Caminho por entre as ruas à procura de me encontrar. Procuro, por entre rostos, compreender o que sou, onde estou e por onde vou, mas apenas encontro indefinição nos olhos daqueles que se cruzam comigo. Fico com a percepção que todos vivem a minha busca, mas que se deixam adormecer pelo ruído do caminho.
Caminho, caminho e só habita em nós o ruído. Encontro tambores que não marcam o ritmo da minha vida. Ouço melodias que não elevam o meu olhar. Escuto buzinas que não me alertam para o significado da vida. Vejo danças que não explicam o movimento misterioso da minha vida, da nossa vida.
Ruído, ruído, ruído e todo ele acompanhado de estímulos que não me orientam para a procura de mim e do outro. E se o silêncio me habitasse? E se o silêncio nos habitasse?
E se o silêncio me habitasse? Será que teria capacidade para escutar verdadeiramente o meu eu? E se o silêncio me habitasse? Será que estaria mais disposto a compreender o olhar do outro? E se o silêncio me habitasse? Será que conseguiria dançar ao ritmo do meu coração? E se o silêncio me habitasse? Será que finalmente encontraria Deus?
Enquanto o silêncio não me habita caminharei, sedentamente, por entre os ruídos do (meu) mundo!
Emanuel António Dias
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