sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
NATAL EM MAIO? ... E POR QUE NÃO?
Há momentos em que o melhor não é escrever sobre aquilo que nos parece ser o mais importante. Melhor será tentar perceber sobre o que é que é importante escrever. E para mim, desta vez, o mais importante é manifestar a minha gratidão às pessoas que me fizeram chegar cumprimentos de aniversário através desta geringonça da rede social. Através dela, em horas de sesta alentejana ou de menos afazeres, também vou esgaravatando, enjeitando o que não me interessa - o que é muito! -, e acolhendo o que me pode ajudar - o que é muitíssimo mais. Mas podem estar certos que concordo com o poeta João de Deus. Ele disse que isto era uma grande tolice, uma tolice sem emenda, uma tolice própria de quem não tem grande miolo: fazer anos! Que tolo! Ainda se os desfizesse…
Já agora, agradeço também às pessoas que, ao longo do ano, leram e partilharam os meus textos aqui publicados e desejo a todos os amigos do facebook, e suas famílias, um Santo Natal e que o ano 2017 seja simpático, sorria para todos com trabalho, muita saúde, alegria, paz e a Graça do Menino Deus sem a qual seremos paupérrimos e avinagrados. Que todos possam sentir, em Família, a alegria da Família de Nazaré que acolheu Jesus Menino com ternura e encanto, com simplicidade e humildade contemplativa, com gratidão e esperança, em paz e harmonia, em silêncio e ação de Graças.
Como sabemos - e não devemos esquecer! -, as festividades desta quadra de Natal centram-se na pessoa de Jesus Cristo Senhor, o Filho de Deus, o Príncipe da paz, o Salvador do mundo. É o Seu nascimento que festejamos. É o Seu nascimento que agradecemos. É o Seu nascimento que anunciamos. É ao seu nascimento que brindamos. Tudo o mais que envolve estes dias há de concorrer para engrandecer esta Festa, para a tornar mais significativa, mais envolvente, mais vivida e tão frutuosa que todos possam sentir-se ainda mais motivados para anunciar esta feliz notícia a toda a humanidade: “Nasceu-Vos hoje um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2, 10).
O pai natal, o pinheirinho, isto e aquilo e mais aquilo e isto que envolvem a Festa, só será bom e útil se ajudar a centralizar, se não distrair do essencial que é o Nascimento de Jesus. Sim, se em tantas partes do mundo os cristãos são perseguidos, presos e mortos por causa de Cristo, não queremos que entre nós sejam os cristãos a destruírem-se a si próprios, desviando-se do essencial, negando mesmo o essencial e tentando educar nesse sentido. Em horas de mais pessimismo ou de maior clarividência - não sei! -, cedo à tentação de pensar que muitos cristãos e muitas famílias cristãs estão a medrar na sua apetência pelo paganismo e a celebrar carinhosamente o seu ateísmo prático, servindo-lhes até de pretexto o próprio nascimento de Jesus. A História da Salvação é elucidativa quanto a estes desvios em relação à Aliança firmada entre Deus e o Seu povo, entre o povo e o seu Deus. A nova e definitiva Aliança, porém, foi firmada com o sangue de Cristo cujo nascimento celebramos com alegria. Ele vem, na verdade, para que a Sua alegria esteja em nós e a nossa alegria seja plena (cf. Jo 15,11). Vem para que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância (cf. Jo 10,10). Vem para nos revelar que o nosso Deus é um Deus próximo, sempre presente e atento, rico em misericórdia, um Deus que se fez Menino. Um Deus que não nos abandona, que vem ao nosso encontro, que se faz encontrado e nos desafia: “Vinde a mim todos vós que andais cansados e oprimidos … e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas, pois o meu jugo é suave e a minha carga é leve” (cf. Mt 11, 28-30).
O que de mais elevado podemos desejar uns aos outros neste ambiente de Festa é, de facto, que seja Natal dentro de cada um, que façamos presépio dentro de nós, que acolhamos este Menino que vem ao nosso encontro, que nos deixemos transformar por Ele ao ponto de podermos dizer como São Paulo: “Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? … Estou persuadido que nem a morte, nem a vida, nem os Anjos, nem os principados, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderão separar-nos do amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus, Senhor nosso” (cf. Rom 8,35.37-39).
Quando um homem quiser é o título de um poema de Ary dos Santos que aqui recordo para que ninguém deixe de querer e alcançar que seja Natal. O caminho de Deus são os outros perante os quais não podemos ficar indiferentes. E os outros estão connosco todo o ano, todos os meses, todos os dias, todas as horas:
QUANDO UM HOMEM QUISER
“Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher.”
Antonino Dias - Bispo de Portalegre Castelo branco
16-12-2016
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