terça-feira, 30 de junho de 2020

Quando te atreves a reparar, o que vês?



Quando a noite desce e se acalma junto ao teu coração, o que vês?

Que paisagens são essas que vivem dentro do que és e do que fazes?

Quando tudo em redor é silêncio, o que fica?

Que paisagens são essas que te embalam quando o sono te surpreende?

Que paisagens são essas que te fazem querer percorrer o mundo com uma mochila às costas?

Que paisagens são essas que te fazem não querer sair de onde estás e viajar, só, com o pensamento?

Dentro de nós, nem tudo é bonito. Nem tudo são árvores verdes e flores frescas.

Dentro dos contornos do que nos atrevemos a mostrar, nem tudo é luz. Nem tudo é limpo. Nem tudo é claro. Nem tudo é liberdade.

Dentro dos nossos pensamentos nem tudo é raio de sol. Ou estrela pequenina. Nem tudo brilha. Nem tudo é brisa suave.

Ainda que muitos nos queiram convencer do contrário, há muitos caminhos estreitos e difíceis dentro dos nossos dias e do que mora para lá da nossa pele.

Dentro do que somos há de tudo. É esse tudo que nos dá significado e que, às vezes, nos catapulta para um patamar mais real. Mais cheio do que é verdade.

Dentro do que somos também há árvores caídas e amputadas de raízes. Também há chuva que nos ensopa as roupas de dentro. Também há raio de tempestade que nos queima as esperanças já garantidas. Também há vento que nos gela a ternura.

No entanto, quando varremos (a partir de dentro) o nosso lixo e as nossas páginas velhas, somos capazes de ver as coisas de outra forma. Somos capazes de nos ver melhor, ainda que não gostemos (sempre) do que podemos, eventualmente, encontrar.

Ainda assim, quando acendemos a vela da esperança e da fé, as nossas raízes atrevem-se a nascer outra vez.

Somos sempre tanto que não sabemos dizer nem explicar. Não faz mal. Nem tudo cabe nas palavras.

O que importa é que, mesmo quando não tens nada para dizer, haja alguém que te olhe para lá dos olhos e te veja. E te oiça. Mesmo quando não falas. Mesmo quando não sabes nada.

Essa pessoa existe sempre. Se ainda não conheces ninguém assim, não desistas de procurar!

Marta Arrais

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