quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O Silêncio do Natal

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O silêncio faz falta aos nossos dias. O tempo de Advento deveria ser um tempo de pausa, de introspeção. Perdemo-nos na azáfama das coisas para o Natal ao ponto de esquecer do próprio aniversariante. O mundo, que somos nós, perturba-nos o consciente e vagueamos pelas compras para a Ceia, para o dia de Natal... Em resumo, para as festas...

Andar em modo silêncio é-nos difícil. Que fazemos mal chegamos a um espaço onde não há ninguém? Procuramos a televisão, a rádio ou qualquer outro aparelho para colocar qualquer coisa a "tocar". Os nossos jovens e menos jovens, não conseguem andar pela rua a ouvir os sons da natureza. Ou porque eles não existem, visto que enchemos os nossos espaços urbanos de ruídos que perturbam, ou porque essa natureza, aquela primordial, já não existe.

No meu dia a dia, vejo cada vez mais pessoas que "falam sozinhas". A necessidade de barulho tornou-se ensurdecedora. Fazemos fadiga em viver o silêncio connosco. Precisamos de música relaxante para relaxarmos. Os nossos tempos de silêncio estão preenchidos de momentos de consternação e desorientação. O silêncio lembra-nos um deserto com o nada a perder de vista... Temos medo de nos encontrarmos connosco próprios?

E no entanto, a ciência começa a provar que o verdadeiro silêncio, aquele que podemos contemplar na natureza, permite a regeneração de células cerebrais; ajuda a aliviar a tensão e o stresse - mais que a música relaxante; aumenta os nossos recursos mentais; e é visto por alguns especialistas como "chave" para a autoconsciência...

Não será que está na altura de apostar recursos no silêncio?

Ainda este fim de semana o evangelho falava-nos de José. O "Patriarca do Silêncio", segundo Alain Corbin. José não tem uma única "fala" em todos os evangelhos. Deus fala-lhe por sonho e ele não responde. Depois de três dias à procura de Jesus, na ida ao templo de Jerusalém, é Maria que fala com Jesus. Até a sua morte é "silenciosa"... E no entanto, é o Justo. É aquele que obedece a Deus docemente. É aquele que dá o nome a Jesus, que quer dizer "Deus salva". É aquele que "insere" Jesus na descendência de David... Papel fundamental na salvação...

Temos tendência para a "conversa". Temos medo do silêncio e de tudo o que ele implica. Temos medo de nos encontrarmos. Usamos tantas palavras que tantas vezes "matam" a Palavra. Mas é nesse mesmo silêncio que a Palavra deve nascer e crescer... Perdemos o gosto pelo silêncio que é Escuta...

José foi capaz de obedecer porque foi capaz de ouvir e de escutar a vontade de Deus.
Desejo-vos um Santo Natal, capacitante de escuta da Palavra que nasce naquele menino.


Paulo Victória (20-12-2016) em iMissio

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