sábado, 7 de outubro de 2023

«Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé»


Em Portugal a fé cristã hoje já não tem a evidência coletiva do passado, quando todo o contexto favorecia uma orientação religiosa, uma perspetiva de fé, de fé cristã católica.

A cultura católica foi a cultura comum da nação, alimentada tanto pela prática assídua dos fiéis como por um conjunto de realidades como a família, a escola, e toda uma panóplia de associações católicas (Acção Católica Rural; Liga Operária Católica; etc.) que formavam as novas gerações neste sentido.

Com o tempo, e não só com o 25 de Abril e a queda da ditadura, este modelo de sociedade ruiu. Mudanças políticas e culturais reduziram a influência das instituições religiosas, tanto a nível nacional como local. Onde antes vivíamos num contexto onde era normal acreditar em Deus e frequentar ritos comunitários, hoje existe uma consciência generalizada de que a opção religiosa é uma entre muitas outras opções.

Vivemos numa sociedade que, do ponto de vista religioso, é habitada por muitas fontes de felicidade e por uma ampla liberdade de escolha de caminhos de salvação, mesmo que sejam apenas humanos.

Isto não significa também que os jovens mais ativos e religiosamente convencidos sejam apenas aqueles que têm famílias crentes comprometidas e experiências religiosas significativas. Aliás, uma parte dos jovens “sem Deus” ou “sem religião” são filhos de pais crentes. São jovens ateus ou agnósticos que fizeram a catequese, frequentaram as paróquias e tiveram experiências educativas em ambientes eclesiais.

As razões deste ateísmo ou agnosticismo parece dever-se à interrupção da socialização religiosa: esta experiência não deixou nenhum traço particular na sua vivência; na continuação da sua formação desenvolveram outras orientações; tiveram dificuldade de se reconhecer em escolhas do magistério no campo religioso ou ético; ou também pela incapacidade das próprias comunidades eclesiais de propor um discurso sobre o homem, sobre a natureza, sobre a vida social, que fosse significativo para a atualidade.

Como contrariar tudo isto?

Procurar o Reino de Deus para mim significa criar uma sociedade mais humana, mais justa, mais fraterna. Como criar uma sociedade assim?

Fazer da Igreja um grande laboratório. Um laboratório do humano. Esta é uma ideia que pertencia ao Papa João Paulo II: fazer da Igreja um grande laboratório de fé. Há três frentes que mais nos desafiam: a da inteligibilidade da fé, a da liturgia e a da moralidade.

Precisamos entender o que os jovens pensam e talvez até nos questionar. Precisamos tornar os dogmas compreensíveis ao mundo contemporâneo, valorizar aspetos do ritual presentes na cultura juvenil, compreender o que está em jogo no comportamento dos jovens, no que diz respeito à moralidade. A urgência no dizer a todos uma palavra de salvação, que é válida aqui e hoje. E os jovens estão sedentos! Façamos memória das Jornadas Mundiais da Juventude deste mês de Agosto.

Trabalho que tem de ser feito na família, na sociedade, no trabalho e na cultura. O desafio que se abre consistirá em saber reconhecer no mundo dos homens os vestígios da presença do Reino de Deus, com competência e realismo face às linguagens e experiências do homem contemporâneo, e ao mesmo tempo com o vontade de oferecer um sopro evangélico em tudo o que somos chamados a partilhar e a levar adiante nas pequenas e grandes histórias das nossas comunidades. Parar este lamento contínuo e este pessimismo agoniante!

Dar o melhor de si.

Dar o melhor de si é um aspeto fundamental para qualquer atleta que, individualmente ou em equipa, compete com todas as suas forças para obter o seu resultado desportivo. Quando damos o melhor, experimentamos a satisfação e a alegria da realização pessoal. Acontece assim na vida como acontece na vivência da fé cristã. Cada um gostaria de dizer um dia, como São Paulo: «Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé» (2 Tim 4,7).

p.s.: Semana Nacional da Educação Cristã, 1 a 8 de outubro de 2023


Paulo Victória

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