sábado, 24 de dezembro de 2016
O DEUS QUE TE FEZ deus …
Mantendo a temática destes dias em que celebramos o Natal de Cristo, hoje recorro a um pequeno texto de Santo Hipólito. Todos os anos nos aparece no Ofício das Horas, em 30 de dezembro. Tem cerca de mil e oitocentos anos. Santo Hipólito é considerado o mais importante escritor e filósofo cristão do final do século III. Era natural de Roma, foi muito interventivo e não temia uma boa polémica, mesmo quando azeda, para defender aquilo em que acreditava. Homem de grande erudição e de fluente retórica, escreveu várias obras e foi orador de referência. Tendo sido deportado para a Sardenha em 235, morreu mártire durante a perseguição aos cristãos levada a cabo pelo imperador Maximiano Trácio. Mais tarde, os seus restos mortais foram transladados para Roma, para o cemitério na Via Tiburtina. Este seu texto provoca a reflexão sobre o fundamento da nossa fé, leva-nos à contemplação do Menino do presépio: um Menino que é Deus, um Deus que se faz Menino. Na sua condescendência e infinita misericórdia, Jesus manifesta, com ternura e encanto, o seu amor por nós e convida-nos a segui-l’O como discípulos:
“Não fundamentamos a nossa fé em palavras sem sentido, nem nos deixamos arrastar por efémeros impulsos do coração ou seduzir pelo encanto de discursos eloquentes; a nossa fé fundamenta-se nas palavras pronunciadas pelo poder divino.
Deus confiou estas palavras ao Verbo, e o Verbo pronunciou-as para arrancar o homem à desobediência; não o quis obrigar pela força como a um escravo, mas apelou para a sua decisão livre e responsável.
Na plenitude dos tempos, o Pai enviou à terra o Verbo, porque já não queria que Ele falasse por meio dos Profetas nem fosse anunciado por meio de prefigurações obscuras, mas desejava que Se manifestasse de forma visível, a fim de que o mundo, ao vê-l’O, pudesse salvar-se.
Sabemos que o Verbo assumiu um corpo no seio da Virgem e transformou o homem velho numa nova criação. Sabemos que se fez homem da nossa mesma substância. Se não fosse assim, em vão nos mandaria que o imitássemos como mestre. Se este homem tivesse sido formado de outra substância, como poderia impor-me a mim, débil por nascimento, as mesmas coisas que Ele fez? Como poderíamos, em tal caso, dizer que Ele é bom e justo?
Mas para que ninguém pensasse que era diferente de nós, suportou o trabalho, quis ter fome, não recusou a sede, dormiu para descansar, não rejeitou o sofrimento, submeteu-Se à morte e manifestou a sua ressurreição. Em tudo isto, ofereceu a sua humanidade como primícias, para que tu não desanimes no meio do sofrimento, mas, reconhecendo-te homem, esperes também tu receber o que a Ele foi oferecido.
Quando contemplares a Deus tal qual é, terás um corpo imortal e incorruptível, como a alma, e possuirás o reino dos Céus, tu que, peregrinando na terra, conheces o Rei dos Céus. Viverás então na intimidade de Deus, serás herdeiro com Cristo e já não estarás sujeito a concupiscências, paixões ou enfermidades, porque foste elevado à condição divina. Todos os males que suportaste, enquanto homem, Deus o permita precisamente por seres homem. Mas Deus prometeu também fazer-te participante das suas prerrogativas, quando fores divinizado e revestido de imortalidade. Conhece-te a ti mesmo, reconhecendo a Deus que te criou; pois conhecer a Deus e ser conhecido por Ele é a sorte daquele que foi chamado por Deus.
Não vos envolvais em contendas como inimigos, nem penseis em retroceder. Cristo é o Deus que está acima de todas as coisas, que decidiu libertar os homens do pecado, renovando o homem velho que Ele tinha criado à sua imagem desde o princípio e manifestando nesta imagem renovada o amor que tem por ti. Se obedeceres aos seus santos mandamentos e imitares com a tua bondade o Bem supremo serás semelhante a Ele e Ele te glorificará. Tudo possui e tudo pode o Deus que te fez deus para sua glória”.
D.Antonino Dias -Bispo de Portalegre Castelo Branco 23-12-2016
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