O responsável pela catequese em Itália, monsenhor Valentino Bulgarelli, afirmou hoje aos catequistas que a “mudança de época” exige “uma profunda e lenta mudança das estruturas criadas”
“É preciso ter a coragem de terminar com os esquemas que já não funcionam, ao nível político, civil, social e eclesial. Defendemos uma estrutura e perdemos a coisa mais preciosa que são as pessoas. Precisamos de redescobrir a Pessoa de hoje”, explicou.
À margem da conferência, e em declarações à imprensa, o diretor do Ufficio Catechistico Nazionale (UCN) italiano, defendeu que “as estruturas criadas foram pensadas para as pessoas, mas hoje a vida está transformada”.
“O Papa pede-nos, já desde 2013, que tenhamos a coragem de repensar com calma, com paciência, com gradualidade as estruturas e os modos de proceder. É fundamental começar a mudar”, declarou.
Apresentando, aos mais de 1000 catequistas que até este domingo se reúnem em Fátima, o tema «A Revelação e a transmissão da fé: os alicerces bíblicos do acreditar», o sacerdote italiano criticou a tentação dos agentes em “fazer da catequese uma aula de teologia”, que “cria conhecedores do património e da história do cristianismo”, mas “não discípulos de Jesus”.
“Precisamos escutar as pessoas. As crianças, os adolescentes, os jovens e os anciãos. Todos os que estão em passagem de vida. O modo como fazemos catequese deve levar ao encontro com Jesus Cristo e isso acontece quando a escuta, a dúvida, o silêncio e a pergunta se encontram”, sustentou.
Antes de partir para Roma, onde participa na segunda sessão da Assembleia Sinodal, monsenhor Bulgarelli convidou “a voltar ao início” de maneira que “o evangelho encarne na vida das pessoas”.
“Por vezes esquecemo-nos que o Deus em que acreditamos está na base de tudo, dá-se em gratuidade, não com reservas. Deus está antes de tudo e ama-te incondicionalmente…não existe um ‘mas’ ou um ‘porquê’. Precisamos de ajudar a gerar, naqueles que acolhemos, uma experiência que se vá aprofundando e se encarne na vida quotidiana”.
Numa “mudança de época”, onde os analfabetismos religiosos estão em forte expansão, o desafio dos crentes, “bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos, passa por redescobrir as fontes”.
“Numa certa busca de tudo procurar, de tudo fazer, a tudo chegar, temos dificuldade de nos abeirar das fontes, como a Liturgia ou a Palavra de Deus”.
Perante uma “nova pessoa” que valoriza o imediato, o zapping rápido, monsenhor Bugarelli desafia a Igreja a “valorizar as perguntas e as dúvidas de cada um”.
“Olhando para Jesus percebemos que ele faz muitas perguntas e recebe muitas perguntas. Precisamos de reabrir o diálogo entre fé e vida, fé e cultura, aceitando estar dentro de coisas que não estão clarificadas com fizemos há dois mil anos”.
Para o futuro da catequese o diretor da catequese em Itália considera que é “central o papel do catequista”.
“O catequista pode ser o ponto de mediação entre a comunidade cristã e a vida de todos os dias. Não se trata tanto de assumir um momento de encontro dentro da comunidade, mas de descobrir o valor da credibilidade, do testemunho, do reconhecimento da figura do catequista. Diria que precisamos de pessoas com vida quotidiana que trazem contigo o evangelho”, concluiu.
Imagem: Ricardo Perna
Educris|19.10.2024
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