sábado, 18 de março de 2017

SER PAI COM AMOR E PRESENÇA



Aproxima-se o dia litúrgico de São José, Dia do Pai. Em comunhão dos santos, rezamos pelos pais que já partiram para a eternidade. Saudamos, com alegria e esperança, todos os que vivem entre nós. E curvamo-nos perante a sua missão educativa que é um verdadeiro e próprio ministério. É um direito-dever qualificado como essencial, original e primário (cf. FC36). Direito-dever nada fácil, até porque, os filhos, quando nascem, não trazem um manual de instruções a dizer como é que devem ser educados e cada um é cada qual. É um processo exigente e contínuo onde aquilo que julgamos ser o mais viável nem sempre é o melhor nem o mais útil. “Eduquem as crianças e não será preciso castigar os homens”, afirmava Pitágoras.
Através dos tempos, a figura do pai tem tido vários modelos. Rigorosos estes, invasivos aqueles, manga larga aqueloutros, moderados estoutros e outros ainda sempre ausentes na vida dos filhos. É verdade que todos os modelos são discutíveis e que a luta pela vida também nem sempre facilita as coisas. Os filhos, porém, têm direito ao amor do Pai, amor que não pode ser substituído, nem totalmente delegado ou usurpado por alguém. A presença do pai ajuda as crianças a crescerem em ambiente feliz, com confiança e amizade. É um amor que os confortar e lhes aquece o coração, os vai libertando dos seus medos e inseguranças incutindo-lhes confiança e amor aos outros. Ajuda-os a integrarem-se na comunidade, a descobrir a beleza da vida, a vivê-la com dignidade e de forma responsável, com esperança, ideais e valores.
O escritor Sergio Sinay, sociólogo e jornalista formado na Argentina e com vários livros publicados, chamou a um dos seus livros “Sociedade dos filhos órfãos”, uma crítica ao modo de vida da atualidade, em que os pais delegam o seu dever de educar a escolas, a outras instituições e até às novas tecnologias, transmitindo a falsa ideia de que o seu papel de pais é insignificante ou facilmente substituível. E não é. É verdade, como ele afirmou numa entrevista a Isabel Clemente, jornalista no Brasil, é verdade que “sempre houve pais que não assumem responsabilidades e sempre haverá. Mas nunca houve como hoje um fenómeno social tão amplo e profundo a ponto de criar uma geração de filhos órfãos de pais vivos. Pela primeira vez podemos dizer, infelizmente, que os filhos com pais presentes que cumprem suas funções são uma minoria”. E mais diz, em relação aos pais que ficam irritados com o que ele escreve. Eles irritam-se “porque muita gente não gosta de escutar ou ler o que precisa, apenas o que gosta. Os pais de filhos órfãos, em sua maioria, não admitem a sua própria conduta e acreditam que ser pai e mãe consiste em comprar coisas para os filhos, matriculá-los em escolas caras, dar celulares e computadores modernos”. Relaciona o fracasso dos pais na educação dos filhos ao medo que eles têm da reprovação infantil: “O medo vem de uma cultura que transformou as relações humanas em transações comerciais. As pessoas se enxergam como recursos ou clientes. Os pais tratam de comprar o amor dos filhos e temem que o cliente não esteja contente. O carinho dos filhos não se compra. Amor se constrói com presença, atitudes, e assumindo a responsabilidade de liderar o caminho dessa vida em direção à autonomia. Para isso, há que se estabelecer limites, marcar as fronteiras, frustrar. Criar e educar é também frustrar, ensinar que nem tudo é possível. Só assim se ensina a escolher. E só quem escolhe pode ser livre. Os pais, no entanto, têm medo de não ser simpáticos, então se esquecem de ser pais que é o que os filhos precisam”. Ao referir-se a modelos passados, Sergio Sinay afirma: “Aquele modo de educar tinha muitas limitações e era muito rígido em muitos aspetos. Mas se sabia claramente quem eram os pais e quem eram os filhos. Os pais não tinham medo de atuar como pais, ainda que às vezes cometessem excessos em sua autoridade. Mas é sempre mais fácil corrigir um excesso do que superar uma ausência. Alguém pode mudar um modelo pobre ou insuficiente. Muito mais grave é não ter modelo”.
Nem sempre o educar é fácil, mas “não se pode ter medo de tomar decisões, dizer não, proibir certas relações perigosas. Os filhos vão protestar, tentarão transgredir. Isso não é um problema, é parte do processo. Os filhos sempre buscarão transgredir para crescer. O problema é quando os pais viram o rosto, olham para o outro lado, não estabelecem limites ou têm medo dos filhos. Ser pai com amor e presença não significa converter-se em uma pessoa simpática, em um animador de televisão. Às vezes, há que se tomar medidas duras”.
Quando a entrevistadora lhe perguntou que mensagem gostaria de deixar aos pais, ele respondeu que “quem tem filhos tem responsabilidades sobre uma vida. Essa vida precisa de respostas. E diria que só há uma maneira de aprender a ser pai e mãe: convivendo com os filhos, estando presentes em suas vidas, errar, pedir desculpas, reparar o erro e seguir adiante, sempre com responsabilidade e presença”.

D. Antonino Dias - Bispo de Portalegre Castelo Branco
17-03-2017

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