domingo, 19 de março de 2017

São José e o eterno perfume da açucena




À semelhança dos anos anteriores, o mês de Março é parcial ou totalmente marcado pelo tom roxo da Quaresma. Há dois dias em que Março se veste de branco: 19 de Março – Dia de S. José; e 25 de Março – A anunciação do Senhor. São dias em que fazemos festa! Porque como José e Maria desejamos dizer “sim” a uma vida com outro Alguém, e com os outros. Também nós, em pleno século XXI, queremos continuar a acolher o Menino de Belém: abraça-Lo, pegar Nele ao colo, brincar e correr com Ele nas aldeias e cidades, viver grandes aventuras nos campos e nas florestas… queremos soltar sorrisos e gargalhadas de gratidão, e também chorar nos momentos de desalento, resultado do abandono e confiança naqueles que nos seguram pela mão e amparam no caminho da vida à semelhança de São José. No chefe da Sagrada Família de Nazaré encontramos o modelo do justo que cresce como um lírio, que a seu tempo espalhará o seu perfume.

São José, um santo esquecido


Alguns dias atrás alguém disse: «Vamos falar de S. José… que está tão esquecido nos nossos dias». Hoje falamos de tanta coisa! Falamos alegremente dos nossos dias, da nossa vida, e ainda bem que assim é. Porém, parece que é sempre mais fácil falarmos do que acontece à nossa volta. Recordamos as grandes figuras da história, da política, do ensino, do futebol, da música, e da televisão que sem dúvida são úteis à humanidade. E daqueles que nos mostraram a beleza de abrir a vida interior aos outros, quantas palavras lhes dedicamos? É tão fácil falar do sucesso visível dos grandes acontecimentos que ocorrem no mundo, mas nem sempre chegamos à grandiosa sabedoria de interpretar, e querer viver o sucesso (in)visível, que brota da interioridade, ou seja, dos pequenos gestos que geram paz, harmonia e esperança. Talvez por isso São José se tenha tornado o santo esquecido, porque viveu no silêncio e no escondimento. Nesse viver, sem publicidade e exibição, entregou-se fielmente à vocação sublime de ser pai. Pai adotivo de um Menino especial: Jesus!

O humilde carpinteiro de Nazaré preocupou-se com o sentir. O carinhoso defensor do Filho de Deus viveu perfeita e harmoniosamente no seu tempo. No silêncio, escutou surpreendido o convite divino para ser pai do Salvador do mundo. Na humildade, longe dos anseios da fama, “escondido” na alegria da vida familiar respondeu calorosamente ao convite de Deus. São José é uma das figuras que caladamente continua a dar a volta ao mundo. Mas, é um homem esquecido que poucos vislumbram, na medida em que o seu modo de viver parece que pouco cativa. Absorvemos pouco daquele que é o amante dos pobres, o modelo dos operários, o espelho da paciência (como rezamos na ladainha). Pois vivemos num tempo de escassa paciência, e por isso é tão difícil unir às alegrias da vida, os seus cansaços e insucessos. Desejamos uma vida sempre mais fácil, com pouco empenho, responsabilidade e determinação. Quando assim é, esquecemos muito facilmente o que é viver, o que é amar, o que é dar-se…e o perfume da açucena de São José vai perdendo intensidade…mas nunca se extinguirá…

São José, um santo de sempre

São José é o amparo das famílias e o protetor da Santa Igreja. O papa João XXIII, por exemplo, confiou o Concílio Vaticano II à proteção de São José. No decorrer da história do mundo, foram e são muitos os homens e mulheres que admiram o homem do silêncio e da escuta, o pai que acolhe e que ensina, o esposo que ama e que se entrega sem medida. São José pode ser esquecido por alguns, mas continua a ter um papel ativo na vida da humanidade. É um modelo de inspiração, e um poderoso intercessor junto de Deus por nós. É agradável segredar-lhe as nossas alegrias, as nossas tristezas, as nossas esperanças e as nossas dúvidas. Conforta-nos também o facto de termos a humilde coragem de lhe pedir que fale da nossa vida bem baixinho aos ouvidos de Deus, como se Lhe estivesse a contar um segredo. É encantador, imaginarmos, mas acima de tudo sabermos que temos o guarda providente da Divina Família a dialogar com Deus sobre nós e por nós. Assim, teremos a oportunidade de continuar a sentir o doce perfume da açucena de São José, se nos empenharmos na construção de uma vida pura…uma vida rumo à santidade.

São José é um auxílio para todos nós. Temos de nos agarrar a ele com toda a confiança e conversar com ele, como fazemos com Jesus e Maria, na nossa oração diária. Busquemos a companhia de São José diariamente, e não apenas quando se acende o sinal alarmante da aflição. Porque se este pai admirável esteve com Jesus, e se preocupou tanto com Ele, tem os mesmos sentimentos para connosco, que somos imagens vivas de Cristo. Hoje, São José continua a pegar ao colo com entusiasmo os filhos do século XXI. Pois a missão de pai foi-lhe confiada para sempre. Confiemos na sua proteção como fizeram homens e mulheres do passado. Consideremos o exemplo de Santa Teresa de Lisieux: “Pedi também a S. José que velasse por mim. Desde a infância tinha por ele uma devoção que se confundia com o meu amor à Santíssima Virgem. Todos os dias recitava a oração: «Ó S. José, pai e protetor das virgens!». E assim, foi sem temor que empreendi a longa viagem. Ia tão bem protegida, que me parecia impossível ter medo” (Manuscrito A, 57r).

São José, o santo do dia do pai

«Porquê que os teus filhos gostam tanto de ti, e te tratam tão bem?». Foram as palavras emocionadas de uma mãe e avó, dirigidas perante toda a família a um dos seus filhos. A esta observação o filho respondeu: «Nunca fiz nada de especial. Respeito os meus filhos, e eles respeitam-me». Quando há esta harmonia entre pais e filhos é com gratidão e esperança que se celebra o dia de São José, o dia do pai, o dia de todos os pais. Muitas vezes o melhor presente que podemos oferecer aos nossos pais, neste dia inaugurado pelo zeloso carpinteiro de Nazaré, é a presença, o “abração” apertado, o beijo da amizade e da intimidade própria da relação familiar. E quando, os amados pais, já tiverem partido para junto de Deus, devemos oferecer-lhe uma oração de gratidão: pelo amor com que nos acolheram e ensinaram a encarar a vida.

Com alegria devemos continuar a confiar as nossas famílias à proteção de São José. Os pais de modo especial devem encontrar nele inspiração, para tornarem a vida familiar mais viva, alegre e confiante. Podem surgir momentos de desânimo, mas como São José os pais devem procurar forças em Deus, para bem desempenharem a missão bela e singular que lhes foi confiada. Portanto, recordemos as palavras do papa Francisco, do dia 19 de Março de 2014: “Os pais devem saber ser pacientes. Às vezes, não há outra coisa a fazer que não seja esperar, rezar e esperar com paciência, doçura, magnanimidade, misericórdia. Um bom pai sabe esperar e sabe perdoar.” Só pela confiança mútua entre pais e filhos, a família continuará a espalhar o suave perfume do amor, da ternura e da fidelidade pelo mundo… o perfume da pura açucena de São José.

Feliz dia de São José, para todos os pais, que longe ou perto vivem uma relação de confiança e esperança com os seus filhos. Que em todos os lares se sinta o perfume da açucena de São José…

André Michael Almeida Pereira (18-03-2017) em iMissio

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