É mais fácil recordar a pequena gratidão que os outros nos devem, do que aquela sem medida, que nos torna devedores de todos.
Não reparamos, ou nem sempre reparamos, quanto a nossa vida é amparada por uma coreografia anônima de gestos, que generosamente confluem ao nosso encontro; quanto é sustentada pela multiplicação quotidiana de dádivas, pela laboriosa fadiga de uma multidão de conhecidos e desconhecidos, pela conspiração benevolente do amor.
Não reparamos, ou nem sempre reparamos, quanto dependemos desse fluxo de vida que é maior do que nós e no qual tantas mulheres e homens se empenham intensamente.
É mais fácil considerarmos que tudo o que temos é um direito natural e adquirido, em vez de aceitarmos a mais manifesta das verdades: que a vida é dom, que as coisas mais importantes nós as recebemos como pura graça, que tudo o que é amável nos excede.
É mais habitual nos dividirmos entre a reivindicação áspera e o resmungo exasperado, prisioneiros da sonâmbula ingratidão que se torna um labirinto, em vez de encontrar tempo para aquela gentileza espiritual que nos faz expressar mais vezes o reconhecimento fundamental que devemos aos outros.
Por isso Te peço Senhor: dá-me um coração bondoso, humilde e grato. Dá-me um coração consciente até ao fim do que um coração hipotecado.
| Cardeal D. José Tolentino MendonçaI
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