sexta-feira, 24 de março de 2017

DIA INTERNACIONAL PELO DIREITO À VERDADE

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A Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2010, proclamou o dia 24 de março como o Dia Internacional pelo Direito à Verdade acerca das Graves Violações dos Direitos Humanos e à Dignidade das Vítimas. E fê-lo em reconhecimento da luta que Dom Óscar Romero teve em defesa dos direitos humanos. Óscar Romero nasceu em agosto de 1917, há cem anos, em El Salvador, foi ordenado sacerdote em 1942, eleito Bispo em 1970, nomeado Arcebispo de El Salvador em 1977, assassinado em 24 de março de 1980, e, hoje, decorre o seu processo de canonização. Num contexto político de forte miséria e repressão social, denuncia crimes, espevita a esperança do povo, protesta contra a violência do Estado e a opressão económica, política e militar do país, denuncia a exploração, a guerrilha revolucionária e defende que “não pode haver verdadeira paz e verdadeiro amor com base na injustiça, na violência, na intriga”. Considerava que a malnutrição e o assassínio eram as duas grandes epidemias a dizimar o seu povo: “É triste ler que, em El Salvador, as duas causas principais de morte são: primeiro, a diarreia; segundo, assassínio”. Com uma imprensa nacional totalmente controlada, a informação da sua Diocese torna-se a única fonte fidedigna de verdadeiras notícias, dando a conhecer, à população ávida da verdade, os números crescentes de desaparecidos - civis e sacerdotes -, denunciando sempre a contínua violação dos direitos humanos. Ao povo ele havia dito: “Se um dia eles arrebatarem a estação de rádio, se fecharem o nosso jornal, se não nos deixarem falar, se matarem todos os sacerdotes e o bispo, e ficardes sós, um povo sem sacerdotes, cada um de vós deverá ser o microfone de Deus, cada um de vós deverá ser um mensageiro, um profeta…” E perguntava: “Uma Igreja que não provoca crises, um Evangelho que não incomoda, uma Palavra de Deus que não sacode ninguém, uma Palavra de Deus que não toca no pecado real da sociedade em que é proclamada: que Evangelho é esse?”.
Com enorme coragem, e depois de saber que os EUA estavam apostados em reforçar a corrida às armas em El Salvador, escreve a Jimmy Carter que mobilizara a sua campanha com muita retórica sobre os direitos humanos, fazendo-lhe um apelo para que não enviasse ajuda militar e económica ao governo salvadorenho e para não financiar a repressão ao povo. De quando em vez, era mimoseado com ameaças de morte: “esta semana recebi um aviso de que estou na lista daqueles que serão eliminados na próxima semana. Mas estou tranquilamente convicto de que nunca se poderá matar a voz da justiça”. Sim, ele poderia ser morto mas a voz da justiça continuaria a rasgar caminho e horizontes. “Nunca pregamos a violência, a não ser a violência do amor que deixou Cristo pregado numa cruz. Nunca pregamos a violência, a não ser a violência que cada um de nós deve fazer a si próprio para ultrapassar o egoísmo e as desigualdades tão cruéis entre nós. A violência que nós pregamos não é a violência da espada, a violência do ódio. É a violência do amor, da fraternidade, a violência que escolhe transformar as armas em foices para o trabalho”. Para ele, o maior perigo, “O maior perigo diante de tanta violência é que fiquemos insensíveis. Eu tento pensar diante de Deus que um só morto representa uma grave ofensa e que, todas as vezes que um homem ou uma mulher morre, é como matar novamente Jesus Cristo“. Humilde e completamente confiante em Deus, pedia orações para continuar a sua missão: “Peço as orações de vocês para ser fiel à promessa de não abandonar o meu povo, mas de correr com ele todos os riscos que o meu ministério exige”. A situação, porém, não melhorava, antes pelo contrário. Triste, mas cheio de esperança em novos tempos, lança um novo e aflitivo apelo aos promotores de tanto sofrimento e mal-estar: “Em nome de Deus e desse povo sofredor, cujos lamentos sobem ao céu todos os dias, peço-lhes, suplico-lhes, ordeno-lhes: cessem a repressão”. E mais lhes pedia: “Não me olheis como um juiz ou como um inimigo. Sou apenas o pastor, o irmão, o amigo do seu povo, aquele que conhece o seu sofrimento, a sua fome, a sua aflição. Em nome das suas vozes, levanto a minha para dizer: não façais ídolos das vossas riquezas, não as reserveis para vós de uma forma que deixe os outros a morrer de fome. Para sermos felizes devemos partilhar”. No dia seguinte, à noite, dia 24 de março de 1980, era barbaramente assassinado enquanto celebrava a Eucaristia no Hospital da Divina Providência.
Prevendo o modo da sua morte, havia afirmado a alguém que “se Deus aceitar o sacrifício da minha vida…”, que ela “possa servir para a libertação do meu povo e de testemunho de esperança daquilo que está para vir. Se eles conseguirem matar-me, pode dizer-lhes que eu lhes perdoo e abençoo aqueles que o fizerem. Contudo, desejo que eles percebam que estão a perder o seu tempo. Um bispo pode morrer, mas a Igreja de Deus, que é o povo, nunca morrerá”. “A Igreja existirá sempre, enquanto houver uma pessoa batizada. E essa pessoa batizada que for deixada no mundo, é responsável diante do mundo por desfraldar o estandarte da verdade do Senhor e da sua justiça divina”.

D. Antonino Dias Bispo de Portalegre Castelo Branco
24-03-2017

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