sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O MEMORÁVEL PRIMEIRO DIA DA SEMANA


Foto de perfil de Antonino Dias


O “primeiro dia da semana” era, na cultura judaica, o dia a seguir ao sábado santo. Jesus, com uma pedagogia ímpar, fez do “primeiro dia da semana” o Seu dia, o dia do Seu triunfo, o dia da consumação da Sua obra redentora. De facto, foi no “primeiro dia da semana” que Jesus ressuscitou, apareceu a Maria Madalena logo de manhã, depois a Pedro, ao cair da tarde aos discípulos de Emaús, à noitinha aos Apóstolos reunidos. “Oito dias depois”, também “no primeiro dia da semana”, apareceu novamente aos Apóstolos, agora já com Tomé presente. Foi ainda no “primeiro dia da semana” que Jesus, já subido ao céu, de lá, com o Pai, enviou, conforme prometera, o Espírito Santo sobre toda a Igreja, dando assim início à sua gesta missionária. Movidos por uma força interior, pela ação do Espírito, os cristãos passaram a reunir-se sempre no “primeiro dia da semana”, dando assim à sua reunião um ritmo semanal. Faziam-no para celebrar a Ressurreição de Jesus, um verdadeiro ato de fé em Jesus Cristo ressuscitado e glorificado. Este acontecimento foi de tal modo marcante na vida dos cristãos que os quatro evangelistas lhe fazem referência, afirmando todos que Jesus ressuscitou no “primeiro dia da semana”. A Igreja foi-se formando e fortalecendo, não só pela Palavra de Deus e pelos sacramentos, mas também pela reunião fraterna no “primeiro dia da semana”. Assíduos ao ensinamento dos Apóstolos, à oração, à fração do pão, à comunhão e à partilha, o “primeiro dia da semana” começou, desde o início, a fazer parte da vida pessoal e comunitária dos cristãos. Assim, já por volta do ano 50, São Paulo pede aos cristãos de Corinto que façam, “no primeiro dia da semana”, uma coleta em favor da Igreja pobre de Jerusalém, como já havia pedido o mesmo às comunidades da Galácia. Pelo ano 112, Plínio o Moço, governador romano da Bitínia, numa espécie de relatório policial enviado ao imperador Trajano sobre o comportamento dos cristãos, escreve que “eles se reúnem num dia certo, antes de nascer do sol, para cantarem louvores a Cristo, como a um deus”.
A primeira vez que o “primeiro dia da semana” é chamado “Dia do Senhor”, é no livro do Apocalipse (1,10), mas logo outros autores assumem tal designação. Inácio de Antioquia, provavelmente antes do ano 110, exorta os cristãos a serem fiéis à reunião dominical, na qual se expressa e reforça a unidade. Na Didascália dos Apóstolos, do século III, lemos este apelo aos cristãos: “…não punhais as vossas preocupações temporais acima da Palavra de Deus, mas abandonai tudo no dia do Senhor e correi com diligência às vossas igrejas, porque é lá o vosso louvor a Deus…”.
Depois de ter dado a paz à Igreja, em 313, o imperador Constantino quis introduzir o descanso dominical em todo o império. Com engelho e arte, escolheu o dia da festa semanal dos pagãos, o dia do sol, o dia que, no calendário romano, se seguia ao dia de Saturno que era o sábado. Este dia coincidia precisamente com o primeiro dia da semana dos judeus, o dia em que os cristãos já se reuniam. São Justino, em meados do século II, testemunha isso mesmo, dizendo que “no chamado dia do sol, todos os cristãos que habitam nas cidades ou nos campos se reúnem no mesmo lugar…”. Com esta decisão do imperador, os cristãos ficaram felizes e não perderam tempo. Começaram a propalar por toda a parte, que esse dia é, de facto, o dia do sol, sim. Mas o verdadeiro Sol, o Sol que ilumina e aquece a terra, o Sol que aquece verdadeiramente o coração do homem, não é o astro rei: é o Senhor, é Cristo ressuscitado”.
Pela sua fé em Cristo vivo e ressuscitado, pelo seu testemunho de vida alegre e feliz, os cristãos conseguiram impor o Domingo à sociedade num contexto social nada fácil e hostil, o da cultura judaica e greco-romana. Mas houve muitos mártires que o foram por causa de se afirmarem em defesa do Domingo. Por exemplo, as 49 pessoas da Abitínia, 31 homens e 18 mulheres, encontradas a celebrar em casa de uma delas, de Emérito. São belos os testemunhos que eles, quando interrogados em 15 de fevereiro de 304, em Cartago, antes de serem executados, nos deixaram.
Embora sabendo que os tempos, hoje, são diferentes e complicados em relação a horários de trabalho e outras solicitações, o Domingo continua a ser um ponto de referência na vida dos cristãos e das famílias cristãs. É o dia em que, reunidos, escutamos a Sua Palavra, fazemos memória do que Jesus fez por nós e renovamos em nós a necessidade de fazer como Ele fez.

D.Antonino Dias - Bispo de Portalegre Castelo Branco 18-11-2016

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