sexta-feira, 25 de novembro de 2016

O SILÊNCIO QUE DÁ FORÇA E AMOR


Ao encerrar o Ano Santo da Misericórdia, o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica “Misericordia et misera”, na qual persiste em nos desafiar a “olhar para diante e compreender como se pode continuar, com fidelidade, alegria e entusiasmo, a experimentar a riqueza da misericórdia divina”. Convida-nos a celebrar a misericórdia. Sugere-nos criatividade. Aponta-nos caminhos e meios que só a conversão pessoal e pastoral saberá usar de forma empática e frutuosa. Porque a misericórdia gera alegria, exorta-nos a que ela “permaneça bem enraizada no nosso coração e sempre nos faça olhar com serenidade a vida do dia-a-dia”. Sustenta a necessidade de sermos “testemunhas de esperança e de alegria verdadeira, para expulsar as quimeras que prometem uma felicidade fácil com paraísos artificiais”. Diz-nos que “o vazio profundo de tanta gente pode ser preenchido pela esperança que trazemos no coração e pela alegria que brota dela. Há tanta necessidade de reconhecer a alegria que se revela no coração tocado pela misericórdia!”. E acrescenta: “é verdade que muitas vezes somos sujeitos a dura prova, mas não deve jamais esmorecer a certeza de que o Senhor nos ama. A sua misericórdia expressa-se também na proximidade, no carinho e no apoio que muitos irmãos e irmãs podem oferecer quando sobrevêm os dias da tristeza e da aflição. Enxugar as lágrimas é uma ação concreta que rompe o círculo de solidão onde muitas vezes se fica encerrado. Todos precisamos de consolação, porque ninguém está imune do sofrimento, da tribulação e da incompreensão. Quanta dor pode causar uma palavra maldosa, fruto da inveja, do ciúme e da ira! Quanto sofrimento provoca a experiência da traição, da violência e do abandono! Quanta amargura perante a morte das pessoas queridas! E, todavia, Deus nunca está longe quando se vivem estes dramas. Uma palavra que anima, um abraço que te faz sentir compreendido, uma carícia que deixa perceber o amor, uma oração que permite ser mais forte... são todas expressões da proximidade de Deus através da consolação oferecida pelos irmãos. Às vezes, poderá ser de grande ajuda também o silêncio; porque em certas ocasiões não há palavras para responder às perguntas de quem sofre. Mas, à falta da palavra, pode suprir a compaixão de quem está presente, próximo, ama e estende a mão. Não é verdade que o silêncio seja um ato de rendição; pelo contrário, é um momento de força e de amor. O próprio silêncio pertence à nossa linguagem de consolação, porque se transforma num gesto concreto de partilha e participação no sofrimento do irmão”.
É nosso dever, pois, fazer crescer a cultura da misericórdia, a cultura do encontro, a cultura do amor aos outros, principalmente dos que mais sofrem as agruras da vida. Temos de ter bem presente que este é “o tempo da misericórdia para todos e cada um, para que ninguém possa pensar que é alheio à proximidade de Deus e à força da sua ternura. É o tempo da misericórdia para que quantos se sentem fracos e indefesos, afastados e sozinhos possam individuar a presença de irmãos e irmãs que os sustentam nas suas necessidades. É o tempo da misericórdia para que os pobres sintam pousado sobre si o olhar respeitoso mas atento daqueles que, vencida a indiferença, descobrem o essencial da vida. É o tempo da misericórdia para que cada pecador não se canse de pedir perdão e sentir a mão do Pai, que sempre acolhe e abraça”. A verdadeira porta da misericórdia, sempre escancarada e de fácil acesso, é o Coração de Cristo Jesus: “Vinde a mim todos vós que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 28-30).
Como outro sinal concreto deste Ano da Misericórdia, o Papa Francisco determinou que toda a Igreja celebre anualmente, no XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres: “Será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16, 19-21). Além disso este Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização (cf. Mt 11, 5), procurando renovar o rosto da Igreja na sua perene ação de conversão pastoral para ser testemunha da misericórdia”.

D. Antonino Dias  -  Bispo de Portalegre Castelo Branco    25-11-2016

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