terça-feira, 9 de abril de 2024

A Ressurreição dos vivos



“E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n'O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão.”

Lc. 24, 13-35

Jesus, o Nazareno, depois de ressuscitar não deixa para trás o que foi, mas dá continuidade ao que sempre quis ser. E conseguimos constatar esta continuidade nas feridas que permaneceram em Si, depois de ter sido erguido, ressuscitado, mas também neste seu cuidado em estar à mesa e, mais especificamente, no partir do pão.

Jesus que tinha erguido tantos/as, que se tinha dedicado a curar tantos/as e que valorizava como ninguém a comunhão à volta da mesa, é agora, Ele mesmo, o que carrega as feridas para que todos/as O reconheçam, mas também O que se dá a conhecer pelo detalhe, pelo simples detalhe de partir o pão.

E, através desta novidade da ressurreição, talvez esta seja a grande mensagem de Jesus, o Nazareno ressuscitado: o impacto que podemos ter na vida é incluir toda a nossa inteireza e permitir, através dos nossos pequenos detalhes, que todos/as possam ressuscitar, isto é, que possam recomeçar sempre!

Só podemos efetivamente fazer a diferença na vida dos outros se tivermos relação de intimidade, se formos capazes de ter impacto com os simples detalhes da nossa presença, das nossas palavras e dos nossos gestos. Dar-Se a conhecer pelo partir do pão é dar testemunho da Sua missão: eu quero que se façam pão. Eu quero que sejam alimento. Eu quero sejam vida plenamente doada. Eu quero sejam íntimos e que vos reconheçam num simples detalhe, que me reconheçam em vós na simplicidade do que são.

E se este é o Seu testemunho, então somos convidados/as a refletir o que somos e fazemos em Igreja: temos sido pão para quem anda faminto/a de misericórdia, compaixão, empatia e justiça? Temos sido alimento para quem anda faminto/a de presença, de alegria, de esperança e fraternidade? Temo-nos doado plenamente a quem continua a ser rejeitado pela sociedade pela sua condição social, étnica, religiosa e/ou sexual? Temos sido testemunho de simplicidade em que os outros, somente pela nossa forma de ser e de estar, reconhecem que somos praticantes do Seu amor?

Hoje, mais do que nunca, na sociedade e na Igreja, precisamos de ser reconhecidos pela forma como partimos o pão. Precisamos de ser íntimos, de nos doarmos por inteiros aos outros e, assim, permitirmos que tantos e tantas sejam erguidos e colocados no centro. Foi isto que Jesus, o Nazareno, fez e é através disto que a Sua ressurreição e a Sua presença ganham sentido, forma e realidade nas nossas vidas.

Hoje, antes de regressares para os teus afazeres, questiona-te: o que preciso de ser e fazer para que os outros reconheçam, em mim, a Sua presença? O que posso ser e fazer para que os outros vivenciem a ressurreição dos vivos?


Emanuel António Dias


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