segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Não é Justo!

 



Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...

Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.

Augusto César Ferreira Gil


Foi há mais de 100 anos que Augusto Gil, poeta do Porto, escreveu este poema que todos conhecemos e que revela a tristeza que se instalou no coração do autor perante as misérias humanas. O poeta dirige ao Senhor uma prece inconformada, um PORQUÊ, uma dúvida, uma revolta pelas crianças mas em geral pelos que não são pecadores.

Hoje parece que pouco mudou, continuamos ver, pela vidraça da televisão, histórias de profunda injustiça que assolam pobres, ricos, novos e velhos. Ao contrário do poeta, não me atrevo a desejar mal algum aos pecadores, sob pena de também levar com alguma contrariedade. O que é certo é que, muitas vezes, achamos saber o que é justo e que não é e quem merece ou não algo, como se justiça fosse uma bitola fácil de respeitar.

Lamento muito que não tenhamos progredido ao ponto da abolição total da pobreza material, da justiça na distribuição dos recursos, no acesso à escola e à dignidade humana.

Não é justo que famílias sejam separadas pela guerra, crianças separadas dos pais e idosos abandonados pelos filhos.

Não é justo a violência e a humilhação a que tantos são sujeitos.

Não é justo termos de fugir de um local para tentar sermos felizes como não é justo termos de ficar num sítio porque não temos liberdade.

Não. Não é justo! E enquanto não houver justiça, Senhor, haverá sempre uma infinita tristeza, uma funda turbação porque cai neve na natureza e no meu coração.

E tu amiga, com que injustiças lida o teu coração?


: Raquel Rodrigues

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