sexta-feira, 30 de novembro de 2018

ADVENTO EM DINAMISMOS DA HERANÇA E DE MUDANÇA

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Mudam os tempos, mudam as pessoas, mudam os gostos, mudam as prioridades, mudam as relações, mudam as estratégias, mudam as pedagogias … tudo parece mudar! E neste frenesim de mudança, com as suas notas de esforço e surpresa, de novidade e apreensão, de possibilidade e adequação, vivemos tempos de necessário discernimento e escolha. É que, entre todas as mudanças que acontecem, há o que passa e o que permanece, há o bom e o menos bom, o supérfluo e o essencial. O que permanece, o que é bom e essencial, é também herança de quem nos precedeu. Herança e mudança são, desta forma, os ritmos de quem tenta acertar o passo com a vida, com a história e com a própria fé. Se doutras heranças alguém pode falar e usufruir, a nossa verdadeira herança, aquela de que falamos e nos privilegia, é o próprio Deus que Se revela e nos dá Cristo Jesus. Todos somos herdeiros, com Cristo, dos bens de Deus Pai, herdeiros de bens que nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem o coração humano percebeu o que Deus tem preparado para aqueles que O amam (cf. 1 Cor 2,9). Esta herança de Deus Pai implica determinação e mudança. E a força dessa mudança e determinação está precisamente na Promessa que nos foi feita e se realiza plenamente em Cristo Jesus.
O Advento ajuda-nos a espevitar e a estimular esta nossa consciência, para vivermos na alegria e na seriedade de um testemunho como o testemunho de Jesus Cristo. É um tempo de esperança, de expectativa, de transformação, de desejo. É uma oportunidade pedagógica e sacramental para colocarmos Cristo no centro da nossa vida.
Herdar pode parecer um ato meramente passivo. E conotado com uma certa estagnação, pode até parecer que contraria a mudança. No entanto, receber um bem pelo qual não se trabalhou, é o símbolo de uma vida que se recebe sem se pedir, é o símbolo de algo que se recebe hipoteticamente sem mérito, é um dom. E os dons, pela força da sua gratuidade, ultrapassam barreiras humanas. Assim, herança e mudança andam de mãos dadas como de mãos dadas andam o receber e o dar.
Respondendo à iniciativa do Papa Francisco, a Igreja que está em Portugal resolveu promover, até outubro de 2019, um Ano Missionário. O desafio fundamental desta iniciativa é o da transmissão da fé. Somos convidados a transmitir a herança da fé recebida, desde o vizinho mais próximo até aos povos mais longínquos.
Herança e mudança são, neste contexto, um verdadeiro dinamismo de transmissão da fé. Se Deus se revela sempre na forma da Promessa dos tempos novos e da nova Aliança, a herança da fé recebida tem de ser transmitida. Guardá-la só para si seria infidelidade e infecundidade.
Ora, transmitir não é apenas traduzir. É incarnar. E o tempo de Advento é um tempo favorável para contemplar a incarnação do Verbo e perceber quanto a missão de evangelizar vive deste dinamismo da incarnação. Cristo revela-Se através de atos e palavras, é uma revelação histórica, tem uma estrutura existencial e traduz-se num valor doutrinal. Se, em Cristo, os gestos e as palavras se esclarecem e explicitam mutuamente, na transmissão do Evangelho, os gestos e as palavras, em uníssono, devem ser a expressão da coerência da vida com a fé professada, num dinamismo crescente de unidade e harmonia. Se, em Cristo, a dimensão histórica da incarnação é um dos fatores mais importantes da receção do Seu testemunho e da Sua vida, na missão de evangelizar, a história apresenta-se sempre como espaço de verificação do sentido da verdade evangélica e da sua validade para a vida humana. A missão de evangelizar faz-se na história dos homens, é histórica e constrói história. Se, em Cristo, a relação estabelecida com as multidões, ou com as pessoas, revela a proximidade de Deus à vida humana, na transmissão do Evangelho pela Igreja, a dimensão existencial do encontro é sempre um fator de credibilidade da palavra anunciada. A palavra dita e o encontro realizado são sempre comunhão e comunicação. Missão e transmissão da fé são palavra que comunica, interpela, confidencia, testemunha, manifesta confiança. Aliás, a palavra de confidência vale sempre como testemunho do que é mais importante. Cristo é uma confidência de Deus à humanidade. Se, em Cristo, cada palavra e cada gesto tem a dimensão de um sinal de salvação, na Igreja e na sua missão, cada gesto sacramental é um sinal explícito e evidente de que Deus vem para salvar e reconstruir. Se as verdades ditas e os acontecimentos realizados por Cristo são experiências diante das quais não se pode voltar atrás sob o risco de apagar parte da história, na missão da Igreja, a verdade de Cristo interiorizada e professada como fé, ganha um valor doutrinal na vida da Comunidade. É a fé da Comunidade.
A missão da Igreja – transmitir a herança recebida – tem, então, a dimensão da vida do homem e de todos os lugares onde os homens habitam. As nossas Comunidades necessitam da missão da Igreja que transmite Cristo vivo e experienciado. O mundo necessita da missão da Igreja para ter acesso ao tesouro que é viver de Cristo e dos seus ensinamentos.
Onde há missão existe sempre vocação. O Advento sublinha, por isso, a preparação do coração para receber Cristo e a necessidade da transmissão do dom que recebemos. Acolher a herança reclama mudança na vida. Cristo continua a vir ao encontro de cada homem em cada tempo para com ele construir uma história de humanidade. Ele permanece sempre e para sempre.
Herdeiros dos inimagináveis bens de Deus Pai, aproveitemos, pois, este tempo favorável do Advento para cuidar da mudança do coração, envolvendo as famílias e as comunidades paroquiais, para bem celebrar, em família e na comunidade cristã, o Natal de Jesus que vem pobre, simples e humilde para nos trazer a alegria e para que a nossa alegria seja completa.

D.Antonino Dias- Bispo de Portalegre Castelo Branco
Portalegre, 30-11-2018.

De que Natal somos feitos?


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É quase inevitável dedicar algum tempo a contemplar a época que se aproxima. Mesmo que não quiséssemos, acabam por não nos sobrar grandes alternativas. Já fomos precocemente invadidos por um espírito natalício quase vazio da essência do tempo que se está para viver. Acendem-se luzes do lado de fora das pessoas, enfeitam-se montras com presentes que não nos acrescentam nada, oferecem-se mentiras e ilusões vestidas com roupas bonitas e quentinhas.

É quase Natal mas estamos longe de chegar ao que isso, realmente, significa. O que eu sei é que estamos mergulhados numa espiral colorida de antecipação. Num corrupio de querer viver fora de tempo. Numa vontade de fazer coisas que se vejam, ainda que de pouco sirvam.

É quase Natal mas devíamos ser mais do que isto. Mais do que um conjunto de pessoas que se juntam para ver luzes acesas ou para aumentar filas (dolorosamente intermináveis) de compras. Eu sei que este brilho anunciado é muito bonito mas não tem calor. Não aquece. Não tem chama. O Natal é outra coisa.

É querer ser pequeno, mesmo quando todos parecem querer ser maiores que nós.

É retirar de nós o que mais gostamos e o que de melhor temos. Ainda que nos doa.

É vestir-se de roupas iguais às dos outros dias e despir-se de vaidades absurdas e pouco coerentes.

É recuar no tempo e querer lembrar a pequenina Luz que nasceu para nos dar tudo o que dá nome ao Natal.

É querer ficar nos lugares para onde ninguém quer ir, se for aí que necessitam da nossa companhia. 


É abraçar em vez de dizer coisas bonitas.

É fazer o que é preciso em vez de apregoar planos bem feitos.

É procurar a raiz das coisas e plantar (outra vez) o que mais (nos) for importante.

É difícil viver um Natal a sério, não é? Mas a Estrela que está para nascer em Belém diz-nos que vai valer a pena!


Marta Arrais

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Até para a semana, se Deus quiser!

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Deus é uma palavra difícil. Sempre foi e creio que sempre será, pois Deus é tudo menos evidente. Por isso mesmo, não me é nada difícil perceber a dificuldade dos que nem a conseguem ouvir. E, muito menos, proferir.
Curiosamente, o contemporâneo OMG parece facilitar a tarefa a muita gente. Evocado assim, por escrito e em inglês, apenas com três iniciais acompanhadas de coloridos emojis, nas redes sociais, dá mais jeito e a evocação serve tudo e todos. É útil para exprimir sustos, dificuldades ou perplexidades, para exclamar grandes surpresas e sublinhar profundos mistérios. Dá para a vida corrente e é usado por crentes e não crentes, numa escala planetária.
No cinema também ouvimos a expressão mil vezes repetida e aplicada a situações que vão das mais fantásticas fugas aos mais hediondos crimes, torturas e aflições, passando por momentos de paixão e instantes de exaltação.
Posso dar dois exemplos correntes onde a palavra Deus é usada sem hesitação: nos EUA, país altamente democrático, como sabemos, livre e respeitador de pessoas e atitudes, a nota de dólar continua a ter a inscrição “In God we trust” ("Em Deus nós confiamos"). Também a divisa inglesa, o lema do Reino Unido, permanece fiel a Deus, mantendo a expressão francesa original “Dieu et mon droit”(Deus e meu direito).
Deus é uma palavra difícil, sim, mas está desde sempre no imaginário comum da Humanidade e assim permanecerá. Claro que a palavra ‘Deus’ também é um tropeço para todos, sem exceção, quando é usada para legitimar atos terroristas e matar inocentes, ou se em nome de Deus (ou a coberto do ministério de Deus) se cometem atrocidades e fazem vítimas usando e abusando de crianças, jovens e adultos.
Por ser realmente uma palavra equívoca e até bastante assustadora, ou implacável, para quem não O conhece e segue, recorro a exemplos concretos da vida real, mas também a autores, uns mais crentes, outros mais céticos, que nomeiam Deus sem complexos e falam d’Ele com extraordinária beleza e elevação.
Tomáš Halík, padre e filósofo checo clandestinamente ordenado em 1978, na então República Democrática da Alemanha (a ordenação foi mantida secreta até para a sua mãe), distinguido com o Prémio Templeton – 1,3 milhões de euros, um dos maiores prémios do mundo atribuídos a pessoas individuais! – foi o mesmo homem que arriscou ser preso por promover a liberdade religiosa e cultural depois de a União Soviética ter invadido a Checoslováquia, tendo-se tornado desde então um defensor do diálogo entre diferentes crenças e religiões. Autor de diversos livros, Halík conhece bem a dificuldade em falar de Deus.
“Para muitas pessoas que me rodeiam, as afirmações bíblicas acerca do amor (“Deus é amor”; “Ama o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração…”; “Deus amou tanto o mundo…”; “Amai os vossos inimigos”) soam a frases de uma língua desconhecida, incompreensível e, desde há muito, esquecida.(…) Há interrogações demasiado boas para serem estragadas com respostas. Há perguntas que devem continuar a ser uma janela aberta para a contemplação. (…) dentro de mim foi amadurecendo gradualmente a convicção de que Deus se aproxima de nós mais como uma pergunta do que como uma resposta.”
Relativamente a autores mais cépticos, começo por Marguerite Yourcenar, uma escritora que ninguém identifica com Deus e toda a vida buscou a verdade. Yourcenar deteve-se a escutar os rumores dos séculos e a perscrutar as vozes, os silêncios e os barulhos do mundo. Yourcenar sempre quis estar no mundo, estando ao mesmo tempo fora, ao lado, acima e atrás do mundo. Os seus personagens são cheios de exigências espirituais e ela própria pouco ou nada tem de frívolo, pois todas as suas fibras parecem tecidas de sensibilidade e humanidade, associadas a um sentimento elevado e porventura transcendente da escrita.
A religião ocupa muito pouco espaço na sua obra, mas Yourcenar assumiu publicamente as suas inquietações místicas.
Em Les Yeux Ouverts, escreveu: “J’appelle Dieu ce qui est à la fois au plus profond de nous-mêmes et au point le plus éloigné de nos faiblesses et nos erreurs
Disse ainda: “a minha educação religiosa parou cedo demais, mas felicito-me por tê-la tido, porque é uma via de acesso ao invisível, ou se preferirem, ao ‘interior’. As bases da minha cultura são religiosas, mas o meu público ignora isso”
Yourcenar adota uma atitude muito original perante Deus: a divindade, para ela, não tem repertório, mas antes uma mística com exigência.
Clarice Lispector, outra autora que viveu a sua vida muito distante de Deus, escreveu: “Mesmo para os descrentes há o instante do desespero que é divino: a ausência de Deus é um ato de religião. Neste mesmo instante estou pedindo ao Deus que me ajude. (…) O Deus tem que vir a mim, já que não tenho ido a Ele. Que o Deus venha: por favor. (…) Sou inquieta, áspera e desesperançada (…) preciso que o Deus venha. Venha antes que seja tarde demais”.
No final do seu livro Uma Aprendizagem, Clarice escreveu: “embora não sendo humano, no entanto, Ele às vezes nos diviniza”
Murakami fala de Deus como alguém sem forma, sem vestes brancas, sem barba comprida, sem escrituras nem preceitos, sem castigos nem recompensas, sem céu nem inferno, um Deus que está simplesmente presente, “God is simply there”. E também diz: “If you think God’s there, He is. If you don’t, He isn’t. And if that’s what God’s like, I wouldn’t worry about it.”(“Se você acha que Deus está lá, Ele está. Se não acha, Ele não está. E se é assim que Deus é, eu não me preocuparia com isso.) "
Tolentino Mendonça, que dispensa apresentações depois de ter sido indigitado pelo Papa como arquivista e bibliotecário da Santa Sé, a mais antiga biblioteca do mundo, fala de Deus com amor e fervor. Tal como Halík, também ele passa a vida a construir pontes entre crentes e não crentes, céticos e duvidosos. E é ele que escreve:
“Esta vida que por vezes nos custa aceitar por inteiro ou entender. Esta vida ao mesmo tempo exaltante e a ameaçar derrocada, lugar de impasse e de renascimentos contínuos. Esta vida objetivada na nossa carne, mas tão secreta que nos escapa. Esta vida que é a radical pergunta para a qual não encontramos resposta. Esta vida assim experimentada é o santuário de Deus.
E não resisto a um poema de Sophia:

Deus escreve direito por linhas tortas
E a vida não vive em linha recta
Em cada célula do homem estão inscritas
A cor dos olhos e a argúcia do olhar
O desenho dos ossos e o contorno da boca
Por isso te olhas ao espelho:
E no espelho te buscas para te reconhecer
Porém em cada célula desde o início
Foi inscrito o signo veemente da tua liberdade
Pois foste criado e tens de ser real
Por isso não percas nunca teu fervor mais austero
Tua exigência de ti e por entre
Espelhos deformantes e desastres e desvios
Nem um momento só podes perder
A linha musical do encantamento
Que é teu sol tua luz teu alimento

Por tudo isto, que outros dizem infinitamente melhor do que eu poderia dizer, encanta-me que toda e qualquer pessoa, em público ou em privado, possa despedir-se dos outros com liberdade com um “até amanhã se Deus quiser”. Se isso for o que de melhor tem para lhes oferecer, quem sou eu para condenar?

Laurinda Alves

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Se nada mudar… muda tu!

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Guardamos as nossas culpas como farpas sempre prontas a atirar a alguém. Muitas vezes, sabemos que a culpa é nossa mas, no fundo, é mais fácil devolvê-la. Não a querer. Por isso acabamos por decidir transferi-la para os que estão à nossa volta. É difícil encontrar casa para a culpa quando sabemos que a permissão dessa morada nos vai ferir. O mesmo parece acontecer com aquelas coisas que gostávamos que mudassem. Temos sonhos que são nossos e nos preenchem as cores de dentro sem sair do risco. Depois, temos expectativas e esperanças que são espelho daquilo que gostávamos que o mundo fosse, realmente. É sobre essas que hoje gostaria de escrever.
Conseguimos apontar todos os nossos dedos, todas as nossas mágoas, todos os nossos medos na direção de quem nos magoa. Muitas vezes, magoa-nos o que se passa do lado de lá da janela da nossa casa, do nosso carro, do nosso ecrã. Dói-nos saber que o mundo está entregue a líderes que se assemelham a pessoas que fizeram história pelas piores razões. Dói-nos saber que ainda há quem morra de fome. Doem-nos as marés que trazem os barcos que chegam repletos de gente como nós que (quase) nunca é tratada como gente. Dói-nos que se encham bolsos (já cheios) com o que era devido a bolsos vazios. Dói-nos a sensação de que o planeta estará por um fio e que pouco restará para o salvar de verdade. Ainda assim, conseguimos ser protagonistas de uma proeza extraordinária: ignorar as dores do mundo e transformá-las em irrelevâncias. Detalhes. Não temos culpa disso. Estamos longe dos países onde se passa fome. Não fazemos parte do governo ou de alguma classe política. Não somos ambientalistas nem cientistas. Mas somos nós. E isso devia bastar-nos. Devia ser-nos suficiente. Estamos muito habituados a optar pela invisibilidade. Se ninguém nos vir, a culpa não será nossa. Se ninguém reparar, poderemos (também) aprender a mestria de assobiar para o lado.
Lamentavelmente, não é a assobiar para o lado que as coisas mudam. E as coisas que precisam de ser mudadas são responsabilidade minha. E tua. E nossa.
Não descanses à beira do que não podes fazer. Faz o que puderes com aquilo que tiveres.
Não descanses à sombra do que não foi (ainda) feito por ninguém. Se queres que se faça alguma coisa, tens bom remédio. Faz tu.
Não te conformes com os desânimos de quem não quer mexer uma palha. Se nada mudar, muda tu.


Marta Arrais

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Nem tudo o que brilha tem luz!

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O peso das aparências é assustador. Dizemos que não. Que não pertencemos ao grupo dos que valorizam o exterior. Que não julgamos contornos. Julgamo-nos pessoas de interiores. Queremos acreditar que as luzes que nos iluminam são, sempre, as luzes certas. Infelizmente, nem sempre são.
O peso do que se vê à primeira vista é enorme. Por vezes, somos contaminados sem nos darmos conta. Sem termos consciência disso. De repente, já estamos, também nós, a falar da vida dos outros, da roupa dos outros, dos sapatos dos outros, do cabelo dos outros. E quando mergulhamos nesse exercício (do qual quase ninguém se poderá excluir) estamos a escolher não respeitar, não aceitar, não olhar com olhos de ver. Do lado de lá do que não queremos ver está o que realmente faz daquela pessoa uma pessoa.Quanto mais nos afastarmos desta ideia, mais fácil será olhar para os outros como cenários para julgar. Por outro lado, quanto mais nos aproximarmos de cada pessoa, mais fácil será relativizar a sua paisagem exterior. Claro que não é fácil conhecer cada pessoa que se cruza connosco. Nem será, tão pouco, possível. O que é possível (e que acaba por ser um dever) é olhar para o outro como uma pessoa. Independentemente do conhecimento que dela se tiver ou se quiser ter.

O problema é que o mundo nos oferece cada vez mais brilhos e cada vez menos luz. São valorizados os que sobem a pique, sem qualquer mérito. São idolatrados os que cultivam a perfeição da imagem. São aplaudidos os que escrevem palavras vazias de tudo mas, ainda assim, brilhantes. Acaba por ser difícil procurar o essencial quando nos bombardeiam com o supérfluo a toda a hora e momento. Acaba por ser complicado querer ser diferente. Ou melhor.

Mesmo assim, e apesar de tudo, vale a pena procurar a luz dos que escolhemos conhecer. Vale a pena destapar, também, a nossa para que os outros saibam que somos alcançáveis e que o nosso brilho não se apaga com os sopros do mundo lá fora.

Mesmo assim, e apesar de tudo, vale a pena respeitar a luz dos que escolhemos não conhecer.

Não percas tempo a olhar para os que brilham. Perde tempo a olhar para os que têm luz.

Marta Arrais

domingo, 25 de novembro de 2018

Ordenação de Diácono

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Maria Santíssima, nossa Mãe, pedimos-te intercessão junto do Pai pelo nosso Seminarista Maior, André Beato, na horas da sua ordenação Diaconal. Que o André seja sempre fiel a Jesus e ao dom que tem vindo a despertar no seu coração. Que tenha a força para guardar esse dom e torna-lo gerador de muitas e santas vocações. Seja homem de oração e claro exemplo da fidelidade ao Evangelho, procurando conformar sempre a sua vida à vida do único Mestre Jesus Cristo, teu Filho e nosso Pastor. 


Hoje às 16h00 participaremos numa grande manifestação de fé e esperança para a nossa diocese.

Somos todos convidados a rezar e a participar neste momento tão significativo da vida das nossas comunidades, entusiasmando os nossos pastores, e dando a certeza ao nosso André, da nossa amizade e oração para este e para todos os dias. O André, depois de de responder livremente ao chamamento de Jesus, está disposto a tornar-se em Apóstolo de Jesus e servidor de todos. Será um momento de grande Alegria para todos



ANIMADORES DE CANTO DE ASSEMBLEIA



PAPA  FRANCISCO AOS GRUPOS CORAIS

Solenidade de Cristo Rei


https://www.youtube.com/watch?v=5Kt7vTZnddw



No 34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo. A Palavra de Deus que nos é proposta neste último domingo do ano litúrgico convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus; deixa claro, no entanto, que essa realeza não pode ser entendida à maneira dos reis deste mundo: é uma realeza que se concretiza de acordo com uma lógica própria, a lógica de Deus. O Evangelho, especialmente, explica qual é a lógica da realeza de Jesus.
A primeira leitura anuncia que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a crueza, a ambição, a violência, a opressão que marcam a história dos reinos humanos. Através de um "filho de homem" que vai aparecer "sobre as nuvens", Deus vai devolver à história a sua dimensão de "humanidade", possibilitando que os homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade. Os cristãos verão nesse "filho de homem" vitorioso um anúncio da realeza de Jesus.
Na segunda leitura, o autor do Livro do Apocalipse apresenta Jesus como o Senhor
do Tempo e da História, o princípio e o fim de todas as coisas, o "príncipe dos reis da terra", Aquele que há-de vir "por entre as nuvens" cheio de poder, de glória e de majestade para instaurar um reino definitivo de felicidade, de vida e de paz. É, precisamente, a interpretação cristã dessa figura de "filho de homem" de que falava a primeira leitura.
O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, Jesus a assumir a sua condição de rei diante de Pontius Pilatus. A cena revela, contudo, que a realeza reivindicada por Jesus não assenta em esquemas de ambição, de poder, de autoridade, de violência, como acontece com os reis da terra. A missão "real" de Jesus é dar "testemunho da verdade"; e concretiza-se no amor, no serviço, no perdão, na partilha, no dom da vida.


(portal dos dehonianos)


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

LIMPARAM-LHE O SARAMPO E O SEBO!...

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Quando se lê um artigo ou um livro, por vezes, nesta ou naquela curva da leitura, surgem afirmações que nos fazem travar de repente, não vamos nós bater com a cabeça na parede e fazer partir a parede e a cabeça. Convém travar, parar, refletir, tal como é pedido, com um sinal de perigo lá plantado, a quem atravessa a linha do comboio: pare, escute e olhe. Acho que é uma das maiores valias do ler... Há dias, numa entrevista publicada no jornal Público, sob o título “Ciência e religião são totalmente incompatíveis”, o Senhor Peter Atkins, Professor de Química em Oxford e autor de livros de divulgação científica, afirmou: “O funcionamento do mundo foi por alguns atribuído a um Criador extraordinariamente metediço, mas incorpóreo, a guiar ativamente cada eletrão, quark e fotão até aos respetivos destinos. As minhas entranhas revolvem-se perante esta visão extravagante do funcionamento do mundo e a minha cabeça segue o mesmo caminho das entranhas”.
Sempre admirei e admiro quem se dedica a estas causas e saberes tão aliciantes. E vejo esta afirmação um pouco no sentido cartesiano, em jeito de dúvida metódica. Duvidar de tudo, até ao extremo, para chegar a uma verdade incontestável. Tendo, porém, em conta que Peter Atkis afirmou não existir qualquer prova da existência de um deus, nem vê como é que um deus possa criar, do nada, o universo; que a ciência tem feito grandes progressos no entendimento do nada e que os cientistas estão a chegar a um ponto em que podem dar uma resposta verdadeira àquilo que os teólogos fingem compreender e perante o qual os filósofos se manifestam pessimistas, tendo em conta tudo isso, aguardo ser confirmado no que sei, ainda “deste lado do túmulo”, e aguardo, na paciência do tempo, diante do stop proposto: “Espera só um pouco, havemos de lá chegar”.
É isso, acredito sinceramente que Peter Atkis não está longe do reino de Deus!... Sendo mesmo impossível provar que Deus não existe, é mais fácil, quase evidente, provar a Sua existência. O primeiro grande tratado que d’Ele nos fala abundantemente, um tratado que todos, mesmo os que não sabem ler, o podem soletrar e folhear, é, sem dúvida, a própria natureza com as suas iluminuras, os seus encantos e maravilhas, a sua diversidade e leis, a sua harmonia e beleza: “Os céus cantam a glória de Deus e o firmamento proclama a obra das suas mãos...” (Salmo 19). “O mundo intriga-me, e não posso imaginar que este relógio exista e não haja relojoeiro”, é um pensamento solto que anda por aí, atribuído a Voltaire. E mesmo que o relógio de quando em vez precise do relojoeiro, ele, depois de montado, funciona por si, autonomamente, tal como o universo.
A humanidade reconhece, admira e agradece todos os avanços científicos que têm dado resposta a tantas perguntas que o espírito humano faz e continuará a fazer. Fomos criados seres inteligentes, com capacidade para pensar, criar, amar e agir em liberdade. É sempre bom que haja cada vez mais dados, se façam novas experimentações, se formulem novas teorias, surjam novos e importantes conhecimentos que deem azo a mais avanços cientificamente esclarecedores, que a origem e toda a complexidade da criação seja descodificada para melhor a conhecermos, amarmos, contemplarmos e usufruirmos! Que bom!... Só na verdade nos encontraremos!... A verdade é sempre o caminho de Deus!... Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, disse-nos Jesus. E todos torcemos para que a ciência progrida e ajude a conhecer mais e melhor, não só a complexidade deste mundo, mas também os elementos do cosmos e as leis da matéria, o enigma de tantas outras coisas que nele existem e funcionam tão maravilhosamente. Pessoalmente acredito em Deus, sim. E embora me sinta mais que pequenino diante da ciência e dos seus avanços, avanços cada vez mais destemidos em rasgar autoestradas que o desenvolvimento humano usará, acredito também que não será pelos métodos da ciência que alguém possa chegar ao conhecimento de Deus ou O possa encontrar ou O possa negar. É possível, isso sim, que, um dia, a ciência resolva afirma-l’O perante o fascínio de tanta maravilha que descobre e vê, mas não sabe explicar. Deus, embora esteja lá, não se manuseia, não entra nem cabe em métodos de laboratório ou semelhantes. E se o mistério deste mundo e das coisas se pode ir esclarecendo através da ciência e dos seus métodos, o encontro com o mistério de Deus, só é possível através do amor. A própria vida, assim o acreditamos, “não é um simples produto das leis e da casualidade da matéria, mas em tudo e, contemporaneamente, acima de tudo, há uma vontade pessoal, há um Espírito que em Jesus se revelou como amor” (SpS5). O amor não vai contra a ciência, a ciência também precisa de amor. Só a sabedoria e a ciência que brotam do amor nos permitem penetrar no mistério de Deus, o mistério último que sustenta e dá sentido a toda essa realidade que a ciência nos mostra, e bem quando a favor do homem. Reconhecemos a legítima autonomia da ciência, louvamos e aplaudimos todo o progresso que ela proporciona à qualidade de vida da comunidade humana, mas também acreditamos que só o amor redime o ser humano.
Peter Atkins afirmou que “a filosofia e a teologia são ambas formas corruptas de entender o mundo”. Bem, são opiniões, há muitas formas de corrupção, é verdade. Entendo, porém, que melhor seria que elas fossem tidas, pela ciência, como companheiras de viagem nesta busca da verdade, já que a verdade não é monopólio de ninguém: nem das religiões, nem da ciência, nem da política, nem da economia, de ninguém. Todos somos verdadeiros, isso sim, na medida em que, honesta e humildemente, lutamos pela verdade e vivemos na verdade, reconhecendo, com amor, a verdade que também está nos outros. A fidelidade à pessoa humana reclama fidelidade à verdade, só a verdade nos liberta, só a verdade é garantia de verdadeiro progresso humano e humanizador, só a verdade fará que a humanidade se encontre e viva em paz.
Continuamos a ler e a ouvir, aqui e ali, na sequência de Nietzsche e de outros, os que proclamam a necessidade da morte de Deus ou quem parta já do princípio de que Ele está morto e bem morto. E tudo isto para que nasça o verdadeiro homem, pois, segundo eles, Deus, que não existe nem nunca existiu, é um obstáculo para a autonomia e o crescimento do homem e as religiões são resposta arcaica e ineficaz. Intriga-me saber como é que Alguém que morreu ou nunca existiu nem existe, como é que esse Alguém pode incomodar tanta gente, rica de tantos quereres e saberes, ao ponto de querer acabar com Ele, mesmo quando afirma que Ele nunca existiu nem existe!...
“Este é o herdeiro: vamos! matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança”, foi o plano dos vinhateiros (Mt 21, 38). E limparam-lhe mesmo o sarampo e o sebo, tiraram-lhe a tosse, mas não resolveram nada, só complicaram as suas vidas!...
O verdadeiro amor é sempre iluminado pela luz da razão e pela luz da fé. Deus arriscou, deu-nos capacidade, engenho e arte, confiou em nós a tarefa de esmiuçarmos e continuarmos a Sua obra. Assim enriquecido, o homem procura e descobre, explica e constrói, pode produzir e produz, e até já produz máquinas que se assemelham a homens. Por vezes, tudo isto espevita o seu orgulho e leva-o a cair na tentação de se querer colocar no lugar de Deus. É assim desde os primórdios da humanidade, com todas as consequências que isso tem provocado ao longo dos tempos. Mas, o que é certo, é que cada vez mais os homens se assemelham às máquinas, o amor não é amado, como repetia, chorando, São Francisco de Assis.
Celebramos a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Um Reino que nos conduz a Deus em quem tudo começa e tudo acaba. Uma realeza que inverte a lógica do poder e da força na lógica da verdade e do serviço, por amor.


D.Antonino Dias . Bispo de Portalegre Castelo Branco
Portalegre, 23-11-2018

195.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa


https://www.youtube.com/watch?v=u-X11x5Rxs4

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

«Se ao menos hoje conhecesses o que te pode dar a paz!»



Comentário ao Evangelho por São Rafael Arnaiz Barón, monge trapista espanhol

Escritos espirituais 23/02/1938


«Se ao menos hoje conhecesses o que te pode dar a paz!»

Debrucei-me um pouco da janela. […] O sol começava a levantar-se. Uma paz muito grande reinava sobre a natureza. Tudo começava a despertar, a terra, o céu, os pássaros. Tudo, pouco a pouco, começava a despertar sob as ordens de Deus. Tudo obedecia às suas leis divinas, sem queixas nem sobressaltos, suavemente, com mansidão, tanto a luz como as trevas, tanto o céu azul como a terra dura coberta pelo orvalho da alvorada. Que bom é Deus!, pensei. Há paz em tudo, exceto no coração humano.

Delicada e suavemente, Deus ensinou-me também, nessa madrugada doce e tranquila, a obedecer; uma grande paz encheu a minha alma. Pensei que só Deus é bom, que tudo é ordenado por Ele, que nada do que os homens fazem ou dizem tem importância, e que, para mim, só uma coisa deve haver no mundo: Deus. Deus, que tudo vai ordenar para o meu bem. Deus, que faz que a cada manhã o sol se levante, que faz que a geada derreta, que faz que os pássaros cantem, e que transmuta as nuvens do céu em mil cores suaves. Deus, que me oferece um cantinho nesta Terra para orar, que me dá um cantinho onde posso ficar à espera daquilo em que ponho a minha esperança.

Deus, que é tão bom para comigo, que, no silêncio, me fala ao coração e me ensina aos poucos, talvez em lágrimas, sempre com a cruz, a desligar-me das criaturas; a não procurar a perfeição a não ser n'Ele. Que me mostra Maria e me diz: «Eis a única criatura perfeita; nela encontrarás o amor e a caridade que não encontras junto dos homens. De que te queixas tu, Irmão Rafael? Ama-Me, sofre comigo; sou Eu, Jesus!»



Missão é revoltar-se por amor


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A vida, o mundo tal e como são não me chegam. Não me chega o que tenho. Quis Deus que a minha estabilidade fosse caminhar por querer sempre mais. Mais amor. Mais justiça. Mais perdão. Mais misericórdia. Mais paz. Mais silêncio. Mais saúde. Mais direitos humanos. Sempre quis mais e sempre hei-de querer. Sempre me revoltei com o mundo. Até descobrir que não era o mundo eram as pessoas. As pessoas e o quão longe ainda estão da revolta para o amor e do amor.

Cansa-me a guerra. Cansa-me a injustiça e só descanso quando me (re)volto e me ponho a caminho para “mudar a pessoa que vejo ao espelho” (Micael Jackson) e ser parte da revolta do amor e para o amor. A missão é a minha resposta à revolta diária que sinto dentro de mim. A missão é o meu grito de Ipiranga às impossibilidades e descrenças de um mundo com mais amor. A missão pôs-me a caminho para amar. A todos e a qualquer um. Pôs-me a caminho para distribuir abraços de urso, fazer cafuné, ser porto de abrigo e deixar-me estar com a mesma tranquilidade e silêncio que sou. Tudo o que sonho é o amor. Nada mais. Tendo o amor tenho tudo. Por isso tenho sempre tudo e em todo o momento. Também é por isso que me revolto e sempre me hei-me revoltar. Porque a missão mostrou-me que o amor é real e possível e não um sonho. Basta crer e querendo fazer acontecer, ser a mudança que queres ver no mundo (Mahatma Gandhi).

Porque o amor é quem e o que me faz levantar da cama todos os dias e acreditar no milagre da vida, nas pessoas - com mas, ses, ainda que e apesar de. E, por isso é também o amor que sempre me fará querer mais de mim e de nós, que em conjunto somos o mundo. O amor será sempre o que me fará (re)voltar. Sempre. O amor não me cansa e d’Ele, o Amor, não precisa de descanso. Diz Fernando pessoa que “quem tem alma não tem calma”. O que ele não descobriu que só existe alma com calma. Ter calma é ter alma. Calma é a velocidade e o caminho, a estrada da alma, ao amor.
Paula Ascenção

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Onde é que vivemos?


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Onde é que vivemos? No passado, no Futuro ou no Presente?
A vida passa e nós passamos por ela como quem não a quer.
Não queremos sentir, não queremos estar, não queremos. E esquecemos-nos do que realmente queremos.
Queremos passar pela vida, como quem passa por um estranho e nem lhe olha nos olhos? Queremos passar pela vida sem realmente ver o que temos diante de nós.
Hoje em dia, e acabo de assistir a esse espetáculo sentada no carro à espera de uma amida, as pessoas simplesmente passam. Passam na rua à minha frente e nem olham umas paras as outras. Nem mesmo para ver se alguma se opõe no seu caminho. A maioria usa phones nos ouvidos ou vai agarrada ao telemóvel. Sem esse, ninguém passa, mas pela vida e uns pelos outros, todos passam.
Vejo famílias divididas que não passeiam juntos, mas que passam pela rua cada uma ao seu passo e cada uma no seu caminh. Passam mas não passeiam.
À frente vejo uma casa bonita. Quem estará lá dentro? Quem viverá ali? Altas são as grades e nem são visíveis para o interior. Portanto, quem passa, por muito que queira, não consegue ver o que há, quem mora nesta linda casa.
Levamos a nossa vida assim.
Levamos a nossa vida, que é só nossa, escondida dos outros. Com altas grades a protegerem o que há dentro. Será que passa muita gente por nós que quer ver o que tenho no interior? Será que o que queremos é que a vida passe sem passearmos por ela?
Baixe as grades, aumente o tamanho da mesa e, quando “passar” pelas pessoas, não passe, mas passeie. Passeie pela vida e pelos outros como se passeasse num belo jardim.



Joana Redondo Bolacha

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Nem eu sei quem sou!


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Há quem julgue que sabe quem somos só por nos ver passar na rua.

Há quem, por ter convivido connosco, tenha certezas sobre o que somos, fomos e havemos de ser.

Nós próprios, na maior parte das ocasiões, estamos convencidos da nossa identidade.

Mas será que sabemos mesmo quem somos? Talvez não… Não.

O que fomos acaba por se ir distorcendo, uma vez que, por um lado, se vai afastando e perdendo nitidez, e por outro, podemos continuar a desconhecer os porquês de cada dia.

O que sou está em constante construção, mudança, evolução. Desde o momento em que fomos concebidos até à hora da morte, há um longo caminho em que se sucedem muitas distâncias e saltos, voltas e revoltas, encontros e desencontros, partidas e regressos.

Sou livre e a minha liberdade é tão rica que consigo escapar à compreensão da minha própria inteligência.

Com humildade, talvez seja capaz de me procurar por entre os sinais que deixo em cada decisão. Talvez o outro possa ajudar-me a conhecer-me. Talvez um dia alguém, no outro mundo de que este faz parte, me revele as respostas a todas as minhas questões sobre o que sou.

Mas se nem eu mesmo me conheço, como posso pensar que sou capaz de ter certezas a respeito dos outros ao ponto de passar o tempo a ditar sentenças sobre eles?

É errado julgar os outros. Antes de tudo o mais, porque não os conheço.

Posso ajudá-los, partilhando com eles alguma pista que me pareça ser autêntica. Mais do que isso é algo prejudicial para eles e ainda mais para mim.

Há uma paz sublime em viver sem pensar que se sabe tudo, sem julgar os outros, sem perder a humildade de que os porquês e para quês do mundo podem estar muito para além daquilo que sou capaz de entender.

José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Papa: levaremos connosco somente o que doamos


Francisco, um Papa pleno de ternura
"O poder do dinheiro e dos meios económicos com os quais pretendemos com presunção comprar tudo e todos, não poderá ser mais ser usado"


O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (18/11), II Dia Mundial dos Pobres, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice frisou que no Evangelho deste domingo, Jesus “quer instruir os seus discípulos sobre os eventos futuros”.

“Não está em primeiro lugar um discurso sobre o fim do mundo, mas o convite a viver bem o presente, a vigiar e estar sempre prontos para quando seremos chamados a prestar contas de nossa vida. Jesus diz: «Nesses dias, depois da tribulação, o sol vai ficar escuro, a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu».”

Essas palavras fazem-nos pensar no início do Livro do Gênesis que fala da criação: o sol, a lua e as estrelas que desde o início dos tempos brilham em sua ordem e iluminam, sinal de vida, aqui são descritos em sua decadência, enquanto mergulham na escuridão e no caos, sinal do fim.

“Ao invés, a luz que naquele último dia resplandecerá será única e nova: será a luz do Senhor Jesus que virá na glória com todos os santos. Naquele encontro veremos, finalmente, o seu Rosto na luz plena da Trindade; um rosto radiante de amor, diante do qual todo ser humano aparecerá em total verdade”, disse o Papa.

Francisco sublinhou que “a história da humanidade, assim como a história pessoal de cada um de nós, não pode ser entendida como uma simples sucessão de palavras e fatos que não fazem sentido”.

“Não pode ser também interpretada à luz de uma visão fatalista, como se tudo já estivesse pré-estabelecido segundo um destino que subtrai todo espaço de liberdade, impedindo fazer escolhas que sejam o fruto de uma decisão verdadeira.”

No Evangelho de hoje, Jesus diz que a história dos povos e a de cada um têm um fim e uma meta a ser alcançada: o encontro definitivo com o Senhor.

“Não sabemos a hora e nem como acontecerá. O Senhor reiterou que «ninguém sabe nada, nem os anjos no céu, nem o Filho». Tudo é mantido no segredo do mistério do Pai. Sabemos, todavia, um princípio fundamental com o qual devemos nos confrontar: «Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão».”

Segundo o Papa, “o verdadeiro ponto crucial é esse. Naquele dia, cada um de nós entenderá se a Palavra do Filho de Deus iluminou a própria existência pessoal, ou se virou as costas para ela, preferindo confiar nas próprias palavras. Será mais do que nunca o momento de nos abandonarmos definitivamente ao amor do Pai e confiar-nos à sua misericórdia”.

O Papa destacou que “ninguém escapa desse momento, nenhum de nós escapa desse momento”.

“A esperteza, que muitas vezes colocamos em nossos comportamentos para dar crédito à imagem que queremos oferecer, não será mais necessária. Da mesma forma, o poder do dinheiro e dos meios económicos com os quais pretendemos com presunção comprar tudo e todos, não poderá ser mais ser usado. Não teremos connosco nada além do que realizamos nessa vida, acreditando em sua Palavra: tudo e nada do que vivemos ou deixamos de realizar. Levaremos connosco somente o que doamos, o que oferecemos.”

Francisco convidou a invocar a intercessão da Virgem Maria a fim de que a constatação do nosso tempo provisório na terra e de nossa limitação não nos afunde na angústia, mas nos chame à responsabilidade para comigo, o próximo e o mundo inteiro.

(Vatican News)

domingo, 18 de novembro de 2018

Um novo dia


https://www.youtube.com/watch?v=E1hEqUV1t2I


A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum apresenta-nos, fundamentalmente, um convite à esperança. Convida-nos a confiar nesse Deus libertador, Senhor da história, que tem um projecto de vida definitiva para os homens. Ele vai - dizem os nossos textos - mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim.

A primeira leitura anuncia aos crentes perseguidos e desanimados a chegada iminente do tempo da intervenção libertadora de Deus para salvar o Povo fiel. É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua constância e fidelidade serão recompensadas com a vida eterna.
No Evangelho, Jesus garante-nos que, num futuro sem data marcada, o mundo velho do egoísmo e do pecado vai cair e que, em seu lugar, Deus vai fazer aparecer um mundo novo, de vida e de felicidade sem fim. Aos seus discípulos, Jesus pede que estejam atentos aos sinais que anunciam essa nova realidade e disponíveis para acolher os projectos, os apelos e os desafios de Deus.

A segunda leitura lembra que Jesus veio ao mundo para concretizar o projecto de Deus no sentido de libertar o homem do pecado e de o inserir numa dinâmica de vida eterna. Com a sua vida e com o seu testemunho, Ele ensinou-nos a vencer o egoísmo e o pecado e a fazer da vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. É esse o caminho do mundo novo e da vida definitiva.

http://www.dehonianos.org

sábado, 17 de novembro de 2018

Graças a Deus que há ateus


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Graças a Deus que há ateus. Não o digo de forma irónica, nem quero com isto achar que não terão "salvação", nos últimos momentos, aqueles que não acreditam no Pai. Até porque não penso que ninguém à face da Terra rejeitaria Deus, se tivesse verdadeiro conhecimento do Seu amor por cada um de nós. Como tal, crer ou não crer dispõe uma disponibilidade e uma entrega de livre vontade. É, por isso, um ato de plena liberdade. Faz parte das vivências e daquilo que poderá ser mais ou menos a nossa predisposição para que Ele possa, verdadeiramente, fazer parte das nossas vidas. É algo que vem de dentro. Vem de uma aceitação total naquilo que sou, onde incluo inteligência, vivências e convivências, corpo e alma.

Posto isto, é, efetivamente, de dar graças a Deus pelos ateus, porque através deles conseguimos aprofundar e questionar a nossa fé para que ela não fique estagnada. E, acima de tudo, para termos plena consciência da loucura que depositamos n'Aquele em quem acreditamos.

A loucura da nossa fé baseia-se num Deus que, na sua entrega total, morreu numa cruz, e a verdade é que sem isto não haveria fundamento, nem razão para professarmos um credo. E nesta interação com aqueles que não acreditam podemos perceber que, muito mais do que esta loucura ser ou não de todos (porque Deus, inegavelmente, é de todos e para todos), é entendermos que numa ou outra circunstância das nossas vidas existiu ou não um "clique" ou um sopro do Espírito Santo que nos voltasse o olhar para aquilo que vai muito para além do que podemos contemplar. 


Caminharmos com aqueles que não acreditam é termos verdadeira consciência das dúvidas e dos medos que nos abalam enquanto humanos. É sabermo-nos colocar perante aqueles que têm dificuldade de aceitar um mistério que em nada é palpável.

Darmos graças a Deus pelos ateus não é para realizarmos um culto de superiorização. Não devemos dar graças a Deus pelos ateus para nos vermos como mais sortudos ou mais importantes por termos o dom da fé, mas é, isso sim, sentirmo-nos iguais na certeza de que esta só evolui e só caminha, quando muitas das vezes conseguimos colocar a nossa vida nesta negação e neste questionamento sobre a existência de Deus em nós, no outro e no Mundo.

É graças aos ateus que vivemos mais conscientes da loucura que alimenta e dá sentido a toda a nossa vida!


Emanuel António Dias

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

NO ENTANTO... SÓ A VERDADE NOS LIBERTARÁ!...

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Esta questão de um homem ser homem, sobretudo quando é posto à prova ou os seus desaprumos e interesses pessoais tentam falar mais alto, parece ser uma miragem! E aqui uso o termo homem como sinónimo do Ser Humano: homem e mulher. Gente que se tem por bem formada, honrada e de bons serviços prestados à sociedade, por vezes, por atitudes elevadamente autorreferenciais ou por um instinto de defesa cooperativo e primário, logo pensa, sem pensar, que a melhor forma de agir é mentir, encobrir ou forjar coisas e loisas, só porque imagina que será uma vergonha assistir à desonra de honra tão honrada!... E quando estas pessoas estão grandemente conotadas com Instituições, Órgãos ou Serviços de qualquer ordem, logo são elas ou eles, as Instituições ou esses Órgãos e Serviços, os primeiros a apanhar pela barba, o todo vai pagar pela parte. Logo saltitam os que vão explorar essas fraquezas para levar a água ao seu moinho. Com essa farinha, porém, sabemos que não se vai amassar o pão da benevolência, atiçar-se-á, isso sim, o desafeto que distancia e destrói. É evidente que não estou a defender quem procede mal ou menos bem. Esses, a ser verdade, sejam responsabilizados. Mas o que é certo, é que essas Instituições, Órgãos ou Serviços acabam sempre por ser achincalhados só porque tais pessoas, de dentro dessas instâncias, se meteram em trabalhos ao optar por sombrios e desleais atalhos. Isso não leva a bom porto, não cura, mata, mata e arrasta consequências imprevisíveis. Pior ainda quando já não se reconhece o ambiente de corrupção em que se vive e tudo se tenta desculpar. O Papa Francisco afirma que o corrupto é pior que o pecador. De facto, o pecador, se não é corrupto, reconhece o pecado, arrepende-se, pede perdão, é humilde, muda de vida. O corrupto no uso de bens e comportamentos, não reconhece, justifica-se, acha normal, sente-se inocente e perseguido, não muda, afirma que os outros é que estão errados e não o entendem...
Quando se cai nesta esparrela e se tentam defesas, acaba sempre por ser pior a emenda que o soneto. Fica-se pior, perde-se credibilidade, confirma-se o adágio que diz que quanto mais alto se julga ser ou é, se sobe ou subiu, maior é o trambolhão e a dor no arcaboiço! A liberdade, que nos distingue e honra, muitas vezes dobra-se e desdobra-se em libertinagem e cobardice, que corrompe e humilha, por não se ser capaz de assumir a responsabilidade dos próprios atos e amar a verdade.
O filósofo Diógenes de Sinope, da Grécia Antiga, que procurava o ideal cínico da autossuficiência, propalava que o homem vivia artificialmente e de maneira hipócrita. Por isso, ele, Diógenes, aspirava a uma vida que não dependesse dos desmandos da civilização corrupta. Diz-se que vivendo num barril, em jeito de pocilga ou coisa assim, de quando em vez de lá saía para saborear o ar fresco de fora de pipo tão sarrento. Saía a deambular pelas ruas da cidade, com uma lanterna acesa na mão, alegando que andava à procura de um homem honesto e feliz, coisa que ele entendia ser mais difícil de encontrar que uma agulha no palheiro. Neste covil dos mortais, para ele, honesto honesto, ninguém, só os cães, e dizia porquê.
O Rei David, ao pressentir os passos da morte, chamou o seu filho Salomão e disse-lhe: “Eu vou seguir o caminho de todos os mortais. Tu, sê forte e comporta-te como homem...” (1Reis 2, 1-4. 10-12). “Comporta-te como homem”, disse-lhe!... David lá saberia porquê, mas, com certeza, não lhe terá dito isso por ele ir à missa todos os dias, até porque, nesse tempo, Missa não havia...
O Santo Papa Paulo VI, quando em maio de 1967 visitou o Santuário de Fátima, exortou, alto e em bom som para que toasse no mundo inteiro: “Homens, sede homens. Homens, sede bons (...) recomeçai a aproximar-vos uns dos outros com intenções de construir um mundo novo; sim, um mundo de homens verdadeiros, o qual é impossível de conseguir se não tem o sol de Deus no seu horizonte ....”.
Com vontade ou sem ela, por cobardia ou por convicção, quem apresentou o verdadeiro Homem ao mundo, foi Pilatos. Disse ele ao povo: “eu vou mandar trazer aqui fora o Homem, para que saibais que não encontro n’Ele culpa alguma”. Jesus, impávido mas sofrido, saiu para fora e Pilatos apresentou-O: “Eis o Homem!” (cf. Jo 19, 4-5).
De facto, Pilatos não encontrou n’Ele culpa alguma, julgou-O justo, sabia que ele tinha passado pelo mundo a fazer o bem. No entanto, quis defender o seu lugar, quis agradar ao povo, era subserviente aos chefes, não queria perder a sua honorabilidade, foi cobarde, condenou um inocente, o Homem! O Homem, porém, não perdeu as estribeiras, manteve-Se como Homem, firme e sereno na verdade, não pagou o mal com o mal, desculpou a multidão e pediu ao Pai que lhe perdoasse, ofereceu a Sua vida por amor, mandou que fizéssemos como Ele fez!... Ressuscitando, o espanto e a alegria voltaram a tomar conta de todos: a Sua origem, o Seu poder, a Sua sabedoria, a Sua inteligência, a Sua dedicação a todos, o que Ele disse e fez, tudo, tudo voltou a ser recordado e a Sua fama corria cada vez mais por toda a parte. Muitos de entre a multidão que outrora se apertavam para O ver, ouvir e tocar, confirmados na força do Espírito, deixaram tudo para O seguir. Na verdade, Ele era, é, e continuará a ser a Boa Notícia, a grande alegria para todo o povo, o Homem que se identificou com a verdade e nos disse que só a verdade nos libertará. Dois mil anos depois, porém, continua-se a meter a cabeça na areia. Por dá cá aquela palha, para não se ferir a vaidade e a importância humanas, sempre mal coladas em pés de barro, recusa-se a Verdade e entra-se em fabulações. No entanto... só a Verdade nos libertará!

D. Antonino Dias . Bispo de Portalegre Castelo Branco
Portalegre, 16-11-2018.

A semana do Papa - 15 Novembro

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O sonho começa em nós


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Os sonhos são pedaços de paraíso. Sonhos são pedaços de amor e doçura numa realidade tantas vezes amargurada pela violência, pela injustiça e pelo ódio. Os sonhos não escolhem a sua casa, não escolhem pessoas, país ou realidade. Os sonhos dão-nos asas para voar. Os sonhos são universais.

Sonhar não é proibido nem punido por lei ainda que por vezes nos façam pensar que não podemos sonhar demasiado alto por ser irrealista, porque nunca iremos lá chegar. Fernando Pessoa diz-nos que somos do tamanho dos nossos sonhos. Somos do tamanho daquilo que nos permitimos sonhar, somos do tamanho do que nos permitimos ser. Quantas vezes chegamos a um momento da nossa vida em que simplesmente nos impedimos de sonhar?

Tantas vezes fiquei envergonhada quando me perguntavam: “com o que é que sonhas?”. Foi nesse momento em que percebi que devia deixar de usar rédeas para os sonhos e me permiti sonhar sem horizontes ou limites. Foi nesse momento que me permiti sonhar com aquilo que muitos diriam ser impossível, improvável, irreal. Pelo caminho descobri que só é impossível o que tu acreditares que é. O impossível é só algo por fazer, por acontecer.

Não sonho com casas, com emprego ou carros de alta gama. Sonho com o amor. Sonho com um mundo justo, de amor, serenidade e paz. Sonho com um mundo sem violência. Onde cada um independente do seu credo, da sua raça, da sua sexualidade ou idade pode ser, simplesmente ser em liberdade. Seria fácil pensar na impossibilidade de este meu sonho. Seria fácil confiar que nunca vai acontecer. Mas eu acredito, e por acreditar sou parte da mudança. Mahatma Gandhi deixou-nos o truque acerca de como concretizar os nossos sonhos: “sê a mudança que queres ver no mundo”. Nelson Mandela repetiu-nos: “parece sempre impossível até estar feito”. Então ponhamos mãos à obra. A mudança começa em nós. O sonho começa em nós. Deixemos de esperar. Este é o momento. Então deixemos de esperar, de adiar ou de olhar para o lado a ver se alguém se adianta a nós. Deixemos todas as desculpas e confiemos em nós. Ousemos deixar as roupas usadas, os hábitos enraizados e recreando-nos vamos a descobrir que todo o mundo transformou-se em arco-íris e se recriou connosco.

Paula Ascenção