terça-feira, 3 de outubro de 2023

Somos uma história a muitas mãos



Somos um livro inacabado. Já cheio de tudo o que foi e ainda em branco por tudo o que será. Carregamos dentro todos aqueles que preencheram as páginas da nossa vida. Os que nos morreram e que vivem, ainda, no Céu do nosso coração. Os que nos feriram e nos deixaram deficientes de amor ou de carinho. Os que nos desiludiram e nos fizeram acreditar na mentira que eram. Os que nos correm nas veias e no sangue e que são a nossa família. Os amigos que vieram estender a família que já tínhamos. E que nos ensinaram que, no banco do nosso coração, cabe sempre mais um.

Somos feitos das paisagens de todos os que passaram por nós. Alguns ficaram e vão envelhecendo connosco, às vezes demasiado depressa. Colecionamos memórias, parvoíces, viagens, momentos irrepetíveis e inesquecíveis. Se fecharmos os olhos vemos, ainda, os seus sorrisos a abrir flores debaixo das pedras que os menos bons nos deixaram.

Somos uma história completa e, ao mesmo tempo, por escrever. Às vezes acreditamos que estamos feitos. Acabados. Que o que veio para nós nos condenou e que devemos manter-nos à sombra do que fomos fazendo e percorrendo. Mas não é assim.

Estamos inacabados. Somos, ainda, páginas em branco à espera de todos aqueles que ainda não conhecemos nem vimos. Somos um livro de histórias que ainda havemos de contar e de viver. Gosto mais de pensar que o melhor está sempre para vir. Mesmo que o que tenha vindo já tenha sido muito bom.

Nunca é tarde para mudar de emprego. Para mudar a pessoa que somos. Para fazer aquela viagem ou tirar aquele curso. Não é tarde para sermos mais felizes e para vivermos mais de acordo com os propósitos da nossa alma. A vida é que gosta de nos fazer acreditar nisso. E algumas pessoas também. Mas não somos água estagnada. Nem pântano. Somos cascata sempre a correr. E sempre com esperança.

Que nestes dias de tantas crises (especialmente humanas, de valores e espirituais) não nos baste a pobreza que nos querem oferecer. Que não nos baste viver para pagar as contas e para esperar pelo mês que vem a seguir. Somos muito mais do que isso. Se quisermos.

Não te esqueças que os sonhos andam sempre a pé e, por isso, podem demorar mais a cumprir-se. Mas quem vai a pé também chega longe. E ainda há tanto caminho para ti.

Marta Arrais

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