Somos outros. E nem sempre nos recordamos disto. Vivemos fechados em nós, acreditando que só se salva quem não se dá, quem não se entrega, quem não se revela. Vivemos mais ligados do que nunca, mas nunca estivemos tão desligados dos outros. Nunca estivemos tão longe daqueles que deveriam ser tão próximos. Daqueles que deveriam ser nosso próximo. Sim, íntimos. Numa relação de proximidade e igualdade. Respeitando-nos, olhando-nos e amando-nos.
Somos outros. E como precisamos deste amor. Deste amor de uns pelos outros. Como necessitamos dos olhares que marcam a nossa história. Como precisamos desta partilha de abraços que nos saciam a sede do toque e que satisfazem esta vontade de sermos habitados por alguém. Como necessitamos desta partilha de lágrimas capaz de regar os nossos medos, as nossas angústias e as nossas inquietações. Como precisamos da partilha de gargalhadas que nos avivam os dias, nos abrilhantam a alma e nos recordam a bela sinfonia de uma vida partilhada.
Somos outros. E isto deveria estar para sempre presente naquilo que somos e fazemos. Somos outros e deveríamos andar gratos por todos os que nos carregaram e nos carregam aos seus ombros. Somos outros. Somos esses outros que arriscaram trilhar o caminho da vida ao nosso lado. Trilharam-no em diferentes palcos e em diferentes ritmos, mas deram sinais da sua presença. E foram, confirmados em tantos momentos, presentes de Deus.
Somos outros, porque a vida não se ganha na individualidade. Somos outros, porque a vida se estende para além das nossas necessidades. Somos outros, porque a nossa vida ganha a forma de tantos e tantas. Somos outros, porque a nossa vida só se engrandece quando permitimos que a mesma se encontre em abraços.
Hoje, antes de voltares à tua rotina, questiona-te: eu sou outros? Quem são os meus “outros”? Quem são os que vivem em mim?
Emanuel António Dias
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