terça-feira, 11 de julho de 2023

Aprendes com os erros?


Esta é uma pergunta com “rasteira”. Acredito, mesmo, que aprendemos pouco com os erros. Ou, antes, não aprendemos o suficiente para não deixar de errar. Mas, afinal, o que se passa connosco para não conseguirmos cometer um disparate (ou um erro) numa vez única? O que nos leva a repetir, a voltar a cair no mesmo sítio? Na mesma lama, no mesmo buraco, na mesma armadilha que já ali estava antes?

É fácil. O que nos leva a repetir os erros é o esquecimento. Ou a falta de memória. Imaginemos a seguinte situação: o ano passado apanhámos um escaldão. A dor da pele a estalar, a cor rosada que repelia qualquer toque, o calor a espalhar-se por todo o corpo como se tivéssemos uma fogueira acesa debaixo da pele. Um horror. Enquanto cobríamos a pele ferida e magoada com este ou aquele unguento, repetíamos mentalmente afirmações como: nunca mais vou à praia; nunca mais fico tanto tempo ao sol; nunca mais volto a cometer esta estupidez.

E o que nos acontece, tantas vezes, no ano seguinte? Voltamos a repetir o erro. Confiamos que não há de ser assim tão mau. Que o sol não estava assim tão forte e que pusemos protetor suficiente. Repetimos porque nos esquecemos da dor que sentimos antes. Daquele queimar que nos deixava dormentes e desconfortáveis. Como se quiséssemos fugir da pele que vestíamos.

O que nos faz repetir os erros é a nossa memória. Seria insuportável manter presente a dor do escaldão do ano anterior. Além de que já não combinaria com a nossa pele recuperada e recomposta.

Infelizmente, muitos de nós precisamos de repetir para lembrar. Para entranhar a sensação de não querer mais aquele escaldão. Aquela pessoa. Aquele relacionamento tóxico. Aquele padrão de resposta e de reação. A repetição cansa-nos porque nos traz a dor de agora e a dor de antes. Mas é preciso repetir para lembrar como deve ser. Para que o corpo grite que já chega. Que disto não queremos mais. Que desta água não bebemos. Que daquele sol não queremos mais feridas.

Só quando temos a humildade de reconhecer que vamos errar mais do que uma vez (no mesmo lugar e pelos mesmos motivos) é que estaremos disponíveis para perceber o que nos fará quebrar essa repetição e decidir fazê-lo.

Enquanto não aprenderes e não tiveres coragem para olhar, prepara-te para viveres numa espiral de déjà-vus.


Marta Arrais


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