O que é que determina o êxito ou o fracasso da nossa existência? Como devemos viver para que a nossa vida seja repleta de sentido? A liturgia do 29.º Domingo do Tempo Comum diz-nos que conseguiremos dar pleno sentido à nossa vida quando aprendermos a deixar de lado os nossos projetos de poder e de grandeza, para apostarmos no amor e no serviço àqueles que caminham connosco. Então seremos, de facto, uma luz que brilha no meio do mundo.
A primeira leitura fala-nos de um “servo de Deus”, que cumpriu a sua existência na terra no meio do sofrimento e do desprezo, mas que Deus exaltou e glorificou. A figura desse “servo” diz-nos que uma vida vivida na humildade, no sacrifício, na entrega e no dom de si mesmo não é, aos olhos de Deus, uma vida maldita, perdida, fracassada; mas é uma vida fecunda e plenamente realizada, que trará libertação e esperança ao mundo e aos homens.
Qual o sentido do sofrimento? Porque é que há tantas pessoas boas, honestas, justas, generosas, que atravessam a vida mergulhadas na dor e no sofrimento? Trata-se de uma pergunta que fazemos frequentemente e que o autor do quarto cântico do “Servo” também punha a si próprio. A resposta que ele encontra é a seguinte: o sofrimento do justo não se perde; através dele, da sua entrega e do seu sofrimento, os pecados da comunidade são expiados e Deus dará vida e salvação ao seu Povo. Trata-se de uma resposta insatisfatória? Talvez. Mas por detrás desta resposta percebe-se a convicção profunda que alimenta a fé deste “catequista” de Israel: nos misteriosos caminhos de Deus, o sofrimento pode ser uma dinâmica geradora de vida nova. Aliás, alguns séculos mais tarde Jesus Cristo demonstrará, com a sua paixão, morte e ressurreição, a verdade desta afirmação. Como entendemos o sofrimento? Sentimo-lo como algo injusto e definitivamente incompreensível, ou como algo que, de uma forma que nem sempre é clara para nós, se insere no plano de Deus? Entendemos que o sofrimento poderá ser fonte de vida nova para nós e para o mundo? Como?
No Evangelho, Jesus mostra aos discípulos em que direção devem caminhar para que as suas vidas se encham de sentido. Confrontado com os sonhos de poder e de honrarias de Tiago e de João, Jesus garante-lhes que é no dom da vida, na entrega de si próprios, no serviço simples e humilde aos irmãos, que se sentirão plenamente realizados.
Há pessoas – muitas – que passam despercebidas, que não são nomeadas nos jornais, que não frequentam ambientes seletos, que nunca tiveram acesso a cargos de poder, que não têm dinheiro nem influência, que não possuem títulos nem nomes sonantes, que não se impõem pela sua beleza física ou pelas roupas finas que vestem, que não fazem ouvir a sua voz nem impõem a sua presença… mas são grandes pela sua bondade, pela sua humildade, pela sua compaixão, pela sua alegria serena, pelo serviço humilde que prestam aos mais necessitados, pela forma como cuidam dos seus irmãos e irmãs, pelo amor e carinho que põem em cada gesto que fazem. De acordo com Jesus, essas pessoas são aquelas cujas vidas são plenamente realizadas. Elas tornam o nosso mundo um lugar mais bonito, mais humano e mais feliz. No deserto inóspito e egoísta do nosso mundo, essas pessoas são pequenos oásis de paz, de fecundidade e de vida nova. Elas são o melhor do nosso mundo. Como avaliamos e consideramos esses homens e mulheres simples e humildes, que o mundo tantas vezes ignora ou despreza, mas que são testemunhas e sinais do amor e da bondade de Deus na vida dos seus irmãos e irmãs?
Na segunda leitura, o autor da Carta aos Hebreus apresenta Jesus como um sumo-sacerdote misericordioso que, depois de apresentar o seu sacrifício, “atravessou os céus” e se apresentou diante de Deus para interceder pelos homens. Assim, Ele alcançou de Deus a misericórdia para os homens pecadores. A nossa resposta à ação salvadora de Cristo em nosso favor deve traduzir-se na adesão plena às suas propostas.
Ao assegurar-nos que nada temos a temer pois Deus ama-nos, quer integrar-nos na sua família e oferecer-nos Vida em abundância, o nosso texto convida-nos a encarar a vida e os seus caminhos com serenidade e confiança. A certeza do amor infinito de Deus é, para nós, fonte de serenidade e de paz? Sabemos que as nossas fragilidades e debilidades não nos afastam, nunca, de Deus e do seu amor?
Como rezar? Isso diz respeito também à qualidade da nossa oração… A maior parte das vezes, somos como os filhos de Zebedeu: prontos a pedir. Mas se nos esforçamos por amar e servir como Cristo nos pede, então, melhor que pedir, poderemos oferecer-Lhe aquilo que, graças a Ele, faremos pelos nossos irmãos.
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