quinta-feira, 2 de maio de 2024

As guerras matam almas



Mesmo que todas as guerras se calassem…

Mesmo que se pare de matar…

Teremos de viver durante gerações as marcas que a guerra deixa na alma.

Sabes amiga, para além da tristeza pelos que partem, pelos sonhos que morrem, pelos projetos que ficam por fazer e pelo amor que falta cumprir, fico profundamente perturbada pelos que sobrevivem à guerra.

Entristece-me e compadeço-me dos que assistem, com impotência, à violência, às injustiças e crueldade da guerra. Como recuperam disso? Para além das perdas físicas, vemos que toda uma rotina diária se altera. Desde a impossibilidade de estudar, de ter acesso à saúde com dignidade, de sair com os amigos, de sorrir com vontade e de sonhar com um futuro tranquilo, tudo parece se desvanecer ao som de sirenes ou de artilharia. Vemos rostos sombrios de quem perde pedacinhos da alma, de quem se tenta não resignar e luta para que um dia possam abraçar os que ficam e curar feridas.

Mas parece-me tão difícil!

Vejo crianças cuja rotina, em vez de ir à escola, é estar em filas a aguardar por comida.

Vejo mães a fazer o possível para transmitir confiança quando por dentro se desfazem em pedacinhos.

Vejo pais a disfarçar o medo do que não vemos e a vontade de ver dias melhores.

Enquanto isso, nós preocupamo-nos com o sítio onde passar férias, o restaurante para a festa e a roupa para vestir, fartos de tudo, aborrecidos com o que fazemos, zangados com a rotina e a reclamar do que temos e não temos. Enfim, é o que é!

Parem as guerras e opressões, reconstruam-se casas e vias de comunicação, mas teremos muitas almas para curar, muitos sentimentos recalcados, muita dor sem conforto. Estaremos prontos para isso?

E tu amiga, que guerras te matam a alma?


Raquel Rodrigues


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