terça-feira, 30 de abril de 2024

Um dia houve alguém que quis ser a Liberdade.


Um dia houve alguém que quis ser a Liberdade. Entregou-se por inteiro para que todos pudessem ser. Tornou-se vida doada para que ninguém fosse oprimido. Apostou numa vida disruptiva para que a liberdade existisse a partir da Verdade.

Um dia houve alguém que quis ser a Liberdade. E para isso usou palavras de vida eterna e como se não bastasse alimentou-as com atos. Ergueu quem não se sabia amado. Amparou quem já não encontrava sentido na vida. Perdoou quem se sentia perdido no erro e na falha. E quando já tudo parecia finalizado, morto eis que deu a conhecer a possibilidade do recomeço.

Um dia houve alguém que quis ser a Liberdade. E conseguiu sê-lo porque não vivia acorrentado às imagens do "sempre foi assim". Conseguiu sê-lo porque se deixava guiar pelo Espírito vivificante. Conseguiu sê-lo porque se sabendo filho muito amado, distribuiu todo esse amor para que todos e todas também sentissem a força libertadora de um amor revelado por um Deus-Pai com entranhas de Mãe.

Um dia houve alguém que quis ser a Liberdade. E hoje? Quem dá a conhecer a sua obra? A sua mensagem? Quem se dispõe a erguer quem se sente preso pelo passado? Quem se dispõe a erguer quem se sente preso pelo medo? Quem se dispõe a erguer quem se sente preso por não poder simplesmente ser?

Um dia houve alguém que quis ser a Liberdade e conseguiu-o. Um dia houve alguém que foi a Liberdade porque fez da Sua vida uma porta: a porta que dá acesso ao amor libertador do recomeço!


Emanuel António Dias

segunda-feira, 29 de abril de 2024

O que te dizem os imprevistos?



Ninguém gosta de imprevistos. De cancelamentos. De voltas desnecessárias às rotundas do dia-a-dia. Os imprevistos dizem-nos que não controlamos nada. Que as nossas vontades e desejos estão submetidos ao improvável, ao inesperado e ao inexplicável. E a forma como os ecos desses imponderáveis nos afetam diz muito sobre nós e sobre a nossa forma de viver a vida e os nossos dias.

Penso que todos nós encontramos algum conforto no controlo. No imaginar a vida como a prevemos e como gostaríamos que fosse. Essa sensação de conforto dá-nos a ilusão de premeditar o que vai acontecer. Amanhã acordo e faço isto e aquilo e a outra coisa. Muitas das vezes a vida deixa-nos acreditar no previsível. No esperado e no imaginado. No entanto, e tantas outras vezes, a vida brinda-nos com o arremesso do que não esperávamos. Pode ser um imprevisto menor como um cancelamento de um voo, como uma estrada cortada, como uma pessoa que reage de forma diferente do habitual ou menos simpática. Outras vezes os imprevistos são maiores do que nós. Trazem a morte. O improvável da novidade triste dos que partem. E isso deixa-nos com uma cratera no peito.

Não estamos preparados para o que não queremos que aconteça. Queremos que a maré esteja sempre vazia para podermos mergulhar em segurança. E, não poucas vezes, a vida apresenta-se-nos como o mar picado do Guincho ou da Nazaré. E lá temos de adaptar a prancha-coração ao que não sabemos que vai chegar.

Essa capacidade de adaptação, de reorganização e de reajuste traz-nos uma aprendizagem essencial: estamos aqui emprestados, não controlamos absolutamente nada e teremos de nos ajustar a seja o que for que a vida traga. Criar resistência ao que a vida é acaba por ser um não viver o que está guardado para nós.

Reagir aos imponderáveis e ficar zangado faz parte do caminho. Fazer o luto das expectativas criadas é, muitas vezes, tão difícil quanto fazer o luto de uma partida ou de um abandono. Mas é para isso que aqui estamos. Para perceber que não sabemos a durabilidade do nosso corpo neste universo e nesta dimensão onde nos encontramos.

Resta-nos agradecer. Trazer de volta a paz aos dias menos controlados. Mais irrequietos e mais revoltos como as ondas da Praia de Espinho.

Enquanto não sabemos se nos falta muito ou pouco para andar por cá, que possamos encolher a nossa arrogância e expandir as arestas da alma ao que estiver para vir.


Marta Arrais

domingo, 28 de abril de 2024

FONTE DE VIDA

 




A liturgia do quinto Domingo da Páscoa fala-nos de Jesus como a fonte da Vida autêntica. Os discípulos de Jesus, unidos a Ele, bebem d’Ele essa Vida e testemunham-na em gestos concretos de amor. É assim que a proposta de Vida nova de Deus alcança o mundo e a vida dos homens.

No Evangelho Jesus, em contexto de despedida, apresenta-se aos discípulos como “a verdadeira videira” e convida-os a permanecerem ligados a Ele para receberem d’Ele Vida. Jesus (a videira) e os discípulos (os ramos) produzirão frutos bons, os frutos que Deus espera. Enquanto se mantiverem unidos a Jesus, os discípulos serão testemunhas verdadeiras, no meio dos homens, da Vida nova de Deus.

O que é que pode interromper a nossa união com Cristo e tornar-nos ramos secos e estéreis? Tudo aquilo que nos impede de responder positivamente ao desafio de Jesus no sentido do O seguir provoca em nós esterilidade e privação de Vida: o egoísmo, a autossuficiência, o orgulho, a vaidade, a arrogância, a preguiça, o comodismo, a ganância, a instalação, o amor ao dinheiro ou aos aplausos… O que é que, na minha maneira de ser ou no meu estilo de vida constitui obstáculo para que eu permaneça unido a Jesus?

A escuta da Palavra de Deus tem um papel decisivo no processo (de conversão) destinado a eliminar tudo aquilo que impede a nossa união com Cristo. Precisamos de escutar a Palavra de Jesus, de a meditar, de confrontar a nossa vida com ela, de olhar para os desafios que ela nos deixa… Então, por contraste, vão tornar-se nítidas as nossas opções erradas, os valores falsos e essas mil e uma pequenas infidelidades que nos impedem de ter acesso pleno à Vida que Jesus oferece. Que espaço é que tem na minha vida a escuta da Palavra de Deus? Ela é, para mim, critério para afinar e redimensionar as minhas opções e apostas?

A primeira leitura, a pretexto de nos contar a inserção de Paulo de Tarso na comunidade cristã de Jerusalém, lembra-nos que a experiência cristã é um caminho feito em comunidade: é no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece. A comunidade cristã deve ser uma casa de portas abertas, onde todos têm lugar e onde todos podem fazer, de mãos dadas com os outros irmãos, uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado.

A Igreja é uma comunidade formada por homens e mulheres e, portanto, marcada pela debilidade e fragilidade; mas é, sobretudo, uma comunidade que marcha pela história assistida, animada e conduzida pelo Espírito Santo. O “caminho” que percorremos como Igreja pode ter avanços e recuos, infidelidades, quedas e vicissitudes várias; mas é um caminho que conduz a Deus, à Vida definitiva à salvação. A presença do Espírito dirigindo a caminhada dá-nos essa garantia. Confiamos na ação do Espírito? Acreditamos que a Igreja, apesar da fragilidade dos seus membros, será sempre “sacramento universal de salvação”, pois é conduzida pelo Espírito de Deus?

A segunda leitura lembra que na base da vida cristã autêntica está o “acreditar em Jesus” e o amar os irmãos “como Ele mandou”. São esses os “frutos” que Deus espera de todos aqueles que estão unidos a Cristo. Se testemunharmos em gestos concretos o amor de Jesus, estamos unidos a Jesus e a vida de Jesus circula em nós.

Por vezes, apesar do nosso esforço e da nossa vontade em acertar, sentimo-nos indignos e longe de Deus. Como é que sabemos se estamos no caminho certo? Qual é o critério para avaliarmos a força da nossa relação e da nossa proximidade com Deus? A vida de uma árvore vê-se pelos frutos que ela dá… Se realizamos obras de amor, se os nossos gestos de bondade e de solidariedade curam o sofrimento dos nossos irmãos, se a nossa ação torna o mundo um pouco melhor, é porque estamos em comunhão com Deus e a vida de Deus circula em nós. O nosso amor a Deus vê-se nos nossos gestos? Os nossos gestos reproduzem e anunciam o amor e a bondade de Deus na vida daqueles que caminham ao nosso lado?

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sábado, 27 de abril de 2024

Há pessoas...

 


Há pessoas que nos abrem a porta e deixam entrar.

Que são casa, colo, porto de abrigo. Contagiam com um sorriso e aquecem com um abraço.

Há pessoas que nos confortam a alma; que nos aliviam a bagagem  e nos preenchem de amor.

Há pessoas que são sol no meio da tempestade. Que nos levantam, caminham ao nosso lado e ensinam a voar.

Há  pessoas que nos amam todos os dias, especialmente nos mais difíceis.

Há pessoas que nos ensinam como a vida é o melhor lugar de todos para florir;  Que nos puxam, que nos tocam e ensinam a persistir. 

Há pessoas que nos mostram a beleza no simples; que em cada flor existe perfume e em cada pássaro uma melodia.

Há pessoas que são estrelas e brilham para te iluminar.
Há pessoas que te esperam, para que as ilumines e possam brilhar. 

Carla Correia

sexta-feira, 26 de abril de 2024

COMUNICAÇÃO SOCIAL COM SABEDORIA DO CORAÇÃO



A inteligência artificial volta a ser tema do Papa Francisco, desta vez na sua Mensagem para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, em maio. E porquê de novo e a este propósito? Porque ela está “a modificar, de forma radical, também a informação e a comunicação e, através delas, algumas bases da convivência civil”.
Sendo contra “as leituras catastróficas” e os seus “efeitos paralisadores”, o Papa defende que “o nosso posto é no devir”, mas “permanecendo sensíveis a tudo o que nele houver de destrutivo e não-humano”. Para ele, só um olhar espiritual, só uma sabedoria do coração conseguem “ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana”. É esta sabedoria do coração que dá sabor à vida e às coisas da vida e do mundo, que “permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós”. E esta sabedoria deixa-se encontrar, deixa-se ver, “antecipa-se a quem a deseja e vai à procura de quem é digno dela”. Mais: ela está “com quem aceita conselho, com quem tem um coração dócil, um coração que escuta”. Ela permite “ver as coisas com os olhos de Deus, compreender as interligações, as situações, os acontecimentos e descobrir o seu sentido”, diz Francisco.
Não é a sabedoria das máquinas, nem o homem deve entrar por um certo “delírio de omnipotência, crendo-se sujeito totalmente autónomo e autorreferencial, separado de toda a ligação social e esquecido da sua condição de criatura”. De facto, tudo pode ser contaminado pela tentação de o homem se querer “tornar como Deus sem Deus, isto é, a tentação de querer conquistar com as próprias forças aquilo que deveria, pelo contrário, acolher como dom de Deus e viver na relação com os outros”.
Os avanços tecnológicos manifestam a admirável capacidade da inteligência e criatividade humanas, mas todos desejamos que eles sejam mais uma oportunidade do que um perigo de consequências imprevisíveis. Francisco refere que já na primeira onda de inteligência artificial, a das redes sociais, “compreendemos a sua ambivalência, constatando a par das oportunidades também os riscos e as patologias. O segundo nível de inteligências artificiais geradoras, marca, indiscutivelmente, um salto qualitativo”, mas é preciso saber como “contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial e contrariar a sua utilização para a redução do pluralismo, a polarização da opinião pública ou a construção do pensamento único”.
Sendo chamados a crescer juntos, em humanidade e como humanidade, afirma o Papa, o desafio que temos diante de nós “é realizar um salto de qualidade para estarmos à altura duma sociedade complexa, multiétnica, pluralista, multirreligiosa e multicultural”. As grandes possibilidades que os novos instrumentos de comunicação e conhecimento favorecem para fazer o bem, “são acompanhadas pelo risco de que tudo se transforme num cálculo abstrato que reduz as pessoas a dados, o pensamento a um esquema, a experiência a um caso, o bem ao lucro, com o risco sobretudo de que se acabe por negar a singularidade de cada pessoa e da sua história, dissolvendo a realidade concreta numa série de dados estatísticos”. A boa informação “implica o corpo, o situar-se na realidade; pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha”. A Inteligência Artificial dará um contributo ímpar ao jornalismo local “se o apoiar; se valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador; se devolver a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, da própria comunicação”.
E eis as muitas questões que a Mensagem coloca: “Como tutelar o profissionalismo e a dignidade dos trabalhadores no campo da comunicação e da informação, juntamente com a dos utentes em todo o mundo? Como garantir a interoperabilidade das plataformas? Como fazer com que as empresas que desenvolvem plataformas digitais assumam as suas responsabilidades relativamente ao que divulgam daí tirando os seus lucros, de forma análoga ao que acontece com os editores dos meios de comunicação tradicionais? Como tornar mais transparentes os critérios subjacentes aos algoritmos de indexação e desindexação e aos motores de pesquisa, capazes de exaltar ou cancelar pessoas e opiniões, histórias e culturas? Como garantir a transparência dos processos de informação? Como tornar evidente a paternidade dos escritos e rastreáveis as fontes, evitando o para-vento do anonimato? Como deixar claro se uma imagem ou um vídeo retrata um acontecimento ou o simula? Como evitar que as fontes se reduzam a uma só, a um pensamento único elaborado algoritmicamente? E, ao contrário, como promover um ambiente adequado para salvaguardar o pluralismo e representar a complexidade da realidade? Como podemos tornar sustentável este instrumento poderoso, caro e extremamente energívoro? Como podemos torná-lo acessível também aos países em vias de desenvolvimento?”

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 26-04-2024.

Manter o bem à tona


Somos constantemente sobressaltados por pensamentos menos bons em relação a nós e aos outros. Como vivemos em sociedade é inevitável a expressão ”só não sente quem não é filho de boa gente”. O problema é que às vezes sentimos coisas de mais!

Diz-me amiga, quantas vezes viste uma atitude do teu colega do trabalho que não gostastes e começas a pensar mal dessa pessoa e a olhar de canto.

Quantas vezes, na nossa família e amigos, esperávamos algo em concreto, um afeto, uma palavra, e começamos a sentir um certo vazio que nos faz olhar para as pessoas de uma maneira menos carinhosa?

Quantas vezes, nos grupos em que participamos, começamos a ver as coisas numa maneira perigosamente má. Ora porque achamos que um quer protagonismo, ora porque achamos que o outro nos ignora, ora porque damos opinião e somos criticadas ora porque gostávamos que fosse de uma maneira e é de outra…?

Pois, pois, o problema é que isso nos tolda a mente, nos infeta as conversas e nos desvia do que realmente é importante. De repente as nossas conversas ficam minadas, os nossos comentários menos simpáticos e vemos o mal em tudo e todos. Está na hora de parar porque significa que te estás a “afundar”. Por mais que bracejes e estiques o pescoço, apenas te estás a afundar mais e a deixar-te levar para o “fundo do poço”.

Por isso sinto que temos de fazer um enorme esforço mental para olhar para os acontecimentos com frieza, para avaliar o que sentimos com alguma relatividade e com sentido crítico em relação a nós mesmos pois, tal como avaliamos os outros, esses têm o mesmo direito de o fazer em relação a nós.

Temos mesmo de nos esforçar para manter o bem das coisas à Tona, o bom das pessoas como prioridade e alimentar conversas sãs e positivas, sob pena de, quando nos contornarmos, estarmos muito longe da luz, muito longe do ar e muito longe de conseguirmos ser bons.

E tu amiga, tens conseguido manter-te à Tona?


Raquel Rodrigues

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Tens de vencer o teu orgulho



O orgulho é um erro que faz parte da nossa natureza, sendo que me é possível tornar-me maior do que esse sentimento que me faz sentir acima dos outros!

Quem é altivo não pede ajuda, prefere cair… levanta-se sozinho e em pânico pela possibilidade de alguém o ter visto a ser, afinal, igual a todos os outros. É uma espécie de condenação a uma vida solitária. Julgam-se acima, mas vivem abaixo dos seus semelhantes, em virtude de terem escolhido mostrar apenas aquilo em que se julgam bons.

Esconder os nossos males dá-nos força, espaço e tempo. Passamos a ouvir apenas os conselhos de quem pensa como nós… porque admitir que o mal é mal implica melhorar e isso, julgam os orgulhosos, é um processo apenas para outros: os fracos.

Não querem ficar a dever nada a ninguém. Chamam a isso liberdade, mas é apenas ignorância, pois quem não aceita que a vida feliz só é possível quando nos entreajudamos. Na verdade, o amor não é algo que suponha uma contabilidade comum, é até contraditório, porque só é mesmo meu aquilo que eu tiver sido capaz de dar!

Amar também é aceitar, abrir-se ao outro, ficar a dever-lhe muito, tudo… e ser feliz com isso, sem a preocupação de lhe retribuir cada coisa… apenas com a alegria de se ser amado com verdade e sem que quem nos ama espere algo em troca!

Não olhes para ti. Observa à tua volta e encontrarás muitos exemplos de vidas heroicas a que muito poucos dão atenção. Inspira-te na abnegação dos que são capazes de se esquecerem de si em favor do coração daqueles por quem lutam para amar.

Se julgas que és muito bom, nada precisas de fazer a não ser esperar que a vida e os outros te venham prestar vassalagem… nada disso acontecerá! Então, sentir-te-ás cada vez mais frustrado e injustiçado… ao ponto de te tornares vingativo e insuportável até para ti mesmo! Sai daí!

Não deixes que o orgulho te arruíne o tempo da única vida que tens aqui!

O orgulhoso é infeliz, porque nem ama nem se deixa amar.


José Luís Nunes Martins

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Como se recomeça depois do Amor?



Como se recomeça depois do Amor? Como se acredita na vida depois do Amor?

Como damos sentido à nossa existência depois do Amor? Como damos continuidade ao que somos depois do Amor?

Como pode ser possível sonhar depois do Amor? Como podemos ser mais e melhor depois do Amor?

Como se vence o medo depois do Amor?

Os discípulos de Jesus, depois de terem visto o seu Mestre morrer e sem imaginarem que Ele poderia ser erguido, devem-se ter questionado sobre tudo o que tinham visto, ouvido e sentido. Depois de tanta presença, depois de tantos ensinamentos, depois de te terem assistido a tantos recomeços, depois de terem sido amados como nunca, como poderiam eles e elas continuar as suas vidas depois de tudo?

Mas é aqui que Jesus se reinventa uma vez mais: apresenta-Se no meio dos seus com as suas feridas, desejando a paz e voltando de novo à mesa!

Só é possível recomeçar depois do Amor, se for para amar ainda mais. Só é possível confiar na vida, se for para experimentar de novo o Amor que nos ergue. Só é possível encontrar sentido na nossa existência depois do Amor, se nos permitirmos amar por inteiro. Só é possível continuar com a vida e com os sonhos, se encontrarmos nos outros a alegria e a beleza do Amor desmedido e renovador. Só podemos ser mais e melhor depois do Amor, se vivermos como erguidos e eternos “erguedores”. Só podemos vencer o medo depois do Amor, se arriscarmos na certeza das nossas incertezas.

A novidade da ressurreição é a certeza de que no amor tudo se transforma, inclusive nos momentos em que tudo parece terminado ou morto. Depois do Amor persiste um amor ainda maior. Depois de vivermos o Amor já não há nada em nós que não possa ser (re)erguido. Não há nada em nós que não possa ser (re)suscitado!


: Emanuel António Dias

terça-feira, 23 de abril de 2024

A fonte da vida...



"Faz aos outros o que gostarias que te fizessem a ti."


Passei por esta frase há muito pouco tempo. Apesar de, aparentemente, não ser uma pensamento "estranho" para mim, confesso que ao lê-la, senti como se uma nova realidade clarificasse a minha consciência, de tal forma que fiquei presa a esta perspetiva.

Bem sei, que nem sempre é assim tão simples darmos aos outros o melhor que há em cada um de nós. De tratarmos os outros, constantemente, com amor, atenção, afeto, dedicação,cuidado... Oferecermo-nos em cada dia.

No fundo, sermos para o outro a fonte do que queremos para a nossa vida.

Esta mesma vida que começa e termina em cada um de nós. Uma linha que parece invisível, mas que nos liga a todos num só.

A forma, como cada um de nós a manifesta, pode fazer toda a diferença.
Somos mesmo responsáveis por tocar a vida de quem está ao nosso lado.

Não serei honesta se disser que faço sempre aos outros o que gostaria que me fizessem a mim, mas há algo que tenho aprendido: quanto mais isso acontece, mais alegria e paz eu trago no meu coração.

Nunca perdemos aquilo que oferecemos. Pelo contrário, a nossa fonte fica mais rica e luminosa.


Carla Correia

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Dia do catequista centrado no «Despertar na fé»



O Dia do Catequista da Diocese de Portalegre-Castelo Branco realiza-se a 27 deste mês, no Sardoal, e centra-se no tema «O despertar da fé».

O encontro, que tem início às 10h00 e final previsto para as 16h00, vai ser um dia de formação, convívio e oração que a diocese dedica ao serviço dos catequistas.



domingo, 21 de abril de 2024

Bom Pastor

 




O quarto Domingo da Páscoa é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, pois todos os anos, neste domingo, somos convidados a escutar um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.

No Evangelho é o próprio Jesus que se apresenta como “o Bom Pastor”. Ele ama as suas ovelhas, cuida delas em cada passo do caminho, dá a vida por elas, se for necessário. As ovelhas de Jesus sabem que podem confiar n’Ele, incondicionalmente. Com esta bela imagem, somos convidados a seguir Jesus e a fazer d’Ele a referência fundamental à volta da qual construímos a nossa vida.

Nas nossas comunidades cristãs, temos pessoas que presidem e que animam, pessoas a quem foi confiado o serviço da autoridade. Podemos aceitar, sem problemas, que elas receberam essa missão de Jesus e da Igreja, apesar dos seus limites e imperfeições. Mas convém igualmente ter presente que o único “Pastor verdadeiro”, aquele que nunca falha, aquele que somos convidados a escutar e a seguir sem condições, é Jesus. Procuremos escutar e acolher, com humildade, mas também com consciência crítica, as indicações que nos são dadas pelos líderes das nossas comunidades; mas não nos esqueçamos de as confrontar, para aquilatar da sua validade, com as indicações que nos foram deixadas por Jesus, o Bom Pastor, o nosso único Pastor. Como me posiciono diante daqueles a quem foi confiado, na comunidade cristã, o serviço da autoridade?

Para que distingamos a “voz” de Jesus de outros apelos, de propostas enganadoras, de “cantos de sereia” que não conduzem à vida plena, é preciso um permanente diálogo íntimo com “o Pastor” (Jesus), um confronto permanente com a sua Palavra e a participação ativa nos sacramentos onde se nos comunica essa vida que “o Pastor” nos oferece. Procuro manter um diálogo frequente com Jesus, a fim de ter sempre vivas as suas indicações?

A primeira leitura traz-nos um testemunho de Pedro, proclamado em Jerusalém diante das autoridades judaicas: Jesus é o único Salvador, já que “não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos”. É a forma, muito particular, que Pedro encontrou para dizer que Jesus é o único pastor que nos conduz em direção à Vida verdadeira.

Na segunda leitura
, o autor da primeira Carta de João convida-nos a contemplar o amor de Deus pelo homem. É porque nos ama com um “amor admirável” que Deus está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de fragilidade. Por isso, Deus enviou-nos Jesus, o Bom Pastor.

Como é que os “filhos de Deus” respondem ao dom que Deus lhes faz? No texto que nos é hoje proposto, esta questão não é desenvolvida; contudo, outras passagens da primeira Carta de João lembram que ser “filho de Deus” significa viver de forma coerente com as propostas de Deus (cf. 1 Jo 5,1-3), cumprindo os mandamentos e amando os irmãos, a exemplo de Jesus Cristo. Como é que se processa a nossa resposta ao amor de Deus? Como “filhos de Deus”, procuramos conduzir a nossa vida de acordo com os valores e as propostas de Deus?


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sábado, 20 de abril de 2024

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O LXI DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES












(21 de abril de 2024 – IV Domingo de Páscoa)


Chamados a semear a esperança e a construir a paz


Queridos irmãos e irmãs!

O Dia Mundial de Oração pelas Vocações convida-nos, cada ano, a considerar o precioso dom da chamada que o Senhor dirige a cada um de nós, seu povo fiel em caminho, pois dá-nos a possibilidade de tomar parte no seu projeto de amor e encarnar a beleza do Evangelho nos diferentes estados de vida. A escuta da chamada divina, longe de ser um dever imposto de fora – talvez em nome de um ideal religioso –, é antes o modo mais seguro que temos de alimentar o desejo de felicidade que trazemos no nosso íntimo: a nossa vida realiza-se e torna-se plena quando descobrimos quem somos, as qualidades que temos e o campo onde é possível pô-las a render, quando descobrimos que estrada podemos percorrer para nos tornarmos sinal e instrumento de amor, acolhimento, beleza e paz nos contextos onde vivemos.

Assim, este Dia proporciona-nos sempre uma boa ocasião para recordar, com gratidão, diante do Senhor o compromisso fiel, quotidiano e muitas vezes escondido daqueles que abraçaram uma vocação que envolve toda a sua vida. Penso nas mães e nos pais que não olham primeiro para si mesmos, nem seguem a tendência dum estilo superficial, mas organizam a sua existência cuidando das relações com amor e gratuidade, abrindo-se ao dom da vida e pondo-se ao serviço dos filhos e seu crescimento. Penso em todos aqueles que realizam, dedicadamente e em espírito de colaboração, o seu trabalho; naqueles que, em diferentes campos e de vários modos, se empenham por construir um mundo mais justo, uma economia mais solidária, uma política mais equitativa, uma sociedade mais humana, isto é, em todos os homens e mulheres de boa vontade que se dedicam ao bem comum. Penso nas pessoas consagradas, que oferecem a sua existência ao Senhor quer no silêncio da oração quer na atividade apostólica, às vezes na linha de vanguarda e sem poupar energias, servindo com criatividade o seu carisma e colocando-o à disposição de quantos encontram. E penso naqueles que acolheram a chamada ao sacerdócio ordenado, se dedicam ao anúncio do Evangelho, repartem a sua vida – juntamente com o Pão Eucarístico – pelos irmãos, semeiam esperança e mostram a todos a beleza do Reino de Deus.

Aos jovens, especialmente a quantos se sentem distantes ou olham a Igreja com desconfiança, gostaria de dizer: deixai-vos fascinar por Jesus, dirigi-Lhe as vossas perguntas importantes, através das páginas do Evangelho, deixai-vos desinquietar pela sua presença que sempre nos coloca, de forma benfazeja, em crise. Ele respeita mais do que ninguém a nossa liberdade, não Se impõe mas propõe-Se: dai-Lhe espaço e encontrareis a vossa felicidade no seu seguimento e, se vo-la pedir, na entrega total a Ele.

Um povo em caminho

A polifonia dos carismas e das vocações, que a Comunidade Cristã reconhece e acompanha, ajuda-nos a compreender plenamente a nossa identidade de cristãos: como povo de Deus em caminho pelas estradas do mundo, animados pelo Espírito Santo e inseridos como pedras vivas no Corpo de Cristo, cada um de nós descobre-se membro duma grande família, filho do Pai e irmão e irmã de seus semelhantes. Não somos ilhas fechadas em si mesmas, mas partes do todo. Por isso, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações traz gravada a marca da sinodalidade: há muitos carismas e somos chamados a escutar-nos reciprocamente e a caminhar juntos para os descobrir discernindo aquilo a que nos chama o Espírito para o bem de todos.

Além disso, no momento histórico presente, o caminho comum conduz-nos para o Ano Jubilar de 2025. Caminhamos como peregrinos de esperança rumo ao Ano Santo, para, na descoberta da própria vocação e pondo em relação os diversos dons do Espírito, podermos ser no mundo portadores e testemunhas do sonho de Jesus: formar uma só família, unida no amor de Deus e interligada pelo vínculo da caridade, da partilha e da fraternidade.

Este Dia é dedicado de modo particular à oração para implorar do Pai o dom de santas vocações para a edificação do seu Reino: «Rogai ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). E, como sabemos, a oração é feita mais de escuta que de palavras dirigidas a Deus. O Senhor fala ao nosso coração e quer encontrá-lo aberto, sincero e generoso. A sua Palavra fez-Se carne em Jesus Cristo, que nos revela e comunica toda a vontade do Pai. Neste ano de 2024, dedicado precisamente à oração como preparação para o Jubileu, somos chamados a descobrir o dom inestimável de poder dialogar com o Senhor, de coração a coração, tornando-nos assim peregrinos de esperança, porque «a oração é a primeira força da esperança. Tu rezas e a esperança cresce, avança. Diria que a oração abre a porta à esperança. A esperança existe, mas com a minha oração abro a porta» (Francisco, Catequese, 20/V/2020).

Peregrinos de esperança e construtores de paz

Mas que significa ser peregrinos? Quem empreende uma peregrinação procura, antes de mais nada, ter clara a meta, e conserva-a sempre no coração e na mente. Mas, para atingir esse destino, é preciso ao mesmo tempo concentrar-se no passo presente: para o realizar, é necessário estar leve, despojar-se dos pesos inúteis, levar consigo apenas o essencial e esforçar-se cada dia por que o cansaço, o medo, a incerteza e a escuridão não bloqueiem o caminho iniciado. Por isso ser peregrino significa partir todos os dias, recomeçar sempre, reencontrar o entusiasmo e a força de percorrer as várias etapas do percurso que, apesar das fadigas e dificuldades, sempre abrem diante de nós novos horizontes e panoramas desconhecidos.

Este é precisamente o sentido da peregrinação cristã: estamos em caminho à descoberta do amor de Deus e, ao mesmo tempo, à descoberta de nós mesmos, através duma viagem interior, mas sempre estimulados pela multiplicidade das relações. Portanto, peregrinos porque chamados: chamados a amar a Deus e a amar-nos uns aos outros. Assim, o nosso caminho sobre esta terra nunca se reduz a uma labuta sem objetivo nem a um vaguear sem meta; pelo contrário, cada dia, respondendo à nossa chamada, procuramos realizar os passos possíveis rumo a um mundo novo, onde se viva em paz, na justiça e no amor. Somos peregrinos de esperança, porque tendemos para um futuro melhor e empenhamo-nos na sua construção ao longo do caminho.

Tal é, em última análise, a finalidade de cada vocação: tornar-se homens e mulheres de esperança. Como indivíduos e como comunidade, na variedade dos carismas e ministérios, todos somos chamados a «dar corpo e coração» à esperança do Evangelho neste mundo marcado por desafios epocais: o avanço ameaçador duma terceira guerra mundial aos pedaços, as multidões de migrantes que fogem da sua terra à procura dum futuro melhor, o aumento constante dos pobres, o perigo de comprometer irreversivelmente a saúde do nosso planeta. E a tudo isto vêm ainda juntar-se as dificuldades que encontramos diariamente com o risco de nos precipitar, às vezes, na resignação ou no derrotismo.

Por isso é decisivo, para nós cristãos, cultivar um olhar cheio de esperança no nosso tempo, para podermos trabalhar frutuosamente respondendo à vocação que nos foi dada ao serviço do Reino de Deus, Reino do amor, de justiça e de paz. Esta esperança – assegura-nos São Paulo – «não engana» (Rm 5, 5), porque se trata da promessa que o Senhor Jesus nos fez de permanecer sempre connosco e de nos envolver na obra de redenção que Ele quer realizar no coração de cada pessoa e no «coração» da criação. Tal esperança encontra o seu centro propulsor na Ressurreição de Cristo, que «contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. É verdade que muitas vezes parece que Deus não existe: vemos injustiças, maldades, indiferenças e crueldades que não cedem. Mas também é certo que, no meio da obscuridade, sempre começa a desabrochar algo de novo que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 276). E o apóstolo Paulo afirma ainda que fomos salvos na esperança (cf. Rm 8, 24). A redenção realizada na Páscoa dá a esperança, uma esperança certa, fiável, com a qual podemos enfrentar os desafios do presente.

Então ser peregrinos de esperança e construtores de paz significa fundar a própria existência sobre a rocha da ressurreição de Cristo, sabendo que todos os nossos compromissos, na vocação que abraçamos e levamos por diante, não caiem no vazio. Apesar dos fracassos e retrocessos, o bem que semeamos cresce de modo silencioso e nada pode separar-nos da meta última: o encontro com Cristo e a alegria de viver na fraternidade entre nós por toda a eternidade. Esta vocação final, devemos antecipá-la cada dia: a relação de amor com Deus e com os irmãos e irmãs começa desde agora a realizar o sonho de Deus, o sonho da unidade, da paz e da fraternidade. Que ninguém se sinta excluído desta chamada! Cada um de nós, no seu lugar próprio, no seu estado de vida, pode ser, com a ajuda do Espírito Santo, um semeador de esperança e de paz.

A coragem de se envolver

Por tudo isso digo mais uma vez, como durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa: «rise up – levantai-vos!» Despertemos do sono, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que por vezes nos encerramos, para que possa cada um de nós descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo e tornar-se peregrino de esperança e artífice de paz! Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos no cuidado amoroso daqueles que vivem ao nosso lado e do ambiente que habitamos. Repito-vos: tende a coragem de vos envolver! Padre Oreste Benzi, apóstolo incansável da caridade, sempre da parte dos últimos e indefesos, repetia que ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar, e ninguém é tão rico que não precise de receber alguma coisa.

Levantemo-nos, pois, e ponhamo-nos a caminho como peregrinos de esperança, para que também nós, como fez Maria com Santa Isabel, possamos comunicar boas-novas de alegria, gerar vida nova e ser artesãos de fraternidade e de paz.

Roma, São João de Latrão, no IV Domingo de Páscoa, 21 de abril de 2024.

FRANCISCO

sexta-feira, 19 de abril de 2024

A PARÓQUIA SOBREVIVE COM A PARTILHA DOS FIÉIS



A paróquia é uma comunidade de fé, é uma casa aberta a todos, está ao serviço de todos. Celebra os momentos mais importantes da vida das pessoas e das famílias, educa no caminho de Jesus e do bem, da verdade e do amor. Tem vários serviços de formação na fé, movimentos e associações de fiéis, festas e romarias, colabora com outras instituições. Toma iniciativas de diversa ordem para que a vida da comunidade flua e aconteça festivamente. Nela, os cristãos reúnem-se e convivem, encontram o alimento espiritual da Palavra de Deus e da Eucaristia, rezam pelos vivos e falecidos, celebram os Sacramentos, imploram e dão graças a Deus pelo dom da vida, da família, da fé, da paz, das maravilhas do seu amor. Atende pessoas, visita idosos e doentes, ajuda os mais fragilizados, acolhe imigrantes em busca de ajuda, conserva o património cultural e histórico, cria condições para o exercício da sua missão, gera dinamismo e anima na esperança. Sendo formada por pessoas muito diversas que abraçaram a mesma fé, que aderiram a Jesus e ao seu projeto, que desejam viver na fidelidade à oração e na alegria de anunciar a Boa Nova, anseia por ser uma comunidade de comunidades, uma família de famílias, uma escola de discípulos missionários. Fomenta a corresponsabilidade, a cultura da fé, a partilha de bens para que a ninguém falte o necessário, procura gerar empatia pelo testemunho da vida nova que Jesus veio trazer e propor. Como Lar de família mais alargada e atenta, luta pelo ideal daquela primeira hora em que todos tinham um só coração e uma só alma, constituindo uma verdadeira comunidade de vida e amor. É “o fontanário da aldeia a que todos acorrem na sua sede", como afirmava o Papa São João XXIII.
É certo que nem sempre tudo corre tão bem quanto se desejaria e esperava. É certo que se fica sempre muito aquém daquilo que ela gostaria de proporcionar e transmitir a todos. É certo que a paróquia ideal não existe, os limites humanos são imensos. Mas também é certo que, graças à generosidade de muitos e à plêiade de voluntários, ela oferece a todos, com zelo e dedicação, a sua vida e os seus serviços, tendo como mais alto objetivo a santidade e a formação cristã de cada um para que cada um se sinta protagonista da evangelização.
Para que possa cumprir a sua missão, a paróquia precisa de ser ajudada, também economicamente. Entre nós, a maior parte delas não tem rendimentos que lhe garanta estabilidade e algum conforto para iniciativas julgadas necessárias. As que os têm não serão muitas, e, se os têm, regra geral, é porque também houve quem generosamente lhos doasse. Não são financiadas pelo Estado, embora este as isente de alguns impostos, e, às vezes, colabore na requalificação de alguns edifícios. Esta colaboração, mesmo tratando-se do mais importante e único património com interesse cultural, histórico e turístico, não raro, monumento nacional ou classificado, é ótima e bem-vinda, mas não deixa de ser um pau de dois bicos: se o Estado dá uma parte, a outra parte torna-se insuportável para a comunidade cristã. E são muitas as despesas com o cuidado desses edifícios, com os espaços diariamente dedicados ao culto e à formação, com a eletricidade, a água e a limpeza para bem acolher, com a remuneração dos que se dedicam a tempo inteiro à pastoral, com a ajuda a diversas necessidades sociais, etc. Muitas das paróquias deste interior veem-se em palpos de aranha para satisfazer o seu dia-a-dia, mesmo quando não criam necessidades e educam na austeridade. Mesmo assim, sempre viveram da ajuda dos seus fiéis, do que partilham no contributo paroquial, conforme os costumes locais e a generosidade de cada um ou de cada família, do que oferecem no ofertório das Eucaristias, em donativos ocasionais, em promessas, nas ofertas que fazem à paróquia por ocasião da organização de algum processo, do pedido de algum documento, da celebração de casamentos, batizados, funerais, etc. Muitas, porém, já não têm batizados nem casamentos, e não têm movimento de cartório, têm pouca gente e gente envelhecida que vive das suas pequenas reformas. Fecham-se escolas, abrem-se lares e alargam-se os cemitérios ou constroem-se crematórios. É graças a pessoas atentas e generosas que as paróquias sobrevivem no meio das suas despesas e necessidades. A paróquia não é uma instituição à parte dos cristãos, uma espécie de central de serviços, onde apenas se vai quando se precisa e se fica tranquilo porque se ‘pagam’ os serviços que ela oferece. O cristão tem consciência de pertença a esta família mais alargada que é a paróquia, sente-se Igreja, ama a Igreja, serve e ajuda a Igreja com os seus talentos e dons, com o seu testemunho e estímulo, com a sua presença e partilha para o culto, a evangelização, as obras de apostolado e de caridade.
É o Conselho Económico da Paróquia quem gere este Fundo Paroquial constituído por todos os donativos, satisfazendo as despesas da comunidade cristã. Durante o ano, há também aqueles peditórios consignados, isto é, aqueles que são feitos para fins determinados da Igreja, a nível geral ou para a Igreja que está em Portugal, como, por exemplo, para a Cáritas, as Missões, os Lugares Santos, a Renúncia quaresmal, etc... Partilhar o tempo e os dons pessoais, partilhar os dons da fé e os bens materiais, conforme as possibilidades, sempre foi uma constante ao longo dos tempos da Igreja, desde as origens.
O Código de Direito Canónico, can. 222, e o Catecismo da Igreja Católica, nº 2043, chamam a atenção para este dever de os fiéis proverem às necessidades da comunidade cristã, para que ela possa enfrentar os desafios pastorais e sociais. Sendo escola de fé, a paróquia é também escola de comunhão, de fraternidade, de serviço, de generosidade e partilha.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre- Castelo Branco, 19-04-2024.

Um pedacinho de esperança




Que saibamos sempre ser abraço. Que envolve com sabor a casa. Porto seguro onde ficar. Abraço que abriga.

Que saibamos sempre ser mão que se dá. Que acompanha e que conforta tanto. Que ampara e que cuida. Mão que segura.

Que saibamos sempre ser olhar. Que vê de verdade, com o coração. Que olha sempre mais fundo. Olhar que toca a alma.

Que saibamos sempre ser sorriso. Sorriso do coração e para o coração. Que melhora o dia de alguém. Sorriso que abraça.

Que saibamos sempre ser gesto de ternura. Que é colo à alma e ao coração. Que aconchega e que serena. Gesto que cura.

Que saibamos sempre ser o lado bom. Que é sol nos dias cinzentos, luz na escuridão, paz na tempestade. Que faz sorrir. O lado que faz acreditar.

Que saibamos sempre ser amor. Que se tatua no dia, na vida, no coração de alguém. No mundo. Amor que é sempre tanto, que é sempre tudo. Amor que salva.

Que saibamos sempre. Com o coração. E que nunca nos esqueçamos.

Talvez seja um pedacinho de esperança. Para alguém. E para nós também.


Daniela Barreira,


quinta-feira, 18 de abril de 2024

Estás sempre comigo.




Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob,

Deus dos meus pais, meu Senhor…

Abre o meu entendimento e o meu coração.

O Rosto do Teu Filho brilha sobre a humanidade inteira.

Faz com que conheça os Teus mandamentos e

guarde a Tua Palavra de Amor.

Tenho-Te tão perto e faço-me tão longe…

Vou a caminho da solidão e do desânimo.

Peco… Como eu peco, Meu Deus!

Eis que Tu vens e queres que eu Te toque.

E tudo o que Te fizeram era para cumprir a vontade do Pai.


Permaneço em silêncio!

Perturbada com a beleza da Tua vitória sobre a morte.

Venceste a ignorância, a prepotência, a vaidade, a infelicidade…


No Amor vieste até mim.

Fizeste-me acreditar na Vida.

Deste-me a Paz.

Inflamaste a minha Alma.

Sentaste-te à mesa comigo

e partilhamos o pouco que havia.

O cheiro do Teu sorriso ecoou no abismo da dúvida:

“És a testemunha da minha vida!”


Hoje sei!

Estás sempre comigo.

És a migalha do Pão que alimenta o meu Espírito.

Senhor… Senhor… Estás Vivo.

Que alegria!



Raquel Rodrigues,


quarta-feira, 17 de abril de 2024

E quando não te apetece agradecer?


Esta pergunta parece um pouco estranha e a resvalar para a ingratidão e, se calhar vai ser.

Fui ensinada a agradecer, a ser grata e a reconhecer o bom que as pessoas trazem para a minha vida, e ainda bem, é assim que deve ser. Acontece que poucas, mas algumas vezes, sinto que sou obrigada a agradecer mas sem o sentir. Sou impelida a mostrar gratidão, por cordialidade, por simpatia quando por vezes não me apetece. Já o sentiste? Não quero pensar muito nisto, mas as capas que vestimos às vezes começam a pesar.

Quando temos um projeto e damos o nosso melhor para ser bom para as pessoas, porque é que temos de agradecer às pessoas por participarem? Não deveria ser ao contrário?

Quando fazemos uma festa e passamos horas e dias a preparar, e ainda temos de agradecer aos convidados? Não deveria ser ao contrário?

Quando assumes um ministério na Igreja ou um cargo voluntário que te ocupa imenso mas que o dás generosamente, tens de agradecer às pessoas por participarem?

Será que tens de agradecer aos fiéis por irem à missa? Será que temos de agradecer aos pais por levarem os filhos à catequese? Será que tens de agradecer aos pais por irem a uma reunião na escola? Espera! Será?

Faz parte da boa educação, mas creio que muitas das vezes o fazemos apenas por mera cortesia quando na verdade sentimos que deveriam estar gratos a nós. Parece mal o que penso, eu sei, mas talvez devêssemos ser mais sinceros nas nossas palavras e gestos. Não significa indiferença, nem tão pouco desdém, significa que para além do “obrigada” algo mais pode ser acrescentado quem sabe: Obrigada, gostei deste bocadinho de tempo que passei contigo. Obrigada a sua dádiva de tempo é preciosa para mim? Obrigada, um sincero Obrigado!

E tu amiga, já agradeceste sem querer?


Raquel Rodrigues

terça-feira, 16 de abril de 2024

Sê amável contigo mesmo



Grande parte de nós é hostil consigo próprio. Somos capazes de ser amigos de muita gente, mas nem sempre o somos de nós mesmos. Pelo contrário, chegamos a ser os críticos mais impiedosos e, muitas vezes, injustos do que somos e fazemos.

São poucos os que, sobre as mesmas faltas, se perdoam mais a si do que aos outros.

Mas quem se dá deve dar o melhor que é. Por amor ao outro, devo cuidar de mim e garantir que lhe chego tão autêntico quanto leve e em paz.

Se Deus, que me conhece, me ama como sou, quem sou eu para não fazer da mesma forma?

Por que razão valorizamos mais o desprezo dos que nos menosprezam do que o amor dos que nos amam?

Se cada um de nós fosse capaz de falar consigo próprio como se estivesse a falar com uma das pessoas que mais ama, então tudo seria mais calmo, verdadeiro e justo!

No entanto, porque muitas vezes nos enganamos a nós mesmos de forma muito perigosa, é preciso garantir que a nossa consciência se encontra em paz e que estamos a ter em conta o que é importante.

Um dos maiores perigos da vida é o de agirmos com um coração cego para o que não importa, nem a realidade, nem o bem, nem a verdade… este coração fechado apenas se consegue ver a si mesmo, odiando-se e valorizando-se em doses extremas, numa espécie de guerra em que se alternam de forma caótica o ódio e o ódio a esse ódio.

A maior parte de nós destruir-se-ia se lhe acontecesse tudo o que deseja… Apesar disso, quase sempre nos consideramos derrotados pelo fracasso dessas nossas esperanças!

Só quem abandona as ideias sobre o que julga ser se encontra e admira tal como é.

Devemos cuidar de nós e amar os outros. Procurando garantir que não somos ásperos nem frios com ninguém. Ninguém.


José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 15 de abril de 2024

De 14 a 21 de abril de 2024 | SEMANA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES /2024

 




NOTA PASTORAL – Para quem sou eu?

Entre 14 e 21 de Abril, decorre a semana de Oração pelas Vocações. Assinalar a data 
não é só dar importância ao assunto, não é só reforçar a necessidade da oração para esta causa, mas é sobretudo um alerta e um despertar para a realidade das vocações na vida da Igreja e na vida de cada discípulo de Jesus, no contexto global do projeto de Deus.

Por isso, a prioridade é trazer a questão para o nosso dia a dia, para as nossas conversas, para as nossas catequeses, para as nossas celebrações, para a nossa pastoral. Não pode ser matéria tabu, ou apenas da exclusividade de alguns, ou então preocupação para um dia ou para uma semana. Daí a escolha do lema sugerido, a partir da Exortação Apostólica do Papa Francisco aos jovens, “Cristo vive”, no nº 286:“Para quem sou eu?”

Antes de nos interrogarmos em relação ao presente —“Quem sou eu?”—interroguemo-nos quanto ao futuro: “Para quem sou eu?”. Deus quer que sejamos para Ele, mas quer também que sejamos para os outros. Assim se entende que as qualidades, as inclinações, os dons e os carismas, não são apenas para nós, mas também para os outros. Tudo o que é recebido, quando guardado, acaba por nos aprisionar, tende a isolar-nos e torna-nos infecundos.

Este ano, a Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios, avançou com a proposta deste lema, antes da divulgação da Mensagem do Santo Padre para o 61º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Os materiais oferecidos foram preparados em colaboração generosa como Secretariado das Vocações da Diocese de Viana do Castelo, a quem muito agradecemos. A Mensagem do Papa Francisco: “Chamados a semear a esperança e a construir a paz”, ressalta a diversidade dos carismas e a importância da oração. Será sempre um suporte, não só para o IV Domingo da Páscoa, o Domingo do Bom Pastor, mas para alimentar a coragem dos jovens em deixar-se cativar por Jesus e a confiar-lhe as suas questões mais profundas, ao longo de todo o ano, respondendo à pergunta: “Para quem sou eu?”.

Se a questão das vocações estiver na ordem do dia, nenhum de nós se sentirá excluído em ser semeador de esperança e construtor de paz, no ambiente em que habita e no estado devida em que se encontra.

Que Maria, a Senhora das vocações, nos conceda a paixão pela vida e a coragem de nos envolvermos no cuidado amoroso daqueles que vivem ao nosso lado.


ORAÇÃO



Maria, Senhora da Visitação,
Ajuda nos a levantar, a despertar do sono,
a sair da indiferença,
a abrir as grades da prisão
em que por vezes nos encerramos.

Como Tu em relação a Isabel,
Dá nos a coragem de nos pormos a caminho,
para sermos peregrinos da esperança.
Como Tu em Nazaré,
Dá nos a serenidade para sermos construtores da paz.
Que no ambiente em que habitamos
e no nosso estado de vida,
possamos comunicar boas novas de alegria
e gerar vida nova.

Maria, Senhora da escuta,
permite que o nosso coração se deixe questionar:
“Para quem sou eu?”

Maria, Senhora das vocações,
Acolhe nos a todos,
para que ninguém se sinta excluído
e, como Tu, cada pessoa possa dar
uma resposta generosa e apaixonada.

Ámen.



E se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos?



E se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos? A forma como interpretamos o mundo, as nossas experiências e os outros está, claramente, influenciada por aquilo que somos. São os nossos valores, os nossos gostos e interesses, as experiências que tivemos, o temperamento que temos e os juízos e preconceitos que habitam em nós, que nos ajudam a fazer uma leitura da nossa existência e do que nos rodeia. Tomando consciência disto, conseguimos perceber que as leituras e interpretações que fazemos estão claramente enviesadas e não retratam, muitas vezes, a verdadeira realidade. Apesar de este exercício não ser algo automático (e diria até muito pouco utilizado no nosso quotidiano), não deixa de ser inválido que surjam diversas questões: como é que ateimamos a interpretar a vida dos outros apenas por aquilo que vemos? Como é que ateimamos a interpretar a vida dos outros apenas por aquilo que conhecemos? Porque é que ateimamos em interpretar a vida dos outros como se víssemos a totalidade do que somos e fazemos?

A verdade é que a questão inicial desta crónica também permite refletir sobre a nossa fé (ou a falta dela): e se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos? Pensando bem, talvez esta seja a nossa grande sorte. Deus vê-nos inteiros/as! Não nos define por um momento. Não deixa de acreditar em nós pelo que já fomos ou fizemos. Não deixa de contar connosco por causa dos nossos erros. Não deixa de querer que sejamos, apesar de ainda não sermos verdadeiramente. Deus permite-nos recomeçar, porque vê para além do que já somos. Deus deposita toda a sua fé em nós, porque habita a nossa inteireza!

E se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos? Se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos, então a contemplação passa a ser uma extensão do que somos. Se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos, então o outro é muito mais do que eu penso. Se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos, então não tenho autoridade para definir quem é ou não digno da Sua presença. Se a nossa vida for mais do que aquilo que vemos, o desconhecido passa a ser espaço para que exista Vida.

Na sociedade e na Igreja, precisamos de todos/as para conseguirmos ver que a vida é sempre muito mais do que aquilo que vemos. Não desperdicemos esta riqueza. Não olhemos para nós e para os outros, apenas pelo que sempre nos disseram. Olhemos para nós, para os outros e para o Mundo com todos, isto é, com a presença do Espírito que se manifesta em cada um/a!

Hoje, antes de voltares a dizer alguma coisa, questiona-te: e se eu for muito mais? E se aquele/a que eu não compreendo for muito mais do que o que eu consigo ver?


Emanuel António Dias


domingo, 14 de abril de 2024

FALAR DE DEUS

 

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Jesus ressuscitou verdadeiramente? Podemos encontrar-nos com Ele? Como é que podemos mostrar ao mundo que Jesus está vivo e continua a oferecer aos homens a salvação? É, fundamentalmente, a estas questões que a liturgia do terceiro Domingo da Páscoa procura responder.

No Evangelho
Lucas, ao narrar-nos uma aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos, oferece-nos uma catequese sobre a forma de fazermos a experiência do encontro com Jesus, sempre vivo e presente no nosso caminho e na nossa história. A comunidade cristã é, para Lucas, o espaço privilegiado para fazermos essa experiência.

Jesus deixa aos discípulos a missão de serem “testemunhas de todas estas coisas” junto de “todos os povos, começando por Jerusalém”. A comunidade de Jesus é precisamente isto: uma comunidade de testemunhas. Isto significa, apenas, que os cristãos devem ir contar a todos os homens, com lindas palavras, com raciocínios lógicos e inatacáveis que Jesus ressuscitou e está vivo? O testemunho que Cristo nos pede passa pelo nosso estilo de vida, pelos nossos valores, pela forma como amamos e servimos, pela forma como vemos o mundo. A minha vida, os meus gestos, os meus valores dão testemunho de que Jesus está vivo e a dar Vida ao mundo? A minha vida é, como foi a de Jesus, uma luta contra o egoísmo, a maldade, a violência, o pecado? A minha vida é, como foi a de Jesus, uma luta pela justiça, pela verdade, pela dignidade dos meus irmãos, especialmente dos mais frágeis e desprezados?

A primeira leitura traz-nos um testemunho de Pedro sobre Jesus. Ele garante aos “homens de Israel” – e a nós – que esse Jesus que as autoridades judaicas tentaram calar, está vivo e continua a oferecer a Vida a todos aqueles que se dispuserem a acolhê-la. Pedro e os outros discípulos são as testemunhas de Jesus e da sua proposta de Vida.

A existência humana é uma busca incessante de Vida. Essa busca, contudo, nem sempre se desenrola em caminhos fáceis e lineares. Por vezes é cumprida num caminho onde o homem tropeça com equívocos, com falhas, com opções erradas. Aquilo que parece ser garantia de vida gera morte; e aquilo que parece ser fracasso e frustração é, afinal, o verdadeiro caminho para a Vida. Pedro garante-nos, no seu testemunho, que a proposta que Jesus veio apresentar é uma proposta geradora de vida, apesar de passar pelo aparente fracasso da cruz. Acredito firmemente que é da doação, da entrega, do amor total a Deus e aos irmãos, a exemplo de Jesus, que brota a Vida eterna e verdadeira para mim e para aqueles que caminham ao meu lado?

A segunda leitura lembra que o discípulo, depois de encontrar Jesus e de aceitar a vida que Ele oferece, tem de viver de forma coerente com essa opção. O cristão, mesmo depois de optar por Jesus, continua sujeito à fragilidade e ao pecado; mas confia em Jesus e procura viver de acordo com os mandamentos de Deus.

Viver de forma coerente significa, também, reconhecer a fragilidade e a debilidade que são inerentes à nossa condição humana. Para o crente, o pecado não é algo “normal” (o pecado é sempre um “não” a Deus e às suas propostas e isso deve ser visto pelos crentes como uma “anormalidade”); mas é uma realidade que o crente reconhece e que sabe que está sempre presente ao longo da sua caminhada pela vida. O autor da Carta de João convida-nos a tomar consciência da nossa condição de pecadores, a acolher a salvação que Deus nos oferece, a confiar em Jesus, o “advogado” que nos entende (porque veio ao nosso encontro, partilhou a nossa natureza, experimentou a nossa fragilidade) e que nos defende. Reconhecer a nossa realidade pecadora não pode levar-nos ao desespero; tem de levar-nos a abrir o coração aos dons de Deus, a acolher humildemente a sua salvação e a caminhar com esperança ao encontro do Deus da bondade e da misericórdia que nos ama e que nos oferece, sem condições, a vida eterna. Reconheço a minha condição de pecador, que por vezes diz “não” a Deus e opta por caminhos de egoísmo e de autossuficiência? Estou disposto a aproximar-me novamente de Deus e a acolher as suas propostas?

https://www.dehonianos.org/

sábado, 13 de abril de 2024

Enche-te de… força!



Somos como um balão.

Cheios de ar, cheios de ideias, cheios de tudo e, por vezes prontos, a rebentar.

Diariamente enchemo-nos de ideias, sonhos, convicções -“ar”- que tanto nos dão animo como nos pesam.

Enchemo-nos de entusiasmo com coisas banais e criamos expectativas cuja concretização nem sempre conseguimos controlar.

Enchemo-nos e… enchemos os outros!

Mas precisamos de nos encher de…força! Não, não é encher com força, mas encher o nosso balão de força. Não uma que se meça pelos músculos, mas uma força que se meça pela resistência tanto física como mental.

Força, para gerir tanto o ar que entra para o balão como o ar que sai, garantindo que não arrebente e cause mais alarido do que o necessário.

Força, para manter o balão firme nas suas convicções em vez de murcho e pequeno quase que invisível e totalmente dispensável.

Talvez seja por isso uma das expressões mais usadas quando estamos abatidos é: “força”! Todos sabemos que a força que nos assiste é ilimitada na medida em que somos alimentados pelo nosso ar, mas também pelo ar dos outros. É que por vezes falta-nos o ar, falta-nos a força aliás, sentimos que nos falta tudo, até que alguém nos sopra com carinho e nos ajuda a gerir o ar que temos.

Por isso quando te sentires cheia… que seja de força.

E tu amiga, como está ao ar do teu balão?


Raquel Rodrigues


sexta-feira, 12 de abril de 2024

MAIO VOCACIONAL: CADA VIDA É UMA VOCAÇÃO



Toda a Diocese de Portalegre-Castelo Branco, após viver o Dia Mundial das Vocações, está convocada a fazer do mês de maio um mês vocacional, refletindo, rezando, reunindo, agindo e vivendo nessa dimensão, sem esquecer a primeira e a mais importante de todas as vocações, a vocação à vida cristã, à santidade, pois todos somos chamados a ser santos. É dentro desse caminho que devemos viver bem a nossa vocação pessoal. Chamados à vida, à fé e à Igreja, urge descobrir cada um a sua própria vocação na Igreja e no mundo, tornando-se um verdadeiro peregrino da esperança e artífice da paz, como afirma o Papa Francisco.
Esperamos que as iniciativas de oração e de animação pastoral, na vivência deste mês de maio, também em comunhão com o Secretariado Diocesano da Pastoral, em geral, e da Pastoral Juvenil e Vocacional, em particular, reforcem a sensibilidade vocacional nas nossas famílias, paróquias, capelanias, comunidades de vida consagrada, associações e movimentos eclesiais. Há pressa no ar!
O mundo tem necessidade de pessoas que vivam com alegria e com amor a sua vocação laical, matrimonial, sacerdotal e religiosa, semeando a esperança. É na relação de umas com as outras que cada uma “se revela plenamente com a sua própria verdade e riqueza”, fazendo da Igreja “uma verdadeira sinfonia vocacional com todas as vocações unidas e distintas em harmonia e juntas «em saída» para irradiar no mundo a vida nova do Reino de Deus”.
Sendo cada vida uma vocação, toda a pessoa precisa de ler a sua vida à luz da Palavra de Deus para discernir qual o caminho a seguir e a missão que lhe é confiada na construção de um mundo melhor. A vida é um dom de Deus para ser vivido e doado a todos dentro dos planos de Deus, de forma feliz e útil, enquanto se caminha para a eternidade. Tal como Jesus doou a sua vida aos outros e pelos outros, assim Ele chama cada pessoa a fazer o mesmo. Muitos já fizeram o seu discernimento e deram a sua resposta ao Senhor e aos outros, de forma responsável e livre, vivendo agora a sua vocação com alegria e empenho, na vida laical, matrimonial, sacerdotal e religiosa. E continuam a ter bem presente que, Deus que os chamou por esse caminho e a essa missão, continua a chamá-los dentro desse mesmo caminho e dessa mesma missão, pois, há sempre a possibilidade de uma maior fidelidade à vocação e à missão.
Há, porém, muita gente que se interroga e vive este problema do discernimento vocacional, sobretudo entre os adolescentes e jovens. É evidente que não se trata de escolher uma profissão, ligada ao que fazer. Trata-se de uma escolha ligada ao ser, é coisa diferente. É certo, porém, que a profissão e outras dimensões da pessoa podem e tenham mesmo de coexistir com a vocação. Por exemplo, a vocação ao matrimónio, com tudo o que ela implica de missão para dentro da própria família, para a Igreja e para o mundo, quem a constitui precisa de ter uma profissão para a sua sustentabilidade.
A profissão, porém, é uma escolha pessoal, tendo em conta inclinações, jeitos e gostos pessoais, fatores financeiros e tendências de mercado, etc. Mesmo assim, qualquer profissão que se exerça não pode ser obstáculo a que se viva e testemunhe a vida cristã, pois a felicidade está alicerçada na vivência do projeto de Deus, seja-se médico, professor, agricultor, atleta, político, advogado... A vocação, mais do que uma escolha pessoal, é a resposta ao chamamento que Deus faz, o qual até pode ir contra os próprios gostos e inclinações imediatas de quem é chamado. Por isso, implica discernimento, saber o que é que o Senhor quer de cada um. Implica estar atento à luz que brota do coração, ao apelo que a partir daí interpela, toca, acalenta, desafia e pede uma resposta responsável e livre, confiando em quem livremente chama. A vocação atinge de modo profundo a vida de cada um, sendo chamado a responder aos apelos de Deus, iluminando a realidade, vencendo os desafios, percorrendo a sua própria estrada.
Assim, convoco toda a diocese a viver este mês vocacional! Alicerçados no pilar da devoção Mariana que molda a vida das nossas comunidades, associações e movimentos, queremos que durante este mês de maio, mês de Maria, a vocação seja mais do que uma intenção na oração, mas seja ela mesma a oração.
Fazendo uso do esquema do Secretariado Diocesano de Pastoral, cada paróquia, cada comunidade e cada família, cumprindo ao mesmo tempo o Mandamento do Senhor que disse: “pedi ao Senhor da messe que mande operários para a Sua messe”; e unidos a Sua Mãe, Nossa Senhora de Fátima, que pediu aos pastorinhos que rezassem “o terço todos os dias”, toda a Diocese, sem prejuízo das iniciativas que poderão existir, é convidada a rezar o terço pelas várias vocações, desde a vocação universal à santidade, à vocação particular de cada um.
No final do mês, em Fátima, na peregrinação diocesana, a parte da tarde, no Centro Paulo VI, será também dedicada à vocação, tornando visível o labor discreto, mas frutuoso, das centenas de comunidades que constituem as 161 paróquias da diocese e que sacerdotes, leigos, diáconos e religiosas animam e dinamizam, envolvendo as catequeses e tudo o que nelas é expressão de vida.
Neste envolvimento estão os jovens, quer pela dinâmica que podem imprimir na vivência deste mês de maio, quer em torno do oratório da Visitação que circula, quer pela preparação da peregrinação a Fátima que farão a pé ou de bicicleta, segundo as propostas do Secretariado da Pastoral Juvenil e Vocacional, quer pelo que for que inventem e traduzam em dinâmicas pastorais. Ao jeito mais irreverente que os carateriza, contamos com eles e lhes pedimos que não deixem de colocar no centro das suas vidas esta questão, a questão mais importante para eles, para a Igreja e para a comunidade humana. Procurando ler a sua vida à Luz de Deus, todos rezamos com eles e por eles, para que respondam com generosidade e desassombro à pergunta que se autopropõem fazer: “Senhor, que queres que eu faça?”.
Perante o chamamento, Maria ficou perplexa, refletiu sobre o chamamento que lhe era feito, interrogou-se a si mesma sobre que significado teria, fez perguntas a quem a podia ajudar, esclareceu-se tanto quanto podia entender, deixou cair o seus projetos meramente pessoais e arriscou, confiando em quem a chamava, dizendo: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. A sua resposta ao chamamento de Deus mudou o mundo!


D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 12-04-2024.

Dar está fora de moda


A verdade é que estamos tão distorcidos pelas regras do mercado que já não sabemos receber. Desconfiamos.

Nos tempos ultramercantis que correm, em que tudo se compra e vende, oferecer é cada vez mais raro. A própria palavra "oferecer" já soa mal. A ideia é que ninguém dá nada, que tudo traz água no bico, e que os almoços de graça são aqueles que acabam por sair mais caros.

Mais raro ainda do que saber dar — dar sem esperar nada em troca — é saber receber. Será que nos esquecemos de como reagir a uma dádiva?

Por razões domésticas desinteressantes, vi-me a braços com uma abundância de miolo de amêndoa e de nêsperas. Dividi tudo em saquinhos de papel e desatei a tentar distribuí-los por toda a gente com que me encontrava.

Já desconfiava que as pessoas não queriam as nêsperas — sabe Deus porquê — e, para escoá-las, pensei exigir que recebessem um quilo de nêsperas por cada 250 gramas de amêndoas. Mas nunca imaginei que também não quisessem as amêndoas.

A verdade é que estamos tão distorcidos pelas regras do mercado que já não sabemos receber.

Desconfiamos. Reagimos como se nos estivessem a propor um contrato. Aliás, como se estivéssemos a contrair um empréstimo: aquelas inocentes amêndoas reapareceriam no Verão, invocadas com dureza bíblica: "Então, não me dás uns pêssegos? Ou já te esqueceste das amêndoas que me impingiste?"

Mas também aprendi que saber receber é uma arte. Ao contrário de todos aqueles que reagiram como se eu lhes estivesse a cravar frutas preciosas, houve quem fingisse que tinha sido surpreendido por uma festa. "Para mim? Quanto é que tenho de pagar? Nada?! Mas não pode ser! São nêsperas tão bonitas!"

É uma verdade muito antiga que uma pessoa se sente bem quando dá. Há um lado útil — de não deixar estragar as coisas —, mas também há um lado quentinho, que vem de dar prazer a outra pessoa.

Será que é por isso que as pessoas hesitam tanto em receber uma oferta? Para não dar ao dador a satisfação que daí resulta? Cheira-me que vou ter de começar a pagar a quem se digne receber as minhas oferendas.


Miguel Esteves Cardoso

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Podemos curar-nos?

 

Será que podemos mesmo curar-nos das nossas maiores feridas ou vamos continuar a tentar colocar ligaduras sobre ligaduras sem nunca chegar, efetivamente, à raiz do que pode ser bálsamo para sempre?

A Páscoa e a ressurreição de Jesus respondem-nos a esta pergunta de uma forma muito clara. Podemos, mesmo, curar-nos. É possível ver o potencial das feridas mesmo além da morte e do maior dos sofrimentos.

Porque é que isso não nos parece simples, então, no dia-a-dia?

Vivemos sempre como que um pouco tombados para o sofrimento. Esperamos o pior para não sofrer tanto. Sentamo-nos com a alegria, mas desconfiamos dela como se trouxesse mau agoiro. Se eu estou tão bem agora, amanhã nem quero imaginar o que vai acontecer.

Temos pouca fé. Esperamos pouco. Acreditamos pouco. Não nos ensinam a ser felizes com o pouco ou com o muito. Ensinam-nos a temer o pior. A ter cuidado. A pensar duas vezes. A medir todos os perigos. E nessa tentativa paternalista de profunda proteção somos sempre atirados aos piores cenários como se fosse a primeira vez. Mesmo que existam, apenas, na nossa cabeça.

Esperar o bem e o bom não parece ser natural. Parece ser coisa de gente parvinha ou de pessoas espiritualmente muito evoluídas. Nunca para nós.

Mas a verdade é que este tempo de Primavera e de Páscoa pode dar-nos uma folga. Pode ensinar-nos a esperar o impensável. A acreditar no inacreditável ou, até mesmo, no impossível.

Tudo faz parte do que somos e viver sempre à espera da dor ou do sofrimento parece ser um inferno demasiado grande para aquilo a que estamos, realmente, destinados.

O nosso destino é o amor. É o bem. É o bom. É a cura de tudo com tudo.

E isso também é possível para ti.

E isso também existe.

E isso também faz parte.


Marta Arrais

quarta-feira, 10 de abril de 2024

79º CURSILHO DIOCESANO DE SENHORAS

 


Esperança...



Hoje com o coração cheio de esperança abraça-te de verdade. Olha para dentro de ti e vê a perfeição da vida.

Aceita que nada nem ninguém chega em vão,

E que o brilho se torna luz por entre a sombra.

Hoje com o coração cheio de esperança,agradece por todos os dias, especialmente por aqueles que duvidaste ser possível.

Hoje com o coração cheio de esperança, sê e vê a paz em cada momento.

Hoje com o coração cheio de esperança, espalha amor. Que essa seja a tua bandeira no mundo.

Hoje com o coração cheio de esperança acredita, acredita sempre que nunca segues sozinho.

Que em cada coração que bate a vida se renova, no aqui e agora de todos os dias, de todos os momentos.

Hoje com o coração cheio de esperança, olha para a tua Páscoa, Pessach, em hebraico, passagem.

Hoje com o coração cheio de esperança, leva o sol dentro de ti e faz da tua Páscoa, uma maravilhosa e incrível passagem de amor.


Carla Correia,

terça-feira, 9 de abril de 2024

A Ressurreição dos vivos



“E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n'O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão.”

Lc. 24, 13-35

Jesus, o Nazareno, depois de ressuscitar não deixa para trás o que foi, mas dá continuidade ao que sempre quis ser. E conseguimos constatar esta continuidade nas feridas que permaneceram em Si, depois de ter sido erguido, ressuscitado, mas também neste seu cuidado em estar à mesa e, mais especificamente, no partir do pão.

Jesus que tinha erguido tantos/as, que se tinha dedicado a curar tantos/as e que valorizava como ninguém a comunhão à volta da mesa, é agora, Ele mesmo, o que carrega as feridas para que todos/as O reconheçam, mas também O que se dá a conhecer pelo detalhe, pelo simples detalhe de partir o pão.

E, através desta novidade da ressurreição, talvez esta seja a grande mensagem de Jesus, o Nazareno ressuscitado: o impacto que podemos ter na vida é incluir toda a nossa inteireza e permitir, através dos nossos pequenos detalhes, que todos/as possam ressuscitar, isto é, que possam recomeçar sempre!

Só podemos efetivamente fazer a diferença na vida dos outros se tivermos relação de intimidade, se formos capazes de ter impacto com os simples detalhes da nossa presença, das nossas palavras e dos nossos gestos. Dar-Se a conhecer pelo partir do pão é dar testemunho da Sua missão: eu quero que se façam pão. Eu quero que sejam alimento. Eu quero sejam vida plenamente doada. Eu quero sejam íntimos e que vos reconheçam num simples detalhe, que me reconheçam em vós na simplicidade do que são.

E se este é o Seu testemunho, então somos convidados/as a refletir o que somos e fazemos em Igreja: temos sido pão para quem anda faminto/a de misericórdia, compaixão, empatia e justiça? Temos sido alimento para quem anda faminto/a de presença, de alegria, de esperança e fraternidade? Temo-nos doado plenamente a quem continua a ser rejeitado pela sociedade pela sua condição social, étnica, religiosa e/ou sexual? Temos sido testemunho de simplicidade em que os outros, somente pela nossa forma de ser e de estar, reconhecem que somos praticantes do Seu amor?

Hoje, mais do que nunca, na sociedade e na Igreja, precisamos de ser reconhecidos pela forma como partimos o pão. Precisamos de ser íntimos, de nos doarmos por inteiros aos outros e, assim, permitirmos que tantos e tantas sejam erguidos e colocados no centro. Foi isto que Jesus, o Nazareno, fez e é através disto que a Sua ressurreição e a Sua presença ganham sentido, forma e realidade nas nossas vidas.

Hoje, antes de regressares para os teus afazeres, questiona-te: o que preciso de ser e fazer para que os outros reconheçam, em mim, a Sua presença? O que posso ser e fazer para que os outros vivenciem a ressurreição dos vivos?


Emanuel António Dias


segunda-feira, 8 de abril de 2024

Comunicar (se) com amor...

 

Quanto mais vida passa, melhor compreendo que o amor é a única forma de nos ligarmos ao outro e a nós mesmos. O amor é o melhor meio de comunicação. É a chave da união. 


Começa por ti... não sei se te dás conta da forma como comunicas contigo: que espécie de pensamentos alimentas? Que histórias (te) contas? Como vives os teus silêncios, ou até se os tens? 

Talvez nem te apercebas do número de vezes que te críticas, julgas e ignoras as tuas emoções. Quantas vezes te falas e escutas com amor? 
 
O amor-próprio é um convite ao mundo interior, ao teu eu. Um convite ao universo que existe dentro de ti. É, também, a chave para amar o próximo. É um círculo perfeito! Quanto mais te amas, mais amas as pessoas que estão à tua volta, e quanto mais amas quem faz parte da tua vida, mais amas o que és. 
 
Vivemos entre o Ser e o não-Ser; e o que realmente importa é o que reconhecemos em nós como alegria, paz, perdão... tudo o que nos torna mais plenos de amor.  

Com paciência e autoaceitacão transformamos as nossas barreiras e os nossos medos em atos de fé, de amadurecimento, de clareza e compaixão. 

Tudo tem o sentido único de nos ligarmos. Estarmos na vida uns dos outros de forma mais profunda, produtiva e genuína. 

Amar é comunicar. É compreender o que és e abrir o teu amor ao outro. 

"Amar o próximo como a ti mesmo".

A identidade de Deus está em ti e em mim, liga-nos num só e chama-se amor. 

 Carla Correia

domingo, 7 de abril de 2024

CRER em Deus

 



A liturgia do segundo domingo do tempo pascal apresenta-nos a comunidade de Homens Novos que nasceu da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. Essa comunidade, acompanhada por Jesus, ressuscitado, vive e testemunha no mundo a Vida nova de Deus.

Na primeira leitura o autor dos Atos dos Apóstolos deixa-nos, numa das “fotografias” que tirou à comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma comunidade onde todos vivem unidos à volta da mesma fé e onde o amor fraterno se manifesta em gestos concretos de partilha e de dom. Ao viver assim, a comunidade dá testemunho da Vida nova que recebeu de Jesus.

A comunidade cristã é uma “multidão” que abraçou a mesma fé – quer dizer, que aderiu a Jesus, aos seus valores, à sua proposta. A Igreja não é um grupo unido por uma ideologia, ou por uma mesma visão do mundo, ou pela simpatia pessoal dos seus membros; mas é uma comunidade que reúne pessoas de diferentes raças e culturas à volta de Jesus e do seu projeto de vida. Que lugar e que papel Jesus e as suas propostas ocupam na minha vida pessoal? Jesus é uma referência distante e pouco real, ou é uma presença constante que me questiona e que me aponta caminhos? Que lugar ocupa Jesus na vida e na programação da minha comunidade cristã? Ele é o centro, a referência a partir da qual se articula a liturgia, a vida sacramental, a catequese, a caridade da comunidade cristã onde eu faço a minha caminhada de fé?

O Evangelho apresenta a comunidade da Nova Aliança, nascida da atividade criadora e vivificadora de Jesus. É uma comunidade que se reúne à volta de Jesus ressuscitado, que recebe d’Ele Vida, que é animada pelo Seu Espírito e que dá testemunho no mundo da Vida nova de Deus. Quem quiser “ver” e “tocar” Jesus ressuscitado, deve procurá-l’O no meio dessa comunidade que d’Ele nasceu e que d’Ele vive.

A comunidade cristã gira em torno de Jesus, é construída à volta de Jesus e é de Jesus que recebe Vida, amor e paz. Sem Jesus, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Jesus, seremos um grupo de gente que se apoia em leis, que vive de ritos, que defende doutrinas e não a comunidade que vive e testemunha o amor de Deus; sem Jesus, estaremos divididos, mergulhados em conflitos estéreis, e não seremos uma comunidade de irmãos e de irmãs; sem Jesus, cairemos facilmente em caminhos errados e iremos beber a fontes que não matam a nossa sede de Vida… Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é d’Ele que tudo parte? Escutamos as suas palavras, alimentamo-nos d’Ele, vivemos d’Ele, estamos ligados a Ele como os ramos estão ligados à videira?

É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo; é com gestos de bondade, de misericórdia, de compaixão, de perdão que testemunhamos diante do mundo a Vida nova do Ressuscitado. Quem procura Cristo ressuscitado, encontra-O em nós? O amor de Jesus – amor total, universal e sem medida – transparece nos nossos gestos e na nossa vida?

A segunda leitura recorda aos membros da comunidade cristã os critérios que definem a vida cristã autêntica: o verdadeiro crente ama Deus, adere a Jesus Cristo e à proposta de salvação que Ele trouxe, e vive no amor aos irmãos. Quem vive desta forma, vence o mundo e passa a integrar a família de Deus.

Amar a Deus e aderir a Jesus implica amar os irmãos. Quem não ama os irmãos, não cumpre os mandamentos de Deus e não segue Jesus. Como Jesus, somos chamados a testemunhar o amor de Deus a todos os que caminham ao nosso lado, especialmente aos mais pobres, aos mais humildes, aos mais frágeis, aos que a sociedade e a religião condenam, aos que os senhores do mundo e da história humilham e desvalorizam. O amor total e sem fronteiras, o amor que nos leva a oferecer integralmente a nossa vida aos irmãos, o amor que se revela nos gestos simples de serviço, de perdão, de solidariedade, de doação, de atenção, de cuidado, está no nosso programa de vida?


https://www.dehonianos.org/