sábado, 30 de dezembro de 2023
A cura de um ser humano é a cura de toda a humanidade
Vivemos como se pertencêssemos aqui. Como se fossemos deste mundo e como se a vida não tivesse prazo de validade. Enquanto vamos perscrutando as nossas tempestades ou os ecos das nossas feridas temos, por vezes, “aterragens” de consciência. Percebemos o que antes nos estava velado. Compreendemos as razões deste ou daquele acontecimento. À medida que vamos caminhando desaparecem os véus. As nuvens. As faltas de entendimento transformam-se em clareza e água límpida.
É quando temos mais consciência de nós próprios que enveredamos pelo caminho da cura. Já não nos faz sentido viver à sombra das feridas, dos desgostos, das mágoas. Já não nos faz sentido carpir as desgraças do costume nem reverberar a energia negativa de uma alma com águas paradas.
Rumar à cura é ver tudo como é. Mais do que aceitar o que se vê, é ter a coragem para contemplar os fantasmas de tudo o que ficou. De tudo o que se viveu e não viveu.
Mas o mais interessante sobre o processo de cura e sobre a vontade de o seguir é esta: quando nos curamos estamos a incentivar os outros a fazer, também, esse caminho. Quando estamos em paz os outros ficam em paz connosco.
Quando nos curamos os outros curam-se também.
Quando nos arriscamos a olhar com compaixão, conseguimos também ver os outros através dessas lentes.
O mais bonito do processo de cura individual é a consciência de que todos temos um caminho coletivo a percorrer. É perceber que não vamos sozinhos. É considerar o outro com menos julgamento porque, também eu, quero ser visto sem esse peso. Principalmente por mim próprio.
Estamos todos mais unidos do que separados. Aquilo que fazemos no silêncio do nosso coração pode fazer que outros corações se calem. Ou tenham a coragem para dizer o que nunca foi dito.
Nestes dias que precedem o Natal e que já trazem tanto da Sua Luz, saibamos ter a coragem para pedir a cura. Para entregar tudo aquilo que já não interessa e para olhar para os outros com o olhar de amor que nos merecem.
Não te esqueças: a cura de um ser humano é sempre a cura de toda a humanidade.
Marta Arrais
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