rapidez com que a vida passa por nós. Normalmente, só nos apercebemos da nossa finitude e da finitude dos nossos quando um de nós desaparece. Quando alguém nos desaparece. Quando nos dizem que alguém se ausentou deste mundo.
A verdade é que a morte anda de mãos dadas connosco desde que nascemos. Somos nós que escolhemos não pensar nisso. Somos nós que vamos assumindo a nossa imortalidade, a nossa condição infinita. Somos nós que vestimos a nossa capa de super-heróis e que ignoramos as vezes em que se vai rasgando.
Por outro lado, não poderíamos estar constantemente a pensar que não somos daqui. A angústia seria demasiado insuportável. Não compreenderíamos o que estaríamos aqui a fazer se o nosso destino é, inevitavelmente, o da partida. O da ausência.
Vivemos mergulhados numa ignorância que escolhemos. Numa cegueira que permitimos que exista. Queremos estar cá. Queremos que os nossos também estejam. Não somos capazes de conceber a ideia de uma ausência repentina. De uma pedra grande o suficiente para nos ceifar os passos. O caminho. O último sopro de vida.
A verdade é que estamos cá emprestados. Alguns de nós não chegam a ter tempo para saber o que vieram cá fazer. Outros passam cada um dos seus dias a julgar que a sua missão é uma, sendo outra. Outros não se dão ao trabalho de pensar em nada disto e vão vivendo consoante o balanço da corrente.
Se estamos cá emprestados, mais vale viver cada dia como se fosse o último. Como se tudo dependesse do que escolhemos nesse dia. Nessa hora. Nesse instante.
Se estamos cá até ninguém-sabe-quando, mais vale aproveitar o que a vida nos der.
Preocupamo-nos demasiado com o que não interessa. Dedicamos demasiado tempo a mastigar as palavras menos boas que nos dirigiram, até fazer um ninho de espinhos com elas. Os espinhos ferem-nos a nós. A mais ninguém.
Mais vale viver cada dia como se fosse o último porque nunca se sabe quando é o dia.
Marta Arrais
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