A Jornada Mundial da Juventude já se faz sentir, com muita alegria e esperança. Gente de múltiplas culturas, cores e feitios, de várias proveniências e distâncias, iniciaram esta Peregrinação de Fé em busca da cultura do encontro. São João Paulo II, peregrino incansável, dizia que o objetivo principal das Jornadas “é trazer de volta ao centro da fé e da vida de cada jovem a pessoa de Jesus, para que Ele se torne o ponto de referência constante e para que seja também a verdadeira luz de cada iniciativa e de cada compromisso educativo com as novas gerações”. No seu conjunto, todas as Jornadas Mundiais “aparecem como um convite contínuo e premente a basear a vida e a fé na rocha que é Cristo.”
Quem faz uma peregrinação de fé, procura prepará-la e vivê-la o melhor possível. Impõe-se a si próprio objetivos, exigência e esforço pessoal, pois sabe que o verdadeiro caminho a percorrer não é tanto a passagem de um lugar para outro. É, sim, aquele caminho que conduz da realidade física à espiritual, da vida do corpo à vida no Senhor, é um caminho ‘mais interior e vital que espacial’. A alegria dum cristão não está tanto em fazer uma peregrinação para estar num lugar santo. Está sobretudo em viver santamente. Em procurar Deus para o encontrar e, encontrando-o, o buscar e seguir com maior fervor, como afirmava Santo Agostinho. Tenho entre mãos “A Peregrinação no Grande Jubileu do Ano 2000”, um texto publicado pela Igreja na viragem do milénio e que nos esclarece sobre os requisitos a ter em conta para que uma peregrinação conduza, de facto, à verdadeira cultura do encontro.ENCONTRO com o mistério de Deus, descobrindo, através de Jesus, o seu rosto de amor e de misericórdia. Desde o seu nascimento, o homem é chamado ao diálogo com Deus (cf. GS19). O caminho a percorrer para esse encontro é Cristo, cuja experiência mais forte se realiza sobretudo na celebração eucarística do mistério pascal.
ENCONTRO com a Palavra do Senhor, através da sua escuta e reflexão, fonte e alimento da vida espiritual. “Os momentos de peregrinação, por causa das circunstâncias que os suscitam, das metas a que se dirigem, da sua proximidade às necessidades e alegrias quotidianas, são um campo favorável ao acolhimento da Palavra de Deus nos corações”.
ENCONTRO com a Igreja, convocada pela Palavra e alimentada pelo Corpo de Cristo. Cada um sente-se membro da única família de Deus. Uma família animada na unidade e conduzida ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, pela mão visível dos pastores que têm a missão de a conduzir e que, na JMJ, está presente da forma mais alta possível, na pessoa do Santo Padre, o primeiro entre todos, o sucessor de Pedro, o Vigário de Cristo, “o princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e comunhão” (LG, 18).
ENCONTRO no Sacramento da Reconciliação. Aqui se revive a dolorosa experiência do filho pródigo, a experiência dolorosa do pecado e da saudade da casa paterna, empenhando-se no regresso penitente e humilde. Aqui se experimenta a alegria do abraço do Pai misericordioso, que reconduz da morte à vida: “Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e encontrou-se” (Lc 15, 24).
ENCONTRO com Cristo eucarístico, o pão que sustenta no caminho e torna presente a Páscoa de Cristo. A reconciliação com Deus e com os irmãos leva à celebração eucarística. A Eucaristia acompanha a peregrinação que deve refletir o acontecimento pascal do êxodo, sim, mas, sobretudo, deve refletir o evento de Cristo que celebra a sua Páscoa no final da sua longa viagem rumo à cruz e à glória.
ENCONTRO com a caridade, antes de mais com Deus que foi o primeiro a amar-nos, enviando o seu filho ao mundo. Mas também no apoio e na partilha, em sinais que curam e consolam, que geram empatia entre os companheiros de viagem, tal como Cristo fez durante a sua peregrinação sobre a terra.
ENCONTRO com a humanidade. Mesmo que todas as religiões tenham os seus itinerários sagrados, o cristão, sem proselitismos, deve estar ao lado de todos quantos procuram a Deus de coração sincero. A peregrinação transforma-se numa ocasião de comunhão solidária com os valores de outros povos, irmãos na humanidade, onde cada um tem origem no único Criador de todos, ao qual, os reis da terra e todos os povos, os jovens, os idosos e as crianças, devem bendizer “porque só o seu nome é excelso, a sua majestade está acima do céu e da terra” (Sl 148,11-13).
ENCONTRO pessoal com Deus e consigo mesmo, através da reflexão, da meditação, da oração, do exame de consciência, do silêncio. As grandes perguntas sobre o sentido da existência e do destino último do homem fazem com que a peregrinação não seja apenas “um movimento do corpo, mas sobretudo um itinerário da alma”.
ENCONTRO cósmico com Deus. A contemplação da beleza é fonte de espiritualidade, tudo manifesta e proclama a glória de Deus. Há beleza nas pessoas, na paisagem do caminho, no local de destino, na arte que se encontra, nas culturas mais altas e nas mais populares. A espiritual do homem moderno passa pela sua maior disponibilidade para apreciar a natureza e a contemplar, pois tudo narra o poder e a glória do Senhor.
ENCONTRO com Maria, a Mãe do Senhor. Nela se une a peregrinação do Filho de Deus até à humanidade com a peregrinação de fé da própria humanidade. O seio de Maria foi o primeiro santuário, a tenda do encontro entre a divindade e a humanidade. É pelas estradas do amor que o cristão se põe em viagem com Maria pelas estradas da fé e do mundo. E há pressa no ar, é preciso sair apressadamente a promover a cultura do encontro com Deus, consigo mesmo, com os outros, com a natureza.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 28-07-2023.
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