sexta-feira, 18 de abril de 2025

A PAIXÃO DE JESUS SEGUNDO SÃO LUCAS


“Quando chegou a hora, Jesus sentou-Se à mesa com os seus Apóstolos e disse-lhes: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer; pois digo-vos que não tornarei a comê-la, até que se realize plenamente no reino de Deus”. Então, tomando um cálice, deu graças e disse: “Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até que venha o reino de Deus. Depois tomou o pão e, dando graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: “Isto é o meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim”. No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu Sangue, derramado por vós. Entretanto, está comigo à mesa a mão daquele que me vai entregar. O Filho do homem vai partir, como está determinado. Mas ai daquele por quem Ele vai ser entregue!”. Começaram então a perguntar uns aos outros qual deles iria fazer semelhante coisa. Levantou-se também entre eles uma questão: qual deles se devia considerar o maior? Disse-lhes Jesus: “Os reis da nações exercem domínio sobre elas e os que têm sobre elas autoridade são chamados benfeitores. Vós não deveis proceder desse modo. O maior entre vós seja como o menor e aquele que manda seja como quem serve. Pois quem é o maior: o que está à mesa ou o que serve? Não é o que está à mesa? Ora eu estou no meio de vós como aquele que serve. Vós estivestes sempre comigo nas minhas provações. E eu preparo para vós um reino, como meu Pai o preparou para Mim: comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino, e sentar-vos-eis em tronos, a julgar as doze tribos de Israel. Simão, Simão, Satanás vos reclamou para vos agitar na joeira como trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos”. Pedro respondeu-Lhe: “Senhor, eu estou pronto a ir contigo, até para a prisão e para a morte”. Disse-lhe Jesus: “Eu te digo, Pedro: não cantará hoje o galo, sem que tu, por três vezes, negues conhecer-Me”. Depois acrescentou: “Quando vos enviei sem bolsa nem alforge nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?”. Eles responderam que não lhes faltara nada. Disse-lhes Jesus: “Mas agora, quem tiver uma bolsa pegue nela, bem como no alforge; e quem não tiver espada venda a capa e compre uma. Porque Eu vos digo que se deve cumprir em Mim o que está escrito: ‘Foi contado entre os malfeitores’. Na verdade, o que Me diz respeito está a chegar ao fim”. Eles disseram: “Senhor, estão aqui duas espadas”. Mas Jesus respondeu: “Basta”. Então saiu e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras e os discípulos acompanharam-no. Quando chegou ao local, disse-lhes: “Orai, para não entrardes em tentação”. Depois afastou-Se deles cerca de um tiro de pedra e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo: “Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice. Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua”. Então apareceu-Lhe um Anjo, vindo do Céu, para O confortar. Entrando em angústia, orava mais instantemente e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulos, que encontrou a dormir, por causa da tristeza. Disse-lhes Jesus: “Porque estais a dormir? Levantai-vos e orai, para não entrardes em tentação”. Ainda Ele estava a falar, quando apareceu uma multidão de gente. O chamado Judas, um dos Doze, vinha à sua frente e aproximou-se de Jesus, para O beijar. Disse-lhe Jesus: “Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem?” Ao verem o que ia suceder, os que estavam com Jesus perguntaram-Lhe: “Senhor, vamos feri-los à espada?” E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio, dizendo: “Basta! Deixai-os”. E, tocando na orelha do homem, curou-o. Disse então Jesus aos que tinham vindo ao seu encontro, príncipes dos sacerdotes, oficiais do templo e anciãos: “Vós saístes com espadas e varapaus, como se viésseis ao encontro dum salteador. Eu estava todos os dias convosco no templo e não me deitastes as mãos. Mas esta é a vossa hora e o poder das trevas. Apoderaram-se então de Jesus, levaram-no e introduziram-no em casa do sumo sacerdote. Pedro seguia-os de longe. Acenderam uma fogueira no meio do pátio,
sentaram-se em volta dela e Pedro foi sentar-se no meio deles. Ao vê-lo sentado ao lume, uma criada, fitando os olhos nele, disse: “Este homem também andava com Jesus”. Mas Pedro negou: “Não O conheço, mulher”. Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: “Tu também és um deles”. Mas Pedro disse: “Homem, não sou”. Passada mais ou menos uma hora, afirmava outro com insistência: “Esse homem, com certeza, também andava com Jesus, pois até é galileu”. Pedro respondeu: “Homem, não sei o que dizes”. Nesse instante – ainda ele falava – um galo cantou. O Senhor voltou-Se e fitou os olhos em Pedro. Então Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: ‘Antes do galo cantar, me negarás três vezes’. E, saindo para fora, chorou amargamente. Entretanto, os homens que guardavam Jesus troçavam d’Ele e maltratavam-no. Cobrindo-Lhe o rosto, perguntavam-Lhe: “Adivinha, profeta: Quem te bateu?” E dirigiam-Lhe muitos outros insultos. Ao romper do dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas. Levaram-no ao seu tribunal e disseram-Lhe: “Diz-nos se Tu és o Messias”. Jesus respondeu-lhes: “Se Eu vos disser, não acreditareis e, se fizer alguma pergunta, não respondereis. Mas o Filho do homem sentar-Se-á doravante à direita do poder de Deus”. Disseram todos: “Tu és então o Filho de Deus?” Jesus respondeu-lhes: “Vós mesmos dizeis que Eu sou”. Então exclamaram: “Que necessidade temos ainda de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca”. Levantaram-se todos e levaram Jesus a Pilatos. Começaram a acusá-l’O, dizendo: “Encontrámos este homem a sublevar o nosso povo, a impedir que se pagasse o tributo a César e dizendo ser o Messias-Rei”. Pilatos perguntou-Lhe: “Tu és o Rei dos judeus?” Jesus respondeu-lhe: “Tu o dizes”. Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão: “Não encontro nada de culpável neste homem”. Mas eles insistiam: “Amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, onde começou, até aqui”. Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, enviou-O a Herodes, que também estava nesses dias em Jerusalém. Ao ver Jesus, Herodes ficou muito satisfeito. Havia bastante tempo que O queria ver, pelo que ouvia dizer d’Ele, e esperava que fizesse algum milagre na sua presença. Fez-Lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu. Os príncipes dos sacerdotes e os escribas que lá estavam acusavam-no com insistência. Herodes, com os seus oficiais, tratou-O com desprezo e, por troça, mandou-O cobrir com um manto magnífico e remeteu-O a Pilatos. Herodes e Pilatos, que eram inimigos, ficaram amigos nesse dia. Pilatos convocou os príncipes dos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes: “Trouxestes este homem à minha presença como agitador do povo. Interroguei-O diante de vós e não encontrei n’Ele nenhum dos crimes de que O acusais. Herodes também não, uma vez que no-lo mandou de novo. Como vedes, não praticou nada que mereça a morte. Vou, portanto, soltá-lo, depois de O mandar castigar”. Pilatos tinha obrigação de lhes soltar um preso por ocasião da festa. E todos se puseram a gritar: “Mata Esse e solta-nos Barrabás”. Barrabás tinha sido metido na cadeia por causa de uma insurreição desencadeada na cidade e por assassínio. De novo Pilatos lhes dirigiu a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: “Crucifica-O! Crucifica-O!” Pilatos falou-lhes pela terceira vez: Mas que mal fez este homem? Não encontrei n’Ele nenhum motivo de morte. Por isso vou soltá-lo, depois de O mandar castigar” Mas eles continuavam a gritar, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então Pilatos decidiu fazer o que eles pediam: soltou aquele que fora metido na cadeia por insurreição e assassínio, como eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam. Quando o conduziam, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para a levar atrás de Jesus. Seguia-O grande multidão de povo e mulheres que batiam no peito e se lamentavam, chorando por Ele. Mas Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: “Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; pois dias virão em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram’. Começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’; e às colinas: ‘Cobri-nos’. Porque, se tratam assim a madeira verde, que acontecerá à seca?”. Levavam ainda dois malfeitores para serem executados com Jesus. Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Depois deitaram sortes, para repartirem entre si as vestes de Jesus. O povo permanecia ali a observar. Por sua vez, os chefes zombavam e diziam: “Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito”. Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: “Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo”. Por cima d’Ele havia um letreiro: “Este é o rei dos judeus”. Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: “Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também”. Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: “Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más ações. Mas Ele nada praticou de condenável”. E acrescentou: “Jesus, lembra-Te de mim, quando vieres com a tua realeza”. Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso”. Era já quase meio-dia, quando as trevas cobriram toda a terra, até às três horas da tarde, porque o sol se tinha eclipsado. O véu do templo rasgou-se ao meio. E Jesus exclamou com voz forte: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Dito isto, expirou. Vendo o que sucedera, o centurião deu glória a Deus, dizendo: “Realmente este homem era justo”. E toda a multidão que tinha assistido àquele espetáculo, ao ver o que se passava, regressava batendo no peito. Todos os conhecidos de Jesus, bem como as mulheres que O acompanhavam desde a Galileia, mantinham-se à distância, observando estas coisas. Havia um homem chamado José, da cidade de Arimateia, que era pessoa reta e justa e esperava o reino de Deus. Era membro do Sinédrio, mas não tinha concordado com a decisão e o proceder dos outros. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. E depois de o ter descido da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação e começavam a aparecer as luzes do sábado. Entretanto, as mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia acompanharam José e observaram o sepulcro e a maneira como fora depositado o corpo de Jesus. No regresso, prepararam aromas e perfumes. E no sábado guardaram o descanso, conforme o preceito. (Lc22,14-23,56).
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D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 18-04-2025.




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